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Channel: Comentários em Série (com Spoilers!)
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[Breaking Bad] 5x01 - Live Free or Die

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“Happy Birthday, Mr. Lambert!” - Lucy

Já se tornou um marco da história recente da TV o último episódio da terceira temporada de Lost, “Through the Looking Glass”, em que o aspecto físico de determinado personagem (incluindo uma barba) causa um estranhamento que só será entendido pela revelação na cena final, surpreendendo pela reviravolta e mudança de perspectiva e rumos da série. Breaking Bad também começa sua quinta temporada com personagem fisicamente mudado (incluindo uma barba), mas imediatamente nos situa o momento em que se passa, e tem apenas a duração de um prólogo. E, ao contrário de Lost, em que ao menos sabíamos que certa tripulação não deveria chegar na Ilha, aqui ficamos sem a menor ideia do que aconteceu de tão grave.


Ainda é cedo para saber que tipo de abordagem Vince Gilligan e seu time de roteiristas pretendem dar ao que vemos neste início: flashforwards em pequenas doses, como vistos na excelente 2ª temporada? Um acompanhamento paralelo aos eventos “atuais”? Ou não retornaremos mais a isto por um bom tempo? O fato é que tivemos informações suficientes para criar uma enorme expectativa e muitas dúvidas.


Primeiro fato relevante: o prólogo se passa dois anos após o piloto da série, tempo demais na cronologia de Breaking Bad, considerando que apenas metade deste tempo se passou em quatro temporadas (estimativa aproximada, baseando-me que Skyler já estava grávida quando a série começa e sua filha ainda é um bebê de colo). O Walt de barba, cabelo e aspecto cansado em nada se parece com o Walt que vemos pelo restante do episódio, autoconfiante, arrogante e cheio de si; não usa a aliança que ostenta no ferro-velho, dizendo ser de ouro; tosse e toma comprimidos; mas tem dinheiro (além do pesado armamento que compra, deixa 100 dólares de gorjeta), quando no momento atual precisa pedir emprestado a Jesse.


É interessante que até o final do episódio, nada aponta para aquele momento. Pelo contrário, “Live Free or Die” resolve, de uma maneira até apressada, as pontas soltas que ainda existiam: as filmagens do laboratório são destruídas, Walt se livra da planta usada como veneno, rapidamente acerta as contas com Mike (que só é algo verossímil graças ao cuidado na construção de um relacionamento entre Mike e Jesse na temporada anterior). Walter White não tem inimigos, Hank está longe de qualquer coisa que possa levantar suspeita sobre ele, não tem sequer como recomeçar a produção de metanfetamina para ganhar dinheiro. É como se a série recomeçasse do zero, com a enorme diferença de que os personagens estão longe de serem como eram no início - e o plano inicial e final do episódio falam isso de forma maravilhosa: o bacon gorduroso contrastando com o bacon vegetariano do piloto, que o protagonista come por imposição de uma esposa autoritária que agora é “perdoada” por um marido assustador.


Curioso também que a única ponta solta que fica do ano anterior nem sabíamos que seria uma ponta solta: Ted não está morto. Mas acredito que não veremos mais o personagem, que deve mesmo manter o segredo pelo resto de sua vida. Se seu retorno na temporada passada serviu para culminar no épico final de “Crawl Space”, aqui tem uma única função: em Breaking Bad as pessoas são (e vêm a ser) aquilo que elas fazem e, ao substituir o choque e o lamento por uma fingida ameaça (“Good.” Grande momento de Anna Gunn), Skyler vê um pouco mais do inferno em que está e ganha novas camadas.


Mas como uma coisa leva a outra nesta série, uma conta bancária de Gus Fring é descoberta, apenas graças ao magnético plano de Walt e Jesse. Dificilmente será algo que leva a nossos protagonistas, mas que logo os atingirá de alguma forma – o próximo episódio se chama “Madrigal”, nome da multinacional alemã que Hank descobre estar ligada ao Pollos Hermanos.


Outras considerações:

- “Live Free or Die”, na placa do carro de Walt, é o slogan do Estado de New Hampshire, de onde supostamente vem o “Mr. Lambert”. É também o nome do episódio de Sopranos em que o personagem Vito Spatafore foge para esse Estado (se não viu a série, não se preocupe, os motivos da fuga nada têm a ver com Breaking Bad);

- Por um lado, é realmente divertido ter de volta a velha dinâmica entre Walt e Jesse tentando se livrar de uma enrascada, algo perdido na temporada anterior; Por outro, é o terceiro mirabolante e bem sucedido plano de Walt num curto espaço de tempo. Espero que as coisas se “normalizem” um pouco;

- “Yeah, bitches! Magnets!” consegue ser ainda melhor que “Yeah Mr. White! Yeah Science!”;

- Trabalho técnico sempre incrível. Destaques: a trilha sonora que dá ritmo à destruição da sala de evidências; a visita de Hank ao laboratório queimado no melhor estilo “Alien” (reparem nos cones); e os planos com a câmera dentro do porta-malas de carro, um dos mais usados por Tarantino;

- “Estamos em uma época de partículas de Deus” – imagino que a cena tenha sido refilmada para manter a atualidade?

- Como imaginado, Saul ajudou Walt no seu plano para envenenar Brock e Huell quem roubou o cigarro (ou carteira inteira) de Jesse. Não acho que a série dará mais explicações que esta;

- "O que há entre vocês?" Mike, devidamente irritado com o "Se você matá-lo, vai ter que me matar" de Jesse, algo que os dois protagonistas se revezaram em dizer um bom número de vezes na quarta temporada;

- Falando em Mike... Mike e as galinhas. Existe alguma parceria que não seja boa com esse cara?



Hélio Flores
twitter.com/helioflores

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