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Channel: Comentários em Série (com Spoilers!)
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[The Event] 1x22 - Arrival - Series finale.

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Por Danielle M



Pois é, acabou. Logo quando dava sinais de melhora, de recuperar o fôlego, de fugir da obrigação chata - e desnecessária - de ser o novo Lost, The Event dá o seu adeus. E olha, muito mais digna que muita série por aí.

Assistindo ao frenético season finale fiquei com a sensação de que merecia uma 2a temporada. Vamos aos fatos. O vice filho da mãe dança de vez, mesmo achando que o presidente é um bananão, ele consegue reverter as coisas e manda ajuda ao povo no Aeroporto, conseguindo assim deter Sophia e a infecção do vírus letal que acabaria com 98% da população do planeta. Ri e nem era, mas ri, de Sophia candidamente dizer que não queria que morresse geral da Terra, mas só uns 60%. Bom, ela precisa colocar no planeta 2 bilhões de ETzinhos, o "espaço vital" hitleriano ganha nova face e teoria.

Mas Sophia com alguma conciência e humanidade (hoho) desiste da ideia. Super Sean a convence de uma maneira fofa e salva o dia, planeta, personagens e ainda ganha a paternidade da namorada quase morta. Mas quando a gente pensa que a Terra esta salva, lá vem a explicação para o tal evento, simplesmente nós vamos sucumbir. Não há saida. Os ETzinhos já viviam aqui antes e querem retornar ao que era seu. Mas a coexistência não é possível, assim, ao acionar o portal, a galera etzinha entra (com planeta e tudo mais) e nós humaninhos dançamos. Tremores e outros desastres naturais cuidam de tudo. Todo poder aos soviets, digo, ETzinhos. Sophia presidente da Terra e, ora vejam só, não é que a primeira dama do presidente banana também é uma alien .



No final é isso. Explica o evento e dá um final para todos os personagens. Merecia 2a temporada mesmo. Mas fazer o que! Foi digno!

**foto: reprodução

 facebook: /dannamagno
dannamagno@uol.com.br

[Prófugos] 6

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 Por Danielle M


Começa  o sexto episódio no frenesi total. Kika aproveita que está na seca há muito tempo e já resolve com o fdp "amigo". Se bem que o cara é meio uma icognita, já que mantém segredo no começo sobre a presença de Kika e cia em sua casa para Aguilera.

Laura, a sexualmente travada, tenta passar um discursinho para a sua mãe do tipo" vc sempre foi infiel ao meu pai", mas Kika já chuta forte e diz que Laura sempre colocou o pai num pedestal . Kika não poupa Laura e solta um "quando ele morreu senti um grande alívio" . A relação entre mãe e filha é tensa mesmo.
Enquanto isso, Oliva já cria um joguinho com Fabien . Moreno tenta estabelecer alguma relação com Salamanca perguntando de sua filha. Quase chorei.

Aí do nada, eu super despreparada, tomando meu Havana Club, o Oliva simplesmente mata o Fabién depois dele falar sobre sua íntima relação com os  narcotraficantes. CARACA. Eu adorava esse personagem. Filho da puta! Para variar, ele arma para Tegui, gravando a descoberta do corpo por ele e a coisa ainda fica pior para o gatão.Tegui perde mais um aliado e é novamente incriminado. Oliva já é o vilão absoluto.

Bom, Irma tá aproveitando a vida e ficando com o gatinho. Acho que ela e Kika tem um fraco por canalhas.E ela é quase estuprada novamente. Sina triste hein moça. Mas é salva pelo papi Salamanca e já podemos notar uma evolução no tratamento entre ambos. Para depois ter um recuo...

Moreno, total detetive e cheio de cocaina na cara, descobre um esconderijo e fica intrigado. Descobre toda traição, a  filha da putice do amigo da familia Ferragut e bota pra quebrar. Achei excessivo prender uma menininha, mas né, Moreno way. Bom que Vicente chegou e colocou as coisas no seu devido lugar. Porque vou te contar, temi viu. Mas também senti pena. Como já falei em outros comentários, a esposa grávida de Moreno lhe emprestava alguma humanidade. Quando ela morreu , e daquela maneira, tudo isso foi embora junto. Primeiro ele arrancou a cabeça de Aguilera Jr, agora impala o traidor e dentro da casa dele.  Eita!

Triste mesmo foi ver a promotora saber do fim de Fabién. Poxa, que saco matar esse personagem. Fiquei irritada e não achei nada legal, nem pelos seus desdobramentos dramáticos futuros.

No mais, Moreno tá muito louco né minha gente? Adoro! Sabe o que achei mais sensacional do episódio todo? Moreno se explicando para Salamanca, o nível de respeito entre estes dois personagens me deixa encantada!
E Aguilera? Pateta de novo! Oh rotina! Mas a PDI do canalha do Oliveira fez um ponto precioso.

Cenas legais:

- Salamanca dando porrada na pirralhada. hahahahah
- Laura precisa resolver essa parada sexual
- Vicente dormindo que nem um anjinho. Nestor Cantilana, te amo, \0/
- Tegui encrencado nivel mor
- Oliveira filho da puta matando a sangue frio Fabien.
-Moreno tirando a pele do traidor. hohoho
- Vicente atropelando uma vaca. E Tegui dando o tiro de misericórdia.

**foto: reoprodução
dannamagno@uol.com.br
FB: /dannamagno

OBS-. 7, 8 e 9 estão chegando!

[Prófugos] 7

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por Danielle M



O episódio começa com a promotora  Ximena e o filho da puta do Oliva observando o corpo do gente boa do Fabién. Não adiante, não consigo me conformar com essa morte. Entendo que ela foi necessária para fazer, quem sabe, Ximena ficar contra Tegui, mas me deu uma tristeza vê-lo morrer daquele jeito e pelas mãos daquele sacana. Oliva aproveita o encontro e joga aquele veneninho básico. Mas a promotora  dá um tapão na cara de Oliva que já me fez abrir um sorrisão! Como eu curto essa promotora, ela aparece pouco, mas faz a maior diferença.

Enquanto isso nossos prófugos passeiam no bosque depois de perder o carro para uma vaca. Sim, o Chile tem deserto, gelo, praia e florestinha tb. Reveillon no Chile, lá vou eu! Achei Lost e já esperava o Lostzilla aparecer e julgar os pecados e pecadores. Foi quase. Não é que eles vão parar num retiro espiritual com um padre no comando. Pobre padre.

Entra uma "nova" personagem, quer dizer, é devidamente apresentada como uma ex revolucionária, Natalia, la roja, que também estava na chacina de Valparaiso e foi, se não me engano, a responsável direta pela morte da esposa grávida de Moreno. O conflito aqui é óbvio. Natalia e Salamanca foram companheiros. A companheira trabalha sozinha e deve ser uma carta importante para o pateta do Aguilera não perder mais o rastro dos meninos. Ela é tão eficiente que conseguiu deduzir até que eles atravessaram o rio, alô roteiristas, a guerrilha no Chile foi urbana, hein :). Não importa, me amarrei em la roja.

Vicente e Kika tem uma breve, porém interessante conversa sobre os limites da violência. Kika demonstra uma frieza absurda e justifica os atos de Moreno. Vicente é o incomodo e desajuste em pessoa. Não deixa por menos e junto de Salamanca e Tegui dá um aviso singelo a Moreno.

Talvez por estarem num retiro, haha, parece que todos os segredinhos mais íntimos foram para a superfície. Dai-lhe desejo recolhido! Laura e Tegui. Irma e Tegui. Vicente e o seminarista caladão com cara de bobo...Foram os conflitos já tão habituais entre Laura e Kika, nem parecem mãe e filha.

Bom, tudo indicava que a PDI começava a dar certo, já estava beirando o ridículo tanta ineficiência. Pensei. Mas aí veio toda arrogância e impáfia de Oliva e por culpa dele, e somente dele, mais uma vez a PDI, hahaha, perdeu!  "Aprenda a hacer las cosas derecho". Que sirva para usted, cabrón! Senti pena de Natalia, la roja, juro.

Esse episódio foi bizarro. Para dizer o mínimo! Só acho o seguinte, os roteiristas mostraram que querem chocar a todo custo, bom, talvez no Chile, porque homossexualismo, padres e sexo não tem esse poder em boa parte da América Latina. A jornada pessoal de cada um dos prófugos pode ser bem interessante, mas deve-se ter cuidado com o modo e o contexto , porque para ficar bizarro, vulgar e desnecessário, olha, custa tão pouco. Não foi o caso, ainda, mas acho que está caminhando para isso. Não me refiro exclusivamente a cena homossexual entre Vicente e o seminarista caladão. Achei forte, entendo que a lei do desejo é assim mesmo, mas questiono se para a história, de modo geral - e mesmo a de Vicente - precisava de tal força na cena. Ok, muitos podem dizer, ahh, mas se fosse uma cena heterossexual você não apontaria isso. Apontaria sim, tem que ter um sentido, uma razão de ser. Só não foi apelação pura e simples, polêmica por si só porque Nestor Cantillana é um ator de primeira! E acho que o fato de Vicente ser gay faz a história ficar mais interessante e com muito mais conflitos.
Veremos daqui pra frente.

Agora cá entre nós, precisava matar o padre dona Natalia? (oi, sou roterista de prófugos e quero chocar, sexo, drogas, rock´n´roll e padres mortos). Momento digno de nota foi a "escolha de Sofia" de Salamanca!

Salamanca não tem mais dúvidas, ele ouve Oliva FDP dizer o nome de Tegui. E só por este momento já valeu todo o episódio.



Cenas legais:

- Irma caidinha por Tegui
- Moreno cheirando na casa do senhor. Aff, Moreno
- Laura também tirando casquinha de Tegui. E na casa do senhor.
-Vicente é gay e revela isso também na casa do senhor. Proveitoso esse retiro, hein.
- Padre não perdendo tempo e já entoa uma canção evangelizadora para os prófugos
- A relação de Kika e Laura precisa de maiores explicações. Esse rancor todo...
- Os índios e o aviso:" Los chilenos están manchados". Prófugos sobrenatural?
-Moreno matando geral da PDI. Moreno, eu te amo! Narcotraficante do coração!
- Ela, Natalia la Roja, jogando na cara de Oliva a ineficiência da PDI (a polícia pateta chilena, meodeos)

OBS-> Continuo achando que Prófugos merecia um "previosly". Este episódio foi menor do que os outros, precisamente 3 minutos :).

**fotos: reprodução
dannamagno@uol.com.br
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[Prófugos] 8

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Por Danielle M



Novamente começa um episódio com Ximena e o nosso canalha da PDI, Marco Oliva. As tais fotos que "provam" que Tegui matou Fabién é entregue a Ximena. Mas a promotora não cai na conversa fácil de Oliva assim não.Não acho que seja apenas por amor a Tegui, mas também pela absoluta e concreta falta de confiança em Oliva.

Mais um personagem entra, o contexto para o político, o deputado Cordova, já estava armado em alguns episódios anteriores. Agora é isso , geral atrás dos prófugos? Bom, não é bem assim, pelo menos o deputado não tem opção, já que é gay e teve um caso com Vicente, devidamente fotografado e, é claro, usado como moeda de chantagem. A homossexualidade de Vicente realmente deu desdobramentos mais tensos e conflitos muito, mas muito maiores do que se imaginava.

Pela primeira vez na série, o grupo é dividido. Vicente segue com Kika e Moreno para um "hospital" , enquanto Salamanca, Irma, Laura e Tegui vão para a comunidade perto das cordilheiras e também próxima a fronteira com a Argentina.

Adorei o encontro das minhas personagens femininas favoritas, La roja e Ximena. Também gostei do papo, mais para desabafo entre Laura e Tegui e dai-lhe sexo em Prófugos com direito a Irma ficar de voyeur cheia de ciume (e inveja, minha tb, viu, hoho).

Na comunidade, o climinha "sobrenatural" persiste. Aquela coisa, índio, ritual, coisa não explicável, entenderam né? Salamanca não resiste e acaba se consultando, por assim dizer, com uma curandeira. Toma o chazinho, evoca os espíritos e toma flashback disfarçado de alucinação, e bom, tem que ter fé né minha gente? Confesso que essa guinada ao místico em Prófugos me pareceu um samba do crioulo doido. Mas mal algum fez, a gente compra a ideia. Tá valendo.
E esse câncer de Salamanca é culpa sob culpa que a gente bem sabe. Já comentei antes e volto a afirmar, ele sempre acreditou que estava numa missão maior, que tudo que faz tem um objetivo nobre. Proteger a filha - e falhar nisso, como ja falhou antes - é sua responsabilidade e culpa.



Enquanto isso, Vicente tenta salvar a mãe. Kika já sabendo que sua vida está mesmo por um fio, entrega ao filho querido o decodificador que lhe dará acesso a uma conta no, tchan tchan, Brasil! Eu já achava que Kika sabia da homossexualidade do filho, mãe sempre sabe, e ela, daquele jeitinho Kika de falar, diz que ama o filho, que o quer bem e do jeito que é ,  um maricón, hahaha, assim, desse jeito. Sem sutilezas para Kika. A cena foi linda, intensa e magistralmente interpretada por ambos!

O que dizer do conflito entre os índios e a PDI? Mais um momento trapalhada da semana para a polícia pateta chilena. Eu deveria ter feito uma sessão assim toda semana, mas é inacreditável que essa ineficiência persista a cada episódio. Me acabo de rir.


No final, prófugos conseguiu me surpreender mais uma vez, Kika está morta e Vicente é a família Ferragut sem a menor possibilidade de escolha. Aguilera teve sua vingança e usufruiu com requintes de crueldade, tal qual sofreu com o seu filho. Mas não me canso de falar. Quem começou foi ele.

O grupo continua separado. Agora com a morte da matriarca dos Ferragut e a fuga de Irma.

Prófugos termina no 13. Falta pouco e está muito, mas muito bom! E duvido que vão ficar só na fuga, agora eles tem uma vingança a cumprir.



Cenas legais:

- Vicente guardando o decodificador no singelo livrinho que o seu amante seminarista caladão lhe deu, bom, acho que deu.
-Toda a sequencia na tenda da velha curandeira. Místico, estranho, fora de contexto, mas legal.
- A cara de Moreno e Vicente ao ver Kika estraçalhada no chão. Horror, o horror.
- Aguilera escrevendo no chão com o sangue de Kika. olho por olho. Cruel hein!
- O enterro de Kika.
- a decapitação de Kika
**fotos: reprodução
dannamagno@uol.com.br
FB: /dannamagno

[Extra] Melhores episódios de 2011

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2011 passou voando, é o que todos dizem, e infelizmente não pareceu muito agradável na televisão. Tivemos grandes momentos, sem dúvida, mas nenhuma estreia que conseguisse realmente me empolgar. Ou nem mesmo qualquer cancelamento que fosse de fato sentido pelos fãs. Mas já que é hora das famosas retrospectivas, vamos nos dedicar aos destaques: a consolidação de Breaking Bad entre as melhores séries de drama modernas, o emocionante final de Friday Night Lights e ao menos três comédias que mantém uma média bem alta de qualidade quando consideramos os últimos anos. Enfim, sem a necessidade de longos discursos, passarei para a minha lista de melhores episódios do ano, que obviamente só inclui as séries que assisti e mais uma vez fica limitada a apenas um episódio por série. E assim esperamos que 2012 seja um ano bem melhor (spoiler? com certeza será, porque Mad Men estará de volta). Boas festas e um próspero ano novo a todos!

10. Homeland
"The Vest"


O ano é 2011, já viramos de década, o povo americano já tem um novo presidente, e as histórias sobre terrorismo continuam sempre as mesmas. Ou pior, parecem cada vez menos relevantes. Prova disso é o começo desse episódio, alguns dias após um atentado envolvendo um homem-bomba em uma praça pública, e toda população vivendo tranquilamente como se fosse feriado nacional. Mas em meio a esse jogo de cartas marcadas, o único elemento imprevisível era Carrie. Seu retrato de bipolaridade e fragilidade diante dessa condição é uma das mais reais já vistas na televisão. Se por um lado sua paranoia investigativa leva aos melhores momentos da série, principalmente quando estreita a relação com Brody, por outro serve como as "muletas" mais irritantes do roteiro, induzindo o espectador a pensar como a personagem. Nesse episódio, Carrie é exigida ao limite até que suas enlouquecidas certezas fazem com que ela seja afastada das investigações. Claire Danes não decepciona, proporcionando a melhor atuação feminina do ano.
Outro destaque: "The Weekend".


