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Channel: Comentários em Série (com Spoilers!)
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[Breaking Bad] 5x05, 5x06 - Dead Freight, Buyout

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“Out burying bodies?” – Skyler
“Robbing a train.” – Walt



E a Skyler só antecipou o que Walt terá que fazer: se livrar do corpo de uma criança. Que golpe violento o deste “Dead Freight”, uma montanha russa de emoções, pequenas tensões que vão se acumulando (quem é este menino na abertura? O que vai acontecer? E agora, o que Walt quer no escritório de Hank? Será que vão matar Lydia?) para culminar em clímax divertido, adrenalina bem executada que não deve em nada às melhores sequências de roubo do cinema. E quando nossos batimentos cardíacos estão voltando à normalidade, vem a paulada.


Não é que o episódio não nos tenha alertado sobre o que viria: mostrar o menino no início é estragar um pouco a surpresa, embora seja o mínimo (mas suficiente) necessário para dar “substância” (ou background) ao personagem; e a necessidade de não haver testemunhas foi bastante explicitada, tanto por Mike falando sobre sua experiência nesse tipo de serviço, quanto por Walt e Jesse deixando bem clara a ordem para Todd. Morte anunciada, mas não menos impactante. Principalmente porque sabíamos que Walt e Jesse não seriam capazes de algo assim (Walt, quem sabe, se não fosse de forma tão explícita), e talvez nem mesmo Mike. A própria questão de matar alguém já vinha sendo debatida, a ponto de Lydia criticar “Achei que vocês eram profissionais!”. Mas lá estava um profissional inesperado. Todd, que só conhecíamos por um par de cenas, mas suficientes pra tornar crível sua praticidade: soldado obediente, esperto, ávido por impressionar, sua expressão calma e sem emoções já dava mostras de tamanha insensibilidade.


“Dead Freight” é excelente do início ao fim. Há toda a habitual excelência na direção, nos aspectos técnicos, na escrita, atuações, etc. Mas é um destes episódios que acabam sendo lembrados e discutidos apenas pelos seus minutos finais, tamanho o choque e impressão que deixam em quem assiste. Não é sempre que um assalto desta magnitude é visto em uma série de TV, muito menos a morte de uma criança de forma tão brusca. Mas outras duas sequências me chamaram a atenção pelas possibilidades a que elas acenam: Hank e Marie cuidando de Holly, enquanto Skyler diz a Walt sobre a possibilidade do perigo bater em sua porta. Já sabemos que uma tragédia ocorrerá em breve (no máximo, em um ano) e penso se Skyler conseguirá sobreviver ao fim da série. De uma forma ainda mais trágica, a ironia seria o perigo bater na casa de Hank e dar de cara com Marie e Holly... O mais interessante é que cinco episódios se passaram e nada aponta para o que poderia ser este perigo e como daremos um salto de meses na série.


Por último, muito se falou sobre a referência que Hank faz ao filme “Fogo Contra Fogo”, que aborda um assalto e as coisas começam a dar errado quando um assaltante novato no grupo mata quem não deveria matar. Esta temporada de Breaking Bad tem sinalizado coisas em forma de referências cinematográficas que, francamente, não me parecem necessárias: Mike vê A Nave da Revolta em “Madrigal”, filme que mostra a tripulação de um navio ameaçada pela insanidade de seu capitão; Walt e Jesse veem Os Três Patetas, após o novo de trio de “empresários” decidirem pelo laboratório intinerante; e, claro, Walt e Jr. veem Scarface, filme referência da série desde seus primórdios (a fala de Walt “Todo mundo morre neste filme” poderia apontar para um possível desfecho da série, mas na verdade foi um improviso do próprio Bryan Cranston). O que acho desnecessário é que servem apenas para massagear o ego de quem vê, que pode se orgulhar de entender as referências – sobre o filme do Michael Mann, não sei se é proposital, mas há algo mais sutil e orgânico: há uma sequência em que o personagem de Al Pacino discute o relacionamento com a esposa e o plano/contraplano de seus rostos são preenchidos por escuridão; o mesmo ocorre com Walt na cena com Skyler, só há trevas a sua volta; também não dá pra ignorar Lydia enquadrada com as luzes da cidade ao fundo, algo recorrente nos filmes de Mann.




“I'm in the empire business.” – Walt



E então chegamos ao “Buyout”, que enfim coloca elementos que esclarecem o que está por vir. Primeiro, há uma crítica que Alan Sepinwall faz que é pertinente: o episódio trata de ir direto ao ponto que os roteiristas pretendiam com a morte do garoto, que é a dissolução da parceria entre Walt, Jesse e Mike. Em uma temporada de 13 episódios, seria provável um maior desenvolvimento das consequências que esta morte traz, em especial para Jesse. Algo tão impactante serve apenas para mover a história para seu próximo ponto, que ocorre antes mesmo de chegarmos na metade do episódio. Por outro lado, o cronograma apertado (apenas mais dois episódios para o fim desta primeira parte) não me pareceu forçar situação alguma, além de evitar o retorno a um status anterior da série – Jesse deprimido, tentando lidar com uma tragédia, foi tema do início das duas últimas temporadas e sabemos como aqueles episódios da 4ª temporada, vistos em retrospecto, acabaram sendo os menos interessantes.


É preciso destacar a abertura deste episódio, que me parece perfeita como representação da gravidade do que ocorreu. Sabemos, a esta altura, como os protagonistas se livram de um cadáver e a força dramática vem da substituição do corpo da criança pela sua bicicleta, desmontada e destruída parte por parte, com bela trilha sonora respeitando o momento (a imagem da mão do menino acaba por manter o horror e o gosto amargo da situação). A partir daí, tudo soa de forma bem natural, mesmo que aqui e ali soe apressado: Walt mostra como não há alternativa viável além de manter Todd, Mike se vê pressionado por Hank, investigação já em curso desde “Madrigal”, e Jesse sob impacto da morte decide apoiá-lo na dissolução do grupo (ajuda o fato de ouvir Walt assobiando despreocupadamente após o que parecia ser uma discussão séria e um lamento pelo garoto). O momento também é ideal porque a venda da metilamina que acabaram de roubar resolve os problemas financeiros de todos.


E é aí que finalmente surge a ameaça que estávamos esperando. O contato que Mike faz para vender a substância se interessa mais pela possibilidade de tirar a “blue meth” do mercado, o que força Jesse e Mike a tentar, cada um a seu modo, convencer Walt de vender sua parte. Como sempre, os roteiristas tem cartas na manga para tornar a coisa toda verossímil: Jesse até relembra o valor que Walt, um dia, sonhou em ter (737 mil dólares, número que dá título à premiere da segunda temporada), e como cinco milhões é mais do que suficiente para fazer todos desistirem dos negócios (e, como consequência, acabar com a série). É uma proposta irrecusável para Walt, e seria difícil acreditarmos em sua recusa tão veemente, mesmo sabendo de todo o seu orgulho. Mas a história que ele conta sobre a Gray Matter, como vendeu sua parte, o valor atual (“Bilhões. Com B”) e como semanalmente acompanha a situação da empresa, convence pelo tanto que conhecemos dele.


Já Mike, obviamente, usa a força, mas mais uma vez subestima Walt, numa peripécia para se soltar digna de MacGyver. Qual o plano para conseguir o dinheiro para Jesse e Mike (Jesse não chega a dizer que a ideia envolve VENDER a metilamina)? Como “todos ganham”? Walt estaria disposto a fazer uma parceria com o grupo de Phoenix (improvável por seu desejo de ser chefe) ou a intenção seria enganá-los (improvável porque Mike não arriscaria)? Seja como for, a tensão aumenta porque Mike conta com este dinheiro nas próximas 24 horas, antes que Hank consiga anular a restrição e feche o cerco sobre ele.


Com tanto pesar no início e tanta tensão ao final, “Buyout” ainda nos reservou um dos grandes momentos de humor da TV este ano: um jantar em que Walt coloca Jesse e Skyler na mesma mesa. O desconforto de Jesse é tão sensacional quanto a embriaguez de Skyler, que se retira da mesa carregando sua garrafa de vinho de modo que muito me lembrou a alcóolatra preferida de todo fanático por séries, Lucille Bluth. O drama, a esta altura da série, é pesado e intenso (especialmente no lado de Skyler, que ao contrário do que imaginei, só agora descobre que Walt disse a Marie sobre sua infidelidade), mas de alguma forma o humor não destoa, nem parece inconveniente. Sequer um “alívio cômico”, já que a situação é perfeitamente orquestrada por Walt, que se abre para Jesse mais como uma tentativa de ganhar sua simpatia em momento crucial da parceria entre ambos. Resta saber até que ponto esta parceria ainda existe e como os planos de Walt complicarão a vida de todos.



 
Hélio Flores



[fdp] 1x01 Juiz x Juiz

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Estreou no domingo (fdp), a nova série brasileira da HBO, que pretende assim preencher sua programação com conteúdo nacional para se adequar à nova lei de cotas na TV paga. (fdp) conta a história de Juarez Gomes da Silva, um árbitro de futebol que tenta se manter incorruptível e atingir o sonho máximo de apitar uma final de Copa do Mundo. Desde que fora anunciada, o tema da série me atraiu por razões quase que pessoais -- mas não, não tenho nenhum árbitro na família -- e estava realmente ansioso para acompanhar o resultado na tela quando estreasse. Mas durante esse período, a medida que novas informações foram surgindo, percebi que (fdp) traria um drama leve, dando ênfase principalmente à vida pessoal de Juarez ao invés de investigar casos polêmicos nos gramados. Isso fica claro neste episódio piloto, que embora conte com uma sequência de quase 10 minutos envolvendo uma partida fictícia de futebol, serve como mero suporte à briga jurídica pela guarda do filho. E com certeza essa é a parte mais rasa da trama, com situações pouco inspiradas e apoiado em obstáculos morais apenas para fazer número, como a doença venérea transmitida à ex-esposa por Juarez. A tendência de aparar as arestas do roteiro com um estilo claramente publicitário, problema não só aqui mas na maioria das produções comerciais do cinema nacional, é o que mais irrita em (fdp), criando momentos até mesmo vergonhosos, como o quadro da família estilhaçado no chão. Já o "caso da semana" chega a ser interessante pelo juiz esperar que sua relação com o árbitro fosse suficiente para influenciar no resultado da partida, mas passa um ar até ingênuo, principalmente para quem acompanha os bastidores do futebol. Se a proposta da série é mostrar um árbitro honesto tentando sobreviver à pressão de sua "profissão", (fdp) tem poucas chances de ser relevante na televisão paga, até porque juiz nenhum é reconhecido pelos seus maiores acertos mas acaba sempre lembrado pelo menor de seus erros.

Foto: Divulgação.


e.fuzii
twitter.com/efuzii

[Breaking Bad] 5x07 - Say My Name

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“Do you really wanna live in a world without Coca Cola?” – Walt


“- How many more people are gonna die 'cause of us?” – Jesse
“- No one. None.” – Walt



Há um incômodo com a quinta temporada de Breaking Bad que ficou mais evidente com este “Say My Name” e a morte de Mike. Um dos meus maiores prazeres com a série sempre foi o desenvolvimento da trama, fluindo com incrível naturalidade, mesmo que os acontecimentos fossem surpreendentes e bombásticos. Algo ocorre como consequência de uma série de eventos anteriores, todos devidamente justificáveis, seja pela lógica interna da narrativa, seja pelo desenvolvimento que se pretende dar aos personagens. Até situações que podíamos acusar de um providencial “Deus Ex Machina” (a morte de Jane, o desastre aéreo, a bala que salva Hank no último segundo) tornam-se aceitáveis pelo próprio componente quase místico que a série desenvolveu em que carma, destino e sorte parecem rondar os personagens (não à toa o próprio Vince Gilligan chamou o explosivo final da segunda temporada de “Lucifer Ex Machina”).


No entanto, a nova temporada parece ter perdido um pouco desta capacidade de mover a trama sem que percebamos os dedos dos roteiristas. Até defendi, no texto anterior, a pressa com que o episódio “Buyout” passa da morte do garoto para a negociação da metilamina, porque, apesar de tudo, nada parecia forçado. Mas agora, para chegar onde queriam, os roteiristas abusaram um pouco.


Pra falar da morte de Mike, é preciso lembrar um pouco da morte de Gus Fring: uma das grandes sacadas da quarta temporada foi conduzir a trama a uma situação cada vez menos possível de manter Gus na série (a não ser que o protagonista fosse sacrificado), ao mesmo tempo em que mostrava ser impossível para Walt matá-lo. Isso só ocorre graças a um erro de Gus (talvez o único?), que foi levar Jesse a Hector Salamanca, perfeitamente justificado como toque final de uma vingança bem executada. Já o erro de Mike? Subestimar Walt. Várias vezes.


Hank disse no episódio anterior que até profissionais como Mike cometem erros. O problema é que houve uma grosseria nesses erros que não é congruente com o personagem. Ele não só aceita que Walt seja a pessoa que vá buscar seu dinheiro (que não queira Jesse é compreensível, mas por que ligar para Saul, se é a primeira pessoa que a polícia ficará de olho? Certamente que ele tem pessoas de confiança e que não estejam presas), como deixa para conferir a mala dentro do carro. Isto sem falar na coincidência de Walt visitar Hank no exato momento em que Gomez chega com novidades (e que Hank convenientemente diz o sobrenome de Mike para não ficarem dúvidas), novidades, aliás, que existem apenas por outra série de erros, desde o uso do mesmo advogado dos nove presos, como a guarda do dinheiro em cofres no mesmo banco. E nem vamos acrescentar a esta extensa lista a forma como algemou Walt no episódio anterior...


Há algo mais que me incomoda também neste final: por que chegar a este ponto? Gustavo Fring e os gêmeos primos de Tuco foram mortos porque chegaram a um momento em que suas presenças na série eram insustentáveis, e foram eliminados de maneira satisfatória e crível. Mike morre por nada. Um dos melhores personagens da série é também, se não me engano, o único que morre pelas mãos de Walt sem uma necessidade aparente. Pode parecer birra de quem não queria a morte de um personagem querido, mas não é isso. Acredito, inclusive, que Mike não caberia no que Gilligan e seus roteiristas planejaram para a reta final da série e que talvez este seja até um dos acontecimentos que levará a tragédias maiores. O problema é que me passa a impressão de que Mike morre covardemente pelas mãos de Walt apenas como parte do projeto “chegará-o-momento-em-que-ninguém-torcerá-pelo-protagonista”, como se Walt já não fosse detestável o suficiente.


Não que eu acredite que Walt fosse incapaz do que fez. Mas tudo acontece de forma estranha: parece impulsivo por conta da discussão, mas ele já tinha intenção por ter retirado a arma; como ele volta para o carro, dá a impressão de que não estava com a arma escondida no corpo (e se Mike conferisse a sacola ali mesmo? É esse tipo de questionamento que a série nunca nos deixou); nem mesmo a discussão se sustenta como uma verdade que lhe é jogada na cara. O argumento de Mike é furado. “Nós tínhamos uma coisa boa, Gus, o laboratório...” é mentira porque Gus sempre quis substituir Walt – por Gale na terceira temporada, por Jesse na temporada seguinte. Se há algo que não se pode contestar em Walt, é que ele tinha mesmo que matar Gus. Fica então uma motivação frágil para um assassinato que só ocorre por uma construção frouxa de elementos fáceis.


E a que se deve isto? Certamente os roteiristas e a direção continuam de alta qualidade. A escrita na abertura do episódio, com enquadramentos que vão se fechando sobre os personagens, é ótima, tornando verossímil e divertida uma situação duvidosa clássica (a de alguém que tem que convencer um outro de opinião fortemente contrária). Além do mais, com todos os problemas que vejo no final, é perfeito o contraste que mostra Heisenberg ainda como uma aparência de Walt que não se sustenta no particular, já que não sabe como reagir ao impulso que o leva a atirar em Mike – este, por sua vez, tem uma saída não apenas marcante pela bela composição de cena, mas também por colocar seu algoz no devido lugar: “Cale a maldita boca e me deixe morrer em paz”. Os roteiristas também continuam afiados na relação entre Walt e Skyler (e o segundo encontro dela com Jesse reforça a suspeita de que ambos de alguma forma irão se juntar contra Walt no futuro), na crueldade de Walt em mais um conflito com Jesse, e no desenvolvimento de Todd como soldado-aprendiz-psicótico.




O motivo, então, para que as coisas tenham saído dos trilhos só pode ser a divisão da temporada em duas partes. Eu consigo imaginar a série trilhando este mesmo caminho, chegando ao mesmo destino, mas de uma forma mais satisfatória, em que a morte de Mike aconteceria lá pelo nono ou décimo episódio de uma temporada normal com treze. Mas parece que Gilligan sucumbiu à necessidade de estruturar duas mini-temporadas, em que um arco completo se fechará no oitavo e último episódio deste ano, de modo que foi necessário apressar as coisas, nem que para isso precisasse sacrificar um pouco do que faz Breaking Bad ser uma aula de condução narrativa para as demais séries do gênero. É como se o autor, na verdade, tivesse preparado material para mais duas temporadas, e não uma com três episódios a mais. Não é uma tragédia, mas espero que o próximo episódio traga as coisas de volta aos eixos e nos deixe com novos e excitantes rumos para uma longa e amarga espera para seu retorno daqui a um ano.


Observação: um close e o último plano de despedida de Jonathan Banks para ilustrarem o post. Vamos torcer para que ele substitua Giancarlo Esposito no Emmy do próximo ano.




Hélio Flores

[Breaking Bad] 5x08 - Gliding Over All

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  “How much is enough? How big does this pile have to be?” – Skyler

“Tagging trees is a lot better than chasing monsters.” - Hank



Um grande acerto desta quinta temporada de Breaking Bad foi começa-la com aquele flashforward. Foram oito episódios em que não aconteceu nada que pudesse levar àquele momento. Pelo contrário. Enquanto a quarta temporada foi um verdadeiro inferno para Walter White (temendo ser morto por Gus, afastando-se de Jesse cada vez mais, Hank mais próximo da verdade), aqui tudo parece dar certo: destrói evidências da polícia, consegue fazer Mike e Jesse seus sócios, cria um laboratório à prova de investigações, rouba um trem e, por fim, elimina todas as pessoas que poderiam envolvê-lo com Gus Fring – inclusive Mike.


E, ao fim de “Gliding Over All”, as perguntas que aquele flashforward deixava, permanecem: Por que Walt parece tão acabado? Onde está sua aliança? Por que usa uma identidade falsa? A tosse é um sinal de que o câncer voltou? Pra que aquele armamento pesado? Seria frustrante não termos respostas se fosse o final de uma temporada “normal”, mas com esta divisão é preciso relevar muita coisa. Importa é que, além de servir como uma sombra que paira sobre cada ação vista nesta temporada, elevou a tensão de um episódio em que aparentemente não era pra ter tensão alguma. 


Sabíamos que os nove homens de Mike não seriam problema porque Walt teria ainda um ano pela frente – daí mais uma boa montagem que mostra rapidamente a eliminação de todos, no melhor estilo O Poderoso Chefão. E parecia óbvio que a passagem do tempo só poderia ser mostrada daquela forma, provavelmente a mais bela que a série já realizou (como se os realizadores tivessem esperado cinco anos por aquele momento para usar Crystal Blue Persuasion), no momento em que nada ameaçava o império do protagonista. 


O que não sabíamos (e não sabemos ainda) é que tragédia ocorre meses depois, fazendo cada sequência, a partir dali, ser carregada de tensão e perigo: Skyler, Walter Jr., Holly e Marie reunidos, com Jr. atendendo uma ligação e saindo; Skyler chegando em casa e encontrando luzes apagadas e aberta a porta que dá para a piscina; Skyler na cozinha e a porta de casa se abrindo; Jesse ouvindo alguém chegar em sua casa; e, claro, todos reunidos na piscina a poucos minutos do fim do episódio, sequência de parar o coração que me lembrou situação semelhante no final de Sopranos. Em todos estes momentos achei que algo aconteceria, graças à tragédia anunciada no início da temporada, mas também, em relação à família na piscina, a uma grande sacada. Walt desistindo dos negócios guia nossas expectativas e acreditamos matar a charada: algo terrível vai acontecer porque alguém não aceita a desistência de Heisenberg. E, para surpresa absoluta, algo totalmente diferente encerra o episódio.


Mas primeiro falemos sobre Walt desistindo dos negócios. Há uma história amplamente conhecida (e, confesso, não sei se é verdade ou mito) de que Alexandre, o Grande teria chorado ao perceber que não havia mais nada para conquistar. Cabe perfeitamente na história de Walter White: após cinco temporadas de pura adrenalina, tensão, medo, desespero, coisas hediondas e grandes conquistas, Walt consegue estabelecer seu império e nada tem a temer. É o que ele queria, bem explicitado na conversa com Jesse alguns episódios atrás, mas uma vez almejado o objetivo, e agora? A brilhante sequência da passagem dos três meses nos mostra um Walt que muito trabalha mas se vê à noite cansado e entediado, em uma casa imersa na escuridão, convivendo com uma esposa que o odeia e sem a presença dos filhos.


