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Channel: Comentários em Série (com Spoilers!)
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[Breaking Bad] 5x11 - Confessions

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 "My name is Walter Hartwell White (...) This is my confession." - Walt

"Why don't you kill yourself, Walt?" - Marie

"And all for that asshole Mr. White!" - Jesse

"Oh, Christ, Marie... You killed me here." - Hank






Já havia comentado em “Fly”que provavelmente Jesse nunca saiba sobre Jane. Walt nunca confessaria, talvez sequer se considere culpado pelo que aconteceu. Mas era questão de tempo para que os outros segredos que Mr. White esconde de seu pupilo viessem à tona. A morte de Mike era algo tão aparente, que não precisa muito esforço de Jesse (e também Saul) pra descobrir. Mas Mike fazia parte do jogo, não é o suficiente pra que Jesse se vire contra Walt. Já o envenenamento de Brock é outra coisa.


É uma revelação importante, que só poderia vir nesta reta final, já que rompe em definitivo a relação entre os dois, que por muito tempo foi a alma da série. O momento é perfeito porque Jesse, como personagem, não parecia ir a lugar algum. A ameaça de que poderia colaborar com Hank mostrou-se infundada, e com razão, pois se há alguém que Jesse odeia mais que Walt é o cara que lhe espancou. Nem se pode falar em ódio, aliás, por seu professor: mesmo se sentindo manipulado, tudo o que ele quer é apenas que Heisenberg peça ajuda, faça-o se sentir valorizado. E quando sua participação na série coerentemente parece se encerrar, vem a iluminação.


Momento ideal definido, a coisa complica um pouco em relação ao “como descobrir”. Eu não me incomodo com a conveniência do insight de Jesse – insights são insights, e apesar da impressão de surgir do nada, há um bom número de razões pra ele ligar os pontos. E admiro que a sequência não venha acompanhada de um flashback (o piloto de “The Wire” usa esse recurso, contra a vontade de seu criador, apenas porque os produtores da HBO temiam que as pessoas não entendessem) ou de cenas no “previously” que nos lembrassem da ricina, o que mataria com a tensão e surpresa. Mas confesso que no momento em que via me peguei pensando na rapidez com que tudo acontece, mais uma vez uma exigência da imposição de duas mini-temporadas de oito episódios. Pensando depois a respeito, acredito que os roteiristas se saíram muito bem com janela tão curta.




E é curioso que uma revelação dessas venha em um episódio como “Confessions”, cheio de mentiras, meias verdades, verdades ditas com segundas intenções e mesmo ambiguidade. A tarantinesca sequência que abre o episódio, por exemplo: Todd narra perfeitamente o roubo do trem, mas em algum momento comenta sobre a morte da criança? Ou seria uma bizarra coincidência que um de seus amigos fale de “criança de bicicleta usando capacete”? E o abraço que Walt dá em Jesse, o quanto há de carinho, preocupação e manipulação? Jesse não está errado sobre suas intenções, o que não significa que também não é o melhor para ele. O mesmo vale para a cena com Walter Jr. O pai usa seu câncer para manipular o filho, mas com verdade e preocupação sincera.


E é essa manipulação do discurso, entre verdades e mentiras, que faz a confissão gravada de Walt algo tão brilhante: não interessa a falta de provas, é muito mais fácil pra qualquer pessoa acreditar que Hank seja culpado, do que imaginar que o pacato Walter White seja o verdadeiro criminoso – e pensar nisso nos faz lembrar mais uma vez de como sua trajetória na série é impressionante. Não faltam verdades no que ele diz. Policiais podem testemunhar que Hank realmente levou o cunhado para uma apreensão (no piloto da série) ou que Walt Jr. e Holly ficaram com os tios por três meses. Além, claro, da vulnerabilidade de uma pessoa com câncer, das despesas médicas, etc.


É incrível que uma sequência como esta, que já entra pra coleção de momentos inesquecíveis da série, venha ainda na metade do episódio que se volta depois para Jesse e nos dá mais material pra taquicardia e tensão. Conseguir esse tipo de sensação com uma trama já não é pra qualquer episódio de qualquer série; conseguir com duas é pra colocar “Confessions” na lista das melhores coisas que a TV nos deu nos últimos anos.




“Breaking Bad” já tem vasto material que serve de lição para roteiristas de TV, mas se os cinco episódios que faltam mantiverem a qualidade, há mais algumas aulas preciosas desta segunda metade da 5ª temporada, em relação ao tempo narrativo, como lidar com consequências e dramas mais intensos que levam ao final de uma série, e em especial com quantidade de episódios inferior ao que seria necessário, considerando que a velocidade dos acontecimentos é maior do que o habitual do programa, mas com a excelência e qualidade que lhe é característica.


Muito mais a dizer sobre o episódio, que não é só excelente pelas três ou quatro sequências de alta voltagem. Comentando em tópicos:



- O Guilherme Marques me corrigiu no twitter: “Buried” não foi a despedida de Michelle MacLaren na direção da série. Será no episódio 13, “To’hajiilee”, nome do local onde Walt enterrou seu dinheiro;


- Assim como em “Cornered”, quando uma câmera trêmula na ponta de uma pá acompanha Jesse, Michael Slovis não resiste e faz o mesmo com a gasolina que o personagem carrega. Não é o tipo de coisa que gosto, mas não dá pra reclamar do trabalho do diretor: a reunião em família com um humor bem dosado na presença do garçom, a confissão (os enquadramentos de Marie e Hank em frente à tv, a alternância de closes entre Walt e Hank), o desabafo de Jesse no deserto, a luz e sombras sobre os personagens;


- O momento na série é de lidar com as relações entre os principais personagens após segredos revelados, mas sabemos que a produção da metanfetamina trará problemas ainda maiores. Gosto das pequenas sequências preparando terreno sem desviar a atenção do que é principal agora: a preocupação de Lydia em um episódio, um massacre em outro, novo laboratório rumo a New Mexico abrindo este;


- Não é por acaso que temos uma cena de Todd deixando mensagem para Walt no mesmo episódio em que temos Walter Jr., e o fim da relação paterna entre Mr. White e Jesse. Acredito que ao final da série teremos uma ideia bem definida sobre o significado de cada um desses filhos na trajetória de Walt;


- Ideia melhor no futuro talvez teremos também em relação às roupas de Walt, Skyler, Marie e Hank na cena em que se encontram. Porque também não é por acaso que o habitual roxo de Marie está no marido, enquanto ela se veste toda de preto. E por que diabos os criminosos da mesa é que estão de roupas claras? Se fosse pra especular algo, eu diria que um dos Schrader não sobrevive no final...


- Heisenberg é inteligente, perigoso e faz coisas terríveis. Mas tem que conviver com Walter White, que continua patético, às vezes. A tentativa de maquiar o machucado, a lição que recebe de Saul sobre como procurar por grampos mais facilmente, e o desespero no final, contido segundos antes de abrir a porta, mas não o suficiente pra mentir bem pra Skyler – que só não percebe algo de errado por não estar em condições;


- Skyler, aliás, aparece pouco, mas o suficiente pra vermos que sua decisão no episódio anterior não é algo que simplesmente se aceita. Mal posso esperar por sua reação quando souber que o que ela mais temia – o perigo chegar à sua casa – aconteceu;


- Se Walt é aquele que bate, Jesse é o que arrebenta a porta. O final é excelente não só pela expectativa que gera com a continuação da cena, mas por se relacionar com o flashforward: imediatamente pensamos que Jesse é o motivo de encontrarmos a casa abandonada meses depois, inclusive sendo a pessoa mais provável para pichar de amarelo o nome HEISENBERG. Mas revendo o início de “Blood Money” dá pra perceber que não há sinais de que a casa tenha pegado fogo e que, se não houver erro de continuidade, ao menos por uma reforma ela passará:


 



- Aliás, a primeiríssima cena do episódio é de um isqueiro sendo aceso; a última é de gasolina sendo jogada em nossos olhos. Felizmente, não é o inverso;


- Três episódios neste retorno, e todos começaram (descontando a introdução) exatamente de onde o anterior terminou. Com o próximo provavelmente acontecendo o mesmo, será metade desta segunda parte se passando num curto espaço de tempo, quando sabemos que o fim só acontecerá vários meses depois.


- Cenas marcantes de “Breaking Bad” deixam na memória até nomes de ruas. Quando Saul diz que Jesse precisa ir pra esquina da Juan Tabo com Osuna, gritei (no pensamento): “Juan Tabo! A avenida onde Gale morava!” Fanboys...


- Pra terminar... Hello Kitty? Sério?





Hélio Flores



[Breaking Bad] 5x12 - Rabid Dog

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“- So he has never hurt anybody?” – Skyler
“- No.” – Walt


“There is no problem, no matter how difficult, or painful or seemingly unsolvable… that violence won't make worse.” – Dave





“Rabid Dog” é o segundo episódio de “Breaking Bad” que faz no título referência a um metafórico cachorro. Na quarta temporada,“Problem Dog” se referia a Gale, modo que Jesse encontrou pra desabafar nos Narcóticos Anônimos. O cão que ele precisou abater não estava sofrendo nem tinha mordido alguém, era apenas “problemático”. Agora o próprio Jesse se torna o problema, um cachorro doente, com raiva, segundo Saul. A grande sacada é que todos querem, ou não se importam, que o cão raivoso seja abatido. Sem meias medidas. Exceto por Walt.


Este é um típico episódio de transição. Aquele momento em que as peças precisam se mover para que coisas maiores aconteçam. O que é interessante, porque vai contra a estrutura “pé no acelerador” que temos visto nesta temporada e nos deixa com apenas quatro episódios para o fim. Haja adrenalina.


É o tipo de coisa que mais uma vez mostra a preocupação que Gilligan tem em se manter fiel à coerência e evolução dos seus personagens. Não faria sentido Jesse colaborar com Hank naquele momento do interrogatório no episódio anterior, assim como Walt nunca teria cogitado matar seu pupilo – mais uma vez Saul faz uma insinuação divertida sobre o que Heisenberg tem que fazer, e sua reação é tão enfática quanto na possibilidade de matar Hank. 


Ou seja, os eventos a partir do próximo episódio poderiam ter surgido já com o que aconteceu no episódio passado, mas cá está “Rabid Dog” pra dar consistência, verossimilhança e, de quebra, comentar e representar a mudança trágica desses personagens, causada por Walter White. Mudança que é retratada com alguma ironia: se é Walt a quem acompanhamos tomar as decisões mais terríveis na série, aqui ele é o personagem mais simpático (exceto pelos periféricos Walter Jr. e Gomez), ao presenciarmos o lado nada agradável de sua família.