9. The Office
"Garage Sale"


Há algum tempo The Office já não me empolgava como antes. As novas dinâmicas do escritório pareciam quase nunca funcionar e com isso os personagens sofriam um desgaste cada vez maior. Mas o anúncio da saída de Michael Scott trouxe um novo fôlego à série, e esse episódio resgata tudo aquilo que The Office tinha de melhor em sua essência. O pedido de casamento a Holly foi perfeito, com a dose certa entre as ideias insanas de Michael e um toque pessoal de cada personagem. Fora isso, ainda tivemos bons momentos com o jogo de Dallas e uma das últimas vezes que um trote de Jim em Dwight não pareceu forçado.
Outro destaque: "Goodbye, Michael".


8. Treme
"Can I Change My Mind?"


Assim como a cidade que vai se reestruturando aos poucos após o desastre natural, em sua segunda temporada Treme também cresceu e conseguiu direcionar melhor cada um de seus personagens. Depois de vários episódios vivendo em completo silêncio, Toni e Sofia finalmente conversam sobre o destino de Creighton, e Ladonna tem de confessar os abusos sofridos. Mas não são apenas os momentos dramáticos que chamam a atenção nessa temporada, como também toda a evolução de vários personagens: os experimentos de Janette e Delmond em New York, o aprendizado de Annie com Harley, a nova chance que Sonny enfim resolveu agarrar. E são também os momentos sublimes, saboreando cada conquista, como a estreia da banda de David ou o prazer de Antoine cantando no palco, que fazem de Treme uma das experiências mais reconfortantes da televisão.
Outros destaques: "What's New Orleans?", "Do Watcha Wanna".


7. Parks and Recreation
"Li'l Sebastian"


Bem incrível o que o setor de Parks and Recreation conseguiu promover neste final de temporada. Preparado por vários episódios, o tradicional festival da cidade era esperado como o grande evento do ano mais uma vez, mas às vésperas de sua realização o falecimento de Li'l Sebastian, o mini cavalo símbolo de Pawnee, acaba abalando seus habitantes. O que seria uma celebração dá lugar a um grande memorial, que obviamente não interfere em nada no humor ou carisma da série. Além disso, esse final de temporada estabelece ganchos interessantes, como Leslie diante do grande dilema de escolher entre Ben ou seguir com sua carreira política, a parceria de Tom e Jean-Ralphio num conglomerado de entretenimento ou um vulnerável Ron tendo de enfrentar a visita de suas duas ex-mulheres.
Outros destaques: "The Trial of Leslie Knope", "The Fight".


6. Game of Thrones
"Baelor"


Não era surpresa alguma o padrão de qualidade de Game of Thrones, já que a HBO tornou-se especialista neste tipo de produção na última década. Porém, o grande desafio era manter-se fiel à obra de George R.R. Martin, sem decepcionar aqueles que haviam lido os livros como também quem acompanhava esse drama épico pela primeira vez na televisão. O começo pode parecer confuso com tantos nomes e raças, às vezes até pouco envolvente, mas o ritmo melhora bastante até atingir "Baelor", prova definitiva que os produtores estão dispostos a levar essa adaptação às últimas consequências. Seu desfecho mostra que a série não precisa coroar os feitos heróicos de ninguém e muito menos se limitar às conveniências do gênero televisivo -- coragem que faltou, por exemplo, na adaptação de The Walking Dead no final da primeira temporada. Assim, coadjuvantes ascendem ao posto de protagonistas e Game of Thrones cresce de um modo conciso e vibrante rumo a gerações e gerações de intrigas pelo poder.
Outro destaque: "Fire and Blood".


5. Boardwalk Empire
"To The Lost"


O salto de qualidade de Boardwalk Empire talvez seja um dos grandes destaques de 2011. Dispensaram as subtramas inúteis, disfarçaram aquele didatismo histórico (embora a trama da polio tenha sido dureza de aguentar) e concentraram na disputa pelo poder em Atlantic City. "To the Lost" foi a maneira perfeita de terminar fazendo um brinde a essa esplêndida temporada, que seguiu tratando dos tortuosos laços de família estabelecidos entre seus personagens, mas principalmente focando na figura de Jimmy Darmody. Depois de virar a mesa e apostar tudo para alcançar o trono de rei, Jimmy viu suas conexões afinando, seus aliados se dispersando e o destino agindo contra sua vontade. Era o fim da linha e ele sabia disso muito bem. Seu retrato neste último episódio, fumando diante da janela e observando o mar, aproveitando os últimos momentos com o filho, já completamente derrotado, provavelmente sejam as cenas mais devastadoras do ano. E para alívio geral, tiveram coragem de eliminar um personagem desse calibre e, ainda de quebra, sujar as mãos de seu protagonista de modo deliberado. Boardwalk Empire, assim como Nucky, é uma série que não precisa do perdão de ninguém.
Outros destaques: "Under God's Power She Flourishes", "Georgia Peaches".


4. Louie
"Duckling"


Escrevi uma análise mais detalhada sobre a segunda temporada de Louie há alguns meses atrás. Mas para resumir, nenhuma outra série de comédia teve tanta personalidade em 2011. Partindo geralmente de ideias inspiradas e executando nas formas mais surpreendentes, Louis C.K. mostrava a cada semana seu retrato mais autêntico da sociedade através de contos e crônicas, sem deixar de lado em nenhum momento sua humanidade. O maior exemplo disso esteve em "Duckling", quando o comediante tem a missão de entreter os soldados americanos no Afeganistão, dividindo com eles cada momento de alegria, saudade, tensão e medo.
Outros destaques: "Come on, God", "Eddie".


3. Friday Night Lights
"Always"


Na despedida de Friday Night Lights da televisão, era difícil conter o orgulho por cinco anos ao lado desses personagens. E por tantas ameaças de cancelamento e reviravoltas, era realmente um privilégio acompanhar um final planejado para a série. Pode-se dizer que essa temporada resumiu bem o espírito desta grande jornada, com um início manquejante até o esperado triunfo final. Foi um desfecho perfeito porque deixou a sensação de continuidade, sempre envolvendo os sentimentos mais autênticos do público, sem precisar forçar ou provocar a comoção de ninguém. Se parecia haver méritos suficiente por ter prolongado a série por cinco anos no discurso de Coach Taylor dizendo que essa experiência com os Lions foi a mais recompensadora de sua carreira, ainda teria algo melhor reservado após o finale: um surpreendente reconhecimento tardio do Emmy, ao menos pela performance arrasadora de Kyle Chandler.
Outros destaques:"Don't Go", "Fracture".


2. Community
"Remedial Chaos Theory"


Por maiores que sejam os malabarismos que Dan Harmon e sua equipe buscam fazer a cada semana em Community, tenho de reconhecer que a maior falha esteja justamente nesse esforço excessivo para impressionar. Mas vez ou outra surgem clássicos instantâneos, como esse episódio das múltiplas linhas temporais, capaz de fazer inveja a qualquer diretor mais moderninho da atualidade. Em um grupo que já ameaçou tantas vezes se separar ou expulsar um de seus membros, é realmente incrível como essa dinâmica serve tão bem para um estudo de personagens, aproveitando a ausência de cada um deles. Por mais insanas e hilárias que sejam as implicações de cada realidade alternativa, somente reforça que os 7 amigos deveriam estar sempre a frente de qualquer estrutura inventiva ou referência fanfarrona da série.
Outros destaques: "Foosball and Nocturnal Vigilantism", "Regional Holiday Music".


1. Breaking Bad
"Crawl Space"


Esse ano Breaking Bad sobrou tanto em relação à concorrência que não seria demais tapar os olhos e escolher qualquer episódio como representante da série no primeiro lugar. Mas "Crawl Space" é muito especial. Pra mim, é sem dúvida o melhor episódio da série, e o que mais impressiona é o conjunto de eventos que desencadeiam naquele desfecho de tirar o fôlego. Pouco antes Gus perde a paciência com a insubordinação de Walt, faz ameaças sérias a toda sua família, e fazia crer que o episódio terminaria ali. Mas havia uma grande reviravolta reservada para Walt, que acabaria enterrado nas fundações de sua própria casa, gargalhando de forma insana, com sua esposa a beira de sua "cova". Um final que só poderia ser alcançado por roteiristas sacanas e adeptos do humor negro, que não se importam de assumir riscos, que se divertem em encurralar seus personagens e não se contentam com saídas fáceis. Parece incrível como a gente consegue se envolver tanto com esses personagens, e sentir toda essa tensão do outro lado da tela.
Outros destaques:"Face Off", "Salud".

Fotos: Divulgação.

e.fuzii
twitter.com/efuzii

[Mad Men] 5x01-02 A Little Kiss

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"Un, deux, trois, quatre!"

É na contagem de Megan que iniciamos esta nova temporada de Mad Men, após longos meses longe do ar, como sempre repleta de promissoras mudanças. Depois de quase um ano e meio, se ainda não me satisfaz por completo a ideia deste novo casamento de Don Draper, ao menos aceito como uma possibilidade interessante, que ficou bastante evidente neste primeiro episódio duplo. Antes de cada temporada ficamos sempre tentando adivinhar quanto tempo teria se passado na vida desses personagens e não esperava que desta vez fosse um longo período. Afinal, seria difícil ignorar esse frescor do casal recém-casado e sua nova adaptação com o ambiente de trabalho. Então voltamos agora ao final de maio de 1966, quando a SCDP continua atravessando uma fase turbulenta e, para piorar, com Joan longe da agência cuidando de seu bebê de poucos meses. Além disso, a agência acaba forçada a contratar uma funcionária negra após um anúncio mal entendido no jornal, mergulhando a série de vez no movimento pelos Direitos Civis dos negros.

Era um tema que os produtores sempre evitaram abordar diretamente, embora alguns personagens coadjuvantes tivessem fomentado uma ou outra discussão a respeito. Mas nenhum deles havia sido centro das atenções até hoje, e como as duas partes do episódio parecem amarradas para esse propósito, confesso que encontro motivos para me preocupar. A primeira amostra disso me pareceu desastrosa: quase um sketch com um bando de figurantes reconstituindo um incidente real ocorrido no prédio da Y&R. Não bastasse a confusão que gerou logo de início (a SCDP mudou? quem são esses novos rapazes?), ainda me pareceu desnecessário, já que Roger poderia simplesmente reportar o ocorrido na manhã seguinte antes de lançar a ideia do anúncio falso no jornal. Entretanto, esse fato leva a desdobramentos bem interessantes já que ele e Don não esperavam que isso fosse levado a sério -- talvez subestimando a própria capacidade de leitura dos negros -- e que a SCDP tivesse de lidar com uma recepção cheia de negros buscando por uma oportunidade. Já é um assunto bastante polêmica para se tratar de forma isenta, por isso meu receio é que adotem um tom de julgamento, como na retrospectiva da primeira cena. Por conta também deste anúncio, Joan teve de encarar a realidade mais cedo do que esperava e visitou a SCDP desconfiada de que estaria perdendo sua posição, gerando a cena mais brilhante do episódio, Mad Men em sua melhor forma, quando um simples bebê vira batata quente na mão dos funcionários e acaba chamando atenção para algumas das várias relações ocultas através daquelas divisórias. Pete e Peggy brigando para saber quem cuidaria do bebê, Don cadencioso ao falar de um novo filho e com todo seu charme recebendo Joan sob o olhar fulminante de Megan, Roger aparecendo de surpresa e chamando Joan de "my baby". Acho improvável sacrificarem Greg no Vietnã porque sobrariam alguma pontas soltas, mas espero que consigam driblar o melodrama caso o caminho a seguir seja de duvidar da paternidade da criança.
Lane Pryce explica a situação delicada que a empresa está passando sem Joan, reforçando sua importância no controle das finanças, mas meu palpite é que existem problemas mais graves que ele ainda não quis revelar. Lane também tem relativo destaque na segunda parte do episódio, quando acha uma carteira cheia de dinheiro no banco de trás de um táxi e por cautela, e certo preconceito, resolve carregá-la para entregar ao dono. Chega a me surpreender que seja ele a tomar essa atitude depois de seu relacionamento com a "chocolate bunny" do Playboy Club na temporada passada, mas talvez sua origem inglesa explique toda essa desconfiança. Ao menos Lane parece ter conseguido resolver os problemas em casa e trouxe de volta sua mulher para morar junto em NY. Mas ele ainda se deixa levar facilmente pelas fantasias da foto de uma bela mulher encontrada na carteira perdida. Já Pete Campbell ainda não dá sinais de ter amadurecido, mas com o nascimento do filho precisou mudar-se com a família para o subúrbio de Connecticut. A rotina diária e o estilo de sua residência lembram tanto a vida de Don Draper há alguns anos atrás que ele mesmo parece incomodado. Além disso, Pete não se mostra nem um pouco satisfeito pelas transformações que Trudy passou durante este período. Em um ato de rebeldia, ele convoca uma reunião improvisada em sua sala para tentar convencer os sócios de que precisa receber seus clientes em uma sala mais ampla, sugerindo no caso a de Roger. Roger Sterling ainda não chega a ser um fóssil como Bert Cooper, mas sua participação -- e creio que sua vontade de trabalhar -- diminuíram bastante depois da saída da Lucky Strike. Por mais que esteja desesperado, invadindo toda e qualquer reunião com algum cliente em potencial, sem nem mesmo hesitar, Roger ainda detém aquilo que faz toda diferença nos negócios: dinheiro. Com um pequeno agrado ele convence Harry a trocar de sala com Pete e tudo acaba resolvido, ao menos por enquanto. Como Trudy chega a dizer ao marido, essa insatisfação pode ser boa, desde que seja sinal de ambição para os negócios, e Pete parece ser o único capaz de salvar a agência dessa possível crise que se anuncia.

Porém, ninguém mostrou maiores ambições neste episódio do que Megan Draper. Certamente não haveria maneira melhor de apresentá-la do que numa festa surpresa para Don em seu novo apartamento, com direito a uma performance toda especial como presente de aniversário. A forma desinibida como a garota dançava e cantava deixou o elenco inteiro atônito, assim como os próprios espectadores, numa das maiores extravagâncias que a série já se permitiu. Mas pra dizer a verdade, Megan nem precisava ter se esforçado tanto para sacudir as estruturas da série, porque todos já se mostravam incomodados o suficiente com sua nova posição. Até Sally, que agora alterna entre o "castelo" de sua mãe e o quarto em reforma no apartamento de seu pai, precisa se acostumar com a ideia de ter uma mulher nua na cama de seu pai, enquanto ele prepara o café da manhã para os filhos. Aliás, Megan já se mostra bem diferente daquela moça recatada e prestativa do final da temporada. Sua determinação e o fato de ganhar seu próprio dinheiro dão uma liberdade sem precedentes diante de Don. Ela não se envergonha pela forma que obteve sua promoção, quer ainda assim participar do processo criativo e exige que seja tratada com respeito pelos colegas. Peggy obviamente não parece confortável com a rápida ascensão de Megan e faz pouco casos de suas ideias, enquanto Harry, como sempre, acaba tendo de morder a língua na frente da mulher de seu chefe. Tanto desgosto que ela termina com sua confiança abalada e volta para casa cogitando desistir. Mas basta o marido chegar para então, Megan resolver facilmente esse conflito através de um jogo peculiar, aliando provocação e sedução. Don Draper é um homem deslumbrado, fazendo pouco caso do trabalho, satisfazendo os desejos da mulher. Megan é capaz de controlá-lo com o simples desabotoar da blusa, dentro ou fora do ambiente de trabalho. Quem é o chefe, afinal?

Don aparentemente jogou limpo com ela, revelando sobre sua dupla identidade logo de cara, talvez consciente que quando resolveu finalmente contar todo seu segredo a Betty já era tarde demais. Mas este fato nem soa surpreendente perto do modo como ela encara essa revelação, fazendo até piada. Don Draper está manso e Peggy tem toda razão de estar preocupada quando ele baixa a cabeça diante das exigências dos representantes da Heinz. Se a sensação que esse primeiro episódio nos deixa é de que teremos uma temporada leve e bem humorada, completamente oposta à sombria quarta temporada, essa me parece ser apenas passageira, ao menos até que as falsas ilusões de esperança (o anúncio no jornal, bebês, novo casamento) sejam dissipadas. Ou ao menos até que "Zou Bisou Bisou" saia de dentro de nossas cabeças.