Ver o dinheiro que conseguiu (e que nunca gastará todo) talvez tenha sido o empurrão que precisava para perceber o vazio de sua existência. Ele até procura Jesse, não só porque se importa e quis pagar uma dívida (sabemos que por mais monstruoso e manipulativo, nunca houve nada que desmentisse o fato de que Walt gosta e se preocupa com Jesse), mas porque ele precisava manter um elo com o momento de sua vida que mais teve sentido; relembrar as aventuras com o trailer é se apegar a um passado que parece distante e que deu lugar ao tédio e a uma rotina que pouco envolve as pessoas com quem ainda se importa.
Mas é possível também que a desistência de Walt esteja relacionada a algo não visto (descarto a possibilidade de que ele mentiu para Skyler, pelo simples fato de que ele precisa dela para lidar com o dinheiro que ganha), como o resultado do exame que faz. Sabemos que a visita médica é rotina (também vimos isto na temporada anterior), mas o retorno do câncer é a forma mais contundente de mostrar ao personagem sua mortalidade. E que genial resgatar o dispenser de papel toalha, que continua lá, amassado, em um acesso de fúria de Walt quando recebeu boas notícias sobre a doença no momento em que já tinha aceitado sua morte (no episódio 2x09, “4 Days Out”). 


“Gliding Over All”, aliás, é uma coletânea de referências a vários momentos da série, sem nunca chamar atenção para eles (a não ser, claro, que tenha função dramática, como o caso do dispenser), como podemos ver neste link. Ainda podemos citar a fala “Learn to take yes for an answer” de Walt para Lydia, mesma coisa que ele ouviu de Mike em 4x02, “Thirty-Eight Snub” e também Walter Junior brincando de peekaboo com Holly.


E, por fim, temos a ida de Hank ao banheiro. Provavelmente o momento mais esperado da série, que sabíamos que chegaria um dia (mas não quando e nem como), é este em que Hank descobre sobre Walt. Até parece óbvio encerrar uma temporada assim, porque cliffhanger maior não poderia haver. Mas a situação é tão inusitada e inesperada que me fascina a coragem de Gilligan e seu time de roteiristas.


Primeiro, o erro de Walt. Mais uma vez vale lembrar a frase de Hank dois episódios atrás, sobre profissionais também cometerem erros. Critiquei a forma como conduziram os erros de Mike, porque destoavam do personagem. Mas não me parece ser o caso aqui: Walt é orgulhoso demais para não guardar o presente de um químico brilhante que, em dedicatória, diz ser uma honra trabalhar com ele. Ele fez questão de manter aquele livro como recordação de seu triunfo (e realmente é interessado na poesia de Whitman – Walt está lendo este livro logo após ganha-lo de Gale no momento em que Hank liga para ele em 3x06, “Sunset”) e não creio ser descabido pensar que circulou por cômodos na casa de Walt tantas vezes nos últimos meses que há muito tempo deixou de ser visto como evidência contra ele – se é que algum dia chegou a ser visto desta maneira. E nem quero entrar em questões do inconsciente, como Walter ter o desejo de ser pego ou viver perigosamente, como quando colocou Hank de volta às investigações ao falar que haveria alguém por trás de Gale...


A incrível coincidência, então, parece estar ligada àquela noção de carma e azar que tantas vezes rondou a série. Se Gilligan chamou o acidente aéreo de “Lucifer-ex-machina”, aqui nem é preciso mudar o nome do recurso, mas ao contrário, tornar literal o conceito: trata-se de uma verdadeira "Justiça POÉTICA". Se o castigo veio do céu quando os aviões colidiram, agora vem diretamente do inferno, mensagem especial de Gale. Que esta descoberta de Hank tenha se dado naquela situação, é alcançar um novo nível de tragicomédia. Além do fato de vir no exato momento em que Walt desistiu dos negócios.


As implicações disto são fascinantes. O que Hank fará ao sair do banheiro? Que tipo de investigação poderá fazer e o que mais pode descobrir, uma vez que Walt se tornará um pacífico dono de lava-a-jato? O quanto descobrirá sobre o envolvimento de Skyler (imaginem Hank seguindo-a e descobrindo a pilha de dinheiro)? Que tipo de reação esperar do homem obcecado por Heisenberg e que descobre tratar-se de seu cunhado, pai dos filhos que ele cuidou por um tempo e que ama como se fossem seus? Que teve seu tratamento pago por dinheiro vindo da “blue meth”? O que pensariam seus colegas de trabalho se descobrissem que o homem mais procurado do DEA vive tão próximo e intimamente dele?


E isto ocorre alguns meses antes de Walt completar 52 anos e estar com uma identidade falsa e armamento pesado. Será Hank a vítima que ficará entre Walt e algum criminoso (De Phoenix? Da República Tcheca?) que exige o retorno de Heisenberg para os negócios? Não dá para esquecer também a sequência no episódio anterior em que a polícia revista a casa de Mike enquanto este assiste a “Os Corruptos”, obra-prima de Fritz Lang. Um policial comete suicídio no início do filme e é a este acontecimento que os personagens se referem e que ouvimos em off quando há um close em Hank (e mais tarde ele simula se matar ao sair de sua sala para pegar café para um Walt choroso, com um tiro na cabeça, da mesma forma – e do mesmo lado – que o policial do filme).


São muitas especulações e apenas uma certeza: a de que um ano nunca demorará tanto para passar como este próximo. Sobreviveremos?




 

Hélio Flores

[Mad Men] 6x01-02 The Doorway

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"I'm just acknowledging that life, unlike this analysis, will eventually end and somebody else will get the bill."

E a morte continua rondando a vida destes personagens. Passados pouco mais de 6 meses em suas vidas, períodos que parecem estar encurtando a cada nova temporada, Mad Men retorna para seu penúltimo ano na televisão, ainda marcado por essa fatalidade latente. Não haveria situação melhor para revelar a profunda mudança da sociedade em um intervalo tão curto de tempo quanto nos eventos sociais de final de ano. O que antes se traduziam em festas inesquecíveis, agora parecem suprimidas diante de tantos outros acontecimento, ou até simplesmente esquecidas, como na celebração de ano novo particular no apartamento dos Drapers. Se comparada à festa neste mesmo apartamento na premiere anterior então, parece até que estamos diante de um outro casal. Mas se considerarmos a dinâmica entre eles, de fato estamos. É interessante também estabelecer um paralelo com o piloto da série, quando nos é revelado apenas nos últimos minutos que Don Draper tem uma família no subúrbio. Dessa vez, pelo contrário, é guardado para o final que Don está realmente traindo Megan com a mulher do Dr. Rosen, em resposta ao cliffhanger que encerrava a temporada passada, a garota no bar perguntando se Don estava sozinho. No entanto, pela primeira vez, essa situação parece estar incomodando Don Draper. "Quero parar de fazer isso" é uma de suas únicas resoluções para o novo ano. Mas ele sabe que não seria capaz de parar, e pela reação de sua amante (a maravilhosa Linda Cardellini), ela também sabe disso. Durante o episódio, o que me incomodou foi essa camaradagem excessiva de Don com o médico, que não me parecia apenas mera curiosidade pela sua profissão ou por lidar frequentemente com a vida e a morte, mas uma relação próxima a ponto de dar até presentes fora de época. Com essa revelação final, tudo parece mais claro, Don tenta compensar um homem que consegue ser mais digno do que ele em todos os aspectos da vida.

O episódio começa sob o ponto de vista de alguém sofrendo um ataque cardíaco, para depois embarcar na jornada de Don pelo "paraíso", no clima e nas cores quente do Havaí, enquanto lê um trecho do Inferno de Dante Alighieri na praia. Sua atitude diante deste cenário é de completo torpor, como se não estivesse presente ali, passando quase dez minutos em silêncio. A palavra a quebrar esse silêncio é "army" diante de um jovem militar, bêbado no balcão do bar, que passa a relatar as atrocidades vividas no Vietnã, enquanto Don relembra seus velhos tempos de guerra na Coreia. Ele retorna à fria Nova York dizendo que viveu uma verdadeira experiência, impossível de colocar em palavras. Na agência, percebemos que apesar disso, apenas Don Draper continua exatamente o mesmo; barbas, bigodes e costeletas crescem em profusão no rosto desses personagens. Como se ainda estivessem aproveitando a brisa de mudança trazida pelo verão do amor, enquanto Don continua rejeitando a mera utilização do termo em uma de suas campanhas publicitárias. Então, quando sua viagem pelo Havaí também precisa virar propaganda, Don é o único incapaz de perceber a interpretação mórbida de sua experiência -- Stan chega inclusive a pensar que essa era justamente a "graça" do anúncio. Estaria Don também querendo se suicidar?

Provavelmente não, mas é muito forte sua curiosidade em saber o que este momento lhe reserva, abandonar sua existência física, com certeza ainda influenciado pelo suicídio de seu sócio, Lane Pryce, que continua in memoriam batizando a agência. Roger também se mostra perturbado neste sentido em suas sessões de terapia, cansado de buscar algum sentido para a vida. Sua análise que inclusive dá título ao episódio, diz que a vida é uma sucessão de portas, pontes e janelas que abrem e fecham todas da mesma maneira e levam fatalmente sempre a um mesmo caminho definido. Claro que não se deve levar a sério um personagem que conta piadas para si mesmo na terapia. Mas não à toa, posteriormente é revelado que a vítima do ataque cardíaco na primeira cena é Jonesy, o porteiro do prédio de Don, que ocupa esse piso térreo onde abre e fecha a porta para os moradores, convida-os a subir ou descer de elevador. Além disso, Roger enfrenta outros dois anúncios de morte no episódio: sua mãe, a única pessoa ainda capaz de lhe amar, e seu engraxate, que não é lembrado por nenhum outro de seus clientes. Talvez esse fosse um dos maiores receios de Roger, razão para ele finalmente desabar a chorar em sua sala. Assim como acompanhamos desde a temporada anterior, a sociedade vive o ápice do consumismo, os prazeres momentâneos nunca estiveram ao alcance de tanta gente, os relatos de guerra e violência na cidade chegam com uma facilidade incrível e o uso deliberado de alucinógenos faz com que esses personagens procurem sempre por uma nova experiência, inédita, transcendental. Roger não contenta-se com a chegada de um novo ano porque a promessa de um novo ciclo é na verdade apenas mais uma repetição.

Embora com uma atuação ainda discreta neste primeiro episódio, Peggy já mostra um pouco do progresso que teve nos últimos meses trabalhando na CGC. Superando a adversidade em uma campanha também prejudicada pela brutalidade do Vietnã e pelo sarcasmo da época, Peggy consegue impressionar seu chefe com uma ideia ainda mais brilhante para a propaganda de fones de ouvido. Porém, seu relacionamento com Abe ainda me parece um pouco turbulento, como se vivessem em mundos diferentes, e certamente teremos desenvolvimento durante a temporada. Mas o que me pareceu mais marcante foi a presença de Peggy na agência, sua autoridade diante dos outros funcionários, lembrando muito a confiança de Don Draper em seus tempos áureos. Ainda tivemos uma trama envolvendo Betty, que aparece com peso reduzido e tentando mantê-lo sob controle. Sua "descida" a um Village congelante (lembrando que o Inferno descrito por Dante é gelado) não deixa de ser também uma experiência inusitada, visitando um cortiço e entrando em contato com alguns jovens adeptos da contracultura. Obviamente sua tenacidade para resgatar a garota daquele lugar, como se fosse protagonista de um conto de fadas, deve-se principalmente pela história ser muito similar à dela. Porém, por mais que ela tentasse se apegar ao violino, a "identidade" da garota destinada a estudar em Juilliard, sua decisão de largá-lo naquele lugar mostra algum progresso. Betty pode não ser um ser humano exemplar (longe disso, aliás), mas já é recorrente desde a temporada anterior Betty ter alguns lampejos de maturidade e para representar isso nada melhor do que uma mudança na cor dos cabelos. Sally também apareceu pouco, mas já deu mostras de estar mais independente e menos reprimida na mansão dos Francis. Seu conflito com Betty, com os dois personagens em desenvolvimento paralelo, tem tudo para ser um dos destaques dessa temporada. É cedo ainda para dizer o que esperar do ano de 1968 na série, a única certeza é que esse estado de emergência e preocupação dos personagens está longe de chegar ao fim.

Foto: Divulgação.


e.fuzii
twitter.com/efuzii

[Mad Men] 6x03 The Collaborators

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"This is how wars are won."

Colaboradores nos tempos de guerra são aqueles que oferecem sua cooperação às forças inimigas, principalmente nos casos de ocupação, por isso tantas vezes são tratados como traidores. Poderia ter ligação a este período, um dos mais tensos da guerra do Vietnã, quando os Estados Unidos lançam sua ofensiva do Tet, situando assim o episódio no final de janeiro de 1968. Porém, esse conflito ético é apresentado em outras situações ao longo desse episódio: Peggy sendo coagida por Ted a usar uma conversa informal com Stan para ir em busca da Heinz, Pete ficando ao lado do cliente da Jaguar que prefere uma linha publicitária focada no varejo, ou até o próprio executivo da Heinz que tenta sabotar seu jovem colega de trabalho atrás de uma oportunidade igual na SCDP. E claro, os dois casos de infidelidade mostrados no episódio, principalmente pela cara de pau dos envolvidos.

Apesar da vontade expressa de interromper esse relacionamento no início do ano, Don ainda continua com seus encontros com Sylvia, sua vizinha do andar de baixo. A amizade entre os dois casais gera vários momentos de risco, a ponto de Don chegar em seu apartamento e encontrar sua mulher sendo consolada pela amante. Uma pena que para o espectador não existe praticamente qualquer suspense, já que acompanhamos todo desenrolar da conversa antes de Don aparecer. Apesar de algumas ressalvas ao esforço de Jon Hamm na direção, sua atuação foi um dos destaques do episódio, nos momentos de tensão, mas principalmente quando tenta (não) convencer os executivos da Jaguar a mudar de estratégia. Esta trama também possibilitou revelar outros detalhes do passado de Don através de flashback, mostrando a época em que se mudou com sua mãe de criação para um bordel. Porém, é um recurso que me parece desnecessário por mostrar um cenário que já vinha sendo montado em nossas cabeças desde as temporadas anteriores, além de bastante questionável como justificativa para seu comportamento em relação às mulheres, como dá a entender por Don deixar seu "pagamento" pela companhia de Sylvia. Até um jantar arranjado entre os casais acaba se tornando um encontro particular quando Megan não se sente bem e o Dr Rosen é chamado para outra emergência. Embora Sylvia tente resistir (sua culpa religiosa também parece ser importante), há todo um jogo de poder e sedução na mesa, duas armas que Don Draper domina, e portanto acaba prevalecendo. Poderia ser apenas mais um passatempo para ele, mas essa proximidade dos casais e a outra trama sobre infidelidade levam a crer que isso pode gerar uma enorme crise no casamento dos Draper, que também já não parece se garantir por si só.

Pete também leva uma de suas vizinhas para seu apartamento na cidade (oferecendo ingressos para assistir Hair!), mas não conta com a mesma sorte de Don, e acaba descoberto por Trudy depois da vizinha aparecer toda ensanguentada batendo em sua porta. Para quem acreditava que Pete estava manipulando sua mulher, criando todos aqueles motivos para pegar o trem todos os dias, era justamente o contrário, Trudy sabia muito bem o que estava fazendo. Certamente no melhor momento episódio, ela não parece tão incomodada com traição, mas porque Pete não cumpriu a parte dele neste acordo, em manter ao menos certa discrição para preservá-la na vizinhança. Ela coloca o marido para correr de casa, estabelece limites para suas visitas e ainda ameaça destruí-lo. Mas não sei também se seria avançado demais pra época uma reação assim, até se levar em conta que a violência contra a vizinha passa totalmente despercebida, impune. Quem também enfrenta conflitos de gênero é Peggy, que ao invés de ser respeitada pelos outros funcionários da agência, como dava a entender no episódio anterior, é na verdade temida por sua inflexibilidade. Por isso, ela acaba sendo vítima até de brincadeiras, o que se fosse um homem no cargo de liderança certamente não aconteceria. As conversas com Stan após o expediente são um dos poucos momentos que vemos Peggy relaxar, ser ela mesma, ser tratada de igual pra igual. Mas talvez fosse ingenuidade sua achar que entregando a informação para Ted de que um cliente em potencial estava saindo ao mercado não acarretaria esse dilema ético. Já na SCDP, Herb aparece na porta da sala de Joan para acabar com seu dia. Talvez o maior problema de ceder a um cliente assim da agência fosse que ele sempre voltaria a bater em sua porta. Claramente irritada, ela vai procurar refúgio na sala de Don, que também parece contrariado durante todas as reuniões da Jaguar. Não só porque parecia absurdo para ele mudar para uma estratégia daquelas, mas sinto que ele se sentiu vingado mesmo em um nível pessoal. Regras de conduta funcionam mesmo de forma curiosa na cabeça de Don. É curioso também notar como está sendo introduzido o novato Bob Benson (James Wolk da abreviada série Lone Star), como uma ameaça para os mais experientes, como uma versão mais nova do charme de Don Draper, como uma figura onipresente nos contatos da agência. Ele ainda parece oculto em muitas destas situações, mas assim que for revelado seu potencial é capaz de causar alguma agitação na SCDP. O que, convenhamos, está mais do que na hora.

Foto: Divulgação.


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[Mad Men] 6x04 To Have and to Hold

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"I pray for you. For you to find peace."

Com o passar de várias temporadas, uma consequência natural para uma série como Mad Men que lida com tantos aspectos da sociedade de seu tempo, expandindo e explorando diversos núcleos, é a necessidade de episódios como o dessa semana. Acompanhamos o avanço de diversas tramas principais, seja dentro da SCDP, na concorrência pela Heinz ou no casamento dos Drapers, assim como outras históricas mais periféricas, como Joan e Dawn encontrando-se com suas respectivas amigas. No entanto, em muitos casos senti que uma atenção maior seria necessária, principalmente em relação à decisão de Peggy, traindo a confiança de Stan, que passou uma sensação de frieza extrema e poderia ser amenizada com um tempo maior de reflexão. No entanto, é curioso notar que todas as tramas se relacionam com essa concorrência entre as duas agências, gerando peças tão ligadas à época (sejam bem-vindos, espaços em branco!) mas ao mesmo tempo tão opostas. No caso do trabalho da SCDP, refletindo os encontros furtivos no esconderijo de Pete e a sala secreta na própria agência, Don tenta abstrair mais uma vez o produto -- assim como já havia feito com o hotel do Havaí -- e explorar a imaginação de seu público. Mas quem se enquadra melhor na proposta do cliente é Peggy, que repetindo as palavras de seu mentor durante a apresentação, propõe uma exposição maciça do produto na Times Square. Nenhuma das duas agências pode comemorar, porque quem venceu a concorrência foi a Thompson, mas o encontro depois no bar também não me agradou. Todos lamentando a derrota, de repente Ken entra furioso porque Raymond descobriu sobre o "Projeto K" e Stan sai de cena mostrando o dedo do meio para Peggy. Ficou parecendo um sketch sobre traição.

Mas talvez seja outro indício de que a traição de Don Draper esteja próximo de ser descoberta. Resta saber se isso acontecerá antes ou depois de se separar de Megan, afinal sabemos que quando ele compara sua mulher a uma vagabunda, é porque estamos acompanhando o início do fim deste relacionamento. "To have and to hold", além do nome da novela que Megan participa, é também um trecho dos votos feitos pelos noivos nas igrejas católicas americanas. Pela primeira vez Don parece incomodado com a cruz pendurada no pescoço de Sylvia, e ela não esconde que reza depois de cada encontro para que seu amante encontre paz de espírito. Porque, convenhamos, Don é um homem perturbado a ponto de não apenas correr para trair sua mulher logo depois de vê-la em cena com outro ator, mas por ainda reproduzir a cena com sua amante. A série já mostrou claramente que esses padrões se repetem na vida de Don, e deixava claro o distanciamento dos dois no final da temporada anterior, mas esperava que dessa vez seria Megan a tomar iniciativa e propor uma separação, cansada das velhas manias do marido. Enquanto ele se incomoda por Megan supostamente lhe trair sob a luz dos holofotes, ele age de maneira muito pior nos bastidores. Resta esperar que essa situação finalmente se inverta.