Começo por Marie, que nunca teve muito o que fazer na série, mas que vem com grandes momentos nos últimos episódios. Se antes de começar a temporada me dissessem que na reta final teríamos cenas da personagem fazendo terapia, ia achar uma grande perda de tempo. Mas lá está Marie falando sobre os melhores venenos pesquisados na internet (ela teria lido sobre a ricina?), e logo depois indo esquentar a lasanha quando soube que o marginal drogado no quarto de hóspedes vai ajudar a acabar com seu cunhado. Se todas as peças importam em “Breaking Bad”, eu não sei se até o final dessa história Marie estará certa sobre não machucar ninguém (e ela definitivamente trocou o roxo pelo preto).


Já Hank mostra seu lado mais desprezível ao sugerir que não se importa que Jesse morra, caso isso permita a prisão de Walt. Mas é algo tão desprezível mesmo? Desde a primeira temporada que conhecemos a atitude de Hank em relação a viciados e traficantes. Um marginal morrer pelo bem maior não seria nada demais. É verdade que Gomez, também policial, mostra alguma preocupação. Mas não é ele quem está com o orgulho ferido. Jesse enganou, roubou, matou, fabricou e vendeu drogas com a ajuda do cunhado de Hank. Por que ele se importaria?


O mesmo vale para Skyler. Ela, que não viu outra escolha a não ser ficar ao lado do marido, talvez tenha vendido a alma ao diabo em definitivo quando participou da confissão gravada de Walt, como mostra sua perturbação no episódio anterior. Sugerir que Jesse deva ser morto soa lamentavelmente até previsível. Afinal, depois de tudo, o que é mais um? Será curioso acompanhar o que fãs e detratores da personagem têm a dizer sobre isto, porque no fim das contas trata-se de mais uma reação de Skyler pelo seu ponto de vista que é bem diferente do nosso: sabemos tanto sobre Jesse, tudo que ele fez e sofreu, que talvez alguns esqueçam que pra ela trata-se apenas de um viciado em drogas que arrombou sua casa e quase a incendiou, colocando a vida de seus filhos em risco – e considerar a possibilidade de Jesse voltar atrás e continuar com o plano soa absolutamente natural.


 A sugestão de Skyler certamente faz mais efeito do que quando feita por Saul, mas Walt só toma a decisão após a ameaça final de Jesse. Aqui está o momento mais questionável do episódio, quando Jesse, no local de encontro, se assusta com a presença de um homem que, no fim, é apenas alguém esperando pela filha pequena. Aparentemente, maquinação das mais vagabundas, que serve também para reforçar que Walt realmente estava sozinho. Mas é possível ver algum propósito: a sequência poderia ser facilmente resolvida de outra forma (como Jesse se drogar minutos antes e sua paranoia ser o suficiente pra espantá-lo), mas os roteiristas gostam de situações que flertam com o acaso. Não à toa o comentário anterior de Jesse sobre Walt ter, além de inteligência, sorte, ou que o homem que o assusta seja parecido com Mike, e que esteja esperando uma garotinha parecida com sua neta. Certamente incomoda muitos fãs quando o “absurdo” está presente numa trama tão calcada na verossimilhança. No meu caso, só não gosto por não ser mais criativo.


O que importa é que isso leva a uma polarização total, em que os oponentes têm planos bem definidos que só trarão ainda mais desgraça para todos os envolvidos. A diferença é que não sabemos qual o próximo passo de Jesse e sua insinuação é um desses golpes de gênio dos roteiristas, pra nos deixar especulando pelo resto da semana. O que significa atacar Walt onde ele realmente vive? Podemos descartar a família (pois assim não teria a ajuda de Hank), o dinheiro (pois Jesse não sabe onde está escondido) e o império da metanfetamina (pois Walt se aposentou). Sobrou o ego de Walter White, e aí me pergunto: e se Hank vem a público dizer que prendeu Jesse Pinkman, também conhecido como o perigoso e brilhante Heisenberg? Ok, viajei demais, há muitos furos nessa ideia, mas imaginem como Walt reagiria...


Fato é que dá pra se referir à série como Jesse se refere a Walt: qualquer coisa que a gente pensa que vai acontecer, acontecerá exatamente o contrário.




Outros comentários:


- Sam Catlin, que faz parte do time de roteiristas da série, não só escreve como estreia na direção neste episódio. É um trabalho discreto, usando alguns dos padrões já bem conhecidos, mas eficientes (ressalto menos a câmera no gelo e no carpete, mais a bela cena na piscina com Walt Jr.); 


- Puxando da memória, acho que é a primeira vez que mudam a ordem cronológica de um episódio, o que felizmente não é uma coisa acessória e chamativa, mas sim para uma melhor narrativa: não só injeta suspense na chegada de Walt em casa (numa mistura de humor, com seu jeito assustado que nada lembra Heisenberg), como nos coloca ao seu lado na crença de que Jesse teria mudado de ideia (ou, no mínimo, ficar com este estranhamento por algum tempo, e até condenar os roteiristas por não ir adiante com a promessa que encerrou o episódio anterior);


- Como imaginado, Jesse nada tem a ver, ao menos por enquanto, com o que haverá com a casa de Walt no futuro próximo. Porta e batente devidamente reformados;


- Incrível a falta de pressa deste episódio. Outras séries não “perderiam” tanto tempo com a preocupação de Walt com a gasolina. Sua tentativa de mentir pra esposa e filho é interessante, porque sabemos o quanto ele mente bem, e fico na dúvida se toda sua atrapalhada história é pela incapacidade de improvisar no momento de tensão, ou se era proposital para que percebessem a mentira apenas pra admitir depois que tinha a ver com mal estar causado pelo câncer e gerar alguma simpatia;


- “O garoto não vai estar no clima pra uma discussão sobre as virtudes do envenenamento infantil”. Better Love Saul;


- Aliás, o humor é sempre extraordinário. A tensão e o drama se acumulam, mas os momentos engraçados estão presentes, nunca diluem a seriedade do momento e às vezes dizem muito sobre os personagens. O desdém de Walt quando Kuby corrige o nome de Badger (e não Beaver) é impagável;


- Gomez agora sabe sobre Heisenberg. É a ajuda lógica que Hank poderia pedir, e acho que acaba com as preocupações de quem pensa não fazer sentido ele não informar à polícia o que sabe. É um meio-termo justo;


- Pelo fato de Hank chama-lo de assassino, imagino que Jesse não deixou nada de fora de sua confissão, inclusive falando sobre o que houve com Gale. O corte no momento em que Jesse diz que Walt foi seu professor é muito bom, mas ficou um desejo enorme de ver as reações de Hank e Gomez com muitas das histórias que ouviram ali;


- Confesso que cheguei a pensar que Hank estava estragando tudo pro seu lado, ao deixar bem evidente pra Jesse que não se tratava apenas de manipulação, mas que Walt realmente se preocupava com ele. O que também nos deu mais uma ótima frase: “Yeah, Mr. White is gay for me”.







Hélio Flores

[Breaking Bad] 5x13 - To'hajiilee

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“Walter White, you have the right to remain silent. Anything you say can and will be used against you in a court of law. You have the right to speak to an attorney and have an attorney present during any questioning. If you cannot afford an attorney, one will be provided for you at the government's expense. Do you understand these rights as I have just recited them to you?” – Hank Schrader




Eu poderia começar o post com outras tantas citações marcantes, como algum trecho da conversa entre Walt e Jesse pelo telefone (o desabafo irritado de Walt, a provocação de Jesse – “Fire in the hole, bitch! Oh, nice orange flames!”), ou a ênfase do Walt em dizer que Jesse não é um rato delator, ou ainda a outra importante conversa telefônica do episódio, entre Hank e Marie.


Mas eu tinha que deixar apenas esta aí em cima, o momento que a gente não sabia se aconteceria, mas suspeitava que pudesse ser um final possível para a série. Um momento preparado com todo o tempo e o peso necessários. A demora pra Walt se entregar, o tempo que leva pra ser algemado, a breve discussão com Jesse, o telefonema pra Marie. Tudo apropriadamente longo, parecia mesmo o fim. E para os personagens, era mesmo. Um fim com a ironia que já conhecemos, encerrando onde tudo começou (e os dois primeiros planos do último bloco do episódio, aos 36min, são semelhantes a dois dos três primeiros planos do piloto da série).


Mas como tudo em “Breaking Bad” tem dois ou mais sentidos, a duração da sequência também se justifica pela conveniência, pois é preciso de tempo pra “cavalaria” chegar. Não me canso de admirar o que os roteiristas fazem: é conveniente, mas sabemos o quanto Hank está aliviado e orgulhoso, o quanto é importante para ambos, ele e Marie, aquele telefonema; e porque não há pressa nenhuma em sair dali, pois Jesse se assegurou de manter Walt ocupado na linha até chegar no meio do nada, onde não poderia pedir ajuda (pra qual endereço?). Hank só não contava com aquele bilhete de loteria, o bilhete de Chekhov.


E aí os roteiristas, com a preciosa ajuda da diretora Michelle MacLaren, capricham no sadismo. Imagino que a maioria das pessoas esperou pelo pior quando Hank soltou um “eu te amo” ao telefone. Imaginei um tiro na cabeça a qualquer momento, um desses choques que nos habituamos a ver em tantas séries e filmes. Mas eis que os carros surgem lentamente, a trilha sonora crescente, o desespero de Walt, tudo prolongando nosso sofrimento e aumentando a taquicardia. Claro, talvez o choque de uma morte inesperada não veio porque não haja a intenção de matar Hank, mas não deixa de ser uma solução muito mais eficiente que deveria servir de lição pra tanta gente da área. Hitchcock manda lembranças.


É engraçado, aliás, ter lido tantas pessoas com a mesma opinião de que se Hank não morre, é covardia da série. Mas me pareceu que terminar um episódio no meio de um tiroteio é dizer “preparem-se porque há uma solução para o impossível”. E nesta solução, o que mais me deixa curioso é o destino de Jesse, porque a vida de Hank interessa a Walt, é negociável. Mas Pinkman certamente deixou de ter uma morte rápida e indolor, para uma lenta e extremamente dolorosa nos planos de Heisenberg.


Essa decepção de Walt com Jesse é o fim definitivo de qualquer laço afetivo que o primeiro poderia ter pelo segundo. Sim, Walt já havia encomendado sua morte, mas havia uma racionalização por trás, de autodefesa, da impossibilidade de parar seu pupilo por qualquer outro meio. Aliar-se à polícia é tanto um golpe para o pai Mr. White quanto para Heisenberg – entre criminosos, poucas coisas são tão detestáveis quanto o “dedo-duro”, algo que já vimos na figura de Hector Salamanca, tanto na sua recusa em colaborar com Hank na 2ª temporada como ao fingir colaboração na 4ª temporada para atrair a fúria de Gus.