Fotos: Reprodução.

e.fuzii
twitter.com/efuzii

[Mad Men] 5x03 Tea Leaves

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Não tem sido tarefa fácil escolher uma foto para ilustrar meus textos nesta temporada de Mad Men. Afinal todo episódio temos algum fato surpreendente que deve ser preservado daqueles que entram aqui por acaso. Na semana passada, era o novo casamento de Don Draper, dessa vez é a aparente obesidade de Betty, que nem com a ajuda dos filhos consegue entrar em seu antigo guarda-roupas -- ironia cruel rebater essa cena com Don facilmente fechando o vestido de sua esbelta mulher logo em seguida. Para incorporar (literalmente) a gravidez de January Jones à série, os roteiristas tiveram de recorrer a essa trama, já que seria pouco provável que Betty engravidasse tão cedo de Henry. É algo que me agrada, principalmente pelo modo como evoluiu ao longo do episódio. Não chega a ser novidade para ninguém acompanhar um personagem encarando a morte através de um diagnóstico de câncer -- já acompanhamos esse tema inclusive na temporada passada com Anna Draper --, mas com Betty isso me parece diferente. Além desta mudança física já ser um golpe na auto-estima de qualquer um, principalmente para quem sempre foi reconhecida pela beleza, a própria ingenuidade e suas tendências infantis colaboram para criar certa simpatia pela personagem. Interessante notar que mesmo Henry sendo um marido mais paciente e atencioso, Betty prefere ser consolada por Don logo que recebe as primeiras notícias. Já é padrão os produtores adotarem algum tipo de metáfora quando retratam o estado psicológico de Betty (o pássaro preso na gaiola, o souvenir) e dessa vez não foi diferente: as folhas de chá do título, que sobram no fundo da xícara após perderem sua função. Enquanto Betty apavora-se com o relato de sua antiga amiga sobre o duro tratamento que está sendo submetida e a má sensação que isso traz, uma vidente aparece propondo-se a ler seu futuro. E sua previsão não poderia soar mais cruel, com palavras de conforto como aquelas que dedicamos a família de alguém que acaba de falecer. Mas tudo não passa de um susto, e o alívio dela está justamente em poder continuar criando os filhos, sem precisar depender de Don (e Megan) ou de sua sogra. A última cena talvez justifique o ganho de peso de Betty ao longo desse período, além de denunciar que Sally está atenta -- e reprova -- a obesidade da mãe, quando rejeita o resto do sorvete. Não à toa, no sonho de Betty em estilo Sopranos, é Sally quem faz questão de virar a cadeira da mãe na mesa de jantar.

Essa relação entre pais e filhos permeia ainda o restante do episódio, desde o orgulho do pai de Michael Ginsberg pela sua contratação até Roger sentindo-se traído pelas molecagens de Pete no caso Mohawk. É o constante conflito entre gerações que essa temporada vem anunciando, e que apareceu bem claramente na visita de Don e Harry aos bastidores do show dos Stones. Se Roger espera no conforto de sua ampla sala que as coisas voltem a ser como antes, Don ao menos tenta se mexer fazendo uma "pesquisa de campo". Porém, ainda que curioso com a garota que lhe dá um mínimo de atenção, Don parece estar sempre fazendo as perguntas erradas, numa atitude quase paternal. Impossível também que não passe pela sua cabeça que Sally também faz parte dessa geração -- ao menos beatlemaníaca já sabemos que ela é --, o que gera um desconforto não só em relação ao consumo de drogas como por ela em breve se tornar uma jovem tão indecifrável quanto estas. Quem também passa a se sentir ameaçada é Peggy com a chegada de Michael à agência, um sujeito excêntrico que parece tão talentoso e socialmente privado quanto ela. Sua contratação surge primeiramente como uma exigência de Roger, que enxerga nele uma oportunidade de "modernizar" a agência com a presença de um judeu (embora nem ele entenda exatamente o porquê), mas passa depois também pelo aval de Don Draper, para decepção de Peggy. Apesar do medo de ser substituída, por enquanto ainda não fica muito claro qual postura ela espera de seu chefe-mentor, mas desde já é o confronto que mais estou ansioso para ver nesta temporada. Por outro lado, Don ainda conta com o otimismo de Megan ao seu lado, que é capaz até mesmo de convencê-lo a viajar para esquecer os problemas de Betty (uma pena aliás, não mostrarem sequer um trecho dessa viagem a Fire Island). O amplo contexto histórico presente em Mad Men, que nos permite antecipar as mudanças que estão prestes a ocorrer, é intrigante justamente por servir como ameaça ao futuro desses personagens, que lutam a todo custo para se adaptar antes de serem deixados para trás. E esse parece ser o momento mais crítico até então. Afinal, ao contrário de Megan, são poucos aqueles que ainda podem se gabar por ter o tempo a seu favor, infelizmente.

Fotos: Reprodução.

e.fuzii
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[Mad Men] 5x04 Mystery Date

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"You're not a good man."

Após dois episódios consecutivos apresentando sonhos e delírios, podemos ter certeza que Mad Men embarcou de vez nas ilusões de seus personagens. Desejo, terror, trauma e suspeitas pairam sobre suas cabeças, tomando a forma de diversas visitas, algumas bastante esperadas, outras tantas imprevistas, assim como no jogo de tabuleiro que dá nome ao episódio (o comercial na tv que Sally assistia enquanto Pauline falava ao telefone). Dessa vez acompanhamos os pesadelos de Don Draper, que passa a ser perseguido por uma alucinação febril dentro de seu apartamento, um caso antigo que tenta seduzí-lo. Seria a oportunidade ideal para provar que havia mudado, mantendo-se fiel a sua nova mulher, mas por mais que Don tentasse combater seus desejos, tudo que acaba despertando são instintos ainda mais primitivos. Ele chega a estrangular a amante e esconder seu corpo debaixo da cama, acreditando assim ter resolvido o problema em definitivo. Tudo que restam são suas pernas para fora, com um dos sapatos faltando, como na versão obscura de Cinderella contada por Michael Ginsberg aos clientes da Butler. Invertendo os papéis de suas fantasias, Don termina com a consciência limpa porque acredita também que Andrea pediu por isso. É a maneira como ele encara seus instintos, como quando culpava Betty por sua infidelidade, embora hoje Megan censure ele por isso.

Embora seus atos fiquem apenas no campo das ilusões, claramente remetem ao crime bárbaro cometido por Richard Speck naquela semana de 1966, quando assassinou oito estudantes de enfermagem em Chicago. Joyce visita a SCDP trazendo consigo fotos censuradas desse massacre, causando espanto e principalmente uma curiosidade mórbida de todo o pessoal. Menos de Ginsberg, que mostra-se o tempo inteiro horrorizado até enfim sair da sala, enjoado com o comportamento dos colegas, provavelmente ainda despertando memórias do Holocausto. Nada mais irônico Joan aparecer enquadrada dentro do forno logo em seguida. Mesmo que em momento algum esse crime fosse sugerido durante seu reencontro com Greg, acredito que também tenha motivado Joan a revirar traumas oprimidos em seu passado. Finalmente ela confronta o marido por aquele estupro antes mesmo de terem casado, sem grandes escândalos, apenas baseado nas suas lembranças e do próprio público (a cena nem chega a aparecer no recap antes do episódio). Para uma história que sempre se equilibra para não pender demais ao melodrama, foi importante que a decisão de terminar o casamento tenha partido da própria Joan, e não por um simples capricho do destino como muitos acreditavam (no caso, Greg morrendo na guerra). Afinal, a possibilidade de Joan triunfar no ambiente de trabalho enquanto mãe divorciada tem tudo para ser fascinante. Mad Men sempre se destaca pelo cuidado ao tratar de suas fortes personagens femininas (talvez rivalizando apenas com Game of Thrones atualmente) e esse "troco" de Joan, depois de tanto tempo, foi outra prova disso.
Já Peggy acaba faturando uma bolada às custas da negligência de Roger com a conta da Mohawk (esperamos que ele tenha ainda muita grana para sempre se prestar a esse papel ridículo) e tem de trabalhar sozinha até altas horas da noite na SCDP. Depois de se assustar com alguns barulhos pela agência, certamente ainda impressionada com as fotos do crime, Peggy encontra Dawn se preparando para dormir no sofá da sala de Don. Sem chance de voltar para casa por conta do tumulto nos protestos pelos Direitos Civis, Peggy oferece então seu apartamento, e essa visita acaba sendo uma chance de acompanhar o seu desconforto com essa situação. Primeiro porque ela tenta de todas as formas forçar que está entendendo os problemas de Dawn, desde os protestos até sua condição de minoria na agência. Segundo porque Peggy acaba sempre conduzindo a discussão para tratar de si mesma, interrompendo Dawn até por diversas vezes. E para completar, cria-se um impasse no meio da sala quando Peggy hesita em tirar sua bolsa do alcance de Dawn. Embora pareça bem semelhante àquele dilema de Lane no táxi há alguns episódios, nesse caso vejo certa complexidade por tratar do preconceito de uma forma reversa. Afinal, com todo aquele dinheiro, dificilmente Peggy largaria sua bolsa na sala, seja lá quem estivesse dormindo ali. Mas Dawn percebeu que ela hesitou, Peggy percebeu que tinha de dar crédito e agir com naturalidade, e assim sua atitude não poderia ser mais condescendente. Pode parecer um voto de confiança, mas mostra-se acima de tudo um preconceito inato, incapaz de esconder. Dawn ainda não apareceu tratada como deveria, dessa vez servindo apenas como mero embaraço para Peggy, mas espero que explorem ela com maior profundidade ao longo desta temporada.

Depois de curtas participações nos episódios anteriores, Sally Draper finalmente ganha uma história para si, tendo de lidar com a companhia da mãe de Henry na mansão mal assombrada por mais tempo do que imaginava. Por causa de sua curiosidade peculiar e a vontade de se envolver na conversa dos adultos, Sally acaba ficando sabendo também dos crimes de Speck, e isso parece enfim chacoalhar seu mundo de fantasias. Se toda criança alguma vez já se sentiu apavorada pelos monstros debaixo de sua cama, Sally busca refúgio justamente debaixo do sofá, provavelmente depois de saber como uma das vítimas se safou da morte. E talvez não exista metáfora melhor para indicar que a garota está finalmente perdendo sua inocência infantil. Os contos de fada começam a deixar de fazer sentido, não apenas para a garota, mas para todos esses personagens. Já dizia que a leveza do início da temporada tinha tudo para ser apenas passageira, e com as declarações de Matthew Weiner de que iremos acompanhar o declínio de Nova York no decorrer dos próximos anos, o massacre de suas ilusões, duradouras como o casamento de Joan, ou ligeiras como os instintos de Don, parece ser apenas o começo.

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[Mad Men] 5x05 Signal 30

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"We're supposed to be friends!"

Por mais que fossem duros os golpes sofridos por Pete Campbell ao longo desse episódio, nada soa tão triste quanto esse seu lamento final. Ainda mais vindo de alguém que no decorrer da carreira nunca hesitou em passar a perna em quem fosse preciso para levar vantagem. Já no episódio piloto, Don é categórico ao afirmar que ele nunca seria capaz de substituí-lo porque ninguém simpatizava por ele. Pouco tempo depois, ele tenta chantagear Don com a carta de seu irmão e corre sério risco de ser demitido, só se salvando pela influência de sua família. Nesta temporada, suas atitudes na SCDP também não podem ser consideradas das mais nobres, principalmente em relação a Roger. Joan, enquanto consola Lane e tenta evitar maiores constrangimentos, diz que todos naquela agência já tiveram vontade de socar Pete uma ou outra vez. Por isso, tanto essa ideia de que os sócios da empresa deveriam compartilhar sentimentos de camaradagem, quanto suas investidas na garota que faz aulas de direção junto com ele, mostram uma pessoa ainda tão inocente e frágil, que só poderia resultar na mais profunda desilusão com sua pacata vida no subúrbio. Pete pode ter atingido a idade adulta mas ainda não sabe se portar como gente grande.

Aproveitando a chegada no mercado americano dos carros da Jaguar, um símbolo de virilidade por si só, o episódio reúne seus personagens em ambientes e situações tipicamente masculinas: o jantar de família entre colegas de trabalho, a torcida em um pub assistindo à final da Copa, uma noite de diversão no bordel e, claro, a épica luta travada na sala de reuniões. Tudo isso coloca em discussão o compromisso nas relações dentro e fora do trabalho. É exatamente desse assunto também que trata um dos contos de ficção científica (nada mais que os contos de fada do episódio anterior mas direcionados aos garotos) de Ken Cosgrove: um robô dedicado a manutenção de uma ponte que liga dois planetas. E isso aparece inclusive no pacto secreto firmado entre Ken e Peggy, assim como na relação entre Lane e seu companheiro britânico. Lane enxerga em seu compatriota a chance de conquistar uma conta milionária, tentando assim se livrar do rótulo de avarento da agência. Para isso, ele conta com os conselhos de Roger, que se mostra realmente competente ao tratar do assunto. Porém, por mais que se esforce e procure diversos ângulo para estabelecer uma relação com seu cliente, Lane falha em todas as tentativas. Roger define essa "amizade" como uma maneira estratégica para atrair seus clientes e chega a dizer para Ken que quando seu trabalho é bom, ele satisfaz toda as suas necessidades. Mas a SCDP não vive um grande momento há algum tempo e por isso, aqueles que ainda vivem vinculados a ela tendem a afundar junto, como é o caso de Pete e Roger.

Pete Campbell passa por um verdadeiro inferno astral neste episódio. Sua única intenção com o jantar de casais era receber a visita de Don em sua casa, mas por mais que tivesse insistido, somente Trudy foi capaz de realmente convencê-lo a comparecer. Pete experimenta uma espécie de crise de meia idade precoce, quando percebe que já não tem mais a mesma juventude de um "Handsome", que acaba por confundí-lo com o instrutor do curso antes de conquistar sua garota, nem nunca terá a mesma destreza de Don Draper, que conserta com extrema facilidade a torneira enquanto ele se perde dentro de sua caixa de ferramentas. Até mesmo nos negócios ele não é capaz de corresponder às expectativas do cliente, que busca um tipo de entretenimento que só Roger guarda na manga. Trudy não permite nem que ele tenha um rifle em casa. E para todos aqueles que reclamaram dos sonhos serem óbvios demais nas últimas semanas, dessa vez foi através da intimidade com uma prostituta que Pete revela seu desejo de ser tratado como rei, posto que provavelmente havia sido preparado para assumir desde a infância. Já que não consegue se garantir sozinho, tudo que lhe resta então, é procurar desesperadamente pela aprovação de Don. Mas nem isso ele consegue, já que Don critica sua infidelidade ao saírem da noitada no bordel. Para completar, sua derrota mais dolorosa ainda estava por vir. Dolorosa não apenas pela surra em si, nem pela vergonha diante dos colegas, mas porque ele acreditava que estaria seguro na agência, nunca seria atingido daquela forma. Quando ele diz que os sócios deveriam ser amigos, é porque esperava que eles tomassem alguma atitude e não ficassem apenas assistindo a briga, como se estivessem no pátio do colégio.

Há alguns episódios, Trudy diz que a insatisfação de Pete pode ser revertida a seu favor quando serve de ambição. Mas esse foco exagerado no trabalho significa uma queda ainda mais cruel diante de qualquer revés. A presença de Ken não é a toa, serve como paralelo perfeito de como encarar essa desilusão. Por mais que sua carreira como escritor tenha sido reprovada por Roger, basta certa cautela e adotar um novo heterônimo para manter esse segredo rolando. Ken nunca foi de misturar trabalho com a vida pessoal (no final da temporada passada, ele se recusa a envolver o pai de Cynthia nos negócios), e parece muito confortável assim. Don Draper -- quem diria? -- também serve como exemplo. Nesta sua nova postura despreocupada de encarar o trabalho, ele parece ter feito as pazes não só com seu presente mas também com seu passado, até pela forma como corrige num impulso o sobrenome do assassino do Texas durante o jantar, ou como fala tranquilamente sobre sua infância numa fazenda. A verdade é que quanto mais investem no trabalho, mais insatisfeitos eles se tornam. Resta saber como Pete irá se portar diante disso, já que esses personagens nunca foram adeptos de mudanças bruscas.