Já dentro da agência, as disputas continuam bastante tensas, dessa vez com Joan e Harry medindo forças para ver quem tem mais autoridade. É uma situação delicada de analisar, porque apesar da secretária de Harry ter burlado as regras, a dinâmica de horário numa agência como a SCDP sempre foi retratada como bem flexível. Basta lembrar da voltinha de Jaguar durante o expediente na temporada passada, por exemplo. Sem entrar muito nesses méritos, a situação serviu para mostrar que mesmo prestigiada por sua mãe e amiga pelo cargo executivo na SCDP, a razão obscura que permitiu Joan atingir esse cargo gera ainda muitas especulações dos colegas de trabalho. Não que faltasse méritos para isso, a SCDP provavelmente nunca sairia do papel se não fosse pela contribuição de Joan, mas sua decisão na temporada passada certamente nem permitiu que ela conquistasse mais respeito entre os colegas. Harry também está em busca desse respeito, só que por outro lado, invadindo a reunião de sócio, exigindo seu lugar, bradando sua importância na agência. E ele tem razão, ainda que fosse um babaca na maior parte do tempo, Harry foi um dos poucos a acreditar no potencial da televisão desde o início, mesmo que sem outra opção, e como sabemos sua presença na publicidade tende a ser cada vez maior (irônico também que Don Draper seja ameaçado em sua vida pessoal justamente pela televisão neste episódio). O que faltava a Harry era alguma iniciativa, como Peter por exemplo, e isso ele mostrou após receber seu bônus no encontro com Roger e Cooper. Como bem descreveu Dawn para sua amiga, a SCDP é um ambiente dominado pelo medo, e quem vence é aquele que consegue se impor neste sistema. Muito interessante esse olhar "estrangeiro" da secretária de Don, que se destaca na agência pelas diferenças e ao mesmo tempo não é respeitada pelo mesmo motivo. Só espero que em meio a tantas outras tramas, Dawn tenha mais sorte de se destacar do que Ginsberg, por exemplo, que levantou algumas questões interessantes sobre as famílias de judeus da época, para depois nunca mais ser lembrado.

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[Mad Men] 6x05 The Flood

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"This is an opportunity. The heavens are telling us to change."

Mad Men já mostrou inúmeras vezes que não tem a pretensão de tratar dos fatos e ocorrências dos anos 60 como uma série histórica. É antes um drama de época, focado em personagens que vivem neste período de profundas mudanças. Porém, alguns eventos tornam-se tão marcantes para a sociedade americana que é impossível ignorar o impacto que também causariam nesses personagens. O assassinato de Martin Luther King certamente é um desses casos e, por chegar também agregado a toda luta pelos direitos dos negros, já era antecipado por muitos como um ponto importante na história. Assim, a introdução de alguns personagens negros, até em posição de destaque como no caso de Dawn, contribuíram para aumentar ainda mais a expectativa por esse momento. Mas Mad Men não perde sua essência, e apenas reforça que esse grupo de personagens, em sua maioria brancos, não estavam prontos para lidar com uma tragédia como essa. Podemos resumir nesse abraço de Joan em Dawn no dia seguinte, envolvendo toda uma constrangedora "culpa branca". Por isso, com temas tão diferentes, em períodos tão distintos, não parece muito justo estabelecer qualquer paralelo com The Grown-ups, o episódio que tratava da morte de Kennedy, a não ser pelo cuidado ao revelar essa tragédia ao público. Durante uma premiação de publicidade, nada menos do que Paul Newman acaba sendo o porta-voz da notícia na cerimônia, pegando todos de surpresa, dando início à tensão e a uma busca frenética por maiores informações. Outro fato curioso é que naquela ocasião Peggy prefere trabalhar no dia seguinte para evitar o clima de luto em sua casa, assim como Dawn provavelmente prefere passar o dia na SCDP, mas dessa vez consola sua secretária dizendo que ninguém deveria estar trabalhando neste dia. Mas as comparações terminam aí, já que o sentimento é outro, não existe um desejo de superação, um amadurecimento da sociedade, os personagens simplesmente parecem perdidos tentando entender o significado dessa tragédia.

Se na semana passada reclamava da falta de Ginsberg na série, esse episódio retoma sua história através de um encontro arranjado pelo seu pai, com uma professora judia. Durante o encontro a notícia surge, e eles acabam cancelando o jantar, Ginsberg volta para casa e seu pai cita a passagem da Arca de Noé, a inundação que dá título ao episódio, dizendo que em momentos assim as pessoas tem de escolher alguém para se apegar. Ou a alguma coisa, como é o caso de Harry, que lamenta os programas e horários comerciais perdidos na televisão por conta da cobertura dessa tragédia. Pete se revolta com essa postura do colega e chega a chamá-lo de racista, para logo revelar quanto é hipócrita, pouco se importanto com os direitos dos negros, mas por tratar-se de um homem de família assassinado. Da mesma forma, Pete tenta aproveitar a delicada situação para voltar para casa e consolar sua família, mas Trudy continua irredutível. Henry Francis vê uma chance aparecer para tentar a candidatura ao Senado por reprovar a postura de seu prefeito, tentando acalmar os ânimos em meio ao caos na cidade. Já Peggy, que abre o episódio de costas num radiante vestido amarelo, naquele famoso ângulo usado para retratar Don (e é cada vez mais interessante o quanto tentam fazer paralelos com ele durante essa sua ascensão), para depois ampliar o foco para o apartamento de seus sonhos e seu futuro com Abe. Aproveitando o momento turbulento, sua corretora tenta especular mais do que devia e acaba perdendo na negociação. Mas isso parece até providencial, já que dá a chance de Abe opinar sobre essa mudança de vizinhança, revelar seus projetos para o futuro e encher Peggy de esperança. Talvez minhas suspeitas de que esse relacionamento tivesse vida curta estavam equivocadas.

Na SCDP há ainda a visita de Randy, um estranho agente de seguros (tão estranho que não consegui deixar de lembrar de Ethan e a iniciativa Dharma), tirando proveito dessa tragédia para sugerir uma mudança nos negócios. Nada de muito substancial por enquanto, mas pela sua relação próxima a Roger, deve ser alguém importante nos próximos episódios. E Don Draper? Seu monólogo sentado na cama para Megan foi certamente bastante emocionante, embora fosse um daqueles momentos que Mad Men parece se render às palavras óbvias demais. No entanto, não sei exatamente relacionar com o tema do episódio, a não ser pela sua visita ao cinema com Bobby, assistindo ao mundo chegar ao fim na versão original de Planeta dos Macacos. Charlton Heston vagando pela Terra vazia no final parece um sinal do caminho de solidão que Don está se destinando. Embora não houvesse qualquer implicação da briga da semana passada com Megan, sabemos que o casamento continua passando por problemas. Sua maior preocupação é com Sylvia em Washington, e ele tenta fazer contato de todas as maneiras possíveis, mas sem qualquer sucesso. Agora quando ele revela finalmente conseguir estabelecer algum vínculo afetivo com seu filho, a preocupação dele em meio a seus pesadelos é pela sobrevivência de seu padrasto. De repente, a suspeita de que Don Draper precisaria de mudanças de postura e pensamento para acompanhar o ritmo frenético desse período já não parecem ser mais suficientes. Ele e tantos outros personagens que desfilam sua insensibilidade ao longo do episódio, precisam de mudanças bem mais profundas em seu próprio caráter.

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[Mad Men] 6x06 For Immediate Release

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"Just once I would like to hear you use the word 'we'."

De todos os cliffhangers deixados pelo finale da temporada passada, certamente aquela imagem dos sócios "isolados" em janelas diferentes é a que mais me marcou e que parece ditar o ritmo dos episódios recentes. Não apenas porque a série tem de lidar com tantas tramas, que raramente tem pontos em comum (a não ser pelo tema do episódio), mas principalmente pela tensão recente na SCDP. Até aqui, é uma temporada muito preocupada em estabelecer segredos, em dimensioná-los e como isso parece afetar seus personagens. Indo na direção oposta, como o próprio título "For Immediate Release" sugere, esse é um episódio que retrata momentos de revelação. Já começamos com uma proposta de abertura de capital, discutida apenas por três de seus sócios, na calada da noite. Enquanto isso, Don Draper perde a paciência com Herb da Jaguar e dispensa o cliente em um jantar particular. Com a ajuda de uma aeromoça (alguém mais lembrou daquela série que nasceu querendo ser Mad Men?), Roger consegue colocar a agência na concorrência pelo projeto de carro futurista da Chevrolet. E essas três situações entram em conflito quando são reveladas ao mesmo tempo dentro da sala de reunião, com todos os outros funcionários assistindo pelo vidro, em um clássico momento de drama empresarial. Joan acusa Don de ser egoísta, de não reconhecer seu esforço para conseguir aquela conta, mas sua decisão provavelmente também seria outra caso soubesse que o capital da agência iria a público. Para complicar ainda mais, Pete descobre casualmente seu sogro em um mesmo bordel e acaba perdendo a conta da Vick em razão disso. Assim como já provou por diversas vezes, Pete tem dificuldades em manter seus segredos sob controle, saber a hora certa de recuar. Tentando pagar na mesma moeda, ele não só sai prejudicado nos negócios, como parece decretar o fim de seu casamento com Trudy.

Mas Don Draper promete resolver tudo isso. E quando vemos Don motivado para reverter uma condição adversa, podemos esperar qualquer coisa.

"So should we go home?"
"We? That's interesting."

Desde o casamento com Megan, apesar de ainda ter seu destaque como protagonista, Don perdeu muito de seu carisma na série. Depois de viver aqueles meses em lua-de-mel na agência, mesmo quando enfim voltou à área criativa, ele próprio reconhecia que estava se sentindo ultrapassado. Suas mais recentes apresentações para clientes também não pareciam ter o mesmo apelo que antigamente. Com a CGC passando também por dificuldades entre seus sócios, e ambas as agências nadando contra a correnteza das grandes firmas, parecia natural uma fusão como essa. Mas a forma como isso ocorreu, tão leve lembrando a fundação da própria SCDP, estabelece um clima de otimismo pelo futuro. Bem diferente, por exemplo, do episódio que este parece reverter, "The Other Woman" na temporada passada, quando Peggy sai pela porta da frente e Joan concorda com a proposta indecente de salvar a agência em um último ato de desespero. Assim parecem chegar ao fim estes dois arcos principais que vinham sendo constantes nesse início de temporada: Peggy buscando pela independência financeira e criativa de seu mentor, e a decisão de Joan ecoando até hoje pelos corredores da agência. Mas ninguém pode negar também que essa nova disposição é capaz de render novos arcos interessantes, prováveis conflitos tanto criativos como pessoais. Peggy aparentemente é a que mais saiu prejudicada com essa união. Don pede para que ela escreva a carta à imprensa imaginando a agência que gostaria de trabalhar. Mas por suas fantasias envolvendo Ted e sua aversão a mudanças, conforme disse a Abe, essa situação está bem longe de ser a que Peggy deseja no momento. Ainda mais trabalhando nas altas horas da madrugada para Don Draper, redigindo uma carta, como se fosse novamente sua secretária.

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[Mad Men] 6x07 Man with a Plan

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"Move forward."

Após o choque inicial do anúncio da fusão repentina de duas prestigiadas agências de publicidade, as coisas começam a ser colocadas de volta aos eixos, com a CGC mudando para os dois andares ocupados antes pela SCDP, embora o novo nome ainda continue indefinido. Assim como continua indefinido também o futuro de seus funcionários, muitos deles ocupando cargos semelhantes, temendo passar pelos usuais cortes nestas ocasiões. Até mesmo os antigos sócios não parecem seguros, sem ter lugares suficiente ao redor da mesma mesa de reuniões, a não ser claro pelos grandes arquitetos desse plano: Don Draper e Ted Chaough. Enquanto Pete chega exigindo seu lugar, Ted é capaz de ceder seu assento à secretária e assistir tudo praticamente de fora. Há algum tempo toda trama envolvendo a agência precisava de maior dinâmica, que não fossem apenas conflitos entre seus coadjuvantes, e agora finalmente se estabelece esse embate entre Don e Ted. Ambos devem se respeitar mutuamente para a agência funcionar, mas já mostram diferenças cruciais no modo de trabalhar. Somando-se a isso a sempre questionável postura de Don em sua vida pessoal, enquanto que Ted vinha sendo até aqui retratado de maneira bastante afável, principalmente em relação a Peggy, parece impossível assumir qualquer lado nesta disputa. Para começar "dominando" essa batalha, Don recorre ao tradicional método de vencer o adversário pela embriaguez. Já Ted busca conselhos de seu antigo sócio e amigo, questionando sobre o mistério de seu oponente. Ao final, o cansaço dos primeiros rounds realmente vem à tona, com Ted pilotando o avião em meio a tempestade, enquanto Don nem bem consegue se segurar de tanto medo. O anúncio, de margarina, também envolve substituição, em um eterno conflito com um produto similar. Com a aproximação do final da década de 60, e consequentemente da série, parece cada vez mais claro que se não mudar, Don Draper será deixado para trás como o antagonista desta história. Peggy, numa de suas posturas mais destemidas desde então, espera por seu chefe em sua sala para reprovar aquela conduta, exigir que ele mude e siga em frente. Basta lembrar da outra vez que essas palavras apareceram na série, quando Don vai visitá-la no hospital logo após o parto, e perceber essa inversão de papéis.

O episódio traz ainda muitas outras cenas que remetem a situações que ocorreram anteriormente: Joan conduzindo Peggy ao seu novo espaço no trabalho, Roger tendo o prazer de demitir Burt novamente, a já mencionada tática de Don de embebedar Ted, assim como ele havia feito antes com Roger, até mesmo para conseguir seu primeiro emprego em agência. E finalmente Bob Benson, saindo dos bastidores em um momento providencial para ajudar Joan a chegar no hospital. Talvez cabe forçar um pouco para lembrar de uma cena parecida na sala de espera do hospital envolvendo Joan e Don, não pela situação em si, mas muito mais pelo cavalheirismo de Bob, que parece ter conquistado se não o carinho, ao menos a confiança de Joan. Se ele agiu de modo premeditado, como o homem que tem um plano no título do episódio, parece ser a grande questão, embora não mude o fato do charme do personagem ganhar destaque a partir de agora. Todas essas cenas recorrentes atingem uma convergência no final do episódio, quando é revelado a morte do segundo Kennedy, para tristeza da população americana. Em um dos momentos mais inspirados dos roteiristas ao incorporar um fato histórico à série, eles usam a demência da mãe de Pete para estabelecer esse clima de desesperança, em outro ciclo sem fim. Aliás, parece que os roteiristas não querem definitivamente dar folga a Pete.

Passando por um momento delicado na agência, temendo até por sua posição, Pete se vê obrigado a manter a mãe confinada em seu apartamento na cidade. Claro que isso se mostra muito mais desgastante para ele, que termina refém desta própria situação. Para aquele que sempre tentou imitar o mesmo estilo de vida de Don, Pete tem um desempenho cada vez mais decepcionante. Ainda mais fazendo o paralelo com a outro caso de confinamento do episódio, quando Don mantém Sylvia como sua refém sexual dentro de um quarto de hotel. Nunca seu jogo de poder chegou a esse ponto, de tomar literalmente a liberdade de alguém. Sylvia obviamente se sente seduzida por um tempo, embora saiba estabelecer os limites nas ordens de seu patrão, mas a medida que as torturas vão aumentando (confiscar seu livro talvez tenha sido a gota d'água), ela toma a decisão de dar um basta. Se é o final deste relacionamento, como a despedida no elevador sem sequer olhar para trás parece indicar, ainda acho frustrante por apenas somar-se a outro de seus casos. Embore ele termine beirando o desespero, quase implorando para ela desistir, esperava que Megan ainda descobrisse sobre essa traição. E Megan então? Cada vez mais desesperada para salvar seu casamento, sugerindo até que retornassem àqueles dias ensolarados no Havaí (ou o Paraíso), enquanto o marido sequer presta atenção nas palavras que saem de sua boca. A cena final é marcante, Megan aos prantos com a notícia do assassinato de Bobby Kennedy, Don Draper sentando do outro lado da cama, solitário e devastado. Mas devastado porque, ao contrário do outro evento trágico da temporada, a morte de Martin Luther King, ele não tem com quem se preocupar desta vez. Mulher, filhos, amante… nada mais parece ter qualquer importância na vida de Don Draper.

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[Mad Men] 6x08 The Crash

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"– Where do you want to go?
– I don't know."
– Then it doesn't matter, does it?"

Aposto que ninguém estava preparado para isso. Embora Mad Men sempre tentasse surpreender seu público, este episódio se situa em um ponto tão fora da curva que fica difícil até mesmo de avaliá-lo com clareza. Certamente dividiu opiniões, mas é impossível deixar de valorizar um episódio que mostra Stan e Jim Cutler apostando corrida dentro da agência, por exemplo, ou até mesmo Ken Cosgrove em uma performance memorável de sapateado. A agência volta sua atenção novamente à Chevrolet, que faz novas exigências absurdas, a ponto de envolver Ken em um grave acidente, pedindo para refazer o trabalho outra vez. Aproveitando dessa situação adversa, Jim traz seu médico para receitar uma injeção de anfetamina para os colegas, e assim mantê-los sob efeito alucinante pelo final de semana inteiro. Não deixa de ser divertido acompanhar essas pessoas trabalhando de modo improdutivo, tentando superar suas velhas ideias, buscando por outras soluções alternativas, tudo em ritmo acelerado. Parecem devaneios, eventos até surreais, mas que partem sempre de uma mesma premissa: discutir o processo criativo sob pressão. Não importa se é para cativar o público, vender seu produto ou conquistar uma amante, a questão é como transformar essa ideia abstrata em alguma coisa palpável, que faça sentido. Muita gente desmerece qualquer tipo de análise em relação à arte justamente porque duvida que essa ideias abstratas possam ser "decodificadas". E todas as semanas Mad Men parece nos instigar com pistas que levam a extrair temas, estabelecer relações entre cenas, personagens. Dessa vez, eles decidem nos torturar, sapatear sobre nossas cabeças, juntando diálogos que aparentemente não fazem muito sentido, desenvolvendo relações que não chegam a lugar nenhum. Quanto mais levam isso ao limite, mais questionam a si mesmos e todo esse processo criativo. Don Draper se depara constantemente com portas neste episódio, um símbolo recorrente na série, e trazido à tona na análise de Roger de que a vida é uma sucessão de portas até seu derradeiro final. Don jura que existe um código capaz de abrir a porta de Sylvia, mas termina se desculpando por ter deixado a porta de seu próprio apartamento aberta para uma estranha.

Se existe um ponto frágil neste episódio, que escapou um pouco desse delírio coletivo, esteve novamente no flashback de Don Draper. Mais uma vez revelando uma cicatriz de seu passado, parece simples demais relacionar com sua vulnerabilidade no presente. O que Don mais teme é ser abandonado, como foi por sua mãe, como foi por Aimée, como foi por Sylvia. Assim como ele repete o mesmo erro, abandonando seus filhos sozinhos em casa. O problema é que, nas primeiras temporadas, o passado parecia impulsionar Don, que corria para tentar superá-lo. De uns tempos pra cá, conforme este vem sendo revelado, Don parece dominado como se vivesse acuado por suas lembranças e traumas. E essa não parece ser a situação ideal para um protagonista que precisa mostrar determinação, ao invés de desmaiar em colapso diante de sua família. Mas claro, sem escapar de ouvir de sua ex-mulher que Henry concorrerá à próxima eleição, ou mesmo ser confrontado pela filha por não conhecer detalhes de seu passado. Não adianta ele procurar as respostas numa propaganda de mingau, que remete a outra passagem de sua infância, pois isso já não é mais suficiente. Nem tentar aliviar seu sentimento de perda com drogas ou sexo. Na manhã seguinte, ele não tem palavras diante de Sylvia no elevador e se recusa a participar do bordel que a agência se transformou novamente. Se antes Don tinha certeza do que precisava enquanto crescia -- carinho, conforto --, agora suas necessidades passam a ser cada vez mais confusas e incertas.

Outro motivo que domina o episódio é o luto, não apenas ecoando ainda o assassinato de Bobby Kennedy, mas sentido tanto pela morte de Frank Gleason como por Stan, que recebe a notícia do primo morto em combate. Interessante como em ambos os casos é Peggy quem serve como figura para prestar apoio. Não bastasse sua relação ainda confusa com Ted, até Stan tenta aproveitar deste momento de fragilidade para fazer uma investida. Peggy considera Stan como seu irmão, mas ele enxerga nela uma companhia para aquela noite. Identidades trocadas e confundidas, como a mulher negra que invade o apartamento de Don e consegue convencer os filhos de que poderia ter alguma relação com seu pai. Note que Sally não demonstra qualquer tipo de choque pelo ocorrido, apenas lamenta por ter se portado de modo tão ingênuo. As coisas não saem fora do controle apenas porque os personagens estão sob efeito de drogas, mas porque passam por uma crise de identidade, sem ter ideia da função que devem assumir nesta sociedade. Peggy cita o gato de Alice, dizendo que não adianta querer ir sem saber para onde. A filha hippie de Frank aparece questionando se sabem que são amados. São perguntas fundamentais que diante de um futuro tão obscuro, nenhum deles é capaz de responder.

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[Mad Men] 6x09 The Better Half

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"Status quo ante bellum. Everything as it was."