A mudança na dinâmica e relação entre os personagens também é admirável nessa reta final. Vince Gilligan disse uma vez que chegaria o momento que não sentiríamos mais nenhuma simpatia pelo protagonista, mas felizmente ainda não chegamos a este ponto. É importante para uma experiência mais complexa do espectador com a série (ficamos felizes por Hank e lamentamos por Walt; queremos que Walt saia dessa, mas não queremos que Hank morra; não gostamos que Jesse seja um delator, mas entendemos seu lado), mas não só. Transformar Walter White no demônio (como Marie e Jesse se referiram a ele nesta temporada) exigiria uma perda total de valores, algo sem coerência alguma.


Não significa que houve uma suavização do personagem. Todos os momentos “honrados” de Walt nos últimos episódios se tratam apenas da preservação da família. Algo tão importante que ele prefere se entregar e perder todo o dinheiro a fazer algum mal a um ente querido, ainda que este seja “apenas” o marido de sua cunhada (o legal é relembrar toda a série e perceber que desde sempre os casais White e Schrader são muito unidos e particularmente me lembro de “4 Days Out”, quando todos entram com Walt no consultório para receberem juntos a notícia sobre seus exames). E não é por acaso que neste mesmo episódio temos a volta de Andrea e Brock, que serve para nos lembrar de como nosso protagonista também sabe ser desprezível. Aliás, é o tipo de situação que em termos narrativos poderia ser considerada gratuita (já que não leva a lugar algum), mas é tanto uma ação óbvia de Walt para aquele momento, quanto uma forma de enriquecer o personagem.



Mais algumas coisas:


- Quando achava que a despedida de MacLaren era com “Buried”, eu disse que era apropriado ser dela a direção de um episódio em que brilham as mulheres. E o seu adeus na verdade é justo com muita tensão, adrenalina e tiroteio. Veremos mais de seu trabalho na próxima temporada de Game of Thrones;


- Eu já havia dito que é uma pena não termos chance de conhecer Lydia um pouco mais e o mesmo vale pra Todd. Pouco tempo de cena e sempre conseguem deixa-lo assustador. Seu jeito de mostrar interesse em Lydia, a falta de reação ao saber quem é o alvo de Walt, mantendo o olhar nela enquanto bebe do chá próximo à marca de batom, além daquela luz vermelha sobre ele, quando está devidamente enquadrado acima do ombro de Walt. É o tipo de coisa que faz pensar se ele ainda terá uma participação fundamental ou se é apenas a excelência da série em construir personagens periféricos;


- Não sei se há uma boa vontade de fã ao aceitar que todo o plano de Hank envolvendo duas fotos montadas funcione tão bem, ou se realmente há problemas em como Huell e Walt são enganados. Como defesa, acho que Hank desarma Huell ao falar de Brock, enquanto Walt realmente nunca soube lidar com o inesperado sem ter tempo necessário para pensar a respeito. De qualquer forma, nice poker face, Huell!


- Betsy Brandt aproveitando cada momento que tem nestes últimos episódios. Grande atuação com Dean Norris (mesmo sem dividir a cena). Claro que só pude perceber a emoção dos dois quando revi o episódio, já que naquele momento do episódio estava difícil até pra respirar...


- Aaron Paul não teve muito o que fazer, além de reagir, mas que impagável sua expressão de medo, alívio, incredulidade e sei lá mais o que quando Walt está sendo preso. Já sua breve ânsia de vômito com o “cérebro” e sangue que Hank despeja no chão é engraçada pra alguém que já dissolveu mais de um cadáver;


- Obviamente veremos muito mais brilhantismo de Bryan Cranston nos próximos três episódios, mas os últimos 20 minutos de “To’hajiilee” têm material suficiente pra ganhar qualquer prêmio de qualquer ano que concorresse. Desespero, irritação, perplexidade, medo, surpresa, ódio, impotência e a combinação de um ou mais desses sentimentos, por mais de uma vez.


- Toda semana há muita discussão sobre a existência do flashforward ser algo bom ou ruim. Só poderemos afirmar com certeza após o final, mas ao contrário de algumas pessoas, tenho achado bastante positiva, principalmente por se passar meses após o que estamos vendo e a cada fim de episódio conseguimos especular muito pouco sobre a relação que tem com este futuro próximo. No caso aqui, é provável que o dinheiro continue onde está. Ou de que forma Walt poderia comprar uma arma tão pesada?







Hélio Flores

[Breaking Bad] 5x14 - Ozymandias

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Pelo segundo episódio seguido, “Breaking Bad” nos dá o que poderia ser o final da série. Walter White preso pelo cunhado ou fugindo em liberdade deixando apenas dor para a família sempre foram possibilidades para o fim e, da forma como executadas em “To’hajiilee”e “Ozymandias”, seriam plenamente satisfatórias. É fascinante, então, como os roteiristas conseguem com isto aumentar expectativas (já elevadas) para o destino final do protagonista: agora seria possível algum tipo de redenção e até mesmo um final feliz, ou a morte é inevitável como a imagem abaixo sugere?






E ainda deixam em aberto algumas questões do flashforward: agora sabemos porque haverá um salto no tempo (após seis episódios que se iniciam onde o anterior parou, com todos os acontecimentos vistos passando-se em poucos dias), porque Walt está disfarçado e porque a vizinha Carol se assusta tanto com sua presença; mas não fica claro qual será seu plano e se as armas em seu porta-malas são mesmo para vingar a morte de Hank e a perda de seu dinheiro. Mas pelo menos derruba de uma vez a “teoria macabra” que fãs não se cansam de compartilhar...


O que “Ozymandias” faz é mostrar que a prisão é um castigo muito pequeno para a quantidade de pecados cometidos por Walt ao longo dessas cinco temporadas. São 47 minutos quase insuportáveis de se ver, com um impressionante número de coisas terríveis acontecendo e sendo ditas por e para cada um dos principais personagens. E não se trata de simples sadismo (como também o protagonista não é um monstro, anti-herói ou sociopata), pois tudo de cruel e chocante visto serve perfeitamente à lógica interna, do que Vince Gilligan sempre pareceu deixar claro como proposta: de que toda ação tem uma reação, que escolhas erradas levarão a escolhas ainda piores, e que as consequências vêm em forma de “ironia cármica”. A maior evidência disso é o acidente de avião que encerra a segunda temporada, punição vinda diretamente do céu que serviria perfeitamente como fim da jornada de Walt (esse “Lucifer-ex-machina”, como bem definiu Gilligan, foi criado numa época em que não havia garantias de uma terceira temporada).


Walt atribui culpa a Jesse pela morte de Hank, e realmente seu cunhado estava ali em To’hajiilee porque Pinkman decidiu colaborar com ele, colaboração que só veio porque descobriu que Walt envenenou Brock, algo que precisava ser feito para que Jesse estivesse ao seu lado contra Gus, que precisava ser morto por ter ameaçado a família de Walt, ameaça feita porque Walt estava se tornando imprevisível e paranoico... e podemos continuar até a decisão do protagonista em fabricar metanfetamina pela primeira vez. Uma cadeia de eventos que só resulta em catástrofe, onde o ponto mais baixo é sempre o episódio mais recente. Seria possível, então, que os dois episódios restantes superariam o que vemos em “Ozymandias”? Porque não foi pouca coisa:




 
“The reaction has begun.” – Walt



Abertura e tiroteio– Confesso não ser dos maiores fãs do tipo de gancho deixado pelo episódio passado, interrompendo um clímax para maior efeito e choque, algo já visto em “Confessions” com Jesse e a gasolina; mas felizmente eles não retomam de onde a ação parou, já nos revelando o que houve com Gomez, e a abertura (ou “cold open” no jargão das séries) é algo realmente brilhante, ao retornar para o início de tudo, situando o local do tiroteio também como lugar da primeira mentira dita a Skyler, reforçando a ideia de cadeia de eventos que culminam no momento atual, incluindo a peculiar ironia simbolizada pela escolha que Skyler faz dos objetos enquadrados (agora, o telefone; mais tarde, a faca). A sequência também é carregada de tristeza na imagem de Jesse, ao fundo, brincando distraidamente.




 
“My name is ASAC Schrader. And you can go fuck yourself.” – Hank



Morte de Hank– Como havia comentado antes, realmente achava que uma solução genial salvaria Hank. Como matar um personagem tão importante no início de um episódio? É verdade que isso ocorre em outra série brilhante (não direi qual pra não estragar nada pra quem não viu), mas fui enganado pelo hábito de “Breaking Bad” em tomar rumos inesperados e nunca nos dar o que achamos que irá acontecer. Aqui acontece o que tinha que acontecer, com um pouco mais de crueldade do que precisava (Walt conseguindo a atenção de Jack por algumas vezes, adiando o inevitável; Rian Johnson filmando como se deuses estivessem decidindo o destino de um pequeno mortal), mas dando alguma dignidade ao personagem em seus últimos momentos. E apesar de sua morte ser um final mais impactante pra “To’hajiilee”, só poderia vir agora, como a primeira de uma sequência de coisas desagradáveis – e só após a seguinte que teremos os créditos iniciais, ou seja, com 20 minutos de episódio, algo raro (se não inédito) na TV.





“I watched her overdose and choke to death.I could have saved her. But I didn’t.” – Walt



Jesse e Jane– Na época da exibição de “Fly”, único episódio em que Walt esteve perto de dizer a Jesse a verdade sobre Jane e também dirigido por Johnson, escrevi que este seria um segredo que poderia nunca vir à tona. Não só pela dificuldade de ser revelado, já que apenas Walt sabia sobre ele, mas também porque não via como algo que precisava ser explorado. Mas “Breaking Bad” não é como “The Sopranos” (série que tenta ser tão ampla quanto a vida pode ser e segredos permanecem assim para sempre, como algo forte envolvendo a personagem da Lorraine Bracco) e no seu conto de horror moral tudo importa e volta pra nos assombrar. E que incrível deixar esta revelação ser o golpe mais cruel de Walter White. Comentei no texto anterior que certamente ele iria querer uma morte lenta e dolorosa pra Jesse, e isso conseguiu ser muito pior. Sobre o flashforward também não sabemos se Walt tem alguma ideia do que aconteceu com Jesse, mas o encontro entre eles é inevitável e mal posso esperar pelo tipo de resolução que os roteiristas prepararam pra este embate final.




  
“Times are getting hard boys
Money's getting scarce
Times don't get no better boys
Gonna leave this place.”  
Take My True Love By The Hand, by The Limeliters.



Sísifo– É preciso um pouco de contorcionismo filosófico pra encaixar o Mito de Sísifo (aquele condenado a rolar uma pedra até o topo da montanha, só pra que ela caísse e ele voltasse para rolá-la novamente, dia após dia) nesta história, mas foi do que lembrei quando vi a sequência da imagem acima. Na pior das hipóteses, Walt também é um trágico e condenado personagem prestes a um vazio existencial tão grande quanto o deserto que o cerca. Não convence, né? Então fiquemos com o folk da banda The Limeliters, que acompanha Walt em sua jornada por transporte, e a divertida sacada de colocar em cena a calça do piloto da série.