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[Mad Men] 5x06 Far Away Places

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"I don't want vacation to end."

Para um episódio que prometia tratar de lugares distantes, o que acompanhamos na verdade foi a influência dessa passagem do tempo para os personagens. Essa sensação de inadequação parece ser o tema que guia a temporada, como expresso na música dos Beach Boys "I Just Wasn't Made For These Times", ou como temos visto nas últimas semanas, com Sally encarando a adolescência, por exemplo, e Pete a idade adulta. Mas dessa vez, a própria estrutura da narrativa parece afetada pelo turbilhão de mudanças. Mad Men tem por costume apresentar contos isolados de seus personagens que normalmente acabam se relacionando entre si através do estilo ou tema, mas nunca a série havia experimentado apresentá-los de modo linear, embora todos acontecessem simultaneamente ao longo de um mesmo dia.

Como em três grandes blocos -- que poderiam até ter sido literalmente isolados, caso os comerciais fossem estrategicamente inseridos entre eles --, Peggy, Don e Roger aparecem enfrentando problemas em seus respectivos relacionamentos. Os três personagens comparados lado a lado criam também um fluxo temporal de continuidade, Peggy imitando o estilo de vida de Don Draper, e este cometendo erros semelhantes aos de Roger. Mas nesse caso, a estrutura pouco fez diferença ao conduzir as histórias, exceto pela viagem de Don, que certamente teria seu ritmo de tensão crescente prejudicado se fosse intercalado com as outras histórias. O misterioso telefonema de Don sob o ponto de vista de Peggy, também não tem grandes desdobramentos depois de revelado seus reais motivos. Na verdade, o episódio peca justamente por não se preocupar tanto assim com as nuanças, sendo óbvio até demais. Mesmo na experiência de Roger e Jane, a primeira viagem de LSD mostrada pela série, os efeitos mais surreais passam rapidamente e logo dão lugar a resoluções concretas, para avançar a narrativa, embora fossem suficientes para John Slattery mostrar toda sua versatilidade, seja encarando as marcas da velhice diante do espelho como vibrando feito criança numa final de beisebol. O casal logo cai na real no chão de seu apartamento (um recurso também utilizado depois na história de Don) e quando verdades acabam vindo a tona, ambos decidem pela dissolução do casamento. É um situação confortável para Roger, que mesmo pagando caro para se livrar de outro problema, parece revigorado quando percebe não adiantar mais continuar se enganando assim.

Já Peggy nunca se sentiu tanto como Don Draper antes, seja na posição que foi colocada de "fachada" criativa da agência diante do cliente da Heinz, como nos costumes de fumar e beber. Vendo seu trabalho sendo rejeitado outra vez, ela adota o discurso de seu chefe e despeja todas as suas frustrações no cliente, dizendo saber melhor do que ele o que sua empresa precisava. Mas é uma estratégia completamente suicida porque como Stan lembra logo em seguida, espera-se que a mulher esteja sempre pronta para tentar agradar. Ela decide então tirar umas horas de folga, e assim como Don Draper, ir ao cinema no meio da tarde, arranjar um encontro casual (e claro, dessa vez oferecer o agrado). Mas talvez tirar um cochilo no próprio sofá da sala de Don, sendo acordada por sua secretária, tenha sido o limite. Peggy só vai cair em si ouvindo a história de Ginsberg sobre sua estranha origem, ter nascido em um campo de concentração. Tudo levava a crer que eles entrariam em um conflito criativo, mas estou achando bem mais interessante essa aparente identificação por ambos se sentirem deslocados, algo que Peggy sempre procurava encontrar em Dawn, Rizzo e tantos outros anteriormente. Embora nas suas escapadas Don sempre voltasse para sua família ao final do dia, Peggy parece mostrar um verdadeiro arrependimento quando chama seu namorado de volta e percebe que precisa contar com alguém para lhe dar suporte.

A viagem de Don Draper e Megan acaba sendo uma história cheia de contrastes: começa com a promessa de férias fora de época, provavelmente tentando resgatar ainda o frescor inicial de seu casamento, e termina em uma atmosfera noir de tensão e desconforto. As cores super saturadas do restaurante Howard Johnson's dão lugar ao breu de uma auto-estrada. Os delírios de perseguição de Don Draper em seu apartamento voltam dessa vez de modo inverso. Enquanto os papéis de marido e chefe continuam a se confundir, Megan vai se sentindo pressionada a ponto de sua maneira flexível e dócil de encarar a vida (se dar bem com todo mundo, comer de tudo) se transformar em puro inconformismo. Sua paciência se esgota e de forma até cruel chega a sugerir que Don ligasse para a mãe que nunca conheceu. A reação habitual de Don quando contrariado desse jeito, lógico, é sempre fugir. Mas hoje ele não está lidando mais com uma mulher submissa, Megan não precisa esperá-lo, ela pode continuar seguindo sua vida que ele vai acabar deixado para trás. Pelo contrário, aliás, sua posição logo depois de encontrá-la de volta no apartamento é que mostra submissão, de joelhos agarrado ao seu abdômen, como um filho suplicando pelo perdão de sua mãe. E Bert Cooper -- quem diria? -- chega com o choque de realidade final: força Don Draper a terminar seu período de lua-de-mel e voltar a se concentrar em seu trabalho. Enquanto vemos ele de costas na sala de reunião numa posição bem mais tensa do que a usual (como na abertura da série, por exemplo), ele assiste os funcionários circularem, sem ter a menor ideia do que está se passando. Como o Howard Johnson's que Don ficou confinado por quase um dia: era considerado a maior rede americana de restaurantes entre os anos 60 e 70, mas acabou abandonado a beira das estradas, e hoje está reduzido a apenas 3 unidades.

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[Mad Men] 5x07 At the Codfish Ball

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"Dirty."

Talvez seja cedo demais para garantir isso, só agora atingimos a metade da temporada, mas tudo leva a crer que Sally Draper será a principal voz desse ano. Afinal mesmo com curtas participações (no episódio anterior ela apareceu em uma única cena de flashback) Sally, em sua inocência ainda infantil, consegue sempre expor aquilo que todos parecem querer esconder ao seu redor. Ela lembra até um narrador-personagem, através de um ou outro recurso narrativo, comentando as mudanças acontecendo em seu mundo. Muitos espectadores ainda temem seu futuro, mas para mim, já que sua maturidade confunde-se com as próprias transformações dos anos 60, Sally é quem mostra maior capacidade de se adaptar enquanto cresce, ao contrário de quem precisa abandonar tantos vícios. Sua constatação final, sobre a condição suja da cidade, é algo aparente para todos os outros personagens mas que nenhum deles tem coragem de dizer, ou mesmo vontade de ver. Sally está cada vez mais solitária, com a mãe ausente (os roteiristas estão prestes a esgotar todas as desculpas possíveis para manter Betty fora da série) e seu pai mais preocupado com sua nova vida na cidade. Além disso, essa idade de transição é bastante delicada, tanto por suas fantasias serem desmanchadas pouco a pouco (a entrada triunfal no baile por uma escada enorme, por exemplo) como por ainda não poder se portar como adulta. Na festa em que Don recebe um prêmio pela sua carta anti-tabaco, ela termina esquecida na mesa, tendo de se contentar com o peixe que despejam em seu prato, e até uma simples ida ao banheiro representa o perigo de se deparar com a promiscuidade escondida por trás da primeira porta que se abre. Por mais traumático que isso possa ser, Sally ainda tem todo tempo para superar, ao contrário das outras filhas a aparecerem no episódio: Megan e Peggy.

Megan finalmente recebe a visita de seus pais, que parecem viver um relacionamento bastante turbulento. Emile é o típico escritor decadente, que provavelmente escreveu uma grande obra na carreira e nunca mais fez sombra a esse sucesso em suas publicações seguintes. Já Marie aparenta uma constante frustração. Dá para entender por que ela se casaria com Emile, mas o tempo parece ter desgastado a relação a ponto dela não aguentar a implicância do marido com tudo. Mesmo que estivesse o tempo inteiro nesse fogo cruzado dos pais, Megan ainda arranja tempo neste episódio para se destacar em seu trabalho, ao sugerir uma nova abordagem para o comercial da Heinz, baseado no jantar em família da noite anterior. Impressionante não apenas pela ideia, mas também na apresentação improvisada frente ao cliente em um jantar informal, quando Megan percebe que a SCDP está prestes a ser dispensada. A virada de jogo é incrível, principalmente pela sintonia com Don -- num apelo nostálgico que é o estilo dele -- como se tivessem ensaiado por semanas, cada palavra, cada gesto, cada interação com o cliente. Eles chegam até a induzí-lo a pensar que a ideia de colocar os mesmos atores para interpretar mãe e filho em todas as cenas fosse inteiramente dele. Mas apesar de acender uma chama de amor nos Draper enquanto retornam para casa, o entusiasmo de Megan parece desaparecer aos poucos na manhã seguinte. Por um lado, mesmo que seja reconhecida pelos demais funcionários da agência, Megan teve de abrir mão da total autoria do comercial frente ao cliente, principalmente porque Don (ou outro homem qualquer, Peggy que o diga) certamente seria mais convincente para ganhar sua confiança. Por outro lado, Emile se mostra extremamente decepcionado na festa pela filha ter abandonado seus sonhos para escolher o caminho mais fácil, a vida de luxo que Don pode proporcionar. Em outras ocasiões Megan já havia hesitado quando ganhava espaço na agência, e agora entendemos o porquê: ela ficava cada vez mais distante da carreira de atriz.

Peggy também se mostra confusa quando Abe propõe que passem a morar debaixo do mesmo teto. Afinal, por mais moderna que possa ser, Peggy ainda não sabe lidar prontamente quando sente seu conservadorismo sendo ameaçado. A mensagem contida na tal campanha da Heinz, certos costumes que são passados de geração em geração, funciona como um excelente paralelo para a postura de Megan e Peggy em relação aos seus pais. São aquelas rígidas estruturas que regem nossa sociedade, que por mais que sejam chacoalhadas, sempre permanecem intactas. Peggy desafia um destes tabus quando convida sua mãe num jantar em seu apartamento, a fim de contar a novidade. Com certeza ela já era capaz de prever a reação de sua mãe, só não esperava que fosse além da questão da união pecaminosa vista aos seus olhos, mas uma preocupação pela filha não estar sendo valorizada como merece. Joan, agora a mulher madura da SCDP, tem papel fundamental para ajudar Peggy a entender seus sentimentos, tanto convencendo que o jantar especial com Abe é sinal de boas notícias, quanto provando depois que um documento assinado pode não ter valor algum. Peggy também oferece seu apoio a Megan na manhã seguinte ao triunfal jantar. Embora com um texto óbvio demais -- Peggy se esforçando para explicar que não deveria sentir inveja --, ela aconselha que Megan aproveite o máximo de prazer que esse trabalho poderia lhe proporcionar. Há um tempo atrás era Don quem dava esse conselho para sua aprendiz. Acho realmente admirável essa união feminina durante o episódio, porque mesmo em um contexto mais moderno, não deixa de representar esses ideais já sendo passados entre diferentes gerações. Afinal, entre tradições antigas e tentações modernas, somente unidas essas personagens serão capazes de atravessar essa época, saindo da penumbra dos bastidores ("Go get 'em, Tiger!") para finalmente abrir suas asas e voar livremente.

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[Mad Men] 5x08 Lady Lazarus

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"Surrender to the void."

Depois de cinco temporadas acompanhando Don Draper em Mad Men, era possível que qualquer espectador antecipasse sua reação quando colocasse para ouvir a última canção do revolucionário disco dos Beatles, Revolver. Sozinho em seu apartamento, confortavelmente reclinado em sua poltrona, entre o som de cítaras, cantos de pássaros e vozes distorcidas, Don certamente iria preferir o barulho da cidade entrando por suas janelas. Ele chega a confessar pouco antes para Megan que não entende o apelo da música pop na publicidade da época, e sente que está ficando ultrapassado. Pode parecer uma constatação explícita demais, indo direto naquilo que temos acompanhado, mas essa temporada tem apresentado cada vez mais esse tipo de discurso, como por exemplo, Roger analisando seu casamento com Mona no episódio anterior. Os tempos são outros e todas as mudanças tornam-se mais evidentes, fica impossível tentar contornar. O episódio piloto mostrava Don revertendo os malefícios do cigarro criando uma campanha em que provocava e confundia seu consumidor, mas nos últimos tempos ele mesmo teve de se render aos apelos da sociedade do câncer e publicar sua famosa carta anti-tabaco. O cliente, já seduzido pelas comerciais de televisão, não se contenta mais apenas com uma ideia, ele quer também entender a execução. Ginsberg chega a arrancar aplausos de seu cliente pela performance do clipe dos Beatles. Novos negócios chegam à empresa pela promessa de uma atuação convincente do casal do momento, Don e Megan. Mas Megan, como vinha demonstrando nos episódios anteriores, não está satisfeita com esse sucesso.

Era previsível que ela abandonasse a carreira publicitária, mas não deixa de ser uma decisão corajosa por parte dos roteiristas, principalmente pela comodidade de ter Megan sempre presente, convivendo com Don e os outros funcionários da SCDP. Embora não houvesse necessidade de prolongar tanto sua "despedida", o mais interessante foi a reação dos outros personagens diante dessa decisão, cada um refletindo sua própria condição na agência. Stan, que tem aparecido como coadjuvantes em todas as apresentações para clientes, culpa a profissão pela sua desistência, por não valer a pena se preocupar por tão pouco. Peggy acredita que tenha sido dura demais, mas também não enxerga outro modo de lidar com essa situação que Don lhe colocou. Para Joan, Megan está apenas aproveitando as boas condições que seu casamento oferece, algo que ela também procurava quando se uniu a Greg -- caso ele fosse bem sucedido em sua carreira. Já Don vive durante o episódio um longo processo de aceitação. Em um momento de fúria, após o fracasso da apresentação ao lado de Peggy, ele chega a culpar a pressão dos colegas na agência, lembrando que Megan havia reclamado deles no início da temporada, certamente transparecendo sua própria insatisfação com o trabalho.

Megan vinha sendo nesta temporada uma forma de desviar a atenção de Don dos assuntos da agência, e os poucos momentos que ele se sentia motivado eram justamente ao lado de sua mulher. Mais do que isso, Megan era sua passagem para essa nova geração. Na simbólica despedida do casal, isso não poderia fazer mais sentido: enquanto Megan embarca no elevador em busca de novos desafios, Don termina encarando um fosso vazio. Poderia ser apenas obra do acaso, um destino irrevogável. Mas não foi o próprio Don Draper quem escolheu por esse destino? Joan estava certa em prever que Megan se tornaria uma nova Betty? Roger sugere que ele tente estabelecer uma rotina para esse relacionamento funcionar, mas bastam duas noites para Don perceber que isso não depende só dele. Na primeira, ele parece satisfeito em encontrá-la em casa preparando seu jantar, mas na segunda, o encontro é breve até que ela tenha de sair para sua aula de interpretação. Megan diz que era assim que imaginava que ele seria como marido, mas pela reação de Don, ele não parece ter essa mesma convicção.