Quando falava na semana passada que Mad Men era capaz de nos surpreender sem precisar depender de substâncias alucinógenas, era justamente disso que estava falando. Afinal, acho que ninguém esperava por um episódio em que Don levasse para a cama sua ex-mulher e Peggy terminasse enfiando uma lança no abdômen de seu (ex-)namorado. "The Better Half" como parece óbvio pelo título, trata de dualidades, e aparece como tema das personagens interpretadas por Megan em sua telenovela, duas irmãs gêmeas, a prestativa morena e a perigosa loira. Peggy é a principal vítima dessa indecisão, colocada em um complexo dilema quando deve escolher entre a ideia de Don ou de Ted para a propaganda de margarina. Seja qual fosse o lado que escolhesse, traria ressentimento, então ela tenta ficar em cima do muro. Além disso, com a violência frequente na cidade (enfatizada pelas constantes sirenes ao fundo), Peggy não se sente segura nem mesmo dentro de sua própria casa, o que gera cada vez mais desentendimentos com Abe. Principalmente porque ele não consegue mais lidar com a postura de Peggy diante da sociedade, com seu trabalho, a ponto de tratá-la como uma inimiga desta revolução que tanto anseia. Já seu caso com Ted, que poderia servir como alívio nesta situação, parece também estar chegando ao fim, depois que seu chefe passa a ser incomodado por sua consciência. O episódio não trata apenas de exemplos de figuras opostas, mas de uma dualidade encontrada dentro dos próprios personagens, e essa crise de culpa de Ted parte desse seu senso de justiça para lidar com os problemas. Uma reação talvez descabida para um simples toque de mãos, que Peggy garante ter sido involuntário, mas sabemos como esse era um gesto recorrente na relação com seu outro mentor. E pelo que vimos aqui e conhecemos de Don, numa situação assim, ele certamente não seria o cara que pediria pra parar.

Logo que Don e Betty se instalaram para passar o final de semana no acampamento de seu filho, imaginei que o dilema teria alguma relação com Bobby, talvez disputando a atenção e o carinho dos pais. Mas com Betty enfim voltando a sua velha forma, e encarnando seu papel favorito de despertar o desejo dos homens ao seu redor, era difícil para Don resistir. Claro, nada pareceu forçado por ele, os sinais vinham cada vez mais óbvios do lado de Betty, mas apenas reforça a química desse casal de atores quando dividem a mesma cena. Também serve para mostrar que Betty seria melhor aproveitada se estivesse menos isolada em eventos periféricos. A análise de seu ex-marido parece tão franca e madura, que é realmente desolador ouvir Megan pouco depois dizendo se esforçar para o relacionamento voltar a ser como antes, constatando que eles precisam mudar. E mais uma vez Don termina solitário, depois de acordar e encontrar Henry fazendo companhia para Betty no café da manhã. Acho que nunca a série insistiu tanto nos mesmos sinais antes.

Além das curvas sexy de Betty, o episódio marca também o retorno de Duck Phillips depois de longo tempo. Aparecendo agora como um caça-talentos do marketing, ele oferece a chance de Pete mudar de lado, assim como reforça o papel da família em sua vida profissional. Sabemos que aliado à bebida, foi isso que trouxe a ruína de Duck em outras épocas. Pete continua desesperado, sem saber o que fazer com a mãe presa dentro de seu apartamento, mas Bob aparece oferecendo o contato de uma enfermeira que teria recuperado seu pai anos antes. Bob Benson ainda é um mistério, principalmente porque a outra vez que se referiu ao pai, dizia a Ken que ele havia morrido (o que pode ter sido também depois da recuperação). Não sabemos se ele é realmente dissimulado ou apenas prestativo demais, mas parece ter ganho bem mais do que a simples confiança de Joan. Mas o fato de Roger descobrir sobre isso provavelmente crie uma dinâmica bem interessante. Acho também que Roger tende a melhorar quando se relaciona com Joan, até se formos considerar sua outra trama no episódio, que motivou ele a tentar assumir o filho novamente. Pareceu um pouco forçado sua filha ligar nervosa porque Roger levou o neto para assistir "Planeta dos Macacos" (filme do ano, aparentemente), não sei também se faz algum sentido ela deixar o filho aos cuidados do avô.

Durante a semana, depois de Janie Bryant confirmar que o fato de Megan usar a mesma camiseta de Sharon Tate (brutalmente assassinada a facadas anos depois) não era mera coincidência, fez surgir todo tipo de teoria apostando que Megan estaria com os dias contados. Mas em seu tradicional post Mad Style da semana, Tom & Lorenzo, embora não descartando a teoria, me parecem ter resolvido essa charada. Eles levantam uma série de relações entre os figurinos de Abe e Megan ao longo do episódio, e a camiseta da estrela vermelha surge justamente depois que Abe é perfurado pela faca no abdômen. Acho que isso serve apenas como indício de que ele não deve resistir. Resta saber agora como a série lidaria com isso, já que parece um caso grave demais para ficar nas entrelinhas, e de fácil drama caso viesse à tona.

Foto: Divulgação/AMC.


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[Mad Men] 6x12 The Quality of Mercy

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Previously on Mad Men: infelizmente, por conta de algumas questões pessoais, acabei não conseguindo comentar os dois episódios anteriores aqui no blog. Como eu acho que já não vale a pena elaborar textos muito detalhados com tanto atraso, principalmente sabendo o que acontece nos episódios seguintes, decidi concentrar no episódio da semana e relacionar com alguns acontecimentos pontuais das semanas anteriores. O texto será um pouco mais longo, espero que entendam.
Nesses três últimos episódios antes do season finale, Mad Men deixou de lado os simbolismos e variações de estrutura que vinha apresentando até então, para assim concentrar-se numa abordagem mais direta, principalmente em relação à nova dinâmica da Sterling Cooper & Partners. Aproveitando a onda de protestos contra a guerra do Vietnã, "A Tale of Two Cities" também mostra atos de rebeldia contra a tradicional hierarquia da agência. O fato de Mad Men acompanhar o que acontece em uma agência de publicidade não é simplesmente por retratar a mudança da sociedade através da influência em suas campanhas. É antes uma forma de retratar essas mudanças se refletindo dentro de seus domínios. Por vezes isso aparece até forçado, como a contratação de Dawn, servindo de símbolo das lutas raciais, ou mesmo Ginsberg, chamando atenção para a forte presença judia. Mas o mais notável é que apesar de manter as regras de uma empresa comum, a publicidade apresenta seu diferencial neste constante choque entre a equipe de gerentes de conta e o setor criativo. Jim Cutler, por exemplo, precisa engolir a insubordinação de Ginsberg porque sabe da importância dele na satisfação de seus clientes. Já Joan, que há alguns episódios condenava as secretárias que burlavam o sistema de ponto, dessa vez decide quebrar ela mesma essa hierarquia, desrespeitando a ordem de deixar Pete conduzir as negociações com um potencial novo cliente da Avon. Se existe uma forma de mostrar os direitos das mulheres sendo enfim reconhecidos, talvez a gerência de contas em publicidade seja o maior exemplo, e claro, Joan seria o símbolo ideal para indicar essa mudança. Peggy, que foi a primeira a conquistar seu merecido espaço na agência, aparece então para salvar Joan de uma situação tensa na sala de reunião. Até por conhecer Ted a mais tempo, Peggy sabe que jogar a isca de um novo negócio concretizado já é suficiente para acalmar seu chefe. A ironia é que Ted, mais tarde, tem de engolir seu próprio orgulho com uma proposta irrecusável vinda da Sunkist.

Essa eterna disputa entre Sunkist e Ocean Spray também motiva nesses episódios diversos conflitos que são resolvidos na base de acordos. Ted pede trégua para Don e concordam em colaborar; Don e Sally chegam a um acordo oculto atrás de uma porta fechada; Pete e Bob Benson após idas e vindas também chegam a um entendimento. Bob Benson vinha sendo o grande mistério da temporada, com aparições pontuais mas cada vez mais frequentes, até que tem sua importância reconhecida quando Cutler confia a ele uma tarefa de Roger e ele é capaz de manter esse cliente ao menos satisfeito. E nesse últimos episódios, Bob mostra atributos que seriam altamente valiosos em qualquer cargo: solícito e ao mesmo tempo ambicioso, um otimista irrefreável, sempre buscando melhorar. Ele consegue até mesmo arrumar uma situação adversa e entender a necessidade de atenção de Ginsberg, oferecendo seu discurso de estar sempre pronto. Este permanente estado de atenção, aprendido através de seus áudios motivacionais, é o que faz Bob procurar estar sempre no lugar certo atrás de uma oportunidade e o que faria ele atingir certamente sucesso em sua carreira. Ou pelo menos seria, até cruzar com o caminho de Pete Campbell. Na semana passada, seu toque de pernas e a revelação de seus sentimentos por Pete motivou diversas interpretações. Mas até por essa semana Bob retratar-se dizendo que sente apenas imensa admiração pelo colega, leva a crer que sua cena era muito mais uma busca por respeito, após Pete considerar a conduta de Manolo como nojenta. Entre as diversas especulações sobre Bob, havia a aposta de alguns de que ele seria na verdade gay, outros tantos apontavam uma semelhança de personalidade com Don Draper, mas acho que poucos imaginavam que Bob Benson também seria uma identidade forjada. E por um momento, Pete considerou levar esse confronto até o fim, mas parece que finalmente conseguiu controlar seus impulsos. Bob declarava sua derrota, já até considerava sair de cena furtivamente, apenas pedia um tempo para preparar seu próximo passo. Aprendendo com seu erro anterior, quando não se conteve e decidiu usar a informação da identidade secreta de Don para conseguir prestígio com seus chefes, Pete parece enfim saber como usar esse segredo a seu favor. Pelo seu pedido de desculpas, não fica claro se Pete deseja apenas fazer uso dessa boa vontade de Bob ou se ainda pretende chantageá-lo mais pra frente.

Apesar disso, os problemas de Bob Benson não parecem ser tão preocupantes, ao menos quando comparados à situação de Sally. Para piorar o flagrante de seu pai e Sylvia -- e ela realmente tem azar de aparecer sempre nas horas erradas, já que havia presenciado outra cena assim envolvendo Roger e a mãe de Megan -- Don Draper tenta distorcer os fatos, minimizá-los e tentar manter seu mundo imerso em fantasia. Depois de tantos flashbacks na temporada revelando o ambiente que Don cresceu, aquilo que presenciou quando adolescente, realmente esperava uma reação mais madura por saber que seria um trauma na vida da menina. Ainda assim, Sally reage bem ao escolher voluntariamente se matricular em um internato. Ela não suporta mais ver seu pai, nem é capaz de tolerar sua mãe em casa, e Sally não faz o tipo que fugiria de seus problemas como sua amiga violinista. Então ela escolhe o internato buscando algum sentido de ordem, um ambiente que tenha algum significado. Suas colegas certamente serão um teste constante, a presença de garotos quebrando as regras também. O que importa então é como Sally irá reagir a partir disso, e esse episódio mostra que ela está no caminho certo. Não apenas ela se manteve sóbria como conseguiu reverter as atitudes do amigo de Glen, impressionando sua colega de quarto.

Já Don Draper, pelo contrário, continua decepcionando todos ao seu redor e caminhando em direção à solidão. Nem mesmo sua queda na piscina, um evento de quase morte, durante uma festa na Califórnia foi suficiente para pará-lo. Ele não suporta sequer ver Megan na televisão e "envenena" o próprio suco de laranja que a mulher faz com carinho. Seu favor ao jovem Mitchell, arriscando o relacionamento da agência com a Chevy e disposto a pedir um favor a Ted, é sua tentativa de fazer enfim alguma coisa certa. Seus motivos podem ser nobres, nem que seja motivado ainda pela paixão por Sylvia, ou por ter experimentado o terror da guerra, ou até sentindo culpa por trair seu amigo Arnold. Mas reparar essa situação cria outra ainda mais desastrosa. E essa decepção leva Don ao seu pior momento na série, talvez pior até do que quando sua identidade era investigada pelo governo. Nesta semana, apesar de toda a agência perceber que esse clima afetuoso entre Peggy e Ted está prejudicando os negócios, Don faz questão de colocá-los em um situação embaraçosa diante do cliente para servir como lição. Claro que existe uma dose de ciúme por parte de Don, ele certamente sente falta daquela antiga conexão com sua jovem aprendiz. Mas essa atitude apenas afasta Peggy ainda mais, a ponto de chamá-lo de monstro. Don começa e termina o episódio em posição fetal, primeiro acuado em seu apartamento, depois em sua própria sala.

Há outras referências a fertilidade ao longo do episódio, e não apenas pelo encontro casual dos dois casais numa sessão de 'O Bebê de Rosemary'. Há toda a encenação na sala de reunião para o comercial de aspirinas, quando Don imita uma criança chorando. Ou mesmo Ken, depois de enfrentar todo tipo de exigência maluca dos clientes da Chevy, decidindo largar a conta porque sua mulher está grávida. E temos Peggy, alguém que recusou o papel de mãe, envolvida neste comercial de aspirinas, e que na semana passada é abordada pela mãe de Pete, que a confunde com Trudy. Em um jantar repleto de bebida e algumas confissões, esse segredo ressurge em uma conversa deliciosa entre Pete e Peggy, quando ambos tem um momento de cumplicidade diante de um surpreso Ted. Apesar de tudo isso, esses três episódios não apresentam nenhum tipo de evento marcante como nas temporadas anteriores, por isso torna-se ainda mais difícil prever qualquer surpresa reservada para esse finale. Aliás, apesar dessa temporada manter sempre um tom "mais baixo" em relação às outras, me parece indicar uma certa maturidade da série, que consegue mesmo sem apresentar grandes arcos ao longo de seus episódios, criar diversos momentos memoráveis para seus personagens. E isso ocorre apenas quando uma série já conhece seu próprio potencial e é capaz de ser relevante dentro de suas limitações.

Foto: Divulgação/AMC.


e.fuzii
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[Mad Men] 6x13 In Care Of

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"If I had my way, you would never advertise. You shouldn't have
someone like me telling that boy what a Hershey bar is."

Desde que Don Draper pediu Megan em casamento na ensolarada Califórnia há alguns anos atrás, sua vida se tornou um elaborado processo de auto-sabotagem, em que sua identidade parecia se desintegrar aos poucos. Nem é preciso dizer o quanto esse fator se relaciona com a publicidade, que preza por valorizar e revelar suas melhores características para conquistar um cliente, ou mesmo para cativar o público. Honestidade nem sempre é obrigatória, por isso Don Draper (e nesta temporada, Bob Benson) encontra neste nicho a chance de se sentir acolhido. Por muito anos Don conseguiu progredir na carreira por entender a necessidade do momento. Sua apresentação do carrossel da Kodak no final da primeira temporada, por exemplo, continua viva em nossas memórias porque ele foi capaz de atingir fundo em nossos sentimentos, vendendo nostalgia como satisfação. Mas de uns tempos para cá, Don vinha perdendo essa noção do presente, ficando cada vez mais distante e tentando se conectar com aquela identidade de seu passado. Na abertura da temporada, ele se encontra no Havaí em férias com sua mulher, vivendo uma experiência que segundo ele era impossível de colocar em palavras. Quando traduz isso em publicidade, mostra um homem se perdendo no mar, deixando suas roupas pela praia. Dessa vez, requisitado em uma reunião com a própria Sheraton, é Don quem desaparece sem deixar vestígios. O episódio resume em algumas cenas essa condição crítica que acompanhamos na temporada, faltando na reunião para beber sozinho em um bar, passando a noite na prisão por agredir um evangélico, e até Sally mais uma vez acusando o pai por sua conduta imoral. Levou tempo, mas Don finalmente percebeu que está completamente fora de controle.

A solução para seus problemas, ao menos temporariamente, estaria nessa campanha elaborada por Stan para se candidatar à filial da agência na Califórnia, atendendo a Sunkist. Don queria apenas fugir novamente, aproveitando para fechar esse ciclo iniciado desde que pediu Megan em casamento, recomeçando sua vida ao lado da mulher em outro clima, como deveria ter feito desde o início. Parecia o plano perfeito, até para atender às necessidades da carreira de Megan, mas que acaba esbarrando em um pedido desesperado de Ted Chaough, que enxerga também nesta oportunidade a única forma de salvar sua família, a quilômetros de distância da sedutora presença de Peggy. O telefonema de Betty informando que Sally havia sido suspensa na escola por comprar bebidas alcoólicas com uma identidade falsa (no nome da mãe, claro, que afinal oferecia cigarro para a filha no episódio anterior), também afetou Don profundamente, principalmente quando Betty lamenta pela menina crescer num lar arruinado. Então, Don resolve ter seu primeiro momento de completa revelação diante de ninguém menos do que os clientes da Hershey's. A apresentação começa da maneira mais tradicional possível, com Don contando uma passagem falsa de sua infância, resumindo que a barra de chocolate é o símbolo de amor para as crianças. Mas ele simplesmente não consegue sustentar essa mentira, não por aquele produto que fazia ele se sentir brevemente como uma criança "normal". Sua confissão passa também pelo desejo quando criança de frequentar a escola para órfãos de seu fundador, de receber a atenção e o carinho que nunca teve enquanto crescia. Para Don o nome Hershey's significa muito mais do que seus produtos, assim como ele reconhece que criar uma peça refletindo este sentimento seria não apenas impossível, como desnecessário. A vida por vezes vai muito além da publicidade. Por isso, ele decide recuar e dar a chance de Ted recomeçar ao lado de sua família na costa oeste. As portas então começam a se fechar para Don, primeiro sua mulher decidindo mudar-se sozinha para Hollywood, depois os sócios armando uma espécie de intervenção para anunciar seu afastamento por tempo indeterminado. Tudo que lhe resta são seus filhos no feriado de Ação de Graças, e Don toma uma atitude inusitada levando eles para conhecer o local que passou a infância. Se Sally reclamava que não conhecia detalhes do passado de seu pai após aquele incidente no apartamento dos Draper, agora aquela troca de olhares no final parece transmitir enfim uma sensação de sintonia entre os dois.

No episódio anterior, chamava atenção para a forma como a série conhece suas próprias limitações e consegue lidar com as expectativas. Afinal, analisando essa temporada depois de encerrada, certamente não se pode acusá-la de falta de coesão (se tem dúvidas disso, assista a esse vídeo sobre como Mad Men enfrentou a Guerra do Vietnã). Como acompanhamos, 1968 foi um ano caótico para a sociedade americana e um dos pontos de grande destaque na temporada foi a decadência da cidade de Nova York, em vários momentos de terror e violência. Durante esse mesmo período, a série nunca havia saído tanto de seus domínios, levando seus personagens para o Havaí, Detroit e a própria Califórnia. Já neste episódio, vários dos personagens cogitam ou até mesmo tem de aceitar a ideia de deixar Nova York. Por isso, quando Don apresenta essa ideia para Megan, uma saída fácil para seus problemas, mas condizente com sua condição atual e sua conexão com a cidade no passado, chegava a ponderar se essa mesma série poderia existir na costa oeste americana, ainda que temporariamente longe do núcleo principal de personagens. Até que Don decide permanecer na cidade, mesmo sem sua mulher, mesmo sem seu trabalho. Não acredito que seja o final do casamento com Megan, talvez a distância seja até positiva para o relacionamento, embora fosse difícil também piorar do jeito que está. Megan passou tão imperceptível durante a temporada, quase uma sombra opaca de Don, que não dá para prever qual seriam os planos para ela no último ano. Já em relação à agência, esse afastamento indeterminado pode muito bem significar uma demissão, mas diante de sua epifania na sala de reunião, talvez fosse o próprio Don quem virasse as costas de vez para o mercado publicitário. Embora fosse difícil imaginar a série tomando esse rumo, seria a única forma dele encarar a vida com total transparência. Mas é isso, se por vezes era até cansativo falar da decadência de Don durante a temporada, acho que depois de três parágrafos dá para perceber o quanto os roteiristas reverteram isso com este finale.

Já Pete há quase duas temporadas não tem um momento sequer de sossego. Dessa vez, chega a ele a notícia de que sua mãe desapareceu a bordo de um cruzeiro pelo mar e, para piorar, Manolo parece estar envolvido, depois de casar-se com ela provavelmente visando sua herança. Nem mesmo quando Pete tenta confrontar novamente Bob Benson termina bem sucedido. Ao menos dentro da agência, esse relacionamento foi um dos destaques da temporada pra mim, e me parece um pouco frustrante que os dois terminem se dirigindo a cidades diferentes. A aparente vantagem que Pete demonstrava no episódio anterior foi estranhamente ignorada, e depois de uma humilhante cena diante dos clientes da Chevy em Detroit, ele não tem outra opção senão reconstruir sua carreira na Califórnia. Mas como bem aconselha Trudy, essa é sua chance de recomeçar sem precisar prestar contas a ninguém. Antes de partir, Trudy ainda concede que ele possa enfim ver sua filha e se despedir. É interessante como neste episódio o dia de Ação de Graças promove essa aproximação entre pais e filhos, seja Pete, Don, Ted e até Roger, que passa o feriado finalmente junto de seu filho com Joan.
A única aposta que podemos fazer para esta última temporada é em relação ao futuro de Peggy. Embora Duck já apareça com o provável substituto de Don (sem perder a chance de saborear a derrota do antigo colega), a imagem de Peggy passando o feriado na agência é bastante emblemática. Afinal, pela primeira vez ela aparece usando calças no trabalho e enquanto senta-se confortavelmente na cadeira de Don assume a mesma postura que é marca da série. Claro que não foi um final agradável para Peggy, vendo seu único prazer dos últimos meses se despedindo e sendo deixada para trás, tendo que se adaptar a uma nova situação. Mas talvez o futuro realmente esteja aberto para Peggy na agência, que pode enfim sonhar em construir uma carreira sólida e seguir seu próprio caminho, sem depender das decisões de nenhum outro.