 
“If this is true, then how could you keep this a secret?” – Walter Jr.
“I'll be asking myself that for the rest of my life.” – Skyler



Flynn– A única pessoa que ainda não sabia o que estava acontecendo, imagino que Flynn nunca mais irá querer ser chamado de Walt Jr... A revelação, que também sabíamos que chegaria um dia, talvez tenha sido menos impactante do que esperava, muito provavelmente pela correria do formato de oito episódios, mas RJ Mitte aproveita cada segundo do tempo que lhe é dado. Como a sugestão de Marie em contar tudo para o sobrinho veio em montagem paralela ao retorno de Walt para a cidade, achei que haveria uma interrupção. Mas a descoberta neste momento resulta no diálogo citado acima, importante para a postura tomada por Skyler em casa. E, claro, para que a dissolução da família White se torne completa. Ou quase...





 “What the hell is wrong with you! We’re a family!” - Walt



Skyler e Holly– É realmente fantástico que no meio de tanto drama, suspense e tensão, o maior deles seja justamente uma briga doméstica. Skyler faz jus às suas palavras da quarta temporada (“alguém tem que proteger a família do homem que protege afamília”), embora não consiga ao final ser tão rápida como em “Buried” quando Marie tentou fazer o mesmo que o cunhado. Li muita gente acreditando que Holly é levada como parte do plano que Walt executa no fim, mas acho que fica claro na cena “Mamama”, que nada mais foi do que o impulso de um homem que precisa estar no controle de tudo, num misto de tentativa de salvar alguém da família e recomeçar com ela do zero, especialmente alguém que não sabe os segredos mais sujos do pai.





 “How dare you?” – Walt
“I’m sorry.” – Skyler



O telefonema– Também vi muita discussão sobre o quanto de sinceridade e dissimulação estaria por trás do telefonema de Walt. É óbvio que o objetivo principal é isentar Skyler de qualquer atividade criminosa e assumir a culpa por tudo o que aconteceu. Mas há uma ambiguidade maravilhosa, em que ressentimentos são colocados pra fora e um sacrifício é feito pela família. Não é nenhum tipo de redenção ou tentativa de enfatizar um lado bom do protagonista. Ao contrário: não há mais nada de bom a oferecer, só resta se tornar Heisenberg para que danos sejam minimizados. Anna Gunn está sensacional (quando pede desculpas, sabemos imediatamente que ela entendeu o objetivo de Walt), mas Bryan Cranston mais uma vez se supera, ao viver Walter White e Heisenberg ao mesmo tempo. É comovente, e toda a emoção que os atores colocam em cena tem efeito mais devastador porque parece que a série foi feita para chegar àquele momento.


E também porque faz uma bela rima com a abertura do episódio. Se tudo começa com uma mentira sobre chegar tarde em casa, agora Walt é apenas vago com Skyler, quando ela pede pra que ele volte: “Ainda tenho coisas parar fazer”.


Só nos resta aguardar roendo as unhas.
 








Hélio Flores

[Emmy Awards 2013] Palpites

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Daqui a pouco tem a premiação do Emmy e aqui vão palpites e comentários sobre o que pode acontecer.

Não é fácil prever quem serão os vencedores do Emmy. Ao contrário do Oscar, que a gente sabe quem vai vencer com meses de antecedência (na melhor das hipóteses, há algum mistério quando o favoritismo é dividido entre dois concorrentes), o imprevisível sempre acontece. Todo ano tem pelo menos duas ou três grandes surpresas. E basta procurar pelas previsões de críticos e especialistas pra ver que não há consenso em nenhuma categoria.

Isso se deve a vários fatores. Alguns deles:

- O número de votantes é muito grande, algo em torno de 15 mil membros (contra 6 mil do Oscar, por exemplo), o que pode pulverizar preferências;

- Os votantes não assistem a muitas séries: parece estranho, mas os membros são pessoas que trabalham na indústria da TV e é natural que não tenham tempo para ver tudo, ainda mais com o número cada vez maior de programas. Não é como em associações de críticos ou o Globo de Ouro, onde ver séries faz parte do trabalho diário dos votantes;

- Nas categorias de atuação, os candidatos escolhem um episódio da temporada pela qual concorre, e seu trabalho será avaliado por esta submissão. Por um lado, isso faz ignorar atuações mais sutis e privilegiar aquelas que concentram em apenas um episódio algo mais marcante. Por outro, resolve o problema de um trabalho ser menos visto que os demais (e, portanto, prejudicado), já que o votante pode até não ver a série em questão, mas verá o episódio escolhido pelo ator. A submissão também vale na categoria “Melhor Série”, com os produtores formando três pares de episódios e cada par sendo enviado aleatoriamente para os votantes.

E, claro, há tantos outros motivos, como campanha, popularidade, histórico do concorrente e as idiossincrasias que todo grupo tem (o Emmy adora um grande nome que vem do cinema, por exemplo).

Dito isto, vamos aos comentários. Lembrando que os prêmios técnicos e de programas como animação, variedades, etc., além das categorias de Ator/Atriz Convidado(a), foram entregues no último domingo. Os vencedores podem ser vistos aqui (é preciso marcar “Display Only Winners”).

Os indicados estão listados em ordem de minha preferência. O número 1, obviamente, é o que teria meu voto. Os que não tiverem numeração não foram vistos.


DRAMA

Melhor Série

1.    Mad Men
2.    Breaking Bad
3.    Game of Thrones
4.    Homeland
5.    Downton Abbey
6.    House of Cards

Algo muito comum no Emmy: se você deixa de vencer, dificilmente terá outra chance. “Mad Men” perdeu a invencibilidade em 2012, após quatro anos reinando na categoria, então seria surpreendente uma vitória aqui. Quem sabe em seu último ano (agora adiado para 2015)... Resta saber se a vencedora atual, “Homeland”, consegue manter o posto. Se parece óbvio que a série teve uma queda considerável na segunda temporada, não é tanto assim para o Emmy que lhe deu ainda mais indicações que ano passado. Mas se número de indicações significa algo (nem sempre significa), “Game of Thrones” e “Breaking Bad” seriam as favoritas. Também foram as séries que causaram mais “frisson”, embora a produção da HBO sempre tenha contra si o fator “fantasia” (historicamente pouco reconhecido pela Academia). Conseguir apenas dois prêmios entre os dez a que concorria no domingo passado também não ajuda. Já “Breaking Bad” tanto pode ser beneficiada pelo excelente retorno justamente durante o período de votação, como pode gerar um sentimento de que terá sua vez no ano que vem (até o fim da votação, os membros da Academia viram até o terceiro episódio, “Confessions”). “Downton Abbey” é querida o suficiente para permanecer indicada pelo tempo que durar, mas não acredito que recupere a força que teve no primeiro ano, enquanto “House of Cards” tem o pedigree necessário para vencer (e muitos têm apostado nela), mas talvez o feito de receber tantas indicações no seu primeiro ano como concorrente já seja o suficiente para a Netflix. Parece ser uma disputa entre três (“Homeland”, “Breaking Bad” e “House of Cards”), mas continuo com o mesmo palpite desde antes de saírem as indicações.

Vai ganhar: Breaking Bad


Melhor Ator
1.    Jon Hamm, Mad Men (Episódio: “In Care Of”)
2.    Bryan Cranston, Breaking Bad (“Say My Name”)
3.    Jeff Daniels, The Newsroom (“We Just Decided To”)
4.    Hugh Bonneville, Downton Abbey (“Episode 3.05”)
5.    Kevin Spacey, House of Cards (“Chapter 1”)
6.    Damian Lewis, Homeland (“Q&A”)

Meu voto em Hamm se justificaria apenas pelo fato de ele nunca ter vencido. E infelizmente é possível que nunca vença. Eu até gosto mais da Emmy tape de Cranston. A escolha de Hamm pelo season finale é uma óbvia (com o belo discurso “Hershey’s”), mas acho que seu grande momento na temporada foi em “Favors”, quando o choque de um flagrante e a gravidade de todas as consequências estão perfeitamente ilustradas em um desorientado Don Draper. Mas não importa: é provável que Hamm perca novamente para Lewis, um ator ruim cujo único talento é saber mostrar desespero e nervosismo; foi assim que venceu ano passado e é assim que retorna com seu único grande momento em toda a temporada – o do interrogatório em que divide a cena com Claire Danes. Sua vitória apenas não é certa porque será irresistível para muitos escolher Spacey, vencedor de dois Oscars, destilando na série o cinismo que ele sabe tão bem administrar. Na dúvida entre ambos, deixo o palpite em quem é melhor ator.

Vai ganhar: Kevin Spacey


Melhor Atriz
1.    Elisabeth Moss, Mad Men (Episódio: “The Better Half”)
2.    Claire Danes, Homeland (“Q&A”)
3.    Vera Farmiga, Bates Motel (“First You Dream, Then You Die”)
4.    Robin Wright, House of Cards (“Chapter 10”)
5.    Michelle Dockery, Downton Abbey (“Episode 3.01”)
6.    Kerry Washington, Scandal (“Happy Birthday, Mr. President”)
Connie Britton, Nashville (“Pilot”)

Assim como Hamm, Moss talvez nunca vença. Pior ainda este ano, quando poderá sair duplamente derrotada, já que concorre na categoria de Minisserie/Telefilme por “Top of Lake”. O bom senso diz que a aposta certa é Claire Danes, que vence tudo desde que a série começou. Mas com dois nomes fortes e respeitáveis do cinema na disputa (Farmiga e Wright), esta é uma categoria com boas chances de surpresa. Apesar de me divertir com “Scandal”, não gosto das caras e bocas de Washington, mas entendo perfeitamente o apelo. Com a série sendo a nova sensação de audiência da tv aberta e a possibilidade de uma atriz negra vencer aqui pela primeira vez na história, parece ser a melhor opção ao furacão Danes. A vitória de Dan Bucatinsky como Melhor Ator Convidado é uma prova da boa aceitação da série.

Vai ganhar: Kerry Washington


Melhor Ator Coadjuvante
1.    Aaron Paul, Breaking Bad (“Buyout”)
2.    Jonathan Banks, Breaking Bad (“Say My Name”)
3.    Bobby Cannavale, Boardwalk Empire (“Sunday Best”)
4.    Peter Dinklage, Game of Thrones (“Second Sons”)
5.    Mandy Patinkin, Homeland (“The Choice”)
6.    Jim Carter, Downton Abbey (“Episode 3.06”)

O mesmo argumento que usei pra votar em Jon Hamm poderia ser usado aqui pra votar em Banks, mas a Emmy tape de Paul é irresistível: onde Jesse lida com as consequências do “episódio do trem” e o jantar na casa de Walt, que poderia muito bem lhe dar o prêmio de comédia, caso pudesse concorrer. Por um lado, este episódio, o carisma de Paul e uma possível Emmy tape do ano que vem exibida nos últimos dias de votação (“Confessions”) pode garantir a terceira vitória do ator. Por outro, foi o primeiro em 16 anos a vencer duas vezes nesta categoria, o que significa que votantes gostam de variar. E Banks, Cannavale e Patinkin têm muito a seu favor. Cannavale, talvez, seja o que tem o momento isolado mais intenso (uma assustadora conversa com Jesus Cristo na igreja), mas não consigo parar de pensar na última cena de Patinkin no season finale de “Homeland”, e que muitos viram como grande injustiça sua não indicação no ano passado. Como tenho excluído a série nas principais categorias, arrisco aqui.