Pete volta neste episódio, depois daquele nocaute sofrido, para ser confundido novamente pelas suas fantasias. Dessa vez elas surgem ao encontrar Beth (interpretada por Alexis Bledel, que me isento de comentar por Gilmore Girls ser uma de minhas séries favoritas), a mulher de Howard, seu companheiro de trem a caminho da cidade. Pete parece chocado com a indiscrição dele, que é capaz de alugar um apartamento na cidade para manter uma de suas amantes. Depois de uma carona e sexo casual na própria sala de Beth, Pete enxerga neste relacionamento a maneira ideal de solucionar os problemas dos dois. Afinal, ele assume que ambos estão infelizes em seus respectivos casamentos. Sua obsessão é tanta que até se arrisca ao demonstrar interesse pela oferta de Howard, só para ter poucos minutos com Beth, roubar-lhe um beijo, mandar um recado. Como um adolescente sufocado por uma paixão juvenil. Mas seus sonhos são dissipados como o coração desenhados por Beth no vidro embaçado. Durante toda a temporada um aspecto sombrio parece envolver Pete, nos seus pertences, suas conversas, seus desejos. Pelas constantes decepções, não seria demais esperar pelo pior. O próprio título do episódio é baseado em um poema de Sylvia Plath contemplando o suicídio. Por mais que alguns até torçam por isso, acho que a série só tem a perder com a saída dele, principalmente agora que a dinâmica na SCDP com Megan ficou para trás. Mas como Mad Men nunca se baseou em grandes acontecimentos dramáticos, deve ser apenas um mau presságio, como no caso do falso alarme com o câncer de Betty.

Fotos: Reprodução.

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[Mad Men] 5x09 Dark Shadows

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"This could change everything."

Para quem levantava suspeitas desde que foi revelado o título do episódio dessa semana, já que iria ao ar justamente na mesma semana em que o filme de Tim Burton chegava aos cinemas americanos, tudo não passou de mera coincidência. Na verdade, trata-se da novela original (a qual o filme atual é adaptado) bastante popular na época, que alcançou verdadeiro sucesso depois de enveredar por caminhos sobrenaturais. Além da colega de Megan ter conseguido um papel nesta novela, o título ainda pode estar relacionado a um intenso nevoeiro que cobriu a cidade de Nova York no ano de 1966. E num clima sombrio como esse, os personagens lidam com as dificuldades de manter segredos e controlar seus sentimentos quando são enfim revelados. Muito conflitos surgem a partir disso: Sally perde o respeito que tinha por Megan, Peggy sente-se traída por Roger e Ginsberg fica furioso por Don prejudicá-lo numa concorrência criativa. Megan é quem consegue melhor encarar essa situação, enxergando de longe o plano manipulador de Betty, mantendo a calma antes de desfazer as confusões na cabeça de Sally. Suas aulas de interpretação acabam sendo úteis até quando Sally precisa contar para a mãe como eles reagiram. Mas a presença de Betty no episódio, como sempre, divide opiniões. Embora tente controlar o peso através de um programa de ajuda mútua, Betty continua mostrando a mesma insatisfação com sua vida e invejando todas aquelas que alcançam melhores resultados que ela. O esperado encontro com Megan é cheio de rancor, ainda que totalmente compreensível. Além das invejáveis curvas da nova senhora Draper, o apartamento moderno no fervor da cidade é oposto a todo aquele isolamento no subúrbio que Betty aturou enquanto casada com Don. E o bilhete improvisado, repleto de amor, com certeza seria um golpe duro demais para Betty suportar, principalmente por estar mais que evidente que seu casamento com Henry foi outra aposta errada. Tomada pelo ódio, Betty é capaz de tramar um plano tão diabólico, que envolve até a própria filha para se vingar de Don. E fica cada vez mais difícil entender seus motivos, pelas poucas vezes que aparece, sempre com atitudes tão sórdidas. Deve ser razão de preocupação para os produtores, porque com essa postura de vilã, Betty tem sido o que mais aproximou a série até hoje daquele rótulo que eles tanto tentam evitar: a telenovela de luxo.

Porém, Don Draper também não deve se orgulhar de suas atitudes neste episódio. Os negócios na SCDP parecem estar melhorando -- até porque Lane Pryce está ausente há vários episódios -- e finalmente Don está de volta à criação, embora ainda mostrando claros sinais de falta de prática. Além disso, durante sua ausência, Ginsberg tem ganhado tanto espaço na agência, assinando a maioria das campanhas, que começa a se tornar uma potencial ameaça. Até entendo que a intenção de mostrar ideias tão distintas para o SnoBall, em termos de encaminhamento e principalmente qualidade, sirvam para guiar o espectador que não esteja familiarizado com a área de publicidade. Mas bem que poderiam ter criado uma ideia melhor para Don, ao menos que convencesse que ele teria chances mesmo se tivesse apresentado também os cartazes de Ginsberg. Ainda reforçaria mais o desespero de Don, apelando para um golpe tão desleal antes da reunião. O que deveria permanecer em segredo, acaba sendo revelado na primeira oportunidade por Harry (sempre ele) e desperta o temperamento explosivo de Ginsberg. Ele não hesita em confrontar Don, que responde mostrando poder controlar até suas ideias, e não dando a menor atenção para seu inflado ego.

Já Pete continua fracassado tanto em suas fantasias envolvendo Beth quanto ao criar ilusões de grandeza para aparecer em uma matéria especial sobre publicitários na revista do NY Times. Nem Howard leva Pete a sério, mesmo que ele revele sarcasticamente suas façanhas com Betty. Enquanto isso, Roger tenta fisgar por conta própria um cliente judeu interessado em expandir seus negócios, para isso utilizando a companhia de Jane. Para esse encontro, eles precisam manter em segredo sua futura separação e ao mesmo tempo tomar proveito da origem judia de Jane, que Roger tanto tentava esconder. Não sem precisar mais uma vez colocar a mão no bolso e comprar um novo apartamento para Jane morar. Mas ele acaba estragando a possibilidade de um recomeço para sua ex-mulher após preenchê-lo com novas memórias suas. Peggy também fica extremamente decepcionada por Roger ter confiado esse serviço extra a Ginsberg, por mais que ele fosse o mais indicado. Ela esperava ao menos algum tipo de lealdade de seu chefe, até em uma parceria inusitada. Mas Roger deixa bem claro que cada um deve defender seus próprios interesses. E esse parece ser outro tema recorrente ao longo do episódio: indivíduos preocupados apenas em satisfazer seus próprios egos. Essa temporada parece estar conduzindo todos os personagens ao isolamento, com exceção obviamente do casal do momento: Don e Megan. Por isso, não parece à toa que Don consiga lidar tão bem com as dúvidas de Sally, explicando honestamente os motivos que levaram-no a casar-se com Anna, respeitando também os limites de compreensão de sua filha. "Dark Shadows" pode não ter sido o episódio mais memorável da série, mas continua a reforçar que os altos e baixos do relacionamento entre Don e Megan tendem a virar a principal razão de Mad Men ser reconhecida de agora em diante.

Fotos: Reprodução.

e.fuzii
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[Mad Men] 5x10 Christmas Waltz | 5x11 The Other Woman

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"Money solves today, not tomorrow."

Antes de começar o texto, acho que preciso me desculpar pela ausência na última semana. Até imaginava que conseguiria dar meu parecer sobre o episódio (nem que fosse de forma resumida), mas infelizmente, em meio a correria de uma viagem, não tive tempo. Por outro lado, estes dois últimos episódios parecem estar intimamente ligados, o da semana passada servindo como preparação para o marcante episódio dessa semana. Por isso, vou aproveitar a "valsa natalina" para servir de introdução ao texto, com seus principais destaques, para depois me concentrar em "The Other Woman". Qualquer observação, favor usar os comentários do texto, para podermos assim nos aprofundar em um ou outro ponto que deixei passar.

Há alguns episódios, quando Megan decidiu abandonar a carreira promissora na criação publicitária para perseguir seu sonho de se tornar atriz, destaquei o quanto essa também era uma decisão corajosa dos roteiristas, já que tirava a personagem da zona de conforto que é a SCDP. Muitos outros personagens simplesmente desapareceram assim que foram demitidos ou deixados para trás em meio às mudanças da agência. Paul Kinsey, que retorna em "Christmas Waltz", foi um desses casos. Sempre levado a tomar decisões motivado muito mais pela emoção -- basta lembrar seu envolvimento com os Direitos Civis por conta de sua namorada negra --, sua incursão no movimento Hare Krishna não foi exceção. E após tantas atitudes desagradáveis nos últimos episódios, chega a surpreender a discrição de Harry em relação ao amigo, estendo ainda a mão para lhe oferecer ajuda. Paul percebe que não existe estado de espírito capaz de livrá-lo de uma verdadeira crise financeira e acaba rendendo-se a essa chance de tentar recomeçar a vida do outro lado do país. É interessante como essas ofertas de dinheiro ligam os dois episódios, assim como é um tema recorrente ao longo de toda a temporada, já virando piada pelas inúmeras vezes que Roger é extorquido, ou quando Lane Pryce sempre aparece para evitar alguma crise na SCDP. Mas dessa vez são os próprios problemas financeiros de Lane que lhe obrigam a cometer graves delitos para conseguir se livrar das dívidas pessoais, colocando o futuro da empresa em risco. A dificuldade sempre esteve em encontrar um ponto de equilíbrio entre os assuntos pessoais e os profissionais, sem que um interferisse no outro. Joan também sofre quando é desafiada por Greg, mandando os papéis do divórcio para dentro da SCDP, lugar onde até então ela se sentia intocável. Esse breve momento de fraqueza permite um passeio com Don Draper fora da agência, fingindo ser até um casal para testar o carro da Jaguar (test-drive "comprado" por Don), e uma animada conversa sobre as alegrias e decepções no casamento. Mas obviamente Don preferia estar acompanhado de Megan.

Don não é apenas o centro da série, no qual todos os outros personagens são obrigados a circular, como também seus valores pessoais e profissionais moldam seu status quo. Mad Men é acima de tudo a televisão como publicidade (assim como Breaking Bad é a televisão como droga). Por isso, a partir da saída de Megan os conflitos passaram a ser cada vez mais frequentes. Don não sente apenas que ela rejeitou uma carreira, mas sim uma parte importante de sua identidade. E isso culmina no seu discurso final, motivando os funcionários a vencer a qualquer custo a concorrência da Jaguar, se comprometendo a passar até mesmo os finais de semana e feriados na agência. Don mostra que está de volta aos negócios, e isso significa uma tendência cada vez maior do casal viver em mundos separados. Em "The Other Woman", essa crise chega a agravar-se quando Don descobre que um dos papéis de Megan exigiria que ela ficasse três meses em Boston, colocando distância literalmente nesta relação. O casal consegue eventualmente chegar a um acordo, mas pela persistência que Megan demonstra, superando até uma audição em que é tratada como um mero pedaço de carne, será questão de tempo para que ela consiga enfim sua primeira chance. Mas essa trama passa até despercebida perto das outras duas grandes mulheres que dominam o episódio: Joan e Peggy. Ambas enfrentaram tantos desafios dentro da agência para chegar onde chegaram, para serem principalmente respeitadas pelos colegas, e tiveram de quebrar tantas regras de conduta pregadas pela sociedade, que não pode ser considerado menos do que memorável um episódio em que as duas tem de encarar os maiores dilemas de suas vidas.
Joan é a mais afetada desde o começo do episódio, quando um dos membros do conselho na campanha da Jaguar sugere uma proposta indecente a Ken e Pete para assim não desfavorecer a agência na concorrência. Justamente quando Joan parecia enfim ter se livrado do fantasma do estupro que lhe perseguia por tanto tempo, aparece outro tema polêmico para aborrecê-la. Muitos parecem ter caído num dogmatismo para criticar a decisão de Joan, outros devem achar sua decisão incoerente por ela ter categorizado esse tipo de serviço como prostituição logo de início. Mas não quero propor esse tipo de discussão, até porque isso só tende a diminuir o valor do episódio e da própria série em si. O que realmente merece ser analisado é a forma como ela chegou a essa conclusão, como Pete teve papel fundamental (e Vincent Kartheiser teve uma de suas mais brilhantes performances) não apenas para convencê-la, como também "envenenando" aos poucos os outros sócios. Repare como ele distorce as palavras dela quando se reúne com os chefes, omitindo que ela teria ficado chocada, que apenas não esperava que eles fossem capazes de chegar a um valor condinzente. O resultado de tudo isso é uma corrente de mal entendidos, até Lane aconselhando que ela deveria reconsiderar uma proposta (e assim livrá-lo de pedir outra extensão de crédito), deixando Joan acossada a ponto de ceder. Claro que essa aparente decisão unânime dos sócios seria difícil de ser mudada, tanto se ela aceitasse ou não, e reflete uma opinião pública da própria sociedade. Salvatore foi demitido (e desapareceu da série) justamente por não ter cedido a uma proposta parecida. Além disso, era uma proposta capaz de solucionar todos os seus problemas financeiros e garantir ainda um futuro estável para seu filho. A postura passiva de Roger também me parece bastante coerente, tanto por ele oferecer apenas uma ajuda financeira para criar o filho, quanto por não se irritar com um possível admirador secreto de Joan. Roger não é capaz de amar ninguém. A montagem final, da apresentação aos executivos enquanto Joan se submete a um deles, parece extremamente óbvia ao tratar a mulher como o carro que está sendo anunciado, mas não vejo possibilidade de ocultar uma cena tão trágica como essa. Até porque ela ainda aparece usando o casaco que ganhou de Roger em "Waldorf Stories" para proteger seu corpo. O que mais me incomoda é a repetição do encontro com Don para enfatizar que ele chegou tarde demais, porque me parece um excesso de complacência com o protagonista, mesmo que sua origem desse motivos suficientes para condenar tal conduta. Além do mais, deixa em aberto se Joan poderia ter desistido por isso. Mas é brilhante a conclusão, a troca de olhares quando Don percebe que ela havia cedido mesmo, e que vão dando lugar a uma decepção pela campanha assinada por ele não ter sido aprovada por si só.
Do outro lado da moeda está Peggy, claramente insatisfeita por ter sido colocada em segundo plano na agência e não ter seus esforços reconhecidos. Ainda acho interessante que em nenhum momento ela tenha disputado com Ginsberg pela preferência do chefe, ela apenas não quer ser considerada inferior a ele, o que é bastante compreensível. Já que Don está ocupado demais para sequer perceber o nível de desgaste que se encontra essa relação -- a ponto de jogar dinheiro em seu rosto --, cabe a Peggy encontrar seu próprio caminho e enfim se libertar de seu mentor. Ela aceita a oportunidade na CGC depois dos conselhos de Freddy, outro antigo personagem que volta a aparecer nesses episódios. Não que essa despedida fosse inesperada, a série preparou terreno durante toda a temporada para isso, mas até pela importância da trama de Joan, não imaginava que seria também neste episódio. Porque sua demissão é um fato tão marcante na série, até pelo piloto mostrar o primeiro dia de trabalho de Peggy e seu primeiro encontro com Don, que achei que seria guardado para o finale. Mas claro, como previsto, é uma cena magnífica mostrando Don passar por todas as fases antes da aceitação, dando um beijo na mão (onde mais?) de sua pupila até enfim soltá-la livre. Se os dois haviam atingido um estado de admiração mútua em "The Suitcase", agora chegou a vez de Don demonstrar um profundo sentimento de respeito pela decisão de Peggy. E acho que essa relação chegou em um nível que merecia passar por tal provação. Antes de sair ela ainda troca olhares com Joan, e embora ambas não façam ideia do que acabou de ocorrer, suas escolhas não poderiam ser mais opostas. Enquanto uma praticamente sacrificou seus valores morais para garantir o futuro na agência, a outra sai pela porta da frente, de cabeça erguida e um sorriso triunfal. E ao contrário de tantos outros personagens que passaram por Mad Men, Peggy é a única profissional com a certeza de que acumulou valores suficientes para "sobreviver" na série mesmo que longe de Don Draper e da SCDP.

Confira também o texto do Hélio Flores sobre "The Other Woman".

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[Mad Men] 5x12 Commissions and Fees

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"What is happiness? It's a moment before you need more happiness."

Em seu discurso inflamado para os executivos da Dow Chemical, Don Draper declara que o sucesso é apenas temporário, que essa busca pela felicidade é como a fome que não pode ser saciada. Certamente é impossível ouví-lo e não relacionar com sua própria trajetória ao longo de cinco temporadas. Ou antes, durante toda sua vida. Porque esse espírito inquieto de Don é o que impulsiona novas conquistas, cada hora focado em aspectos diferentes de sua vida. Neste momento, o objetivo principal é ampliar os negócios, porque apesar do reconhecimento com a Jaguar, a SCDP ainda é considerada uma pequena agência brigando contra a concorrência. Seu casamento, que era até pouco tempo atrás sua única prioridade, deixou de ser seu motivo de felicidade e passou a ser uma preocupação. Chegar em casa é um cansativo exercício de reconhecimento, de colocar a mulher a par de sua vida. Pela segunda vez Megan reclama que ele não dá notícias durante o dia inteiro. Não parece ser a toa que ele prefira uma longa viagem imprevista, uma fuga como tantas outras, a ter que encarar sua nova rotina. Ficar confinado em seu apartamento passou a ser razão de aflição para Don Draper.