Assim terminamos a penúltima temporada de Mad Men e confesso que ainda não quero nem pensar na ideia de se despedir da série no ano que vem. A todos que acompanharam até aqui, meu muito obrigado. Até a próxima temporada! Abraços.

Foto: Divulgação/AMC.


e.fuzii
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[Emmy 2013] Melhores Séries - Drama (Veteranas - Parte 1)

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Aproveitando que o Emmy anunciará seus indicados na próxima quinta-feira, dia 18, decidi fazer listas com as séries vistas deste ano, comentando um pouco sobre cada uma delas e suas chances de indicações na maior premiação da TV americana.

Primeiro, explicando:

- Farei duas listas, apenas com séries da categoria DRAMA: a primeira com as séries veteranas e a segunda com séries que estrearam na última temporada. Novas séries podem nos empolgar com conceitos originais e não se sustentarem depois, ou ao contrário, não serem interessantes no início até encontrarem um caminho. Então preferi evitar compará-las com as séries que já aprendemos amar (ou odiar);

- Não farei o mesmo com as comédias por não ter visto ou não estar atualizado com um número grande o suficiente pra fazer, pelo menos, um top 10. Mas tentarei fazer um post comentando sobre minhas prediletas e as favoritas ao Emmy;

- Nas listas, há temporadas exibidas ano passado. Isso porque o calendário do Emmy vai de 1º de Junho de 2012 a 31 de Maio de 2013. Séries que tiveram episódios exibidos antes ou depois desta data são elegíveis desde que a maior parte da temporada tenha passado dentro do prazo (caso de “Mad Men” e “Veep”, que tiveram seus últimos episódios no mês passado);

- Neste post, começo o ranking das séries veteranas. Foram doze séries vistas. Já faz um bom tempo que abandonei séries que estavam ruins, como “Dexter” e “True Blood”, ou boas como “Southland” e “Parenthood”, que por um motivo ou outro acabei acumulando mais episódios atrasados do que deveria. Este ano, só houve um abandono: “Fringe” (mas como se trata da última temporada, um dia farei o esforço). No próximo post, a segunda parte da lista de veteranas e, a seguir, farei um top 10 das novas séries;


Vamos, então, ao top 12 Séries Veteranas. Listadas da pior para a melhor:




12º - The Walking Dead – 3ª Temporada
 
Desde sempre que a série não consegue construir seres humanos interessantes, então os zumbis continuam sendo o maior motivo de continuar assistindo. Mas é preciso admirar o esforço desta temporada: é só ver o que fizeram com Lori, Carl e T-Dog (de longe, os personagens que mais foram alvo de piadas na internet) pra perceber que os roteiristas devem estar levando a sério a opinião dos fãs. Há ótimos momentos de tensão e drama aqui e ali (especificamente o episódio “Killer Within”), e é louvável começar a investir em vilões humanos, deixando os zumbis de lado. Estes sempre estarão disponíveis para pregar sustos e é bom vê-los fazendo parte do ambiente (há várias cenas em que personagens conversam, com mortos vivos caminhando ao longe, sem necessariamente participar ativamente da sequência). Mas ainda é difícil se interessar por aquelas pessoas: as alucinações de Rick são irritantes e é preciso muita tolerância pra aceitar a estupidez de Andrea ao longo da temporada, necessária pra narrativa. Os novos personagens também falham miseravelmente: Michonne é um mistério pessimamente explorado (e a atriz se resume a fazer caretas) e o Governador infelizmente é mal caracterizado, indo do racional à insanidade de forma irregular (e impossível não ver David Morrissey como um Liam Neeson genérico). Ainda assim, um episódio como “Clear” mostra que o potencial está lá. Talvez manter o foco em dois ou três personagens por episódio, de vez em quando, seja o caminho pra dar densidade ao drama.

Chances no Emmy: Apesar de um fenômeno de audiência (que já seria grande se fosse da tv aberta), “The Walking Dead” não conseguiu até agora mais do que indicações em categorias de Som, Efeitos Visuais e Maquiagem. Gênero que é levado pouco a sério nas categorias principais, provavelmente a “cota-Fantasia” já está mais do que preenchida com “Game of Thrones”. Deve continuar assim.




11º - Sons of Anarchy – 5ª Temporada


Depois de muitas críticas à covardia da temporada anterior, que deu um “jeitinho” malandro de não lidar com consequências maiores e matar personagens principais, Kurt Sutter parece ter pensado que a melhor forma de calar seus críticos era pisar o pé no acelerador e nos trazer um choque após o outro – e se há algo em que Sutter é mestre, é em dar peso à violência dos seus personagens, sempre nos fazendo arregalar os olhos, e desta vez, inclusive, eliminando personagens importantes. O problema é que nesta jornada de Jax Teller (e ao colocar o protagonista como centro, os coadjuvantes parecem cada vez mais sem vida, apenas girando em torno dele), a violência vista parece ter apenas este propósito do choque, já que pouco lida com as consequências: é uma série em que um personagem acorrentado é obrigado a ver sua filha adolescente ser queimada viva, mas que só sofre com isto quando interessa à trama, chegando ao cúmulo de protagonizar humor vagabundo em sequência que conta com uma bizarra participação especial de Walton Goggins. O elenco continua muito bom, com o único (e grave) porém sendo Harold Perrineau, ator péssimo em personagem importante, e é possível ver claramente as mudanças vividas por Jax. Mas pra isso, Sutter sacrifica lógica, injeta boa dose de situações convenientes pra narrativa andar e quando não há muito drama envolvido, a interação e diálogos entre personagens são bem ruins. Sutter não se interessa muito pelo trivial (tratado de forma tão burocrática como os obrigatórios tiroteios e perseguições  de moto que sabemos não trazer perigo nenhum aos personagens), e isso poderia dar mais consistência ao todo.

Chances no Emmy: Nenhuma. “Sons of Anarchy” foi esnobada até mesmo no seu auge, a incrível 2ª temporada (quando Katey Sagal teve talvez a maior atuação do ano em questão), e depois disso Sutter deve ter se tornado persona non grata, ao deferir as maiores ofensas aos votantes do Emmy em seu twitter pessoal. Mas se me dissessem que a série receberá uma indicação este ano, só poderia ser o queridinho doze vezes indicado Jimmy Smits, como Melhor Ator Convidado, que tem, inclusive, um papel mais interessante do que teve em “Dexter”, quando concorreu nesta mesma categoria.




10º - Downton Abbey – 3ª Temporada

Que a sensação inglesa é um novelão, nunca se teve dúvida. Mas havia humor afiado ao retratar a decadência de uma família aristocrata causada pelas mudanças sociais do início do século passado, e a imobilidade de classes vista na relação entre esta família e seus criados (elementos que deram ao criador da série, Julian Fellowes, um Oscar de Roteiro Original por “Assassinato em Gosford Park”). Em algum momento da temporada anterior, no entanto, isso se perdeu e o que ficou foi uma quantidade inacreditável de conflitos dramáticos ruins, que se estenderam até a metade deste terceiro ano: em “Downton Abbey”, se alguém fica paraplégico, logo voltará a andar; se alguém pode ter uma grave doença, logo haverá um prognóstico positivo; a honra a se manter ao não usar uma conveniente herança é preservada por uma revelação ainda mais conveniente de que o dinheiro pode ser utilizado. É tudo tão simplório e vagabundo (nos diálogos, inclusive), que o drama inesperado na segunda metade da temporada surge como um sopro de ar fresco. É verdade que dura pouco, e muitos dos problemas continuam, mas há bem mais situações que fazem retornar alguma simpatia pela série – a ciranda amorosa com a introdução de novos personagens entre os empregados, por exemplo, poderia ser melhor desenvolvida, mas rende bons momentos. No geral, é uma série que sobrevive do carisma de seu elenco e de algumas falas inspiradas, a maioria proferida por Maggie Smith. É bom que tenha algo a mais reservado pra próxima temporada (que, por problemas com elenco, terá um início recheado de drama, como mostra a cena final), porque como está é a minha favorita a ser a próxima série que abandonarei.

Chances no Emmy: Após vencer os principais prêmios nas categorias de Minissérie/Telefilme pela sua primeira temporada (onde costumam concorrer as séries inglesas), “Downton Abbey” migrou para as categorias de série no ano seguinte e, além das já esperadas indicações nas categorias técnicas e principais como Melhor Série, Roteiro, Direção e Maggie Smith como Atriz Coadjuvante (vencendo esta, inclusive), conseguiu ter mais quatro atores indicados, mostrando o fenômeno que se tornou entre os votantes. Destes, apenas Brendan Coyle decidiu não concorrer este ano, e é difícil imaginar o retorno de Hugh Bonneville em Melhor Ator, tanto pelos novos candidatos este ano quanto pela sua participação de coadjuvante na série (seu Mr. Crawley também é irritante na maior parte do tempo), e de Joanne Froggatt como Atriz Coadjuvante, já que sua personagem também teve bem menos a fazer este ano. Poderia dizer que Michelle Dockery (Atriz) e Jim Carter (Ator Coadjuvante) também não fazem nada impressionante, mas isso vale para a temporada anterior, o que não impediu de serem indicados (Carter ainda tem ótimos momentos nos últimos episódios, com as reações de Mr. Carson a um caso de homossexualidade). E se esta temporada é claramente melhor que a anterior, é possível ver novos nomes indicados: Elizabeth McGovern foi indicada pelo primeiro ano como Atriz e ignorada ano passado, mas desta vez acertadamente tenta concorrer como Coadjuvante. O mesmo ocorre com Dan Stevens, então não seria absurdo pensa-los como substitutos de seus colegas de elenco, mesmo que não mereçam (este ano Rob James-Collier também tenta como coadjuvante, e a reta final da temporada lhe dá até mais material que Stevens). Smith tem ainda mais material este ano, o que significa que pode vencer mais uma vez, além, claro, da indicação certa para Shirley MacLaine como Atriz Convidada. Pelo número de novidades este ano, gosto de pensar que haverá surpresas quando anunciarem os indicados e que “Downton Abbey” será ignorada. Talvez não de tudo, mas quem sabe a maioria? Sonhar não custa...



9º - Homeland – 2ª Temporada

Não morro de amores pelo primeiro e elogiadíssimo ano da série, mas me parece claro que houve uma piora significativa nesta segunda temporada. O mais grave talvez seja a incapacidade de “Homeland” construir personagens coadjuvantes interessantes. À exceção de Saul, todo o resto parece estar lá pela mera obrigação de estar lá. A família de Brody é um peso enorme: o romance de Jessica com Mike não funciona e o tempo gasto com Dana é absurdo (Morgan Saylor, aliás, é séria candidata a pior atriz do ano). O fato de todas as discussões políticas sobre terrorismo serem superficiais e simplistas acabam nem incomodando tanto, após passar 10 ou 15 minutos com Dana Brody vivendo um dilema moral. Felizmente, há ainda muito a se explorar na relação entre os protagonistas, a verdadeira razão da existência da série. Claire Danes continua excelente e, mesmo que Damian Lewis seja bastante limitado, a química entre eles funciona. É verdade que os roteiristas nem sempre conseguem criar situações e diálogos interessantes, mas o avanço inesperado que a trama dá nos primeiros episódios da temporada e a virada de jogo do episódio final ainda permitem manter o interesse pelo que vem a seguir: “Homeland” é uma dessas séries que nos perguntamos como pode durar por mais de um ano e até agora isso tem se resolvido de forma satisfatória. Há a promessa também de se dar mais destaque a Saul na próxima temporada, o que pode resultar em um ano muito melhor. Mas é só pensar em como os roteiristas lidam com as conspirações de forma frouxa e clichê, e que teremos mais de Jessica, Mike e Dana, que a expectativa diminui. É neste equilíbrio entre coisas boas e ruins que a série vive, e só resta torcer por uma terceira temporada melhor. Uma mudança na equipe de roteiristas, talvez? É só lembrar que o pessoal de “Breaking Bad” já está disponível. Quem sabe na quarta temporada...

Chances no Emmy: “Homeland” conseguiu um feito incrível ano passado. Não só quebrou a invencibilidade de “Mad Men” na categoria principal (que havia vencido por quatro anos consecutivos), como levou também os prêmios de Ator e Atriz, algo que ocorreu pela última vez em 1993 com “Picket Fences”. Embora a vitória este ano seja menos provável (mas ainda com boas chances, e Claire Danes mantendo seu favoritismo), as indicações são dadas como certas. Resta saber se Mandy Patinkin será lembrado desta vez, único nome aguardado e não indicado ano passado. Com três vagas em aberto na categoria de Ator Coadjuvante (e Jim Carter longe de ser um nome certo), é bem provável o anúncio de seu nome na próxima quinta. Ajuda o fato de ser ele quem encerra (de forma bonita, diga-se) a temporada.




8º - Scandal – 2ª Temporada


É preciso ser sincero: se a segunda temporada de “Scandal” não tivesse se tornado um repentino sucesso de audiência com críticas entusiasmadas, provavelmente eu teria desistido da série ainda na primeira (e curta) temporada. Caramba, talvez eu não tivesse passado do piloto. Há um número (com o perdão do trocadilho) escandaloso de coisas ruins e irritantes na série e este comentário se tornará mais longo só em citá-las: a edição rápida e moderninha com os cliques de câmera fotográfica que fazem as transições de cenas ou resumem a vida do “cliente da semana”; diálogos constrangedores e lições de moral típicas de Shonda Rhimes (ou pelo menos o pouco que conheço dela, já que não suportei duas temporadas completas de “Grey’s Anatomy”); a falsa ideia de que personagens são inteligentes se despejam enormes monólogos, longas frases sem perder o fôlego; a total histeria de personagens pra passar a impressão de importância dos casos (Kerry Washington aumenta o tom de voz em uns bons decibéis pra mostrar que o que está sendo dito é grave); a exigência de se acreditar que os personagens são bons no que fazem apenas porque isso é dito: dizem que o presidente dos EUA é um grande homem e líder, mas não há nada na série que comprove isto, enquanto a protagonista Olivia Pope é a melhor no que faz (sua firma é uma bagunça, mas diante de tantos problemas, é o menor deles), mesmo que nada de impressionante aconteça – pior, somos informados que não há nem espaço para seus funcionários chorarem (sinal de fraqueza), os “gladiadores de terno” (a segunda pior expressão utilizada na série, perdendo apenas para o “I’m the leader of the free world” que o presidente grita em quase todo episódio), quando não há um único episódio em que Olivia não faça cara de choro, ou sofrendo por amor ou por um de seus clientes; por fim, há um número indecente de atores ruins em papeis importantes: o presidente, o promotor, o jornalista (James), Harrison (“gladiador de terno”). Muitos desses problemas continuam quando a segunda temporada começa e, ao final dos 22 episódios, alguns se atenuaram e outros até sumiram. Muita gente chamou a série de “guilty pleasure”, mas discordo: o conceito passa a impressão de que o prazer de “Scandal” está naquilo que é considerado de mau gosto (ou seja, tudo que listei acima), quando na verdade isso a impede de ser uma série excepcional. E que a faria subir, pelo menos, duas posições neste ranking. E que qualidades “Scandal” tem? Uma capacidade vertiginosa de fazer sua trama principal andar, de prender a atenção com revelações e reviravoltas a cada episódio. Pense nas primeiras temporadas de “Lost”. Só que ao invés de um acúmulo de mistérios, acumula-se  “plot twists”, que nunca perdem a lógica interna e, melhor, são explicados e justificados não muito tempo depois. O segredo está na dose homeopática de informações que os roteiristas liberam: em um dos primeiros episódios da segunda temporada, há uma daquelas revelações que fazem você repensar tudo o que viu antes só pra enumerar os possíveis buracos da trama, mas aos poucos descobrimos não haver problemas; se um episódio termina com um atentado chocante, o seguinte termina com a surpreendente revelação do autor do crime e no próximo a inusitada explicação; em outro momento, personagens resolvem compartilhar seus segredos, que servem como peças de um quebra-cabeça, pra que consigam descobrir um mistério. Enquanto séries abaixo de “Scandal” neste ranking claramente podem ser vistas como mais “refinadas”, nenhuma delas consegue satisfazer a necessidade de diversão vinda com uma trama bem estruturada, cheia de acontecimentos inesperados e personagens coerentes diante das situações em que se encontram. Não acredito que a série continue levando isso adiante sem se perder em breve (como não poderia deixar de ser, a última cena da temporada acrescenta novos e surpreendentes problemas), mas enquanto passar a impressão de que os roteiristas sabem o que está fazendo, estou dentro.

Chances no Emmy: Alguns anos atrás, quando a tv aberta ainda era uma força nas premiações, “Scandal” faria bonito. Hoje, com a dominação dos canais fechados, é difícil conseguir espaço. Sucessos de audiência podem surpreender, então não dá pra descartar totalmente suas chances. Kerry Washington é o mais perto que a série tem de uma indicação importante (e sua participação em “Django Livre” certamente ajuda), embora não me pareça justo considerando a qualidade de muitas de suas concorrentes. Aprendi a tolerar Olivia Pope, mas Washington abusa da interpretação com a boca e nariz (ao invés do clássico “caras e bocas”), realmente irritante. Guillermo Diaz e Jeff Perry são muito elogiados, mas também não me impressionam. Eu ficaria feliz mesmo se visse Bellamy Young indicada a Atriz Coadjuvante, no papel da primeira dama. De longe, quem melhor consegue lidar com o tom “soap opera” muitas vezes adotado pela série e quem melhor solta suas longas frases de efeito. Gregg Henry como Ator Convidado viria em seguida em minha preferência, devidamente asqueroso e engraçado como Hollis Doyle.




7º - The Good Wife – 4ª Temporada

Por três anos, “The Good Wife” parecia se adequar tranquilamente ao título “melhor série da tv aberta”. Afinal, era um verdadeiro milagre administrar ótimos “casos da semana” em meio a tantos acontecimentos envolvendo os diversos personagens de importância da série: o triângulo amoroso de Alicia Florrick, sua relação com os filhos e/ou a sogra, sua rixa/amizade com Cary Agos, a candidatura de Peter Florrick, Eli Gold nos divertindo com seu trabalho, Kalinda nos intrigando com seus mistérios, os problemas financeiros da Lockhart & Gardner e tantos outros subplots. Tudo sempre funcionou muito bem, com todos os personagens carismáticos e com espaço merecido (e nem falei das diversas participações especiais, de advogados de oposição a clientes recorrentes, passando por uma interessante galeria de juízes). Até que esta quarta temporada começa dando sinais de cansaço, passando a impressão de que a mágica estava indo embora e, apesar de muito do prazer da série continuar, por quase todo o ano houve problemas: casos não tão interessantes, o péssimo arco de Kalinda e seu marido, uma fraca oponente para Peter (Maura Tierney como Maddie, estranhamente apática), Eli Gold pouco presente e com um oponente desnecessário vivido por T. R. Knight, a personagem de Amanda Peet não cresce nunca, enquanto a trama financeira da firma se resolve bem, mas não tão empolgante quanto grandes tramas de temporadas passadas. Felizmente, sempre são benvindas as participações de Michael J. Fox, Carrie Preston e Dylan Baker, David Lee torna-se um personagem mais presente, uma interessante parceira/oponente para Kalinda e nos últimos episódios a mágica parece acontecer novamente, com os episódios mais sólidos da temporada (mais especificamente a partir de “Death of a Client”, com participação de John Noble e Matthew Perry – aliás, se Perry não tivesse se comprometido com “Go On”, teríamos uma temporada bem diferente, e provavelmente superior, com a presença mais constante de Kresteva), encerrando com a promessa de uma nova dinâmica entre os personagens, e a expectativa de renovação de criatividade. Foi a temporada mais fraca, mas ainda um prazer de se ver.

Chances no Emmy: após dois anos presente na principal categoria, a série falhou em conseguir uma indicação ano passado, que se tornou a primeira vez em que nenhuma série da tv aberta concorreu a Melhor Série Drama. Josh Charles e Alan Cumming também não conseguiram repetir as indicações do ano anterior, e apenas as mulheres se mantiveram: Julianna Margulies como Atriz, Archie Panjabi e Christine Baranski como Coadjuvantes. Com novas e elogiadas séries na disputa, seria possível “The Good Wife” perder ainda mais prestígio? Dificilmente retorna à categoria principal, mas Margulies certamente se mantêm na sua categoria e Baranski é uma possibilidade apenas por ser muito amada, já que Diane Lockhart não teve grandes momentos este ano (mas fala francês e é acusada de escrever um roteiro para Vampire Diaries!). Panjabi é a mais prejudicada pelos roteiristas, graças à péssima trama com o marido de Kalinda, e sua indicação vai depender do quanto os votantes ainda tem ela (e a série) em alta conta. A série deve conseguir também algumas indicações nas categorias de atores convidados. Michael J. Fox e Dylan Baker já são velhos conhecidos da categoria por seus personagens, e podem ter a companhia (ou serem substituídos por) Nathan Lane, comediante que tem muito espaço em papel dramático, o que deve contar a seu favor. Na categoria feminina, Martha Plimpton ganhou ano passado, mas dificilmente retorna, com participação muito pequena este ano. No seu lugar, há nomes fortes como o de Carrie Preston e, principalmente (por ter mais prestígio) Stockard Channing, no papel da mãe de Alicia.