Vai ganhar: Mandy Patinkin


Melhor Atriz Coadjuvante
1.    Anna Gunn, Breaking Bad (“Fifty-One”)
2.    Christina Hendricks, Mad Men (“A Tale of Two Cities”)
3.    Maggie Smith, Downton Abbey (“Episode 3.01”)
4.    Emilia Clarke, Game of Thrones (“And Now His Watch Is Ended”)
5.    Christine Baranski (“The Good Wife”)
6.    Morena Baccarin (“State of Independence”)

Maggie Smith faz o tipo imbatível e poucas pessoas ousam não apostar nela pela terceira vez (a primeira sendo na categoria de Minissérie/Telefilme), ainda mais que no seu episódio ela contracena com ninguém menos que Shirley MacLaine, numa troca de farpas que todos adoram. Mas MacLaine estranhamente não foi indicada a Atriz Convidada e se “Breaking Bad” estiver mesmo em alta este ano, a maior beneficiada é Gunn, com uma Emmy tape memorável (a piscina). É verdade que Hendricks esteve nesta situação ano passado (“The Other Woman”) e isso não foi suficiente para tirar o prêmio de Smith (que teve participação menor que nesta terceira temporada), mas Gunn esteve em evidência com seu editorial para o The New York Times, colocando em questão o desprezo que muitos têm pela sua personagem. É um texto bem escrito e repercutido, e posso imaginar muitos votantes se sentindo mal em não votar nela. Além da exibição de “Buried”, também uma memorável Emmy tape pra o ano que vem. Acho que as demais não têm muitas chances, a não ser que “Homeland” amplie seu número de prêmios este ano (Baccarin, como Lewis, não é tão boa atriz, mas também fez uma boa escolha de episódio). Clarke seria uma grande surpresa, mesmo que concorra com uma das sequências mais marcantes da temporada (“Dracarys!”), e Hendricks tem um episódio forte (o da conta da Avon), mas a esta altura já perdi as esperanças de ver alguém do elenco de “Mad Men” vencendo. Já Baranski pouco faz na temporada e não sei se foi a melhor escolha de episódio – eu teria escolhido “Je Ne Sais What?”, onde a atriz nos delicia falando francês. A briga deve ser mesmo entre Smith e Gunn, e espero que não continuem com mais do mesmo.

Vai ganhar: Anna Gunn



Melhor Direção
1.    Michelle MacLaren, “Gliding Over All” (Breaking Bad)
2.    Timothy Van Patten, “Margate Sands” (Boardwalk Empire)
3.    Jeremy Webb, “Episode 3.04” (Downton Abbey)
4.    Lesli Linka Glatter, “Q&A” (Homeland)
5.    David Fincher, “Chapter 1” (House of Cards)

É lamentável que com tantos trabalhos incríveis, realizados em tantas séries, apenas dois realmente muito bons marcam presença na categoria. Claro, opinião minha, porque ao mesmo tempo os outros três são escolhas óbvias: os episódios com eventos mais marcantes de duas favoritas da Academia, mais o piloto de uma nova queridinha, realizado por um cineasta de prestígio. Fincher nunca levou o Oscar e os votantes do Emmy terão o maior prazer em serem os primeiros a dar reconhecimento ao diretor. Consigo visualizar uma vitória de Glatter ou, principalmente, de MacLaren (talvez se a votação tivesse se estendido até depois da exibição de “To’hajiilee”...), mas acho que serão óbvios aqui, como na vitória de Martin Scorsese dois anos atrás.

Vai ganhar: David Fincher


Melhor Roteiro
1.    George Mastras, “Dead Freight” (Breaking Bad)
2.    Thomas Schnauz, “Say My Name” (Breaking Bad)
3.    David Benioff, “The Rains of Castamere” (Game of Thrones)
4.    Julian Fellowes, “Episode 3.04” (Downton Abbey)
5.    Henry Bromell, “Q&A” (Homeland)

Também não acho que seja uma grande seleção (nenhuma sem a presença de “Mad Men” pode ser considerada boa). Os maiores fãs de “Breaking Bad” poderão dividir os votos entre dois episódios tão marcantes quanto distintos, enquanto “Castamere” pode causar polêmica, além de seu principal acontecimento, aquilo que lhe dá fama, ser na verdade uma criação do livro. O favorito deve ser mesmo “Q&A”: o interrogatório de Brody é o melhor momento da temporada, e o roteirista Bromell faleceu há alguns meses, o que pode lhe render uma homenagem póstuma. Infelizmente votantes não lembrarão que este episódio também se trata do acidente de carro envolvendo Dana, e que renderá o pior desenvolvimento do resto da temporada. Motivo suficiente pra que eu despreze o roteiro.

Vai ganhar: Henry Bromell




COMÉDIA

Melhor Série
1.    30 Rock
2.    Louie
3.    Veep
4.    Girls
The Big Bang Theory
Modern Family


Aparentemente, a briga na categoria principal é entre “Modern Family” e “30 Rock”, ambas vencedoras pelos seus três primeiros anos. O fator nostalgia não influencia o Emmy tanto quanto alguns gostam de imaginar, e não é porque a série de Tina Fey está se despedindo que ela automaticamente se torna favorita. Mas é uma de suas melhores temporadas e tem o maior número de indicações do ano, superando “Modern Family”, algo que não acontece desde a época em que vencia tudo. Consigo imaginá-la não só levando a categoria principal, como boa parte dos prêmios da noite.

Acredito que “The Big Bang Theory” vença em algum ano, mas prefiro pensar que não será neste. Já as demais indicadas perdem em preferência na estatística: “Sex and the City” foi a única série de canal pago a vencer, uma única vez, e isso foi há 12 anos. Tanto Louis C. K. quanto Lena Dunham são admirados o suficiente para quebrarem esse tabu, mas também não acho que será desta vez.
Na minha preferência, votaria em “30 Rock” por realmente achar incrível o que Tina Fey e seu time fizeram como despedida, mas as outras três são igualmente excelentes e ficaria feliz por qualquer uma delas. Desisti de “Modern Family” e “Big Bang” há muito tempo, mas vi os episódios submetidos pelos atores indicados (apenas porque são sitcoms e não atrapalha a compreensão do todo) e fiquei surpreso em perceber que a série dos nerds me agradou mais do que a família excessivamente fofa e muitas vezes sem graça.

Vai ganhar: 30 Rock


Melhor Ator
1.    Alec Baldwin, 30 Rock (“A Goon’s Deed in a Weary World”)
2.    Louis C.K., Louie (“Daddy’s Girlfriend, Part 1”)
3.    Jim Parsons, The Big Bang Theory (“The Habitation Configuration”)
4.    Matt LeBlanc, Episodes (“Episode 202”)
5.    Jason Bateman, Arrested Development (“Flight of the Phoenix”)
Don Cheadle, House of Lies (“Hostile Takeover”)

Nao é o que eu escolheria de episódio para Baldwin ou C.K., mas acho que são os favoritos. Claro, Parsons continua incrivelmente engraçado (eu voltaria a ver a série por ele) e submete um episódio em que Sheldon está bêbado, algo infalível, e Cheadle é um ator de cinema que poderia surpreender. Mas acho que a terceira temporada de “Louie” deixa muito claro que não é simplesmente um comediante fazendo o papel dele mesmo, enquanto esta é a última chance de se premiar Baldwin, justo por um episódio em que Jack Donaghy tem um incrível insight. Decisão difícil, que só pode ser feita fechando os olhos e apontando pra alguém.

Vai ganhar: ... Alec Baldwin


Melhor Atriz
1.    Laura Dern, Enlightened (“All I Ever Wanted”)
2.    Julia Louis-Dreyfus, Veep (“Running”)
3.    Amy Poehler, Parks and Recreation (“Emergency Response/ Leslie and Ben”)
4.    Tina Fey, 30 Rock (“Hogcock/Last Lunch”)
5.    Lena Dunham, Girls (“Bad Friend”)
Edie Falco, Nurse Jackie (“Luck of the Drawing”)

Faz muito tempo que não vejo “Nurse Jackie”, mas tenho certeza que Falco tem uma atuação merecedora de prêmios. O que resulta em seis grandes trabalhos. Dern provavelmente tem o mais difícil de todos, uma personagem especial numa série especial infelizmente pouco vista (e já cancelada). Dificilmente terá reconhecimento. Talvez justiça maior seria premiar Dreyfus se pensarmos unicamente que se trata de COMÉDIA, e ela consegue estar ainda melhor que na temporada anterior (quando venceu). Fey venceu no Sindicato dos Atores no início do ano, uma grande surpresa, mas que ficou como reconhecimento final por todo seu trabalho. Como o Emmy pode premiá-la em outras categorias, acho até mais fácil ver Poehler finalmente ganhando algo – não que isso acontecerá. Ambas, aliás, concorrem por dois episódios porque se beneficiaram de uma regra da premiação que considera válida a submissão de um episódio que termina com os dizeres “To be continued...” e sua continuação.
É bem provável que Dreyfus seja a favorita, mas vou considerar a variedade de atrizes que venceram a categoria nos últimos anos e apostar em uma novidade: é a maior chance de “Girls” sair com algum prêmio importante, e Dunham sabiamente preferiu escolher um episódio francamente engraçado (Hannah usa cocaína para escrever sobre os efeitos da droga), ao invés do drama da reta final da temporada, que não é uma unanimidade.

Vai ganhar: Lena Dunham


Melhor Ator Coadjuvante
1.    Adam Driver, Girls (“It’s Back”)
2.    Tony Hale, Veep (“Running”)
3.    Bill Hader, Saturday Night Live (“Host: Seth MacFarlane”)
4.    Ty Burrell, Modern Family (“Mistery Date”)
5.    Ed O’Neill, Modern Family (“Bringing Up Baby”)
6.    Jesse Tyler Ferguson, Modern Family (“The Wow Factor”)

“Modern Family” domina as categorias de coadjuvante há três anos e não há motivos para pensar que os votantes mudariam este ano. O problema é que eu vi os episódios que escolheram para concorrer e não posso acreditar que Burrell vença pela situação em que seu personagem convida Matthew Broderick para ver um jogo em casa; ou que O’Neill vença pela cena em que descobre que sua esposa está grávida; ou que Ferguson seja o escolhido pelo jogo de handebol com uma criança que humilha sua filha e colegas na escola. Como a maioria dos votantes veem a série, imagino que a escolha é feita pelo trabalho que apreciaram durante toda a temporada. Não acho que a despedida de Hader do “SNL” mobilizará muitos votos e Driver talvez seja esquisito demais para muitos, em especial se comparado com o que estão habituados a premiar por “Modern Family”. Como fico na esperança de que finalmente apontem para novas séries, fico com aquele que é extremamente engraçado e não ofensivo para os padrões da maioria.