Esse conceito de felicidade não deixa de ser aplicado também à publicidade, que nesta década propõe uma verdadeira revolução nos costumes das pessoas, que passam a ser adotadas como consumidoras. A própria série retrata essa busca incessante por prazeres passageiros, que sempre terminam em revés, conforme resumiu Glen de uma forma um tanto quanto óbvia no elevador. Mas é curioso como na cena seguinte Don pode facilmente satisfazer a vontade do garoto e fazê-lo esquecer de qualquer outro problema. A trama de Sally e Glen se aventurando pela cidade pode ficar esquecida diante dos outros acontecimentos do episódio, mas não deixa de reforçar o tema quando ambos exploram a fascinante vida selvagem no Museu de História Natural. A visita de Sally, depois de rebelar-se contra os planos de viagem de Betty, lembra uma fábula infantil em que ela se sente crescida acompanhando as conversas com Megan e a amiga, desafia ordens (usando até as botas que seu pai proibiu), se achando auto-suficiente até se deparar com as responsabilidades de um adulto, com a chance de humilhação, e volta correndo para debaixo da saia da mãe. Betty ainda tem chance de mostrar um lado pouco visto na temporada, agindo com maturidade ao assumir o papel de mãe e, claro, aproveitar para se vangloriar frente a Megan.

Mas enfim, acho que já evitei demais tratar da morte mais impactante da série até aqui. E não foi por falta de aviso. Durante toda a temporada, em meio a vídeos de acidente de carro, menções a apólices de seguro de vida e elevadores que se tornam armadilhas do destino, dava para prever que algum personagem talvez pudesse sucumbir a esse mau presságio. Mesmo quando parecia óbvio que Lane Pryce optaria pelo suicídio, o roteiro ainda joga com nossas expectativas e aproveita o fato do Jaguar ser tratado como um carro indomável pelos americanos para falhar ironicamente com a primeira tentativa dele. Depois disso, são mais de dez minutos até que Joan finalmente encontre a porta de sua sala obstruída. Não vejo necessidade do roteiro explicar uma decisão dessas (na vida já é algo tantas vezes inexplicável) mas é bastante triste pensar que Lane foi derrotado pelo próprio orgulho, por se negar a pedir ajuda. Ao contrário do suicídio de seu irmão -- e é interessante como o corpo é mostrado de modo explícito dessa vez --, não vejo a culpa caindo sobre os ombros de Don. Quando ele sugere que Lane faça uma saída elegante, me parece a melhor forma de lidar com a situação, evitando um escândalo tanto para a empresa quanto para o sócio. Afinal, quem poderia confiar novamente as finanças de sua empresa a alguém que forja uma assinatura em benefício próprio? É uma cena magnífica, que Jared Harris merecia para deixar a série com louvor, mostrando mais uma vez toda sua versatilidade. Aquele descontrole que parecia crescer pouco a pouco no personagem ao longo da temporada, atinge o limite e vemos sentimentos conflitantes de revolta, vergonha, medo, resignação, tomando conta de cada gesto, cada expressão facial. O que Don nem suspeitava ao encorajá-lo a recomeçar a vida na Inglaterra é que Lane veio disposto a abandonar seus costumes britânicos para se dedicar até as última consequências ao sonho americano. Essa já era sua última chance e a possibilidade de perder seu visto chega a ser desperador. Lane volta a sua sala, suspira, e enxerga ao seu redor todos aqueles objetos que adotou em terra estrangeira: a flâmula dos Mets na parede, a estátua da liberdade, o Empire State Building em miniatura. O céu caindo do lado de fora como se estivesse preso em um grande globo de neve. Revendo o episódio, já sabendo como tudo isso irá terminar, quando Lane diz sentir a cabeça mais leve, não é um sinal de alívio ou mesmo de angústia, mas uma sensação de plenitude, de que tentou viver o sonho até o final. Fazendo uma retrospectiva da temporada, em A Little Kiss, Lane se entrega às fantasias quando encontra a foto de uma bela moça, e garante a ela que sempre poderá ser encontrado em sua sala. Acho que um paralelo óbvio a se fazer é com a condição de Pete, até porque muitos apostavam que seria ele a morrer nessa temporada. Certamente o fato de ter sido o primeiro a ver o corpo pendurado deve afetá-lo a ponto de reconsiderar algumas de suas atitudes. Mas isso já parece ser assunto para o finale, que pelo rumo das coisas, promete altas emoções.

Resta prestar uma última homenagem a Lane, resgatando um vídeo que havia colocado há algum tempo no youtube. No final do ano de 1964, sozinho na América, Lane Pryce tem um singelo encontro com Don Draper em sua sala. Sem ele a SCDP não passaria de um sonho distante. Então, proponho um brinde a esse magnífico personagem: chin-chin!

P.S.: Em uma entrevista essa semana, Jared Harris deixou escapar que Elisabeth Moss teria se despedido da produção no episódio anterior. Acontece que ela já havia se comprometido com as filmagens de Top of the Lake, minissérie para TV da Jane Campion, por isso teve sua participação reduzida na temporada. Claro que isso não significa que ela estará ausente do finale (ela pode ter gravado uma ou outra cena antes) e acho praticamente impossível que aquela tenha sido sua última participação na série.

Fotos: Reprodução.

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[Mad Men] 5x13 The Phantom

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"And that his life with his family was some temporary bandage on a permanent wound."

E assim chegamos ao episódio final de mais uma temporada de Mad Men, que pode não ter sido surpreendente como tantos outros anteriores, mas que não deixa de ter seus méritos por conseguir valorizar essa excelente temporada, pontuando parte de seus temas recorrentes e oferecendo conclusão a maioria de suas tramas. Certamente seria impossível superar o impacto do suicídio de Lane Pryce na semana passada, ou proporcionar um clímax mais efetivo para uma temporada que começou com ares leves e agradáveis até atingir esse clima fúnebre no final. Para os personagens também não parece nada fácil evitar essa ausência, ou melhor, uma presença quase que espectral de Lane. Em uma insuportável reunião entre os sócios, com uma das cadeiras ainda desocupada, Joan tem de controlar sozinha a falta de paciência dos outros homens à mesa. Don sofre novamente com alucinações de sua cabeça, devido a fortes dores de dente. Dessa vez são visitas de seu próprio irmão, apresentando até as marcas de enforcamento ainda no pescoço, prova de que Don também sente uma parte da culpa pelo suicídio de Lane. E assim como essas dores que só aliviam quando decide finalmente extrair o dente, sua visita à viúva Pryce ocorre muito mais para diminuir esse peso do que como ato de generosidade, até por "ressarci-la" com a quantia exata que o marido havia investido na empresa.

Porém, o termo "fantasma" que aparece no título não se aplica apenas de um modo literal, se é que podemos chamar assim, mas simboliza também as ilusões e fantasias que esses personagens tem perseguido ao longo de toda a temporada. Megan é censurada pela mãe por buscar um sonho impossível, pela primeira vez admitindo a possibilidade de desistir, assumindo assim seu fracasso. Beth volta neste episódio para dar a chance de um último encontro a Pete, antes de ter suas memórias apagadas por uma terapia de eletrochoques. Na visita ao hospital no dia seguinte, Pete já é tratado como um estranho, e percebe suas fantasias sendo dissipadas dentro da única pessoa que se vê capaz de revelar seus sentimentos, ponderar sobre sua própria depressão. Muita gente reclamava durante a temporada de uma falta de sutileza na série, e das inúmeras vezes que personagens faziam verdadeiros discursos entregando o tema do episódio. Defendi por tantas vezes dizendo que, a medida que mergulhamos década adentro, tudo parece ficar mais evidente, tornando-se impossível até para esses personagens deixarem de notar tais transformações. Matthew Weiner, em uma entrevista essa semana para o Sepinwall, revela que a intenção dos roteiristas era justamente essa, diminuir a ironia, derrubar os disfarces. Weiner sempre declarou não acreditar que as pessoas fossem capazes de mudar, apenas de se adaptar a uma nova situação. Por isso essa temporada me parece crucial porque revela tudo isso diante dos personagens, e eles se mostram impotentes, incapazes de reagir. Outros se sentem impulsionados a tomar decisões que vão carregar pelo resto de suas vidas. Há uma certa preocupação em mostrar também aqueles que saem derrotados diante do triunfo dos outros, como pelas vítimas de adultério, dos crimes e atentados, das concorrências da SCDP. Neste episódio, Megan utiliza o pedido de sua colega a seu favor para conseguir o papel no comercial através de Don. A vitória de Lane sobre Pete, naquele épico combate dentro da sala de reuniões, fica marcado como um dos breves momentos de satisfação ao alcance de Lane nos últimos meses -- outro seria uma noite com Joan que, para surpresa de muitos, ela chega até a cogitar caso evitasse essa fatalidade. Pete virou saco de pancadas nesta temporada porque ninguém mais tem paciência com suas atitudes presunçosas. E depois desta última surra no trem, Trudy enfim concede a Pete o direito de procurar por um apartamento na cidade, para morar durante a semana, e assim tentar resolver seu problema permanente com outra solução temporária.



"You wanna be somebody's discovery, not somebody's wife."

Depois de um longo hiato, a volta de Mad Men esteve cercada de expectativas, principalmente em relação ao inesperado pedido de casamento de Don Draper. O casal parecia viver uma eterna lua-de-mel, até que começam a surgir os primeiros desacordos e Megan decide abandonar tudo para se dedicar novamente à carreira de atriz. Acho que esse dilema imposto por Don, de ser descoberta por alguém ou apenas a mulher de alguém, traduz grande parte da dinâmica do casal nesta temporada. Porque mesmo enquanto trabalhava na SCDP, Megan era tratada com desdém pelos outros funcionários, aquela que tinha oportunidades apenas por ser esposa do chefe. Mas a medida que ela começa a fazer a diferença no ramo criativo, utilizando entre outros artifícios sua aptidão para interpretar, Megan começa a servir também como satisfação profissional para Don, que percebia cada vez mais estar diante de alguém especial, de uma descoberta. Com a desistência dela, a situação pareceu se inverter e é ela quem precisa constantemente da presença de Don, pedindo pelo seu apoio e sua compreensão. Quando Megan pede para o marido influenciar nos testes para o comercial da Butler, provavelmente sabendo que nem precisaria passar por teste nenhum, é um dilema que não afeta apenas seu casamento, mas que vai contra a própria postura profissional de Don. A cena em que ele assiste à exibição de Megan diante das câmeras (uma referência ao carrossel da primeira temporada) permanece sendo um mistério para mim, porque não acredito que a interpretação dela tenha lhe impressionado de fato. Naquele momento, talvez ele tenha considerado a perseverança (que tomou lugar da versatilidade no início da temporada) da mulher que ama. Mas com certeza sua decisão de ajudá-la no teste e assim recuperá-la de um princípio de melancolia deve-se também ao encontro casual com Peggy no cinema, quando ele admite que esse é o processo natural de suas pupilas, ser ajudada até conseguir seguir seu próprio caminho. As consequências disso podem ser vistas já no primeiro dia de gravação do comercial dos sapatos Butler: Don deixando Megan sob a luz dos holofotes enquanto vira as costas e se distancia em direção à escuridão.



"Are you alone?"

Poucos personagens seriam capazes de responder a essa questão com uma negativa. Enquanto a SCDP alcança sucesso a ponto de considerar expandir para um andar superior, os sócios se mostram cada vez mais isolados, cada um enxergando pontos de vista em janelas diferentes. Pete termina ouvindo seu aparelho de som, tentando silenciar o restante do mundo. Joan falhou como esposa, recusou a ajuda de Roger e cedeu à imagem de amante para garantir seu futuro na empresa. Roger acaba divorciado pela segunda vez e experimentando outra dose de LSD sozinho, encarando assim o mundo nú e de braços abertos. Embora a ausência de Peggy já esteja sendo sentida na SCDP e ela tenha finalmente conquistado o respeito que merece na CGC, sua primeira viagem de negócios está longe de ser encantadora. E temos por fim Don, sentado no balcão do bar prestes a se entregar aos velhos costumes. Sua resposta à garota pode ter ficado em aberto, mas até para manter coerente com esse desgaste no casamento, tudo leva a crer que Don está disposto a trair novamente. A montagem final acaba sendo brilhante tanto atenuando a decisão de Don, ao estabelecer esse paralelo com os demais personagens, quanto servindo de conclusão para uma temporada em que a maioria experimentou o amargor da desilusão. É como se todos estivessem enfim acordando para encarar a dura realidade após um longo e coletivo sonho, mas que deve continuar a atormentá-los pelo resto de suas vidas.

Assim chegamos ao final de mais uma temporada. Queria agradecer a todos pelo apoio e elogio nesses últimos meses. Até a próxima temporada! Abraços.

Fotos: Reprodução.

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Palpites para indicados ao Emmy 2012

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Decidi de última hora postar palpites para os indicados ao Emmy, que serão anunciados na próxima quinta-feira, dia 19. Apenas para não perder a tradição. Peço desculpas, portanto, pelo texto rápido e meio bagunçado.




Melhor Roteiro/Direção

Passando rápido por essas duas categorias, adivinhar os indicados aqui é missão quase impossível, mesmo com alguns nomes claros: enquanto séries favoritas como “Mad Men” e “Breaking Bad” enviam quase a temporada completa pra concorrer na categoria, os votantes sempre dão um jeito de diversificar, em especial mostrando boa vontade com pilotos e finais de série. Neste último caso, “House” é a única série de peso que foi encerrada, mas sua participação no Emmy diminuiu nos últimos anos o suficiente pra não considerarmos. Entre os pilotos, “Homeland” parece um nome certo (nas duas categorias, talvez), enquanto “Luck” e “Boss” têm chances em Direção, pela possibilidade que os votantes têm em votar em grandes nomes do cinema (eles adoram). No caso, Michael Mann e Gus Van Sant, respectivamente. Entre as tantas malfadadas estreias na tv aberta, não me surpreenderia em ver o piloto de “Smash” reconhecido. Favoritas em outras categorias, as indicadas da HBO ano passado, “Game of Thrones” e “Boardwalk Empire”, mandaram vários episódios pra apreciação, muito embora cada uma tenha nomes bem claros pra tentar uma vaga, enquanto a incógnita “Downton Abbey” muito acertadamente enviou apenas seu episódio de Natal para concorrer em ambas categorias. Por fim, “The Good Wife” curiosamente enviou apenas um episódio para concorrer em Roteiro (Blue Ribbon Panel), mas cinco em Direção, todas escolhas boas demais que podem acabar se anulando. Qualquer outra série que conseguisse emplacar um episódio me causaria imensa surpresa.