(continua...)




Hélio Flores


 

[Emmy 2013] Melhores Séries - Drama (Veteranas - Parte 2)

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Continuando o post anterior, mas antes algo que esqueci de dizer: os comentários sobre as séries evitam ao máximo spoilers sobre elas.

Completando, então, a lista das melhores séries veteranas concorrentes ao Emmy:





6º - Justified – 4ª Temporada

Vendo em retrospecto, talvez “Justified” nem merecesse uma posição tão boa: após uma temporada divertida, mas problemática, pelo excesso de vilões, a opção para este ano foi um “whodunnit” não muito interessante, que demora a engrenar, e com subtramas que parecem que resultarão em algo maior, mas que ficam pelo caminho (o ex-marido lutador da namorada de Raylan; o fugitivo interpretado por Chris Chalk; o pastor e sua irmã). Mas o fato é que ainda que os problemas superassem em quantidade as qualidades, estas são tão incríveis que tudo é perdoado. Poucas séries são tão prazerosas em se ouvir diálogos, com caracterizações tão divertidas de personagens e do ambiente caipira em que convivem. Troco qualquer “relevância narrativa” e mesmo séries inteiras pelo prazer de acompanhar Raylan Givens entrando na sala de Art, fazendo uma visita ao bar de Boyd, interrogando bandidos idiotas ou supostamente ameaçadores, fazendo parceria com Rachel ou Tim, ou ainda as reações de Wynn Duffy ao que acontece em sua volta, Boyd intimidando alguém, ou uma visita rápida de quem quer que seja ao território de Limehouse. Ainda poderia falar de Arlo, mas sua participação nesta temporada talvez tenha sido o maior tiro no pé que a série já deu, impedindo que temas e relações mais complexas pudessem se manter por mais tempo. Também não gosto do caminho moralizante trilhado por Boyd e Ava, mas terminam a temporada com novas e estimulantes possibilidades para o ano que vem. Fora isso, o mistério se resolve de forma satisfatória e a tempo de nos proporcionar episódios extraordinários lidando com as consequências da revelação (“Decoy” e “Peace of Mind”), uma feliz junção de grandes diálogos, humor, tensão e sequências marcantes (em que participam novos e ótimos personagens vividos por Patton Oswalt e Mike O’Malley).

Chances no Emmy: O melhor momento da série, a 2ª temporada, rendeu indicações para Timothy Olyphant, Walton Goggins e a vitória para Margo Martindale. Provavelmente esteve muito próxima de uma indicação a Melhor Série, mas com competição cada vez maior surgindo e sem alcançar seu ápice, dificilmente veremos um ano tão rico de indicações como o de dois anos atrás. Pelo número de vagas abertas para Ator Coadjuvante, Goggins ainda é uma possibilidade, mas Olyphant teria que desbancar um dos seis indicados do ano passado (todos retornam), além de novos candidatos que atendem por nomes como Kevin Spacey e Jeff Daniels. Jeremy Davies ganhou ano passado como Ator Coadjuvante, mas não retorna este ano. Se votantes quiserem manter alguém do elenco, bons nomes não faltam: Patton Oswalt, Mike O’Malley e Jim Beaver são todos nomes respeitáveis e com grandes momentos na série. Mas nenhuma indicação entre os convidados me deixaria mais feliz que a de Abby Miller. Ellen May deve ser a personagem mais pateticamente trágica e triste da TV, e há momentos realmente especiais da atriz, tanto com Joelle Carter como com Beaver. No mais, seria mais do que justo ver “Decoy” indicado para Melhor Roteiro, mas votantes gostam muito de pilotos e finais de temporada de suas séries prediletas, então não deve acontecer.




5º - Boardwalk Empire – 3ª Temporada

Se “Homeland” não consegue lidar com coadjuvantes, “Boardwalk Empire” tira isso de letra. Pense em Chalky White lidando com seu futuro genro nos primeiros episódios desta temporada: ainda que pudesse ser visto apenas como uma forma da série continuar com ator e personagem por perto, já que não se conectava a nenhuma das outras tramas, é tão bem executado (em termos de performance, dramatização e comentário sócio-político da época) que passa longe do desleixo e desinteresse da subtrama de Dana Brody na série da Showtime. O que dizer, então, quando na reta final da temporada vemos que se encaixa perfeitamente com o que os roteiristas prepararam para a série? Não só esta, mas todas as subtramas tornam-se importantes para o todo, no que é, sem dúvida, a mais redonda temporada da série e, talvez, de qualquer série vista este ano. Se havia preocupações após o destino de Jimmy Darmody na temporada anterior, Terence Winter mostra um controle absoluto de tudo, com cada uma das situações vistas nos primeiros episódios sendo potencializadas ao final. Nos dá um grande oponente para Nucky, estreita, modifica e desestabiliza alianças entre os “chefões”, continua o crescimento de Margaret como personagem (sem esquecer do quanto é insustentável o seu casamento), além do sempre forte e impactante material para Richard e Gillian. E tudo com um olhar afiado sobre politicagem e moralidade. Com o top 3 desta lista dando adeus até o fim do ano que vem, “Boardwalk Empire” será o que de mais refinado nos restará. Que tenha uma longa vida.

Chances no Emmy: com novas e fortes candidatas ao prêmio principal, parece ser consenso que as séries da HBO são as que correm mais risco em não retornarem este ano. É interessante que “Boardwalk” sempre é vista como a mais frágil da categoria, por ser a série que menos se discute e que menos tem fãs ardorosos, além de ter sido exibida há tanto tempo que é possível que muitos a esqueçam. Mas o fato é que a série continua sendo indicada para premiações similares (Globo de Ouro e SAG) e, contra todas as expectativas, o final da temporada anterior venceu o prêmio de Direção no Emmy 2012, vencendo “Homeland”, “Downton Abbey”, “Mad Men” e “Breaking Bad”. Steve Buscemi também pode ficar de fora da congestionada categoria Melhor Ator, até porque muitas vezes a impressão é de que Nucky Thompson é coadjuvante de sua própria história. Mas se votantes lembrarem-se de um episódio como “The Milkmaid's Lot”, é impossível não indicá-lo. E apesar do fantástico elenco continuar sendo ignorado (Kelly Macdonald conseguiu uma vez pelo primeiro ano), Bobby Cannavale tem boas chances como Ator Coadjuvante (mesmo que fosse esperado concorrer na categoria Ator Convidado) pelo marcante Gyp Rosetti. Mas o ator já é bem conhecido dos votantes (duas vezes já indicado, a última foi ano passado por “Nurse Jackie”, e novamente é candidato – Ator Convidado Comédia).




4º - Game of Thrones – 3ª Temporada

 






















Comparando friamente, esta colocação deveria ser de “Boardwalk Empire”. Mas o aspecto viciante de “Game of Thrones” acabou sendo um critério decisivo: a série de Terence Winter é como um bom vinho a ser degustado calmamente; já a fantasia épica de Benioff/Weiss nos deixa querendo mais, curiosos com o destino dos personagens, torcendo para que certas coisas aconteçam, e mais empolgados em discutir numa mesa de bar ou no twitter (com o perigoso risco de ouvir/ler algum spoiler dos leitores da obra de Martin). E seus problemas são defensáveis: pela ambição do projeto, é impossível que todas as tramas e personagens consigam ser interessantes o tempo todo. Assim, para cada minuto perdido com Theon Greyjoy, somos recompensados em dobro com uma visita a King’s Landing (qualquer personagem interagindo com quem quer que seja serve); para cada momento que vemos pouco acontecer com Bran, há um onde muito acontece com Jaime e Brienne; e personagens importantes como Daenerys e Snow que tiveram uma fraca segunda temporada, tiveram muito mais o que fazer este ano. A estrutura narrativa e a montagem também se aprimoraram, com transições mais elegantes e funcionais entre as tramas, muitas vezes também ligadas tematicamente, além de fazer com que cada episódio pudesse terminar com uma sequência de maior impacto. Os que não gostam da série, aliás, costumam dizer que nada acontece por 55 minutos. Até tento compreender essa frustração, já que temos uma quantidade gigantesca de personagens prontos para a guerra e, portanto, a ação é esperada o tempo todo. Mas as melhores batalhas de “Game of Thrones” são verbais, o jogo é de xadrez (e não poderia ser diferente, pois os conflitos mais aguardados envolvem a chegada de personagens a King’s Landing e que estão muito distantes – Daenerys, Stannis, os mortos-vivos), e pra manter o interesse é preciso grandes personagens, grandes atores e inteligência na encenação. E há tudo isto, tanto no desenvolvimento de personagens e seus dramas (o maior deles sendo Jaime Lannister, e se muitos se surpreendem como ele se tornou um dos mais carismáticos este ano, basta retornar a alguns momentos-chave de temporadas anteriores pra perceber que a série já tinha isto bem estabelecido), quanto em pequenas pérolas espalhadas por todos os episódios - lembro, por exemplo, de Tywin Lannister se projetando sobre o Rei Joffrey, deixando claro, em silêncio, uma relação de poder que, com palavras, poderia não existir. É uma de muitas cenas que se resolvem lindamente graças à perfeita união de atores, posicionamento de câmera, luz e edição. E com tudo isto, nem precisei falar de “Dracarys!” e “Casamento Vermelho”. Pra que a covardia?

Chances no Emmy: Enquanto “Game of Thrones” não vencer a categoria principal, sempre haverá espaço para o argumento “o Emmy não gosta de séries do gênero fantasia/fantástico” e a possibilidade de não indicação. Mas esta é a sua temporada mais elogiada, e se isto não for o suficiente, o perfeitamente sádico “The Rains of Castamere” foi o episódio mais comentado dos últimos anos. A não ser que muitos votantes reajam como vários fãs raivosos que juraram em redes sociais que nunca mais voltariam a ver a série. “Castamere” ser indicado nas categorias Direção/Roteiro é mais complicado, apenas porque o excelente “Blackwater” da temporada anterior foi estranhamente ignorado. Além das óbvias indicações técnicas, Peter Dinklage continua sendo obrigatório na categoria Ator Coadjuvante. Nikolaj Coster-Waldau talvez tenha a melhor atuação da temporada (Charles Dance não se submeteu), e o efeito “Castamere” pode beneficiar Michelle Fairley, mas será uma (agradável) surpresa se houver reconhecimento para além de Dinklage. O mais perto disto é Diana Rigg, a excelente vovó Tyrell, como Atriz Convidada.




3º - Treme – 3ª Temporada

Não concordo com algumas críticas que consideram esta a melhor temporada de “Treme”. Sim, a série aproximou muitos dos personagens, como nunca antes (o que resultou em coisas adoráveis, como LaDonna e Albert), e não só dividindo os mesmos espaços físicos, como também os mesmos temas. Mas isto é necessário numa série como “Game of Thrones”. Aqui, a ambição de se narrar a reconstrução (e manutenção) de uma cidade e sua cultura acaba correndo o risco de se tornar didática e pedagógica: quanto mais direcionada por um roteiro, por personagens com dramas convencionais e similares, mais chances de termos uma série “com mensagens”. Quase podemos ver isto com o excesso de selvageria capitalista presente no chefe de Janette ou no projeto do centro cultural em que Delmond se envolve, na falência da instituição educacional (via Antoine e seus alunos), da polícia (via Toni e Terry) e da justiça (LaDonna). É tudo muito “in your face”. Felizmente, David Simon continua um dos grandes nomes da TV americana e as qualidades superlativas de “Treme” se sobressaem: o respeito e a admiração pela cultura local, sequências musicais deliciosas, sensibilidade para pequenos e preciosos momentos entre personagens, e uma capacidade singular de criar atmosfera e ambientação que nos coloca respirando e vivendo New Orleans. Há algo de épico em “Treme”, que infelizmente será encerrada após uma reduzida quarta temporada. Mas ficará como um documento histórico dos mais prazerosos de se ver e ouvir já realizados pela TV.

Chances no Emmy: Nenhuma. A série passa longe do radar do Emmy, ainda que tenha conseguido duas indicações pela primeira temporada (Direção e Canção). E mesmo no incrível elenco, fica difícil votar em grandes atores como Clarke Peters e Wendell Pierce, quando concorrem na categoria principal, sendo claramente coadjuvantes.




2º - Breaking Bad – 5ª Temporada (Parte 1)

O que tinha a dizer já foi dito neste blog durante sua exibição. Quase um ano depois a impressão geral é a mesma: prejudicada levemente pela decisão da AMC em dividir a temporada, o que fez com que certos elementos fossem apressados. Continuo não tendo problemas com o último episódio, seja a passagem de tempo e as decisões de Walt, ou a cena final e a forma como foi representado um dos momentos mais aguardados de toda a série. Mas em menos de um mês saberemos como isso continuou.

Chances no Emmy: Na história da premiação há muitas séries (e atores/atrizes) que receberam indicações ao longo dos anos e que nunca venceram. “Breaking Bad” não me parece ser uma delas e talvez este seja o ano de reconhecimento na categoria principal: “Mad Men” perdeu a invencibilidade e “Homeland” não conseguiu sustentar a qualidade de sua temporada vencedora. Seria o momento ideal pra uma série que não só mantêm sua excelência, mas que a cada ano torna-se mais cultuada e comentada (é bom lembrar que ela veio do nada e que a própria premiação pode se orgulhar de revela-la ao mundo, quando deu o prêmio a Bryan Cranston por uma primeira temporada que pouca gente viu). Especialmente porque o Emmy 2014 terá que lidar com o fim da série de Vince Gilligan, mas também com o fim de “Mad Men”. Num mundo perfeito, um empate para se despedir de duas das mais marcantes séries da história seria ideal. Mas por que não começar a resolver o problema este ano? Portanto, já nem falo de chances de indicação, mas sim de vitória. O mesmo vale para Bryan Cranston e Aaron Paul, também favoritos para vencer em suas categorias. Anna Gunn conseguiu sua primeira indicação ano passado e deve se manter na categoria: com cenas muito mais intensas este ano (Skyler na piscina!), arriscaria dizer que é a atriz com mais chances de vencer Maggie Smith. A expectativa, então, é só se Jonathan Banks conseguirá ser indicado como Melhor Ator Coadjuvante. Com a vaga deixada por Giancarlo Esposito, seria uma escolha óbvia. E além das justas indicações técnicas (a série não vence aí desde a segunda temporada, quando o season finale levou um prêmio de Edição), é de esperar que algum episódio marque presença na categoria de Direção. Sempre uma escolha difícil quando se trata de “Breaking Bad”, mas “Fifty-One” já ganhou um prêmio do Sindicato dos Diretores (talvez por Rian Johnson ter dirigido o cult movie “Looper” no mesmo ano), embora eu consiga imaginar vários votantes pensando “naquele do roubo do trem” (“Dead Freight”).




1º - Mad Men – 6ª Temporada

A mim parece desnecessário discutir se esta temporada de “Mad Men” é melhor ou pior que as anteriores. Porque não cabe na série o uso de alguns clichês que permitam comparações, como “a série amadureceu” ou “Matthew Weiner perdeu a mão”. A excelência e consistência me parecem evidentes, mudando apenas o tom que muitas vezes é dado pelo recorte que Weiner faz do espírito da época, do ano em questão. Como a série tem a pretensão de abordar toda uma década, os personagens inevitavelmente sofrem as consequências das mudanças e transformações dos costumes, cultura e valores que os EUA vivem nos anos 60: se 1968 é um ano de grandes tragédias nacionais (as mortes de Bobby Kennedy e Martin Luther King Jr.) e manifestações e atos violentos (Direitos Civis, Vietnã, criminalidade em alta em Nova York), temos Peggy sofrendo com a vizinhança, sirenes de polícia como som ambiente na casa dos Draper, um estranho roubo promovido por uma senhora negra; se a época é tomada cada vez mais por drogas que alteram os estados da consciência (seja para ter novas experiências, ou para aumentar a produtividade no trabalho), temos episódios que colocam os personagens (e a narrativa) neste estado de euforia e alucinação; se o mercado de trabalho aponta para a necessidade de novas configurações das empresas, temos mudanças inesperadas no status quo da série; e se é mais ou menos nesta época que Los Angeles começa a ser uma atraente opção ao caos nova-iorquino, temos aquele season finale. E no meio de tudo isso, Don Draper. Tão fascinante quanto sempre foi, mais perdido do que nunca. Os grandes diálogos, o fino humor, a elegância narrativa, a viagem no tempo que nos proporciona por meio da direção de arte e figurinos (aqui é preciso chamar a atenção para as brilhantes e imperdíveis análises de Tom e Lorenzo, na seção Mad Style), tudo continua intacto. Dizer que a quinta temporada é superior à sexta, pra mim, é como dizer que 67 foi um ano melhor que 68. E pararei por aqui, porque é impossível dar conta da quantidade de maravilhas que a série mais uma vez nos trouxe. O Eric Fuzii já fez um trabalho precioso aqui mesmo no blog.

Chances no Emmy: Após um recorde de quatro vitórias consecutivas na categoria principal, “Mad Men” conseguiu ano passado uma outra marca histórica, mas bem infeliz: a de maior derrotado do Emmy, perdendo em todas as 17 categorias em que foi indicado. A série manteve um domínio tão grande por tanto tempo, que a exaustão chegou com força total. Poderia ser pior este ano ou o prestígio é suficiente pra continuar forte ao menos nas indicações? O Globo de Ouro conseguiu esnobá-la na última edição e, apesar de sempre surgir grandes surpresas no anúncio dos indicados ao Emmy, poucas seriam tão desagradáveis. Talvez os votantes estejam apenas procurando novos vencedores, então esperem as mesmas indicações de sempre: além das técnicas, Melhor Série, Ator (Jon Hamm), Atriz (Elisabeth Moss), Atriz Coadjuvante (Christina Hendricks) e, no mínimo, Roteiro (onde a série costuma dominar, às vezes até com mais da metade das vagas). John Slattery perdeu seu lugar ano passado para Jared Harris e é improvável que retorne (Roger tem até alguns grandes momentos, mas no Emmy quando você é esnobado uma vez, é difícil ser lembrado de novo). Eu já perdi as esperanças de ver Vincent Kartheiser indicado, então seria uma boa surpresa ver Kevin Rahm assegurando a vaga da série na categoria de Ator Coadjuvante. Já January Jones (que tem sua melhor temporada em anos) e Jessica Paré (que desta vez tenta como Coadjuvante) correm muito por fora. Ben Feldman e Julia Ormond foram indicados ano passado nas categorias de Ator e Atriz Convidados, mas Feldman se submeteu como Coadjuvante este ano (curiosamente quando fez bem menos que na temporada passada) e Ormond pouco faz, sendo mais provável que seja substituída na categoria por Linda Cardellini. Curiosamente, James Wolk não concorre pela série pelo personagem mais comentado da temporada, Bob Benson (Wolk se submeteu apenas como Ator Coadjuvante em Minissérie/Telefilme, por “Political Animals”). E com elenco tão incrível, mais uma triste curiosidade: nestes cinco anos, “Mad Men” também detêm o recorde de 25 indicações para atuações (nas categorias de principal, coadjuvantes e convidados) e nenhuma vitória. Este recorde, lamentavelmente, parece que tende a aumentar este ano.


A seguir: As novas séries que concorrem ao Emmy 2013.






Hélio Flores

[Emmy 2013] Melhores Séries - Drama (Novatas - Parte 1)

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Após passar pelas séries veteranas, hora de falar sobre as produções que concorrem pela primeira vez ao Emmy. Foi um ano forte de estreias para a TV, tanto que foi possível fazer um top 10. Em 2012, não só “Homeland” foi a única novidade do Emmy, mas também a única estreia digna de ser vista (na categoria Drama, ao menos).