Vai ganhar: Tony Hale


Atriz Coadjuvante
1.    Jane Krakowski, 30 Rock (“Hogcock/Last Lunch”)
2.    Anna Chlumsky, Veep (“First Response”)
3.    Julie Bowen, Modern Family (“My Hero”)
4.    Mayim Bialik, The Big Bang Theory (“The Fish Guts Displacement”)
5.    Sofia Vergara, Modern Family (“Yard Sale”)
Merritt Wever, Nurse Jackie (“Teachable Moments”)
Jane Lynch, Glee (“Feud”)

O mesmo pode ser dito aqui para o episódio escolhido por Vergara, onde ela faz um pequeno show com fantoches e não consigo ver como aquilo pode ganhar algo (Bill Hader faz o mesmo no seu episódio escolhido, com efeitos muito melhores). Não vi o suficiente de Bialik, nem acho seu episódio um trabalho dos mais chamativos (onde ela finge estar doente para ter atenção de Sheldon), mas parece que a série cresce quando sua personagem e o protagonista dividem a cena. Nunca gostei muito de Bowen, mas pelos episódios que vi, acabou se tornando o adulto mais interessante do elenco (eu veria a série apenas por Luke e Manny) e seu episódio não é constrangedor como os demais, inclusive, estando muito bem nos outros. Um terceiro Emmy consecutivo não será absurdo. Não acho que Chlumsky tenha alguma chance, mas em toda a onda de despedida de “30 Rock”, a escolha de Krakowski é a que mais me agradaria. Sua personagem nem sempre foi bem utilizada ao longo da série, mas está extraordinária no último ano (inclusive sendo decisiva nas eleições presidenciais!) e é ela quem protagoniza o número musical que encerra a série, o que me parece atenção demais para ser ignorada. Ou é apenas mais uma vez eu confundindo palpites com torcida.

Vai ganhar: Jane Krakowski


Melhor Direção
1.    Beth McCarthy-Miller, “Hogcock/Last Lunch” (30 Rock)
2.    Louis C.K., “New Year’s Eve” (Louie)
3.    Lena Dunham, “On All Fours” (Girls)
4.    Gail Mancuso, “Arrested” (Modern Family)
Paris Barclay, “Diva” (Glee)

A despedida de uma das comédias mais premiadas do Emmy, dois diretores que são atores, roteiristas, produtores, idealizadores de suas mais que aclamadas séries, a queridinha atual (no melhor episódio dentre os que vi) e uma série que ressurge das cinzas com a direção de um nome muito respeitado e que não ganha o Emmy há 14 anos.
Não tenho ideia do que pode acontecer aqui, mas sempre superestimo o valor emocional de uma despedida (e sempre estou errado).

Vai ganhar: Beth McCarthy-Miller


Melhor Roteiro
1.    Tina Fey, “Last Lunch” (30 Rock)
2.    Jack Burditt, “Hogcock” (30 Rock)
3.    Pamela Adlon, “Daddy’s Girlfriend, Part 1” (Louie)
4.    David Crane, “Episode 209” (Episodes)
Greg Daniels, “Finale” (The Office)

Por mais que eu goste de “Episodes” (e é mais divertida do que seus críticos fazem pensar), é absurdo que marque presença aqui, ao invés de algum episódio de “Girls”, a bateria alucinante de ofensas dos diálogos de “Veep” ou mais episódios de “Louie” (incrível que a “trilogia” do David Letterman não tenha sido reconhecida em nada). A ausência de “Modern Family” aqui, pela primeira vez, é o que me faz pensar que a série pode perder em outras categorias importantes. Aparentemente, Tina Fey tem mais chances de subir ao palco por este trabalho, mas muitas vezes é uma categoria que serve para premiar alguma série que ficou de fora ou tem poucas chances de vitória nas demais. Então aposto em uma outra despedida.

Vai ganhar: Greg Daniels



MINISSÉRIE/TELEFILME

Não farei por categorias aqui. “Behind the Candelabra” é a escolha óbvia na categoria principal, assim como Michael Douglas (Ator) e Steve Soderbergh (Direção). É a produção mais suntuosa da HBO em muito tempo e chegou a concorrer no Festival de Cannes, premiação europeia de maior prestígio do cinema. Eu não acho tão bom assim, e meu voto iria para “Top of the Lake”, minissérie da Jane Campion com a beleza e sensibilidade que é peculiar do trabalho da cineasta, filmando seres humanos (principalmente mulheres) em um lugar distante à procura de algo para curar suas dores e lidar com os traumas do passado, no meio de um mistério policial. Elisabeth Moss e Peter Mullan estão incríveis e mereciam os prêmios de Atriz e Ator Coadjuvante. Moss está numa categoria complicada, disputando com nomes como Sigourney Weaver, Helen Mirren, Laura Linney e a favorita Jessica Lange. Mullan talvez tenha mais chances por não ter um favorito claro na disputa. James Cromwell e Zachary Quinto são os maiores nomes e vai depender do quanto querem premiar “American Horror Story”, que seria minha segunda opção para o prêmio principal. Na categoria de Atriz Coadjuvante, seria bom ver Sarah Paulson premiada, também por “AHS”, especialmente quando disputa com nomes tão respeitáveis quanto os de Charlotte Rampling, Alfre Woodard, Ellen Burstyn e Imelda Staunton. Paulson está realmente ótima e merece, mas lamento que não houve espaço para Lily Rabe, a melhor do elenco desta segunda temporada do terror da FX.







Hélio Flores

[Breaking Bad] 5x15 - Granite State

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 “I did wrong. I…I made some terrible mistakes. But the reasons were always... Things happened that... I never... intended.” – Walter White




Depois da possibilidade de ser preso, e da fuga após todos ao seu redor passarem pelo inferno, é hora de acompanharmos como é viver após a tragédia. “Granite State” mostra mais uma possível conclusão pra série, sendo o terceiro episódio consecutivo em que a jornada de Walt poderia se dar por encerrada, e de uma forma pior do que vista anteriormente. Aparentemente tudo de ruim já foi mostrado, exceto pela morte.

É um episódio com uma divisão bem clara: o inferno particular vivido pelo protagonista, e o inferno que ele deixa para sua família e Jesse na forma de Jack, Todd e Lydia. De um lado, a total impotência de quem sempre conseguiu planejar algo, e agora sequer consegue completar uma ameaça (sua tentativa de intimidar Saul é idêntica a de “Live Free Or Die”, agora interrompida pela crise de tosse), que não encontra utilidade para a vestimenta de Heisenberg e a única coisa que pode fazer com seu dinheiro é pagar por companhia. Do outro, o mal encarnado presente nas vidas de Jesse e Skyler.

Confesso que não sei muito bem o que pensar de um grupo de nazistas fazendo as coisas mais terríveis na reta final da série. É compreensível a presença de um antagonista, de alguém que nos faça torcer pelo personagem principal e que nos renda alguma catarse quando ele conseguir sua vingança, mesmo que Gilligan já tenha deixado claro que Walt não terá nenhum tipo de redenção. Mas também me parece um pouco fora do tom, talvez um pouco diabólico demais, que faça parte de sua punição ter se envolvido com os tipos mais frios e cruéis que se poderia ter – mas devo dizer que acho excelente a sequência em que o grupo ri do vídeo de Jesse, enquanto este chora ao falar sobre a morte de Gale; é como se fossem retratados ali os fãs que ridicularizaram o personagem pela sua fase “deprê”, e não tenho dúvidas de que Jack e amigos odiariam Skyler caso assistissem à série.

Por outro lado, o episódio deixa evidente que o grupo de Jack é só um sintoma de um mundo já doente, numa visão que, se não é positiva, é bastante coerente com o que a série sempre foi: ninguém presta, pois Lydia é tão cruel quanto os nazistas sugerindo a morte de Skyler; o homem que muda a identidade de Walt negocia sua companhia (10 mil, sim, mas só por uma hora); seus antigos sócios da Gray Matter fazem doações e mentem sobre sua participação na fundação da empresa para que as ações não sejam desvalorizadas. O individualismo e o Deus-dinheiro são responsáveis pelos atos mais desprezíveis e egoístas. Uma visão de mundo infelizmente pouco explorada pelas discussões atuais sobre “Breaking Bad”, que parecem se resumir a uma análise de caráter e personalidade do protagonista e seu papel real na narrativa (herói, anti-herói, sociopata, incompreendido, monstro, etc), além de tentar atribuir culpa aos personagens pelos eventos que nos trouxeram até este final. E se esta é essencialmente a história de Walter White (e é ele quem traz todos para o olho do furacão), há culpa pra todo mundo. Jesse sofre as consequências por não aceitar plenamente as regras do jogo que decidiu participar, e Skyler sofre justamente por aceitar entrar em um jogo cujas regras não conhecia. Mesmo a morte de Andrea (filmada pelo ponto de vista de Jesse, amplificando a crueldade e sofrimento) poderia ter sido evitada caso Hank tivesse agido de forma diferente quando interceptou a ligação de Walt pra Jesse, assim como sua morte é consequência também tanto do seu código de justiça quanto do seu orgulho.

É importante enfatizar que esse clima de fim de mundo francamente depressivo em que a série se encontra, faltando apenas um episódio para o fim, é fruto dessa construção em cadeia que está presente desde o princípio de tudo. E como esta é a história de Walt, é maravilhoso o retorno ao início de sua jornada no final de “Granite State”, nos lembrando pela enésima vez que não há intenções de suavizar o protagonista ou torná-lo mais simpático (ainda que seja inevitável alguma simpatia e compaixão quando vemos o personagem que acompanhamos por cinco temporadas vivendo naquela situação, não importando o que ele fez pra chegar ali). Já tinha comentado que o telefonema pra Skyler em “Ozymandias” não tinha objetivo de redenção e aqui, falando com o filho, ele sequer consegue completar a frase sobre os motivos de ter feito tudo o que fez.

Não há dúvidas de que Walt sempre pensou em sua família, algo muito explorado nos últimos episódios, e que os flashforwards que vimos poderiam mesmo mostrar seu retorno para se vingar de Hank e proteger sua esposa e filhos. Mas Heisenberg foi uma criação necessária para fortalecer seu ego, preservar o orgulho, criar algo duradouro e lhe dar um poder sobre as pessoas que o brilhante professor de química nunca teve na vida medíocre que levava, com intelecto subaproveitado e submisso no trabalho e em casa. “Remember My Name”, diziam os cartazes publicitários que divulgavam este último ano da série. E a preservação do mito, do nome e de um império é que são coisas mais importantes que a família, o suficiente para reerguer um homem acabado.