Chutando bastante, os indicados seriam:

Roteiro


1. Downton Abbey (Episode 7 Christmas)
2. Homeland (Pilot)
3. Mad Men (The Other Woman)
4. Mad Men (Far Away Places)
5. Breaking Bad (Crawl Space)


Outras Possibilidades: Homeland (The Weekend), The Good Wife (Blue Ribbon Panel), Boardwalk Empire (To the Lost), Smash (Pilot), qualquer outro concorrente de Breaking Bad e Mad Men

Meu voto:
1. Breaking Bad (Crawl Space)
2. Breaking Bad (Problem Dog)
3. Mad Men (Far Away Places)
4. Mad Men (The Other Woman)
5. Game of Thrones (Blackwater)





Direção

1. Game of Thrones (Blackwater)
2. Breaking Bad (Face Off)
3. Homeland (Pilot)
4. Luck (Pilot)
5. Mad Men (Far Away Places)


Outras Possibilidades: Mad Men (The Other Woman), Mad Men (Commissions and Fees), Boss (Pilot), Breaking Bad (Crawl Space), Homeland (The Vest), Boardwalk Empire (To the Lost)

Meu voto:
1. Breaking Bad (Crawl Space)
2. Game of Thrones (Blackwater)
3. Mad Men (At the Codfish Ball)
4. Mad Men (A Little Kiss)
5. Sons of Anarchy (Hands)



Atriz Coadjuvante

Indicadas 2011– Margo Martindale (vencedora), Christine Baranski, Michelle Forbes, Christina Hendricks, Kelly MacDonald, Archie Panjabi.
Vagas em aberto– Apenas a vencedora Martindale não retorna. Como Forbes pouco faz na cada vez menos prestigiada “The Killing”, dá pra dizer que ao menos duas novidades teremos na categoria.
Quem retorna– Exceto por Hendricks, que pode até vencer graças à projeção que teve nesta temporada, não coloco a mão no fogo por ninguém, nem mesmo a campeã de 2010 Panjabi.
Quem já ficou perto de uma indicação ou foi indicado antesAnna Gunn, fora da competição ano passado nunca teve tão boas chances, e January Jones, que finalmente se colocou como coadjuvante, não seria surpresa total, com dois episódios de participação forte, embora vamos continuar lembrando de Kiernan Shipka, porque seu dia há de chegar; MacDonald, que tenta se manter, pode perder votos pra colega de série Gretchen Mol, enquanto Lena Headey ultrapassa Emilia Clarke entre as candidatas de “Game of Thrones”; Não se sabe o quanto “Damages” foi esquecida (seja pelo intervalo, pelo buzz ou pela mudança pra DirecTV), mas Rose Byrne continua com suas (inexplicáveis, pra mim) chances.
As novidades - A maior delas é Maggie Smith, vencedora no ano passado quando “Downton Abbey” concorreu como minissérie. Muito mais justo se concorresse como atriz convidada, o fato é que mesmo com pouco, Smith é uma daquelas presenças incontestáveis, que nos faz desejar que não saia da tela nunca; Morena Baccarindependerá do quanto “Homeland” será querida pelos votantes e Angelica Huston só pode ser considerada pelo nome que é.

As indicadas serão (em ordem de favoritismo):
1. Christina Hendricks, Mad Men
2. Maggie Smith, Downton Abbey
3. Archie Panjabi, The Good Wife
4. Anna Gunn, Breaking Bad
5. Kelly MacDonald, Boardwalk Empire
6. Christine Baranski, The Good Wife


Boas chances: Morena Baccarin (Homeland), Rose Byrne (Damages), January Jones (Mad Men)

Meu voto (em ordem de preferência):
1. Christina Hendricks, Mad Men
2. Anna Gunn, Breaking Bad
3. Maggie Smith, Downton Abbey
4. Kelly MacDonald, Boardwalk Empire
5. Lena Headey (Game of Thrones)
6. Maisie Williams (Game of Thrones)



Ator Coadjuvante
Indicados 2011– Peter Dinklage (vencedor), Andre Braugher, Josh Charles, Alan Cumming, Walton Goggins, John Slattery
Vagas em aberto– Nenhuma. Todo mundo volta, mas um ou dois terão que cair fora porque a concorrência está impossível.
Quem retorna– Não consigo imaginar a categoria sem Dinklage e Slattery. Os demais, mesmo com admiradores (embora Charles claramente seja o mais fraco), podem muito bem ficar de fora.
Quem já ficou perto de uma indicação ou foi indicado antes– o vencedor de 2010, Aaron Paul, retorna pra um verdadeiro banho de sangue contra Dinklage, que pode até sobrar pra Giancarlo Esposito, que também não imagino de fora da disputa; Jared Harris e Vincent Kartheiser nunca tiveram tão boas chances, enquanto Michael Pitt está ainda melhor (e tão protagonista quanto Paul e Dinklage são em suas séries) que ano passado.
As novidades– assim como Baccarin, Mandy Patinkin dependerá do quanto as atenções serão pra o elenco como um todo de “Homeland” ou se Claire Danes concentrou todo o destaque; Goggins terá atenção dividida com Neal McDonough, enquanto Nick Nolte já seria um nome certo se não fosse pela polêmica envolvendo Luck. Como se não bastasse, “Damages” tem tradição de emplacar seus coadjuvantes de luxo e este ano John Goodman e Dylan Bakersão nomes mais que respeitáveis.

Os indicados serão (em ordem de favoritismo):
1. Aaron Paul, Breaking Bad
2. Peter Dinklage, Game of Thrones
3. John Slattery, Mad Men
4. Giancarlo Esposito, Breaking Bad
5. Nick Nolte (Luck)
6. Alan Cumming (The Good Wife)


Boas chances: Andre Braugher, Mandy Patinkin, Jared Harris

Meu voto (em ordem de preferência):
1. Aaron Paul, Breaking Bad
2. Peter Dinklage, Game of Thrones
3. Giancarlo Esposito, Breaking Bad
4. Michael Pitt, Boardwalk Empire
5. John Slattery, Mad Men
6. Kevin Dunn, Luck



Melhor Atriz
Indicadas 2011– Julianna Margulies (vencedora), Kathy Bates, Connie Britton, Mireille Enos, Mariska Hargitay, Elisabeth Moss
Vagas em aberto– Apenas Britton não volta, com “Friday Night Lights” encerrada. Mas eu gostaria muito de pensar que Bates e Enos já tiveram seu momento e que finalmente será este o ano em que não teremos Hargitay. O que daria uma renovação a categoria.
Quem retornaMargulies, sem dúvida. Moss está mais pra coadjuvante, mas com tudo o que aconteceu na temporada, difícil ignorá-la.
Quem já ficou perto de uma indicação ou foi indicado antes– Na verdade, o retorno de Glenn Close, maior chance de “Damages” não ser totalmente ignorada; Kyra Sedgwick ganhou em 2010 e, mesmo com a surpresa da exclusão ano passado, um último retorno não seria absurdo; Emmy Rossum, Katey Sagal e Anna Torv continuam com seus admiradores, mas dificilmente eles votam no Emmy.
As novidades– Duas enormes. Primeira, o que mais próximo este Emmy tem de um vencedor antecipado: Claire Danes. Segunda, na série mais prestigiada: o quanto os votantes gostaram (ou odiaram) Jessica Paré? Como se não bastasse, Elizabeth McGovern e Michelle Dockery podem se beneficiar do culto a “Downton Abbey”, e eu não descartaria o poder de Victoria Grayson, papel de Madeleine Stowe em “Revenge”. Como de vez em quando o Emmy surpreende com força, a categoria tem outras fortes candidatas pra isso, como Debra Messinge Kerry Washington.

As indicadas serão (em ordem de favoritismo):
1. Claire Danes, Homeland
2. Julianna Margulies, The Good Wife
3. Elisabeth Moss, Mad Men
4. Glenn Close, Damages
5. Elizabeth McGovern, Downton Abbey
6. Jessica Paré, Mad Men


Boas chances: Mariska Hargitay, Mireille Enos, Kathy Bates

Meu voto (em ordem de preferência):
1. Claire Danes, Homeland
2. Julianna Margulies, The Good Wife
3. Elisabeth Moss, Mad Men
4. Katey Sagal, Sons of Anarchy
5. Madeleine Stowe, Revenge
6. Jessica Paré, Mad Men




Melhor Ator
Indicados 2011– Kyle Chandler (vencedor), Steve Buscemi, Michael C. Hall, Jon Hamm, Hugh Laurie, Timothy Olyphant
Vagas em aberto– Apenas o vencedor Chandler não retorna, o que não chega a ser uma vaga em aberto já que pertence a outro vencedor que retorna este ano...
Quem retorna– Com tantos nomes fortes de novidade, Hamm e Buscemi me parecem os únicos garantidos. O que significa dizer que sim, podemos ter uma categoria sem Dexter ou House (Laurieainda tem a vantagem de ser a última oportunidade).
Quem já ficou perto de uma indicação ou foi indicado antes – Além do retorno de Bryan Cranston, nada que chame muita atenção: William H. Macy, Jeremy Irons e Ray Romano pareciam ter chances em anos anteriores e duvido que com tantas novidades, concretizarão agora.
As novidadesDustin Hoffman era o favorito até mesmo para vencer, aí “Luck” estreou e mostrou o ator praticamente coadjuvante planejando uma vingança misteriosa que infelizmente não veremos a conclusão. A tragédia do cancelamento afundou chances de vitória e até mesmo não garante a indicação. Mas não se pode subestimar um dos maiores nomes dos últimos 40 anos de cinema; Kelsey Grammer, que venceu o Globo de Ouro deste ano (e 14 indicações e 5 vitórias no Emmy não atrapalham); Damian Lewis, que certamente se beneficia da química com Danes; Patrick J. Adams, apenas porque foi indicado ao SAG; e Hugh Bonneville, apenas porque não se deve ignorar quem participa de “Downton Abbey”. Mas se a surpresa vier nesta categoria, o já vencedor Kiefer Sutherland, Jason Isaacs ou Jeffrey Dean Morgan poderiam fazer todo mundo cair o queixo.

Os indicados serão (em ordem de favoritismo):
1. Bryan Cranston, Breaking Bad
2. Jon Hamm, Mad Men
3. Steve Buscemi, Boardwalk Empire
4. Kelsey Grammer, Boss
5. Dustin Hoffman, Luck
6. Hugh Laurie, House


Boas chances: Damian Lewis, Timothy Olyphant, Michael C. Hall

Meu voto (em ordem de preferência):
1. Bryan Cranston, Breaking Bad
2. Steve Buscemi, Boardwalk Empire
3. Jon Hamm, Mad Men
4. Dustin Hoffman, Luck
5. Timothy Olyphant, Justified
6. Damian Lewis, Homeland




Melhor Série
Indicados 2011– Mad Men (vencedora), Dexter, Game of Thrones, Friday Night Lights, Boardwalk Empire, The Good Wife
Vagas em aberto– Apenas Friday Night Lights foi encerrada, mas vamos concordar que Dexter já passou tempo demais aí e que sua vaga será cedida à colega de emissora, Homeland.
Quem retornaMad Men. E não coloco a mão no fogo por mais ninguém.
Quem já ficou perto de uma indicação ou foi indicado antes– Além do retorno de Breaking Bad, apenas Justified parece ter alguma chance, apenas porque teve um grande salto em indicações ano passado (manter a qualidade ajuda também, claro). The Killing e Shameless não conseguiram quando eram novidade, e Damages, apesar de bem conhecida na categoria, não tem cara de ter feito um grande retorno. O problema mesmo são as estreantes.
As novidades– Além de Homeland (que já venceu o Globo de Ouro), Downton Abbeyé tida como certeza. Apesar de uma temporada claramente inferior a que venceu ano passado o prêmio de Melhor Minissérie, isso parece pouco importar e a série virou um fenômeno nos EUA. Luck, além dos problemas que levaram seu cancelamento, já não fazia o tipo de série que é indicada a esse tipo de coisa, mas a qualidade técnica é tão impressionante que não seria uma surpresa total vê-la aqui. Boss agradou ao Globo de Ouro, então nunca se sabe. Já Smash, Revenge e Once Upon a Time teriam alguma chance antes da dominação total das emissoras pagas, o que significa que The Good Wife continuará sendo a única com alguma possibilidade de indicação e representar a TV aberta.

As indicadas serão (em ordem de favoritismo)
1. Mad Men
2. Breaking Bad
3. Homeland
4. Downton Abbey
5. Game of Thrones
6. Boardwalk Empire


Boas chances: The Good Wife, Justified, Boss

Meu voto (em ordem de preferência)
1. Breaking Bad
2. Mad Men
3. Game of Thrones
4. Boardwalk Empire
5. The Good Wife
6. Luck


Considerações Finais: Gostaria muito que a HBO emplacasse suas duas principais séries, embora o tom geral parece apontar que Boardwalk Empire tenha perdido força com o tempo (apesar de a segunda temporada ser claramente melhor que a anterior). Game of Thrones pode se beneficiar pela exibição mais recente e com um episódio tão admirável como “Blackwater”. Mas manter as duas significa excluir The Good Wife, que há 3 temporadas dá uma bela aula de como fazer uma série “Caso da Semana”, desenvolvendo vários personagens e subtramas interessantes, ao mesmo tempo em que se especializou em participações especiais marcantes, de atores de um episódio só, a antagonistas que de tão bons, foram ganhando cada vez mais espaço em um elenco já grande. Claro, essas três séries estão na corda bamba considerando que duas vagas são de Breaking Bad e Mad Men, de longe o que de mais incrível vem sendo feito nos últimos anos, e outras duas parecem pertencer às queridinhas Homeland e Downton Abbey. A primeira me aborrece um pouco pelo esquematismo e situações formulaicas usadas pra segurar uma temporada de 13 episódios, embora Claire Danes claramente nos dá a grande atuação do ano; já a série inglesa vive altos e baixos após uma primeira temporada bastante superior. Tem a maior qualidade nos diálogos rápidos e cortantes, mas de modo geral a trama tem ficado cada vez mais novelesca e de soluções facéis. Seria bom vê-la de fora, mas acho que isso sim seria uma grande surpresa.


Categorias de Comédia

Como ano passado, não farei apostas aqui. Explico: além de não ver tantas séries como gostaria, as favoritas costumam ser coisas que não gosto ou não importo. No entanto, a briga é muito mais interessante do que em Drama: enquanto as maiores indicadas dos últimos anos (Modern Family e Glee) vêm sofrendo uma queda de interesse, antigas favoritas retornam com um grande ano (30 Rock e Curb Your Enthusiasm), outras têm aumentado seu número de indicações com o passar dos anos (Parks and Recreation e The Big Bang Theory) e, para cada série que vem perdendo mais e mais prestígio (The Office, as dramédias da Showtime), surgiu uma novidade na última temporada (Veep, Girls, New Girl, Enlightened, House of Lies), além de séries que sempre se beneficiam de um reconhecimento maior no seu segundo ano (Louie, Raising Hope, Mike and Molly). 

Dentre todas as categorias, vale destacar a de Melhor Atriz, que promete ser um massacre ainda maior que o visto em Ator Coadjuvante de Drama: os votantes terão que escolher manter as seis candidatas do ano passado (a vencedora Melissa McCarthy, Tina Fey, Amy Poehler, Edie Falco, Laura Linney, Martha Plimpton) ou eliminar uma ou mais para dar lugar a Julia Louis-Dreyfus, Zooey Deschanel, Lena Dunham, Laura Dern (vencedora do Globo de Ouro) ou Christina Applegate.

Fica minha torcida para que 30 Rock seja reconhecida pelo seu retorno ao brilhantismo das primeiras temporadas, e que Curb Your Enthusiasm, Parks and Recreation, Louie e Raising Hope as acompanhe na categoria principal (não vai acontecer).




 Hélio Flores

[Breaking Bad] 5x01 - Live Free or Die

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“Happy Birthday, Mr. Lambert!” - Lucy

Já se tornou um marco da história recente da TV o último episódio da terceira temporada de Lost, “Through the Looking Glass”, em que o aspecto físico de determinado personagem (incluindo uma barba) causa um estranhamento que só será entendido pela revelação na cena final, surpreendendo pela reviravolta e mudança de perspectiva e rumos da série. Breaking Bad também começa sua quinta temporada com personagem fisicamente mudado (incluindo uma barba), mas imediatamente nos situa o momento em que se passa, e tem apenas a duração de um prólogo. E, ao contrário de Lost, em que ao menos sabíamos que certa tripulação não deveria chegar na Ilha, aqui ficamos sem a menor ideia do que aconteceu de tão grave.


Ainda é cedo para saber que tipo de abordagem Vince Gilligan e seu time de roteiristas pretendem dar ao que vemos neste início: flashforwards em pequenas doses, como vistos na excelente 2ª temporada? Um acompanhamento paralelo aos eventos “atuais”? Ou não retornaremos mais a isto por um bom tempo? O fato é que tivemos informações suficientes para criar uma enorme expectativa e muitas dúvidas.


Primeiro fato relevante: o prólogo se passa dois anos após o piloto da série, tempo demais na cronologia de Breaking Bad, considerando que apenas metade deste tempo se passou em quatro temporadas (estimativa aproximada, baseando-me que Skyler já estava grávida quando a série começa e sua filha ainda é um bebê de colo). O Walt de barba, cabelo e aspecto cansado em nada se parece com o Walt que vemos pelo restante do episódio, autoconfiante, arrogante e cheio de si; não usa a aliança que ostenta no ferro-velho, dizendo ser de ouro; tosse e toma comprimidos; mas tem dinheiro (além do pesado armamento que compra, deixa 100 dólares de gorjeta), quando no momento atual precisa pedir emprestado a Jesse.