Mas antes, algumas considerações:


- As chances ao Emmy são “achismos” baseados na repercussão das séries entre crítica e público e mais um ou dois critérios duvidosos: historicamente, a premiação é conhecida por manter os mesmos indicados o máximo possível, sendo forçada nos últimos anos a uma mudança graças ao número cada vez maior de concorrentes de qualidade. Por outro lado, sempre há uma novidade que cai no gosto dos votantes, a ponto de estar presente nas categorias até de forma excessiva (caso do elenco de “Downton Abbey” ano passado). Se há uma série este ano assim... bom, há dois ou três candidatos fortes;


- Abandonei duas séries após três episódios: “The Newsroom” e “Vikings”. A primeira, por não suportar o estilo Aaron Sorkin, provavelmente com o pé no acelerador por estar na HBO. Personagens idealistas vomitando 320 palavras por minuto apenas pra expressar o que Sorkin pensa do universo, da vida e tudo mais, anulando qualquer possibilidade de interesse que se tenha por eles e seus relacionamentos? Não, obrigado. Já “Vikings” me incomodou com a pobreza da produção (que nada tem a ver com gastos, que devem ter sido razoáveis), com mais cenas ruins do que promissoras: o plano absurdo do personagem de Gabriel Byrne e sua esposa pra mostrar que um empregado é traidor deve ser a pior sequência do ano – aliás, Byrne está constrangedor (que raios de cabelo é aquele?!) e Jessalyn Gilsig deve ser a maior rival de Morgan Saylor como pior atriz; o protagonista sorridente também já estava me irritando e nem mesmo a bela Katheryn Winnick me deu estímulo pra continuar; Chances no Emmy: a série de Sorkin tem “pedigree”, mas foi muito criticada. O que não a impediu de substituir “Mad Men” no Globo de Ouro. Mas são dois grupos que às vezes pensam muito diferente. Jeff Daniels como Ator, e Sorkin como Roteirista são possibilidades razoáveis. Já “Vikings” é a tentativa do History Channel em emplacar uma série, como “Hatfields & McCoys” emplacou em Minissérie/Telefilme ano passado (16 indicações, 5 vitórias), mas é algo muito mais difícil. Seria uma total surpresa conseguir algo além de um par de indicações técnicas;


- Entre as muitas novidades que não vi, estão alguns destaques da tv aberta, como “The Following”, “Elementary” e “Nashville”. Motivo maior foi minha decisão em não mais acompanhar séries com vinte e poucos episódios. Chances no Emmy: à exceção de Connie Britton como forte candidata a Melhor Atriz (em especial porque enfim foi descoberta pela premiação, sendo indicada nos últimos 3 anos), quase nenhuma, a não ser que uma dessas séries tenha feito a cabeça de muita gente e/ou o prestígio de Kevin Bacon e Lucy Liu seja forte o suficiente para uma indicação como a que Simon Baker conseguiu alguns anos atrás;



Vamos, então, à primeira parte do top 10. Da pior para a melhor, e sem spoilers:



10º - House of Cards (Netflix)

A série de prestígio por excelência: um cineasta respeitado na produção (David Fincher), um ator consagrado como protagonista (Kevin Spacey) e o espinhoso tema (os bastidores da política americana). No fim, um fracasso total: direção burocrática e fria (pra combinar com o Congresso?), cinismo de boutique, superficialidade de personagens e discussões. A temporada pretende ser uma fascinante escalada do congressista vivido por Spacey, cujas pretensões miram a Casa Branca. É através de seus olhos que vemos os jogos políticos (muitas vezes sujos, claro) e acompanhamos suas estratégias para subir cada vez mais na hierarquia de poder. Um dos maiores problemas é a falta de obstáculos, já que todos os políticos precisam ser imbecis e ingênuos para caírem na lábia de Spacey. Depois, há o cinismo e esperteza dos diálogos que dão a impressão de que os roteiristas acreditam mesmo que os comentários depreciativos sobre como políticos pensam e agem são novidades ou polêmicas. É de revirar os olhos quando Spacey vira para a câmera e conversa com o espectador: se ele faz um discurso emocionante (e obviamente politiqueiro) em uma igreja, é preciso mesmo que ele nos diga que o que disse é tudo mentira? Dava pra entender... a quebra da “quarta parede” ou é para um comentário sarcástico e engraçadinho (algo em que o ator virou referência nos anos 90) ou é para nos explicar situações e motivações dos personagens, o que por si só já é uma muleta narrativa das piores. “House of Cards” também não consegue dar peso aos coadjuvantes, meros acessórios da trama, seja a ambiciosa jornalista vivida por Kate Mara, seja o deputado de Corey Stoll, um personagem que pede por uma série melhor. A curiosidade é Robin Wright: sua personagem é explorada de forma totalmente diferente dos demais, com muitas cenas de suposta profundidade psicológica, em que Wright reage em silêncio ou com comportamentos ambíguos. É como se Claire Underwood tivesse saído de “Mad Men” ou “Boardwalk Empire” e caído naquela zona.

Chances no Emmy: apesar do meu desgosto, o verniz da série seria suficiente para garanti-la entre os principais indicados. Mas “House of Cards” terá que passar por um teste inédito: é a primeira grande série a estrear no formato da Netflix, com toda a temporada lançada de uma vez. Não é possível medir sua audiência, a impressão é de modo geral, e as pessoas podem assistir de uma só vez ou aos poucos, o que inviabiliza a série de ter seus melhores ou piores episódios e acontecimentos discutidos e repercutidos na crítica e pelo público nas redes sociais. O quanto isso pode afetar suas chances no Emmy, só o anúncio de quinta-feira irá dizer. Kevin Spacey como Melhor Ator e David Fincher na categoria de Direção pelo piloto são, no mínimo, indicações aguardadas. Melhor Série e Ator Coadjuvante (Corey Stoll) são as possibilidades seguintes, caso o formato da Netflix não atrapalhe, com Robin Wright (Atriz) e Kate Mara (Atriz Coadjuvante) logo depois, caso a série se torne um fenômeno.




9º - Copper (BBC America)

“House of Cards” e “Copper” são as únicas series desta lista que pensei em desistir de ver, durante a temporada. Mas se a primeira fui até o fim como uma obrigação, esta me fez seguir na esperança de que as coisas melhorassem. O potencial está todo lá: a época é a Nova York do século XIX, mais especificamente Five Points, no ano da reeleição de Lincoln, em que a cidade vive em ebulição racial, com negros e irlandeses negociando espaços. O protagonista é um policial que retornou da Guerra Civil e descobre que sua filha pequena foi assassinada e sua esposa desapareceu. Enquanto tenta resolver o mistério desta tragédia, investiga casos cotidianos buscando auxílio de um brilhante médico negro, junto com amigos tem um relacionamento quase romântico com prostitutas, e se envolve em uma trama política que inclui uma socialite misteriosa e uma criança que já viveu o inferno na prostituição. Ao fim da primeira temporada, é possível ver que toda a estrutura e acontecimentos resultariam numa grande série, mas infelizmente tudo é muito mal filmado: não há ritmo, há desleixo na direção do elenco, muitas vezes não nos sentimos naquela época, seja por incompetência técnica ou pelos modos de falar e se comportar dos atores, e há muitas sequências em que a impressão é de que escolheram o pior ângulo e local para a câmera, o pior momento para cortar a cena. A resolução do principal mistério, na reta final da temporada, é muito boa e dá pra sentir o quanto de impacto emocional deveria ter e que infelizmente não sentimos. O mesmo vale para o clímax do season finale. A série já começou sua segunda temporada, e infelizmente não estou empolgado para retornar.

Chances no Emmy: Nenhuma. Pouca repercussão de uma produção de canal sem histórico de prêmios. E realmente nada merece.





8º - Da Vinci’s Demons (Starz)

A Starz traz uma série que se passa num período propício para algo da Showtime (a Florença renascentista dos Medici no século XV), com uma história fantasiosa protagonizada por Leonardo Da Vinci digna da CW, numa produção cara com padrão HBO. Um monstrengo curioso e por vezes divertido, faz de Da Vinci um heroi perfeito: bonitão, galanteador, grande pintor, engenheiro, cientista, gênio, que se envolve no conflito de Lorenzo Medici e o Vaticano, e busca a verdade sobre um livro que pode revelar grandes segredos do universo (guardado nos últimos milênios por uma misteriosa Seita, claro) e que pode estar ligado ao desaparecimento de sua mãe, quando ainda era um bebê. Muita ação (algumas de boa qualidade), vilões detestáveis, belas mulheres e muita nudez (inclusive bundas e pênis flácidos de velhos senhores, como nunca se viu na tv) em longos episódios (abusivos 58 minutos) que sempre trazem Da Vinci e seus amigos diante de enigmas que o jovem e brilhante protagonista resolverá de formas incríveis. Ao longo da temporada, Da Vinci inventa armamentos e equipamentos que só irão surgir séculos depois e há momentos que só resta esperar até onde vai a cara de pau dos roteiristas com aquela história. Tom Riley tem carisma e energia o suficiente pra sustentar o todo e o final explosivo garante a vontade de, pelo menos, ver como vão resolver a enrascada que o heroi se meteu. Está aí uma série que merece bem mais o rótulo de “guilty pleasure” do que “Scandal”.

Chances no Emmy: Talvez algumas indicações técnicas, e só. O gênero passa longe de qualquer consideração dos votantes.





7º - Bates Motel (A&E)

A ideia de imaginar a adolescência de Norman Bates e seu relacionamento com a mãe parece boa para um filme, mas insustentável para uma série, que pode durar temporadas. Mas é só começar a ver o que fizeram aqui para mudar de opinião: direção de arte e atmosfera de um velho filme de terror B pra nos dar uma cidadezinha de habitantes misteriosos e excêntricos, e um Motel em que muitas coisas estranhas já aconteceram antes de Norma Bates decidir compra-lo e batizá-lo com seu nome. Infelizmente é uma ideia subaproveitada, e a série falha em criar algo interessante. A plantação de maconha e tudo que envolve o outro filho de Norma (um personagem necessário para equilibrar a relação de Norma e Norman) é risível, o segredo em torno do “Homem do Número 9” é frustrante e é inacreditável a forma como resolvem a subtrama da jovem aprisionada que vemos no piloto. Exceto pela simpática Olivia Cook, nenhum coadjuvante consegue manter nossa atenção. Do lado positivo, a série faz maravilhas com o principal, que é o relacionamento doentio entre os protagonistas. Podemos ver os estragos que Norma faz no já emocionalmente instável Norman, e tudo é bem balanceado entre o afeto e a obsessão, que se alternam de forma que possa perdurar por ainda muito mais tempo. O cliffhanger do episódio final deixa preocupações de como pretendem levar adiante o destino do jovem protagonista, mas ainda há pontas soltas envolvendo personagens da cidade e que, esperemos, criem situações bem mais empolgantes do que vistas neste primeiro ano tão irregular.

Chances no Emmy: Apesar de uma das séries mais comentadas do ano (devido a sua relação com um dos maiores clássicos do cinema), é difícil imaginar “Bates Motel” tendo grande reconhecimento. Mas votantes adoram atores indicados a Oscar, e Vera Farmiga está mesmo excelente, demonstrando várias facetas da que talvez seja a mais famosa personagem do cinema e que nunca existiu. A concorrência na categoria de Atriz é grande, mas não veria como total surpresa se seu nome fosse anunciado, mesmo que consiga visualizar oito ou nove nomes em sua frente. Freddie Highmore, como Norman Bates, é uma revelação, e consegue pegar os trejeitos mais marcantes de Anthony Perkins, sem perder sua própria identidade. Apesar de claramente protagonista, Highmore se submeteu na categoria de Coadjuvante, o que lhe dá mais chances, já que esta será ocupada por novos nomes. Qualquer outra indicação me surpreenderia.





6º - Longmire (A&E)

Walt Longmire é o xerife de um pequeno município de Wyoming. Viúvo há pouco tempo, resistente a tecnologia (não tem nem mesmo um aparelho celular), tem a seu serviço apenas uma secretária (a saudosa Mrs. Saracen!) e três policiais, sendo que um deles o considera obsoleto e se lança como candidato para ocupar seu posto na próxima eleição. A série começa com um crime, e é engraçado que os personagens encaram isto como uma benvinda quebra da rotina tediosa em que nada de excitante acontece, quando na verdade o que temos é um crime por episódio, e sem nenhuma ligação entre si. Em estrutura, “Longmire” não difere, portanto, de qualquer outra série investigativa e serializada que tem aos montes. Talvez apenas o método do protagonista, que prefere a dedução lógica, o apego a detalhes e fazer as coisas por ele mesmo, com bastante conhecimento geral, vindo da experiência e de muita leitura. Os casos não são fantásticos, as resoluções não são surpreendentes, não há nada de espetacular. E é este o charme da série: a simplicidade de tudo deixa os personagens mais em evidência e aos poucos começamos a ter prazer em acompanhá-los nas conversas mais triviais, a ponto de que quando um segredo vem à tona no season finale, é surpreendentemente emocionante, mesmo que não seja uma grande revelação, e que ainda permite uma bela cena final, concluindo bem alguns temas da série. Ajuda que Robert Taylor é um bom ator pouco conhecido, além das presenças sempre marcantes de Katee Sackhoff (como uma policial) e Lou Diamond Phillips (como o melhor amigo de Walt). Há também interesse pelo fato do município ser vizinho de uma reserva Cheyenne, e muitos dos casos envolvem a tensão racial desta convivência semi pacífica.

Chances no Emmy: Zero. Também pouco vista e comentada, “Longmire” já caminha para a reta final da segunda temporada e tem recebido elogios (ainda não tive tempo de conferir), embora nada muito entusiasmante ou que leve mais pessoas a conhecê-la. É mais provável que se torne uma dessas boas séries que quase ninguém fala a respeito (como “Southland”).


(continua...)




 

Hélio Flores
 

[Emmy 2013] Melhores Séries - Drama (Novatas - Parte 2)

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Completando o top 10 de novas séries do ano (sem spoilers):






5º - Les Revenants (Canal+)

Com a popularização cada vez maior das séries americanas na última década, é questão de tempo para que haja um fenômeno mundial vindo de outro país. E a série francesa “Les Revenants” é uma ótima candidata a isto. Baseada em um filme de 2004 com mesmo título, nela temos o retorno de mortos a uma pequena cidade. Não são fantasmas ou zumbis: voltam com a mesma aparência de quando morreram (que pode ter sido recentemente ou anos ou décadas atrás), sem a lembrança da morte. Algo parecido com “Incidente em Antares” de Érico Veríssimo, que se tornou minissérie da Globo no início dos anos 90. Talvez por ser francesa, a estética é diferente do que estamos habituados mesmo na diversidade de estilos e formas da tv americana: os planos são mais abertos, duram por mais tempo e não há muito blábláblá. Personagens parecem falar apenas quando necessário e seu silêncio é preenchido por uma trilha sonora perfeita para o clima mórbido e de mistério que se instala naquela cidade. Não há pressa na narração, usando uma estrutura que parece herdada de “Lost”, com as informações que nos chegam aos poucos e cada episódio centrado em um personagem (recebendo o nome dele como título), de quem saberemos um pouco mais a respeito.  O elenco é ótimo, com alguns já conhecidos nomes do cinema francês (a bela Anne Consigny, Frédéric Pierrot e Clotilde Hesme), não só bem dirigido como muito bem filmado, sendo uma série que valoriza o rosto de seus personagens (o menino Victor é particularmente assustador). Sem apostar em sustos, escatologia ou acontecimentos espetaculares, “Les Revenants” consegue prender a atenção calmamente nos guiando pelo mistério e fantástico da sua história até atingir um clímax dramático, mas menos empolgante do que deveria ser – talvez aí fosse necessária uma boa dose de adrenalina que nos foi recusada durante seus oito episódios. Ao menos deixa pontas soltas para uma nova temporada que, espero, não demore a chegar.

Chances no Emmy: Apesar de lançada no período (final de 2012), “Les Revenants” ainda não foi exibida por um canal da tv americana, o que a torna inelegível para o Emmy.




4º - Orphan Black (BBC America)

Uma pequena produção canadense com elenco quase que totalmente desconhecido tornou-se uma das melhores surpresas da temporada. A grande diversão de “Orphan Black” está em como vamos descobrindo o que está acontecendo junto com sua protagonista, e como os roteiristas são capazes de criar situações que a colocam em enrascadas gradativamente maiores. E não é porque trata-se de uma ficção barata de conceitos simples (e às vezes absurdos), que não se pode ter respeito à nossa inteligência: alguns segredos são mantidos, com personagens sendo enganados até onde é possível; ninguém é convenientemente burro, e isso faz com que a trama se mova constantemente. O prazer em se ver a série me lembrou dos bons tempos de “Alias”, uma aventura divertida e empolgante que me fazia querer ver logo o episódio seguinte. E como a série de JJ Abrams tinha Jennifer Garner, “Orphan Black” tem Tatiana Maslany, uma jovem e desconhecida atriz canadense que se tornou a maior estrela do ano. Como Garner, Maslany tem carisma, energia e consegue alternar força e fragilidade (além de linda e gostosa, como algumas cenas calientes podem deixar claro). Mas com um importante diferencial: a série permite que Maslany interprete várias personagens, todas bem diferentes entre si em comportamento, personalidade, jeito de andar e até sotaque. Como se não bastasse, há situações em que uma personagem se passa por outra, o que resulta em uma performance totalmente nova: se Alison precisa fingir ser Sarah, conseguimos sentir que é Alison (a dona de casa comportada) se esforçando pra parecer Sarah (a “boca-suja” britânica). Essa perfeita aliança entre trama bem escrita/dirigida (cômica, boas cenas de ação e tensão) e uma verdadeira estrela supera e muito a pretensão de grandes temas e refinamento técnico que marca muitas produções ambiciosas de grandes emissoras.

Chances no Emmy: Não é uma série com perfil da premiação, mas não tenho dúvidas: críticos e especialistas assistirão às indicações com a maior expectativa na categoria de Melhor Atriz, aguardando ansiosos para ouvir o nome de Tatiana Maslany. Há alguns meses, a indicação era impossível. Mas “Orphan Black” começou a ser comentada nas redes sociais e todas as atenções se voltaram a Maslany. A atriz ganhou recentemente o Critic’s Choice Awards, disputando com Claire Danes e Julianna Margulies, e está indicada a Melhor Performance do ano, masculina ou feminina, pelo prêmio da Associação dos Críticos de TV, e é considerada favorita (onde concorre com Bryan Cranston). Prêmios da crítica não costumam influenciar a preferência do Emmy, mas o boca-a-boca acabou gerando elogios mais do que entusiasmados de gente como Damon Lindelof, Shaw Ryan e Patton Oswalt. O quanto de membros do Emmy acompanham as redes sociais, tiveram tempo para ver uma desconhecida série e estão preparados para sacrificar uma atriz queridinha pra votar em Maslany? Logo vamos saber.





3º - Hannibal (NBC)

Quando soube que fariam uma série sobre Hannibal Lecter, tinha certeza que não daria certo. Felizmente, não poderia estar mais errado. Não conheço os trabalhos anteriores de Bryan Fuller (os dois primeiros episódios de “Pushing Daisies” não me empolgaram), mas está claro que certos temas e conceitos visuais são seus motivadores (seria ele um “autor” no sentido que autoria tem na crítica de cinema inaugurada pela Cahiers du Cinema?), já que “Hannibal” tem uma identidade muito própria, na forma como representa o dom de Will Graham, na encenação que constantemente enquadra seus protagonistas de perfil confrontando uns aos outros, no clima de morbidez construído pela presença de uma trilha sonora instigante, na beleza plástica e sempre impressionante com que filma as refeições de Hannibal e os assassinatos de serial killers que são verdadeiros artistas. Tudo isso para mergulhar fundo na nossa obsessão pela morte e pelo macabro, e não numa necessidade de reverenciar, homenagear e copiar as obras anteriores que trataram do personagem que mudou o modo do cinema lidar com a sociopatia – um episódio como “Entrée“ impressiona por ser o máximo de inspiração e homenagem que se pretende fazer a “O Silêncio dos Inocentes”: há cenas e situações que evocam o filme, mas nunca deixa de ser um episódio da série que continua avançando sua trama e personagens. Este avanço, aliás, significa não suavizar ou retroceder a deterioração da saúde mental de Will; tornar crível a relação de todos com Hannibal, a ponto de que ninguém suspeite de sua verdadeira natureza; manter uma unidade da história principal (a que envolve Abigail) ao mesmo tempo em que precisa cumprir uma necessidade em ser serializada (com “casos da semana”). De modo geral, a série alcança esses objetivos, não sendo eficaz apenas em momentos isolados, seja por uma investigação apressada ou por algumas artimanhas de roteiro que salvam a pele de Hannibal. Pequenos pecados diante de um todo estimulante, com personagens inteligentes e bem construídos, que vão desde os investigadores de Jack Crawford a terapeuta vivida por Gillian Anderson (a ideia de que Hannibal faça terapia parece péssima e só funciona porque a escrita é muito boa).

Chances no Emmy: Apesar dos elogios da crítica, a série foi um fracasso de audiência, sendo possível sua renovação para a segunda temporada apenas porque há investimento estrangeiro, o que reduz os custos da emissora. Fracassos assim não costumam receber atenção no Emmy. Ainda falam de que seria “pesada” demais para os votantes. Com este argumento não concordo, já que nunca tiveram problema em indicar séries como “Dexter” e “Breaking Bad”. “Hannibal” seria tão diferente, nesse sentido? A categoria principal parece uma impossibilidade, mas Hugh Dancy como Melhor Ator e Mads Mikkelsen como Ator Coadjuvante seriam mais do que justos (Laurence Fishburne tem momentos excelentes atuando com sua esposa – na vida real e na série -, mas não se submeteu). Mikkelsen em especial, pela dificuldade que é dar vida e tornar fascinante um personagem imortalizado por Anthony Hopkins, e de forma tão distinta. Votantes do Emmy tem uma queda por vencedores do Oscar, teriam também por vencedores de Cannes?