De uma só vez, a entrevista com os seux ex-sócios da Gray Matter o faz se lembrar de como tudo começou (e com sua realização reduzida à criação do nome da empresa) e que uma metanfetamina de qualidade (mas NUNCA como a sua) circula pelo mundo. Uma das melhores sacadas dos realizadores, que ainda completam com o uso do tema da série como trilha sonora, algo que nunca haviam feito e que reforça a ideia de retorno ao que sempre mais importou ao protagonista.

Eu não tenho ideia do final que Gilligan e seu time reservam a cada um dos personagens, mas o que eles têm feito nestes últimos episódios consegue ampliar ainda mais as expectativas, de uma forma que parece até improvável que resolvam tudo de forma satisfatória. Ao mesmo tempo, transmitem uma segurança tão grande no material em mãos, que seria decepcionante se tudo fosse de forma “apenas” satisfatória. O fato é que a expectativa não é só de saber como será o fim, mas do quanto ainda podemos ser surpreendidos. Seja como for, o mundo das séries ficará um tanto mais triste a partir do dia 30 de setembro. 






Hélio Flores

[Breaking Bad] Retrospectiva

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Faltando pouco para vermos o último episódio de “Breaking Bad”, decidi fazer uma retrospectiva destes seis anos de série. A ideia me surgiu agora, então é mais uma percepção geral sobre cada temporada, e a evolução tanto da série quanto do “culto” sobre ela – vejo desde 2008, então tem uma perspectiva de quem acompanhou o crescimento gradativo de fãs. Não tenho o hábito de acompanhar curiosidades, bastidores e teorias sobre séries e filmes, então este resumo é bem mais simples. E por ser de última hora não vem acompanhado de links. Sintam-se à vontade para comentar e acrescentar fatos interessantes.


Vale lembrar que aqui no blog o Eric Fuzii escreveu sobre a série após o fim da segunda temporada, e fiz um texto sem spoilers durante a terceira com o objetivo de chamar a atenção pra ela, com o título“A Melhor Série Que (Quase) NinguémVê”. Na época, nenhum grande site no Brasil comentava a respeito e acho que dá pra dizer que contribuímos pra que uma meia dúzia de pessoas descobrisse a série antes de ela se tornar “moda” (na ocasião, meu texto foi linkado pelo twitter do Legendas.tv, o que resultou em um número considerável de acessos).


Vamos lá (pode ter spoilers, caso você não esteja completamente atualizado):



PRIMEIRA TEMPORADA:


- “Breaking Bad” estreou na AMC em Janeiro, uma semana após “Mad Men” ter vencido o Globo de Ouro de Melhor Série e Ator. O drama dos publicitários nos anos 60 foi lançado seis meses antes e chamou a atenção para a emissora, estreante em séries originais. Talvez por isso o piloto de Vince Gilligan tenha atraído uma audiência respeitável para os padrões do canal, quase 1,5 milhões, e se manteve apenas um pouco abaixo disso pelo resto da temporada – números semelhantes aos de “Mad Men”.

- A temporada tem apenas sete episódios devido à greve dos roteiristas. O que justifica o estranho season finale, que nem traz uma reviravolta ou resolve alguma coisa: apenas a tensão de uma situação entre Walt, Jesse e Tuco no ferro-velho, que é retomada de onde parou no início da temporada seguinte.

- Todo fã fica feliz pela greve, uma vez que o plano inicial era que Jesse Pinkman morresse ao final da primeira temporada. A interrupção forçada e o trabalho de Aaron Paul fizeram Gilligan repensar o destino do personagem.

- O piloto começa com as calças de Walt voando pelo deserto, e logo o vemos de camisa e cueca gravando uma confissão em vídeo e desajeitadamente segurando uma arma. O tom da série já está aí: o homem comum e medíocre em uma situação incomum e extraordinária, filmado de forma tragicômica em que a geografia do lugar terá função narrativa.

- A confissão, os planos do deserto, as calças e até a situação um pouco antes sob outro ponto de vista são revisitados ou referenciados na reta final da série (nos episódios “Confessions”, “To’hajiilee” e “Ozymandias”, respectivamente).

- Há todo um trabalho com a fotografia, direção de arte e figurino que mostram um cuidado especial que a série tem, em especial na forma como faz da química (as ligações, reações e misturas de elementos diversos) metáfora para o modo como a narrativa se desenvolve. Cores específicas são associadas aos personagens e ilustram bem esse tipo de representação (Skyler com azul; Jesse com amarelo; mistura entre as duas cores: verde, que é a cor de Walt).

- Apesar de um protagonista interessante, “Breaking Bad” traz o problema típico de muitas séries: um bom conceito, um grande personagem, mas a dificuldade de preencher mais de 40 minutos de episódio com coadjuvantes interessantes em situações não diretamente ligadas à trama principal: Skyler é a que mais sofre com o tipo de representação que tem, sendo a esposa detestável que mostra como a vida de Walt é patética, mas Hank é tratado como um palhaço grosseiro, enquanto Marie revela-se cleptomaníaca rendendo um drama dispensável. Jesse se beneficia por estar diretamente ligado ao protagonista na trama principal, mas não consegue se destacar nas tentativas de “aprofundá-lo” na relação com sua família.

- Os primeiros episódios trazem o protagonista num dilema moral, que só não é mais interessante por já ser algo, na época, bastante explorado por várias séries (matar ou não outro ser humano?). O momento em que realmente fui fisgado está no quinto episódio, “Gray Matter”, em que a família de Walt faz uma intervenção para que todos desabafem sobre sua recusa em fazer um tratamento. Ali a série explora bem o drama e as complicações que um câncer pode trazer nas relações familiares e, principalmente, em como um homem com uma doença terminal tem uma perspectiva muito diversa daqueles que convivem com ele. Ao mesmo tempo a sequência funciona como justificativa para a escolha que Walt faz, muito melhor que justificar por um trabalho medíocre e uma esposa controladora. Além de ter muito humor inerente às características dos personagens e sem diluir o drama, algo que a série se torna especialista.

- “Bryan who??”, perguntou qualquer pessoa que nunca tinha visto a sitcom “Malcolm in the Middle” quando soube o vencedor do Emmy de Melhor Ator daquele ano. Poucos apostaram em Cranston e até o colocaram como o indicado com menos chances de vitória, por uma série comentada por poucos, e em um ano dominado pelas indicações de “Mad Men” (e, portanto, via favoritismo de Jon Hamm), a sensação que Michael C. Hall tinha se tornado com “Dexter” (disputando pela segunda temporada), o elogiado, exaustivo e único trabalho de Gabriel Byrne na estreia de “In Treatment”, além de James Spader (o bicho-papão da categoria) e Hugh Laurie (ainda se pensava que era questão de tempo que vencesse e naquele ano concorria pelo elogiadíssimo episódio “House’s Head”).

- Além de Cranston, a série venceu o prêmio de Edição pelo “Piloto”. O episódio também deu indicações a Vince Gilligan (Direção) e o oscarizado John Toll (Fotografia). Ambos perderam para “House” (episódio “House’s Head”) e “Mad Men” (episódio Piloto), respectivamente.



SEGUNDA TEMPORADA:


- A primeira temporada completa (13 episódios) da série estreou em março de 2009 e tem início nos apresentando o famigerado urso caolho, boiando na piscina de Walt, único objeto colorido na sequência em preto e branco que abre a premiere. O recurso do flashforward que nos entrega cenas do final de temporada, ao longo dos episódios, como forma de estimular e criar expectativas foi amplamente usado por “Damages” na ocasião, em seus dois primeiros anos. Mas enquanto nela o uso era excessivo (em todos os episódios e em qualquer momento), em “Breaking Bad” o urso caolho surgiu na abertura de apenas quatro episódios, progredindo com revelações um pouco maiores insinuando que alguma tragédia ocorre no fim da temporada.

- O flashforward abre os episódios 01, 04, 10 e 13, cujos títulos, ao serem colocados juntos, dão a dica do que acontece no final: “Seven Thirty-Seven”, “Down”, “Over”, “ABQ”.

- O acidente de avião é um dos eventos que mais dividem opiniões dos fãs. Basicamente a reclamação vem de uma suposta falta de realismo, graças ao absurdo das coincidências. Bobagem: a solução narrativa amplifica a níveis fantásticos uma das ideias básicas da série, de ações pequenas que resultam em reações maiores (o clássico “efeito-borboleta”), e de forma punitiva, dando um sentido kármico à série. Gilligan chamou o acidente de “Lucifer ex machina”, em oposição ao “Deus ex machina”, termo do teatro grego que se refere ao acontecimento inesperado no final da peça com a intenção de solucionar e amarrar pontas soltas da trama. Ou seja, ao invés de salvação, o que temos é punição vinda diretamente do céu por tudo o que Walter White fez.

- Outra queixa diz respeito à sugestão que os flashforwards fazem de que algo acontece com Walt no fim. De fato, em “Down” a sequência termina com um close em óculos parecidos com o do protagonista, enquanto em “Over”, dois corpos estão cobertos e na frente de sua casa. Mas o fato é que poderia ser mesmo Walt: o acidente de avião foi planejado pelos roteiristas desde o início e não havia certeza de uma terceira temporada. A série foi renovada exatamente na semana após a exibição de “Down”. Caso “Breaking Bad” não tivesse mais um ano, poderíamos dizer que Walt pagou com a morte por tudo que fez. E a morte mais espetacular possível para a ocasião.

- A série tem um avanço incrível de qualidade, inclusive resolvendo o problema de coadjuvantes ruins: Hank ganha simpatia e tramas interessantes (os ataques de pânico, a tartaruga-bomba), Jesse é melhor desenvolvido na sua relação com Jane e ganha um episódio especial como “Peekaboo”, e Skyler tem seu próprio dilema moral no envolvimento com Ted ao mesmo tempo em que passa a desconfiar do comportamento de Walt – a antipatia por ela ainda é forte, mas graças a sua caracterização inicial: é uma mulher controladora que se vê perdendo o controle do marido.

- A temporada também mostra que a série não pretende manter um “status quo” que consiste na dupla de protagonistas entrando em confusões e tentando não serem descobertos: a profissionalização da produção e comércio avança consideravelmente com a contratação de um advogado e o contato de Gus Fring para a venda em grande escala.

- Saul, Gus, Hector Salamanca e Mike são os personagens de importância que surgem neste ano. Além de Jane, claro, que não sobrevive. Na premiere também é fabricada a ricina para ser usada em Tuco. Sem sucesso, o veneno ainda não foi utilizado e há até apostas pela internet sobre quem finalmente será a vítima no último episódio da série.