É interessante que até o final do episódio, nada aponta para aquele momento. Pelo contrário, “Live Free or Die” resolve, de uma maneira até apressada, as pontas soltas que ainda existiam: as filmagens do laboratório são destruídas, Walt se livra da planta usada como veneno, rapidamente acerta as contas com Mike (que só é algo verossímil graças ao cuidado na construção de um relacionamento entre Mike e Jesse na temporada anterior). Walter White não tem inimigos, Hank está longe de qualquer coisa que possa levantar suspeita sobre ele, não tem sequer como recomeçar a produção de metanfetamina para ganhar dinheiro. É como se a série recomeçasse do zero, com a enorme diferença de que os personagens estão longe de serem como eram no início - e o plano inicial e final do episódio falam isso de forma maravilhosa: o bacon gorduroso contrastando com o bacon vegetariano do piloto, que o protagonista come por imposição de uma esposa autoritária que agora é “perdoada” por um marido assustador.


Curioso também que a única ponta solta que fica do ano anterior nem sabíamos que seria uma ponta solta: Ted não está morto. Mas acredito que não veremos mais o personagem, que deve mesmo manter o segredo pelo resto de sua vida. Se seu retorno na temporada passada serviu para culminar no épico final de “Crawl Space”, aqui tem uma única função: em Breaking Bad as pessoas são (e vêm a ser) aquilo que elas fazem e, ao substituir o choque e o lamento por uma fingida ameaça (“Good.” Grande momento de Anna Gunn), Skyler vê um pouco mais do inferno em que está e ganha novas camadas.


Mas como uma coisa leva a outra nesta série, uma conta bancária de Gus Fring é descoberta, apenas graças ao magnético plano de Walt e Jesse. Dificilmente será algo que leva a nossos protagonistas, mas que logo os atingirá de alguma forma – o próximo episódio se chama “Madrigal”, nome da multinacional alemã que Hank descobre estar ligada ao Pollos Hermanos.


Outras considerações:

- “Live Free or Die”, na placa do carro de Walt, é o slogan do Estado de New Hampshire, de onde supostamente vem o “Mr. Lambert”. É também o nome do episódio de Sopranos em que o personagem Vito Spatafore foge para esse Estado (se não viu a série, não se preocupe, os motivos da fuga nada têm a ver com Breaking Bad);

- Por um lado, é realmente divertido ter de volta a velha dinâmica entre Walt e Jesse tentando se livrar de uma enrascada, algo perdido na temporada anterior; Por outro, é o terceiro mirabolante e bem sucedido plano de Walt num curto espaço de tempo. Espero que as coisas se “normalizem” um pouco;

- “Yeah, bitches! Magnets!” consegue ser ainda melhor que “Yeah Mr. White! Yeah Science!”;

- Trabalho técnico sempre incrível. Destaques: a trilha sonora que dá ritmo à destruição da sala de evidências; a visita de Hank ao laboratório queimado no melhor estilo “Alien” (reparem nos cones); e os planos com a câmera dentro do porta-malas de carro, um dos mais usados por Tarantino;

- “Estamos em uma época de partículas de Deus” – imagino que a cena tenha sido refilmada para manter a atualidade?

- Como imaginado, Saul ajudou Walt no seu plano para envenenar Brock e Huell quem roubou o cigarro (ou carteira inteira) de Jesse. Não acho que a série dará mais explicações que esta;

- "O que há entre vocês?" Mike, devidamente irritado com o "Se você matá-lo, vai ter que me matar" de Jesse, algo que os dois protagonistas se revezaram em dizer um bom número de vezes na quarta temporada;

- Falando em Mike... Mike e as galinhas. Existe alguma parceria que não seja boa com esse cara?



Hélio Flores
twitter.com/helioflores

[Breaking Bad] 5x02 - Madrigal

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“Right in front of me. Right under my nose.” - George


Começo pelo final: Breaking Bad tem sua cota de cenas desagradáveis, em especial os atos de seu protagonista, mas aqui parece alcançar um novo nível. Numa sequência que eleva a enésima potência o tom amargo do final do episódio anterior, Walter White oferece palavras “de consolo” a Skyler que, visivelmente depressiva, ainda é abordada sexualmente pelo marido, ainda mais excitado e tomado pelo poder após receber boas notícias de Mike. Vince Gilligan já disse várias vezes que chegará o momento em que os fãs deixarão de ter qualquer simpatia por Walt e acho que isto nunca esteve tão evidente como agora.


Porque o que temos ali é o homem que, um dia, havia decidido fazer coisas erradas pelos motivos certos e que, agora, é incapaz de perceber o mal que faz à família que tanto quis proteger. E um mal causado por puros atos de egoísmo e abuso de poder. Não nos iludamos: o que vimos ao final de “Madrigal” foi um legítimo estupro, interrompido para nós, espectadores, mas que certamente continuou para Skyler, numa cena que materializa o pesadelo da personagem por meio do enquadramento, da pouca luz e uso de som (o zíper da calça de Walt, o tom de voz, respiração ofegante, beijos insistentes).


Este Walt monstruoso nos foi apresentado antes no episódio, “despersonalizado”, tanto na primeira cena que mostra o estado emocional de Skyler...


 
... quanto na cena em que também usa palavras de consolo com Jesse, onde só vemos as mãos que controlam e manipulam aqueles que confiam nele...



... as mesmas que abusam de Skyler.



Há uma diferença clara entre os relacionamentos que esses dois personagens mantêm com Walt: Jesse acredita totalmente nele (seu choro é menos pela possibilidade de ter matado alguém acidentalmente com o cigarro perdido, do que por quase ter atirado no seu mentor), enquanto Skyler sabe muito bem com quem divide um lar. Mas no final das contas, é a mesma bomba a que Mike se refere, prestes a explodir e destruir quem estiver por perto.


Em relação à trama envolvendo o cigarro, mais uma vez a série mostra que não permite pontas soltas (obviamente que Jesse iria querer saber o que houve), nos dá mais uma montagem musical com a dupla protagonista (música "Stay on the Outside", do inglês Whitey) e ainda traz a ricina de volta ao jogo, com Walt escondendo em seu quarto e tendo apenas mais esta temporada para finalmente conseguir usar o veneno.


Mas as monstruosidades de Walt ficaram em segundo plano no episódio, que teve Mike como protagonista, graças às investigações que colocaram a Madrigal Electromotive no centro da trama. A abertura até dá a entender que Herr Schuler é o novo bad guy da temporada, com seu ameaçador silêncio ao degustar molhos, e o belo passeio da câmera que revela o nome da empresa e a retirada do Pollos Hermanos do mercado. É uma bela introdução que logo sofre uma reviravolta com o suicídio naquele pomposo banheiro de cores calculadas.


Na verdade, Lydia é a nova personagem da série, que pretende apagar toda e qualquer pista, incluindo pessoas, que possa ligar seu nome aos crimes de Gus Fring. E, como ela mesma diz a Mike, não chegou a conhecer o químico responsável pela metanfetamina, o que coloca Walt mais uma vez em uma posição de não ter ideia dos perigos que corre e do tanto que é resolvido fora do seu alcance (os gêmeos na 3ª temporada; o cartel na 4ª). 


A chegada de Lydia junto com a descoberta das contas investigadas por Hank (que inclui uma em nome de Kaylee Ehrmantraut) permitem que possamos apreciar Mike fazendo o que faz de melhor, mas não sem complicações, tendo agora que lidar com uma lista de nove nomes não mais tão confiáveis, ao mesmo tempo em que se vê obrigado a aceitar parceria com Walt e Jesse e, no processo, mantendo Lydia viva. Tudo, como não poderia deixar de ser, bastante redondo, desde como a cadeia de eventos justifica os atos do personagem, a elementos já inseridos previamente (a neta de Mike e Chow apareceram em “Full Measures”, final da 3ª temporada).


É um belo trabalho de Jonathan Banks, que sempre pode brilhar em pequenas participações e agora teve um episódio inteiro para nossa felicidade. Mike sendo interrogado por Hank e Gomez (“Esqueceram suas algemas?”) talvez tenha sido meu momento favorito, mas sua postura e calma na interação com qualquer personagem redobram o interesse pelos diálogos e cenas em questão.


Falando em Hank, mais uma participação periférica e, embora uma ótima troca de farpas com Mike (adoro como ele fala “Mike” depois que este diz pra ser chamado de Mr. Ehrmantraut), o que fica de mais forte é sua expressão diante da fala de George sobre não desconfiar de alguém tão próximo de nosso convívio. É uma característica incrível da série, esta de desenvolver tramas e personagens com pequenas e aparentemente desimportantes cenas, para que quando o grande evento surja, não pareça inverossímil. E, assim como em “Bullet Points” na temporada passada, Dean Norris transmite uma ambiguidade fascinante. O quanto ele pensa em Walt?



 
Hélio Flores

[Breaking Bad] 5x03, 5x04 - Hazard Pay, Fifty-One

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“Just because you shot Jesse James, don't make you Jesse James” – Mike

“What are you waiting for?” – Walt
“For the cancer to come back” - Skyler


Uma das coisas mais fascinantes em Breaking Bad, e que a diferencia de toda e qualquer série atual que tem o suspense como gênero, é como os roteiristas se preocupam mais em dar uma continuidade natural e realista à trama do que gerar o suspense propriamente dito. Não há elementos novos (como uma nova ameaça a cada temporada de Dexter) que não sejam consequência dos atos dos personagens, não há mistérios que precisam ser mantidos por um tempo (como em The Killing), não há ambiguidade de personagens (Homeland), e mesmo um recurso como o flashforward não é desculpa para gerar interesse na série, fazendo dele um fim em si mesmo (como a esquizofrenia porca de Damages). Na verdade, em relação à cena que abriu a temporada, é incrível que metade desta primeira parte já se foi e nada parece nos levar a ela, e apenas somos lembrados pela tradição do bacon no aniversário de Walt e o relógio com seu tenso tic tac anunciando dias piores.


Não, o grande trabalho da equipe de Vince Gilligan é priorizar uma certa ordem “natural” das coisas e pensando como essa verossimilhança pode ter uma boa dose de tensão e suspense. E, claro, com bastante imaginação. Se Walt e Jesse precisam voltar aos negócios, não dá pra simplesmente escolher um novo local de trabalho. É mais “realista” mostrar a dificuldade de se achar um lugar ideal (não sem humor, com Saul tentando empurrar o laser tag abandonado que já havia tentado antes e que serviu de abrigo pra Jesse no fim da 3ª temporada) e terminar na brilhante ideia do “laboratório intinerante”. Da mesma forma que manter um negócio desses passa por uma série de dificuldades e pagamentos, algo inesperado para o arrogante Walt, o que acaba servindo de conflito entre ele e Mike.


E assim a série segue a passos lentos, dando importância aos detalhes, mas fazendo de cada cena um momento dramático intenso, sempre focando nas exigências da trama, sem sentir a necessidade de dar destaque a um ou outro personagem: se Skyler é o centro das atenções agora, é porque o momento exige; assim como Mike protagonizou um episódio quando era necessário mostrar as investigações que levaram a Madrigal, e Jesse pouco tem a fazer, mesmo sendo um protagonista da temporada anterior.


Tudo isso, claro, com Walter White como centro gravitacional. O que importa é sua derrocada e como ele leva a todos para o inferno. Nisto, “Hazard Pay” e “Fifty-One” são exemplares. Nos atos maiores, fingindo se importar com Jesse, mas envenenando seu relacionamento com Andrea (ele nem se importa quando o “amigo” diz que terminou com ela) ao menor dos atos (observem como ele abre a gaveta e joga as roupas de Skyler pra um canto, pra colocar as suas próprias), Walt acua, manipula e aterroriza seus próximos, simplesmente porque pode, já engolido por seu ego e orgulho. “Nada vai parar este trem”, ele diz. Sua família ainda importa, óbvio, mas tem que ser nos seus termos. A emblemática sequência em que ele recorda todo o ano vivido, enquanto está de costas para Skyler (e ela para ele) é a metáfora perfeita para seu relacionamento, que chega aqui no momento mais insustentável: a esposa que vê como única saída a espera pelo câncer (e fumar excessivamente não atrapalha seus planos) e o marido que quer uma aproximação distorcendo verdades de acordo com sua conveniência (a história sobre Ted para Marie ou dizer a Skyler como Jesse supostamente mudou de opinião sobre ele).





Os episódios não se resumiram a Skyler e Walt, mas é como ficarão marcados, dado a excelência do texto e dos atores. É como uma versão hardcore do início da terceira temporada, quando Walt força sua presença em casa, fazendo da esposa a vilã da situação. Mas tivemos também:


- Mike lidando com seus homens que tiveram o dinheiro confiscado. Engraçado quando Walt diz a Saul que ameaçar é o que ele faz, e provavelmente já ameaçou alguém antes do café da manhã, quando realmente Mike esteve cedo negociando o silêncio de quem estava preso;


- Novos personagens da empresa “Vamonos Pest”, responsáveis pela dedetização das casas que serão usadas como laboratório. Certamente terão impacto na trama, já que um deles é vivido por Jesse Plemons, o eterno Landry de Friday Night Lights. No papel de Todd, já mostrou esperteza (e desobediência) ao avisar Walt de uma câmera que ele desligou;


- Um episódio tão coeso e bem executado como “Hazard Pay”, é inacreditável que tenha sido tão povoado: teve não só Mike e os novos personagens, mas Marie, Andrea e Brock, Skinny Pete e Badger. E como sempre tem um jeito de toda cena ter uma informação nova, descobrimos que Skinny Pete tem uma grande habilidade musical, provavelmente destruída pelas drogas;


- Como já dito, Jesse terminando com Andrea. Acho uma pena que tenha sido fora da tela, já que esse relacionamento teve enorme importância na série (catalizador do clímax, tanto do final da terceira quanto da quarta temporada), mas com tantos eventos, é um pecado que estou disposto a perdoar. Outra elipse estranha é a de Skyler (já no episódio seguinte) saber que está sendo vista pela irmã e cunhado como infiel. Em que momento se deu isso?


- Falando em momentos fora da tela, ficamos sem saber qual a opinião do Walt sobre o que Mike deveria fazer com Lydia, exceto que Jesse acha a ideia ótima. Provavelmente é o que moverá o próximo episódio. Lydia, aliás, é assustadora de uma maneira bem peculiar. Atrapalhada, assustada, capaz de fazer uma loucura no desespero. Mike está certo em querer matá-la, mas parece que não é o que vai acontecer;


- Walter Junior sempre comendo. Já virou piada entre os fãs, especialmente no que diz respeito ao café da manhã. E acredito que os próprios realizadores adotaram como humor. Basta ver que mesmo na cena em que Skyler e Marie comem no lava-a-jato, lá está uma foto do rapaz fazendo parte da cena;


- Hank promovido. Não parece ser o que ele quer, e é uma forma breve e eficaz de mostrar que sua obsessão por Heisenberg continua, e desenvolver o personagem, colocando-o em outra posição;


No mais, grande momento de Anna Gunn na série. Do explosivo “Shut up!” ao confronto com Walt, não duvido que isto tenha lhe conseguido alguns votos no Emmy, mesmo que não seja por esta temporada que ela concorre. Será uma favorita para o ano que vem. No que diz respeito à direção, “Hazard Pay” parece bem mais comportado e sutil, enquanto “Fifty-One”, dirigido pelo cineasta Rian Johnson (que também dirigiu “Fly”), pode facilmente ser chamado de “metido a besta”, mas gostei bastante, especialmente das composições de Skyler no fundo da piscina (com resgate que corta no momento em que Walt aparece no quadro, dando a impressão de ser um agressor) e Skyler fumando ao final usando a caneca de aniversário como cinzeiro. 


Chama a atenção também as duas aberturas (Mike na prisão; Walt e filho com novos carros) que, ao contrário da especialidade da série, não impressionam ou são pomposas, mostrando que Gilligan não sente a necessidade de causar impacto o tempo todo. Às vezes menos é mais, principalmente quando o que se conta é tão bom.



 
Hélio Flores

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