2º - The Americans (FX)

O que mais me impressiona nesta primeira temporada de “The Americans” talvez seja a sensação que passa de controle absoluto que os criadores da série têm sobre o material. É verdade que algumas arestas mereciam maior polimento: há mais idas e vindas no casamento dos protagonistas do que deveria, e os filhos nunca se tornam personagens interessantes. Mas ao final do último episódio, temos a certeza que conhecemos bem esses espiões da KGB que se passam por americanos de classe média, de como eles mudaram ao longo da temporada, de como a trajetória até chegar àquele final – tensa, com ação, reviravoltas e surpresas – estava, no fundo, contando uma história de amor, das mais inusitadas. Nada de “duas pessoas se conhecem, se apaixonam, se casam”, e sim duas pessoas que se casam, não se conhecem e... convivem por 15 anos até se apaixonarem. E, como toda grande série, não deixa de ter bons coadjuvantes que, como os protagonistas, também só crescem a cada episódio: Stan tem sua vida completamente mudada graças ao trabalho, Nina passa pelo mesmo graças a Stan, e Claudia, que pouco sabemos durante todo o tempo, tem um momento fantástico no season finale que lhe dá mais vida. Todos os excitantes acontecimentos de “The Americans” (que têm um charme especial por serem de uma trama de espionagem dos anos 80) nunca perdem de vista essa atenção e necessidade de afetar profundamente os envolvidos na história. E a segurança com que fazem isto numa trama tão bem amarrada e redonda, me conquistou.

Chances no Emmy: O consenso geral é de que “House of Cards” é a novidade com mais cara do prêmio, e que “The Americans” seria a segunda escolha. Gosto de acreditar que a ordem é inversa, com a série da FX causando uma empolgação muito parecida com a que “Homeland” teve ano passado – ambas tem espionagem, suspense, um casal protagonista intenso, um coadjuvante forte, surpreenderam na recepção crítica e de audiência. Se houver mesmo este entusiasmo, e a série da Netflix fracassar, é possível vê-la presente em quase todas as categorias: Série, Ator, Atriz, Ator Coadjuvante (Noah Emmerich) e em Direção e Roteiro. Emmy gosta de indicar pilotos nessas categorias e, apesar da estreia de “The Americans” ser mesmo muito boa, o season finale me parece mais impactante, que é basicamente o final de “Argo” estendido por 45 minutos de episódio.




1º - Rectify (Sundance Channel)

A primeira série produzida pelo Sundance Channel tinha todas as probabilidades de cair em algum dos cacoetes vistos em boa parte dos filmes que saem do Festival do mesmo nome do canal: obsessão pelo excêntrico na vida ordinária, sarcasmo, ironia ou até mesmo superioridade ao retratar pessoas comuns, visão excessivamente (ou pretensamente) poética ou exploração de sofrimento dos personagens. Mas não é o que acontece com “Rectify”, embora a série pareça correr este risco o tempo todo. A história do jovem condenado por assassinato e que passa 19 anos no corredor da morte até que novas evidências o colocam em liberdade poderia cair em armadilhas nos dois aspectos que fazem a série ser excelente. O primeiro, o próprio retorno de Daniel Holden para casa e sua readaptação: de coisas básicas como descobrir as mudanças nesses quase 20 anos (na sua cidade, e as tecnologias, filmes, videogames, etc.), passando por coisas mais complexas (relação com a família, sexo), a transformações fisiológicas (19 anos preso em uma cela causa problemas na visão pela falta de uso para distâncias maiores), Daniel reage a tudo em silêncio, isolado e experimentando as coisas a seu modo. Talvez seja tentador (e o próprio espectador pode querer que algo nesse sentido aconteça) colocar o personagem em alguns conflitos dramáticos, e lidar mais diretamente com o caso de assassinato (que continua em aberto, sua culpa ainda é considerada e pessoas farão de tudo para conseguir colocá-lo de volta na prisão), mas há uma surpreendente sensibilidade na decisão de transformá-lo quase num autista. Daniel é um total estranho no mundo e o risco de “poetizar” demais suas tentativas de se encontrar e conhecer este mundo são diminuídas por direção e fotografia precisas, e por um excepcional ator como Aden Young. São apenas seis episódios, e por mais que queiramos saber mais sobre o mistério principal (o piloto nos provoca neste sentido e o restante da série nos frustra), não é o momento para isto. A segunda armadilha que “Rectify” foge é a de uma visão superior ou julgadora dos habitantes daquele local. Pessoas religiosas, conservadoras e caipiras, nunca são retratadas com desdém, nem mesmo aquelas que podem ser vistas como vilãs. Isso permite desenvolver personagens e relações mais fortes, e é muito bonito o que se constrói a partir do encontro entre Daniel e Tawney na segunda metade da temporada. A conclusão é corajosa, pois não havia garantia ainda de que a série fosse renovada e não seria um final gratificante. Felizmente, veremos muito mais no ano que vem.

Chances no Emmy: Uma série pouco vista em um canal pequeno que não investe em divulgação. Poderia dizer nenhuma, exceto que consigo enxergar material perfeito para prêmios e que há precedentes: “Rectify” é anunciada como “dos produtores de ‘Breaking Bad’”, série que também quase ninguém conhecia e foi descoberta justamente no Emmy. É verdade que Bryan Cranston já era uma pessoa conhecida e querida, então acho que já posso dizer que a ausência de Aden Young da categoria de Melhor Ator será das maiores injustiças do ano.



 




Hélio Flores


[Breaking Bad] 5x09 - Blood Money

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 "Heisenberg. Heisenberg!" - Hank


 Na abertura de “Full Measure”, o episódio final da terceira temporada de Breaking Bad, temos um flashback onde Skyler mostra a Walt a casa em que eles viverão pelos próximos 17 anos. Na ocasião, Walt sugere procurar algo melhor, pois dali em diante as coisas só poderiam melhorar. Um flashback, portanto, que nos fazia lembrar do quanto o protagonista se distanciou dos planos que tinha pra si e pra família.


E agora, em “Blood Money”, que inicia a reta final da série, temos novamente aquela casa representando o percurso desastroso de Walter White, mas em um flashforward mostrando sua situação alguns meses após o tempo presente (algo em torno de oito ou nove meses, como sugere uma fala de Marie). Um flashforward que nos lembra que em “Breaking Bad” as coisas não só não podem melhorar, como nada é tão ruim que não possa piorar.


É uma abertura fantástica esta, que dá continuidade ao que vimos na premiere do ano passado (Walt com nova identidade, um ano depois, voltando a Albuquerque com armamento pesado), acrescentando informações que aumentam incrivelmente a tensão pelo que está por vir: seja lá o que aconteceu, a identidade de Heisenberg é revelada ao mundo e, parece, com consequências das mais terríveis. Não há mal algum em uma série que já deixou sua marca na história, usar em sua reta final um recurso que eleva expectativas, já enormes, a níveis ainda maiores. Bela forma de dar início ao fim, que só reforça a confiança que Vince Gilligan e seus roteiristas têm na conclusão de tudo.


E como em todas as outras vezes que a série nos brindou com situações chocantes e surpreendentes, mais uma vez deram continuidade de forma não só eficaz, mas com desdobramentos inesperados: foram longos os meses que aguardamos para saber como Hank sairia daquele banheiro, e fomos recompensados com um trabalho impecável de direção (do próprio Bryan Cranston), atuação, fotografia e som. Este último, aliás, chama a atenção. Do momento em que Hank aparece até o acidente de carro, o design de som ilustra perfeitamente a confusão mental e desespero do personagem – além, claro, de Dean Norris garantindo sua indicação ao Emmy do ano que vem.


O desdobramento inesperado aqui é que Walt e Hank já se confrontam ao fim do episódio, quando podíamos imaginar um jogo de gato e rato entre os dois ainda por algum tempo. A série sempre teve essa característica de mover algumas peças da trama de forma mais rápida do que se esperaria em outras séries e agora, com calendário tão curto, mais do que nunca. Felizmente, ao contrário de alguns momentos do ano passado, não ficou a sensação de correria. Se Hank é inteligente o suficiente pra montar todo o quebra-cabeça (quando podemos rever vários momentos da sua investigação, da câmera de segurança que mostra Walt e Jesse roubando metilamina de um depósito na primeira temporada, vista em 2x01 “Seven Thirty-Seven”, à eliminação das testemunhas na prisão), Walt também é, e logo percebe o que está acontecendo quando nota o sumiço do livro que Gale lhe deu. A diferença é que o orgulhoso Walter White precisa mostrar o que sabe. 


Não duvido, aliás, no quanto este embate deve fazer bem a Walt e que deve ser responsável por mais uma vitória (mesmo que passageira) sobre o câncer: já em quimioterapia, sabemos que o personagem estará vivo depois dos seis meses que ele estima e diz a Hank, além de fisicamente menos debilitado do que se espera de alguém que esteja morrendo – seu cabelo e barba no flashforward não me parecem falsos, o que significaria distância da quimio também. Obviamente que a série não lidará com causas da doença, mas numa opinião bastante pessoal, acredito que é um momento propício para o retorno do câncer. Pois não importa estar no ramo do império das drogas ou do império de lava-carros. O vazio emocional e existencial de Walt persistirá. Sua vida só parece ter sentido com a adrenalina e o perigo, e Hank acaba de lhe dar isto.



Outras considerações:


- No post sobre “Buyout” comentei como a divisão em duas temporadas menores fez com que passassem rapidamente pelo efeito que a morte de uma criança causaria em Jesse e que isso até era bom, pois evitava mais uma fase depressiva do personagem. E eis que retornam a uma situação que, embora coerente do ponto de vista do personagem, não é tão interessante em termos de narrativa - embora ainda consigam representar de forma intensa, seja a tela da TV atrás do personagem em sua primeira cena, ou a distribuição de dinheiro à noite. Por outro lado, há uma diferença importante: Jesse deixa claro que já não acredita em Walt, e sem esta e outras figuras paternas no passado (Mike e Gus), o que lhe sobra?


- Walt quer ser o novo Gus Fring? Não só tem seu carro “grampeado” por Hank, mas também se ajoelha em uma toalha para vomitar e até evita discutir negócios ilícitos enquanto trabalha com muita simpatia no caixa de seu negócio legal. Qual seria o próximo passo? Desafiar um sniper, andando em sua direção? 


- Mais elogios à abertura: fazemos essa visita à casa destruída apenas porque Walt volta para buscar a ricina. Desde o início da segunda temporada aguardamos para que seja utilizada e é óbvio que seremos recompensados antes de tudo acabar. O fascinante é ele precisar dela ao mesmo tempo em que precisa de um armamento pesado. Duas armas letais, mas totalmente opostas;


- “You are the devil!”, diz Marie casualmente a Walt, no momento em que um transtornado Hank volta à mesa. Que timing!


- “...maybe your best course... would be to tread lightly” é mais uma pra galeria de frases clássicas da série. Não é só questão de texto. É de entonação, pausa, o silêncio mortal entre os personagens; O “I don’t know who you are” de Hank também é incrível, um misto de choque, repulsa e perplexidade. Dois atores espetaculares;


- Sou pouco conhecedor de Star Trek e devo ter perdido várias referências, mas o concurso de tortas me pareceu um ótimo episódio “filler” pra série. Sempre bom ver Badger e Skinny Pete e me pergunto se ainda terão participação importante na reta final;


- Jesse Plemons (Todd) e Laura Fraser (Lydia) aparecem nos créditos como regulares da série, ao invés de convidados. Todd não aparece no episódio, mas é Lydia quem traz a indicação de que o verdadeiro inimigo deve vir mesmo da República Checa, nada satisfeito com a queda de qualidade do produto – provavelmente é Todd o responsável por algo inferior a 70%;


- “Blood Money” teve uma audiência recorde para a série: seis milhões, o dobro da audiência conquistada na estreia do ano passado. A AMC já pode começar a se arrepender em não dar mais episódios para Gilligan. Resta tentar capitalizar algo para o spinoff com Saul Goodman. Imagino que aquela sua clientela vista rapidamente no episódio renda boas histórias, mas não acho que faria muito sucesso...


- O rastro de avião no céu acima da casa de Walt foi um belo toque. Mas e as laranjas que Carol deixa cair ao ver seu antigo vizinho? A relação com “O Poderoso Chefão” é velha conhecida, mas (e eu acho isso) às vezes laranjas são apenas laranjas... ou Oranges are the new bad? (desculpa, nao pude evitar)


- O episódio é dedicado à memória de Kevin Cordasco, jovem que lutou por sete anos contra um câncer e morreu há cinco meses, aos 16 anos de idade. Cordasco era fã de “Breaking Bad” e teve a oportunidade de conhecer Gilligan, Cranston e outros membros da equipe.






Hélio Flores


[Breaking Bad] 5x10 - Buried

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“– Does that make you happy?” – Walt
“– I can't remember the last time I was happy.” – Skyler

“You have to get him!” – Marie

 “…maybe ourbest move here is to stay quiet.” – Skyler


 

Vendo no IMDB a ficha técnica dos episódios que faltam, “Buried” é o último trabalho de Michelle MacLaren na direção de “Breaking Bad”. Nada mais apropriado que uma das principais mulheres da série (é também produtora) se despeça com o melhor episódio já feito para as personagens femininas.


É, claro, um episódio de Skyler, protagonizando três memoráveis sequências (com Hank, com Marie e com Walt) e este texto só pode ser sobre ela. Mas Marie tem seu grande momento na série, enquanto Lydia continua uma personagem com curiosa e interessante caracterização (Frágil? Louca? Perigosa? Mike obviamente não estava errado em querer matá-la e é uma pena que não teremos muito mais tempo com ela). É verdade que Betsy Brandt sempre mostrou ser uma boa atriz, mas Marie nunca teve nada tão diretamente ligado ao centro da trama e seu confronto com Skyler é mais um momento (e muitos outros virão) que há tempos sabíamos que aconteceria e que a série consegue superar expectativas na realização. Gosto de como Marie descobre aos poucos desde quando a irmã sabe sobre Walt, em sequência parecida com a de Skyler descobrindo que o marido trafica metanfetamina no início da 3ª temporada.


Mas é de Skyler que precisamos falar. Ao contrário da série, Mrs. White está longe de ser uma unanimidade, despertando reações extremas de ódio (e bastante machistas), que resultam também em defesas apaixonadas. A personagem tem causado muita discussão, e poderia levar a reflexões sobre representação e percepção da mulher nas séries americanas.


(Enquanto escrevia isso, o New York Times publicou um texto de Anna Gunn, em que ela fala sobre a repercussão de sua personagem, que pode ser lido aqui)



Aqui abro um parênteses: muito se fala sobre a tendência dos últimos 10 anos de protagonistas masculinos falhos, de posturas moralmente condenáveis (Tony Soprano, Walter White, Don Draper, Jack Bauer, Vic Mackey, Dexter Morgan, etc, etc) e agora, em um período fértil para protagonistas femininas, parece começar algo parecido, mas relacionado a transtornos e comportamentos “estranhos”, não necessariamente no aspecto moral. A bipolar Carrie Mathison de Claire Danes, em “Homeland”, parece ter aberto portas, resultando em coisas bem interessantes (Gillian Anderson em “The Fall”) ou questionáveis (Diane Kruger em “The Bridge”). São mulheres muito diferentes daquelas que assumem papel de esposa do protagonista (Skyler, Carmela Soprano, Betty Draper).



Mas voltando a Skyler, o crítico Alan Sepinwall dedica os primeiros parágrafos de seu texto sobre “Buried” para falar de sua trajetória, e acho que vale a pena fazer isso também.


Até certo ponto é fácil não gostar da personagem. Sua caracterização no piloto parece ter esse propósito. Ela é controladora (o bacon vegan em sua primeiríssima cena na série) e isso é amplificado pra que aumente nossa simpatia por Walt e entenda sua necessidade de fazer o que faz (assim que ele descobre ter câncer, Skyler aparece perguntando sobre débitos na fatura do cartão). Na segunda temporada há sua relação com Ted, inclusive de atividades ilícitas no trabalho, além de constantemente pressionar e querer saber o que o marido anda fazendo (ela descobre um segundo celular). Atitude perfeitamente natural de uma esposa, mas novamente nossa simpatia e torcida continua com Walt e o que ele menos precisa naquele momento é de uma mulher desconfiando do que não existe (uma traição). E uma cena como a que encerra “Down”, em que a personagem muitíssimo grávida fuma, certamente incomoda muitas pessoas, ainda que ela tenha seus motivos para aliviar o stress dessa forma.


Mas o motivo principal pra todo esse ódio, e que demonstra o quanto a repulsa pela personagem está ligada ao puro sexismo, vem na terceira temporada com o episódio “I.F.T.” (abreviação do singelo “I Fucked Ted” e dirigido pela mesma Michelle MacLaren), quando Skyler faz sexo com Ted e diz ao marido com enorme satisfação de quem se sente vingada. Na época, os fóruns pela internet foram entupidos de mensagens de ódio, não por acaso de uma maioria masculina que parecia não se importar com nenhuma das atrocidades cometidas por Walt, mas rapidamente considerou ultrajante a traição de sua esposa. Pior ainda: ignorava que Skyler só faz isto após Walt forçar sua permanência em casa de um modo que a tornava uma vilã sem motivos aos olhos do filho.


Neste ponto, a imagem de Skyler está tão manchada que nem o que se segue parece ser capaz de mudar a opinião de muitos fãs da série: é ela quem inventa a história do vício de Walt no jogo de cartas para pagar a reabilitação de Hank; é ela quem dá a ideia do lava-a-jato, melhor do que qualquer empreendimento bizarro inventado por Saul; é ela quem lava o dinheiro da forma mais eficiente possível; e é ela a autora de algumas frases tão boas quanto às de Heisenberg, como “Alguém tem que proteger essa família do homem que protege essa família”, “Achava que VOCÊ era o perigo”, “Só me resta esperar... que o câncer volte”, no momento em que Walt perde nossa simpatia cada vez mais, e ela a vítima que faz o que pode para manter a família.


E eis que chegamos a este “Buried”, onde Skyler deve tomar a decisão mais importante até aqui: colaborar com Hank ou permanecer ao lado de Walt?


É fascinante que tudo visto nos primeiros episódios da quinta temporada levam a entender que Skyler escolheria o lado de Hank e Marie, e sua escolha por Walt em nenhum momento parece inverossímil. Toda a excelente conversa com Hank deixa claro, não em palavras mas no rosto de Anna Gunn, o quanto ela está envolvida e que não há retorno. É preciso seguir com Walt até o fim. Não à toa o seu “maybe our best move...” ser tão parecido (na entonação, inclusive) com o “maybe your best course...” dito pelo marido no episódio anterior. Já criaram até mesmo o termo “Skysenberg”.


E é preciso ressaltar que a série nesta reta final parece querer revisitar situações e cenários, algo já notado no episódio anterior (o ataque de pânico de Hank, a desorientação de Jesse, Walt mimetizando Gus Fring) e que continua aqui (o deserto, o ferro velho, um laboratório em péssimas condições), mas principalmente não esquecer da motivação inicial do protagonista: família. Hank não pode “fazer uma viagem para Belize” porque é família; Walt se entrega desde que os filhos recebam o dinheiro; Skyler sabe que deve seguir em frente no silêncio também pelos seus filhos, e sai do torpor, do sentimento de culpa e vergonha diante de Marie quando há a ameaça de ter sua filha levada embora; uma das ponderações de Hank é que, no momento em que se tornar um civil, não poderá ajudar a cunhada. 


Família é a coisa mais importante do mundo e um episódio que trata da divisão dela, só deixa mais amarga a tragédia que está por vir.



Mais umas coisinhas:


- O que mais gosto da sequência que abre o episódio nem é a bela imagem representando o estado mental de Jesse, mas como a série não se rende à vontade de abrir todo episódio com algo chocante e vibrante;


- O Carlton Cuse (criador de “Lost”) tuitou que estava adorando Breaking Bad porque tem flashforwards, números de loteria e pessoas gritando “Walt!”. Esqueceu da escotilha;


- Walt enterra todo seu dinheiro no mesmo local em que ele e Jesse produzem metanfetamina no piloto da série. O local se chama To’hajiilee, e dá nome ao episódio 13 desta temporada;


- 34, 59, 20, 106, 36, 52. Óbvio que já foram pesquisar se essas coordenadas são verdadeiras. E, sim, elas apontam para o local onde a série é filmada, assim como várias outras produções: a Albuquerque Studios;


- Gosto como uma cena de humor como a de Huell e Kuby deitados na pilha de dinheiro não serve apenas como alívio cômico. Heinsenberg matou dez testemunhas em dois minutos: é essa a imagem que o medíocre Walt deixou;


- No duelo Hank x Walt (ver imagens abaixo), o primeiro ganha, sacando o telefone mais rápido. Assim que a máscara Heisenberg cai, o pânico toma conta de Walt e só depois se lembra de ligar para Skyler;


- MacLaren se despede com uma porta se fechando, que marca o encontro entre Hank e Jesse. O primeiro desde "One Minute" (3x07), também dirigido por ela. 



Algumas imagens do episódio:



O faroeste





Vermelho: dinheiro, morte, inferno.
 




Balança





Humor 












Hélio Flores
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