- Raymond Cruz, que interpreta Tuco, seria o “vilão” da série por muito mais tempo e sua morte foi escrita depois que Gilligan soube que o ator trabalhava em “The Closer” (desde o início da série, em 2005) e não poderia ser contratado para mais episódios – o que contribuiu para a caracterização de Gus, personagem que é o exato oposto de Tuco. Da mesma forma, Mike foi criado apenas porque Bob Odenkirk (Saul) não estava disponível para o dia da filmagem da morte de Jane.

- A série começa aqui a se especializar em “cold opens” (abertura antes dos créditos iniciais) inusitadas. Minhas favoritas: em “Negro y Azul”, um vídeo musical, onde um grupo de mariachis canta sobre a nova droga que está agitando o mercado e irritando o cartel (“Falam de um tal de Heiseinberg... esse cara já está morto, só que ainda não sabe”), e em “Better Call Saul”, um primor de escrita onde Badger é preso ao tentar vender metanfetamina para um policial, após uma troca de diálogos e lábia incrível – algo que marcará a caracterização do nosso advogado favorito.

- A partir de “Peekaboo”, há uma sequência de episódios que impressionam, seja pela qualidade e refinamento técnico (a fotografia de “Peekaboo” e “4 Days Out”, por exemplo), pelos diálogos e humor, pelo drama e sensibilidade inesperada (Jesse e o garotinho com os pais viciados), pela violência inusitada (o caixa eletrônico esmagando o viciado, a cabeça de Tortuga em uma tartaruga), pela fina ironia da narrativa ampliando efeitos dramáticos (Walt recebendo boas notícias sobre o câncer quando não só aceitava a morte, como a achava muito bem vinda em “4 Days Out”; a notícia do nascimento de Holly no momento mais inoportuno possível em “Mandala”), pelas frases marcantes (“Stay out of my territoy” em “Over”), pela coragem de não suavizar o protagonista (morte de Jane em “Phoenix”). Sempre me espanto quando vejo alguém dizer que esta é uma temporada inferior às próximas.

- A temporada recebeu cinco indicações ao Emmy, uma a mais que o ano anterior, e de maior importância: Melhor Série, além de Aaron Paul como ator coadjuvante (perdeu para Michael Emmerson, o Ben Linus de “Lost”). O season finale “ABQ” foi indicado pela Fotografia e Edição, vencendo por este último. Junto com o prêmio de Cranston, as mesmas duas categorias que a primeira temporada venceu.



TERCEIRA TEMPORADA:


- Talvez o mais elogiado ano de “Breaking Bad”, a terceira temporada estreou em 2010 também no mês de março, com “No Mas”, episódio que acho injustamente esquecido quando fãs fazem listas dos melhores da série. Dirigida por Cranston, a premiere parece dar um novo (ou mais apurado?) tom à série, flertando descaradamente com o absurdo e o cartunesco, na presença dos gêmeos primos de Tuco, que surgem, na abertura deliciosamente bizarra, rastejando junto a outros mexicanos em direção a uma imagem de Santa Muerte, para quem acendem uma vela em nome de Heisenberg. Não basta apresentar os novos vilões da trama, é preciso apresenta-los de forma diferente, surpreendente, divertida (assim como no episódio seguinte eles descobrem que Heisenberg é Walt com Tio usando uma Tábua Ouija). Memorável também é a sequência em que Walt tenta minimizar a tragédia do acidente provocado por ele, para o ginásio da escola lotado de estudantes – “foi apenas o 50º maior desastre aéreo”.

- Ao contrário da segunda temporada, em que toda a estrutura foi cuidadosamente planejada, Gilligan disse que aqui a trama foi criada aos poucos e com improvisos. A intenção era de ter os gêmeos e Tio como os vilões da temporada, até que os roteiristas perceberam que era impossível mantê-los por tanto tempo, em especial por terem criado personagens tão perigosos. Nasceu assim um dos mais celebrados episódios da série (“One Minute”) e Gus Fring se tornou o principal antagonista na segunda metade da temporada.

- Giancarlo Esposito, aliás, seria contratado para apenas alguns episódios, mas se recusou a voltar, a menos que tivesse mais destaque. Acabou aparecendo em 11 dos 13 episódios.

- Dois pares de episódios de muita tensão e adrenalina são responsáveis por um boca-a-boca repentino dos fãs, que começavam a recomendar a série com ainda mais ênfase: “Sunset” (com a despedida do trailer, quando Hank estava separado da verdade apenas por uma porta) e o já citado “One Minute”; e os dois últimos episódios, “Half Measure” (“RUN”!) e “Full Measures” (com um dos cliffhangers mais incríveis já feitos), que dentre tantas coisas, reforça a natureza da relação de Walt e Jesse.

- Gilligan, aliás, teve que confirmar em entrevistas a morte de Gale, já que muitos ficaram confusos com o movimento de câmera final, cuja intenção era apenas que a arma de Jesse fosse apontada para o espectador, e não que o personagem tivesse mirado em outro local. O autor da série garantiu que não pretendia deixar dúvidas quanto ao destino de Gale.

- Skyler é a personagem que passa por mais mudanças, todas bastante pautadas pela realidade de uma esposa em sua situação (como agir legalmente, até que ponto viver com ou deixar o marido afeta seus filhos, etc). Ao final da temporada é ela quem justificará para Marie o dinheiro que Walt tem e a ideia de um lava-a-jato como melhor empreendimento para lavagem de dinheiro. No entanto, há também “I.F.T.”, em que Walt força sua entrada em casa (e a deixando como vilã aos olhos do filho) e ela se vinga fazendo sexo com Ted e contando depois para ele na célebre frase que encerra e dá título (“I Fucked Ted”). Algo que alimentou ainda mais o ódio de alguns pela personagem e aumentou a discussão sobre misoginia e a forma como o público percebe e lida com personagens femininas.

- Outro episódio marcante da temporada foi “Fly”, em que a série mais uma vez mostrou ousadia e bastante consciência de suas possibilidades com algo bastante teatral e inusitado: apenas Walt e Jesse no laboratório a caça de uma mosca que poderia contaminar toda a produção. Monólogos e reflexões sobre algumas das ideias desenvolvidas pela série, interrompendo a sequência de adrenalina e acontecimentos excitantes rumo ao final da temporada. Houve quem não gostasse, mas é algo realmente especial. Primeiro episódio dirigido pelo cineasta Rian Johnson, que voltaria na quinta temporada para “Fifty-One” e o mais celebrado episódio da série, “Ozymandias”.

- A série ampliou no Emmy o seu número de indicações: sete, incluindo indicações técnicas para “No Mas” (Fotografia e Edição) e “One Minute” (Direção e Edição de Som). Bryan Cranston venceu pela terceira vez e Aaron Paul venceu pela primeira. No Globo de Ouro, a série enfim foi descoberta, mas apenas com uma indicação para Cranston – perdeu para Steve Buscemi, pela primeira temporada de “Boardwalk Empire”.



 QUARTA TEMPORADA:

- O maior intervalo que a série teve entre temporadas, foram 13 meses de espera para vermos o que aconteceria com Walt e Jesse após a morte de Gale. Estreando em Julho de 2011, este quarto ano teve um aumento considerável de audiência, ultrapassando os 2,5 milhões de telespectadores em média. O longo intervalo e o boca a boca gerado pela adrenalina de “Half Measures” e “Full Measures” fizeram com que esta fosse a primeira temporada da série a se tornar evento nas redes sociais. Boa parte dos portais e blogs sobre séries no Brasil também começaram a escrever sobre ela.

- A demora em lançar a temporada talvez tenha relação com as negociações feitas pela AMC com Vince Gilligan. A emissora queria cortar gastos e propôs uma quinta temporada menor para encerrar a série, e a Sony (parceira da AMC na produção) chegou a sinalizar que “Breaking Bad” poderia ser vendida para outro canal, o que exigiria que Gilligan estendesse a trama por mais alguns anos para compensar a compra.  Depois de muita especulação, anunciaram (na semana de exibição do quarto episódio, “Bullet Points”) o fim da série com a renovação dos últimos 16 episódios. No início do ano seguinte, Cranston confirmaria a divisão em duas mini-temporadas.

- A temporada é marcada por mais idas e vindas na relação entre Walt e Jesse, e uma aliança inesperada (mas bem desenvolvida) deste último com Mike e Gus; pelo retorno de Hank às investigações (para quem acompanhou na época, foi uma eternidade: mais de 15 meses desde “Sunset”), resultando em sequências como a do caderno de Gale mostrado a Walt e o grampo no carro de Gus; pelo despertar de Skyler para um lado de seu marido que não conhecia; e pela maior participação de Gus Fring, inclusive eliminando o cartel, o que faz a série explorar novos antagonistas na temporada final.

- Dentre as coisas mais memoráveis e que fãs sempre farão referência, estão as frases “I am the danger!” e “I am the one who knocks!” de Walt, e “Someone has to protect this family from the man who protects this family” de Skyler, além do final de “Crawl Space” e o fim explosivo de Gus Fring.

- O envenenamento de Brock é a solução criativa mais questionável de toda a série. Por um lado, permite a reaproximação de Jesse que faz com que Walt descubra a relação de Gus com Salamanca. Também torna o protagonista ainda mais condenável. Por outro, é uma solução pouco explicada e a primeira vez que os roteiristas usam de um “truque” que engana o espectador com uma reviravolta final. De qualquer forma, os resultados impressionam: a explosão na clínica, a frase final “I won” e como exploram a situação na reta final da série.

- As filmagens se passaram no período em que “Os Vingadores” estava sendo gravado nos mesmos estúdios em Albuquerque. Samuel L. Jackson, fã confesso da série, apareceu no set dos Pollos Hermanos vestido de Nick Fury e sugeriu fazer uma ponta, aparecendo ao fundo de uma cena. Os produtores recusaram.

- Por conta do longo intervalo, a série estreou a temporada após o período para concorrer ao Emmy 2011 e só retornou à premiação no ano seguinte, com 13 indicações, incluindo Anna Gunn e Esposito. Aaron Paul foi o único vencedor, sendo a primeira vez que Cranston perde o prêmio pelo papel (para Damian Lewis, por “Homeland”).



QUINTA TEMPORADA – PARTE 1


- A primeira parte da última temporada estreou em Julho de 2012, com “Live Free or Die”, episódio que bateu mais um recorde de audiência da série, chegando próximo a 3 milhões de telespectadores. Mais quatro episódios da temporada (sendo três da parte 2) estabelecem um novo recorde: “Say My Name”, “Blood Money”, “Ozymandias” e “Granite State”, este último chegando a 6.6 milhões.

- A premiere começa com o primeiro flashforward desde o uso do recurso na segunda temporada (ao menos em relação a eventos futuros da temporada e não do episódio em si, como foi o caso de “Bug” no ano anterior).  Na sequência, mostra Walt com outro nome (Mr. Lambert, sobrenome de Skyler) sozinho em uma lanchonete no dia de seu aniversário de 52 anos, exatamente dois anos após o piloto da série – ele completa 51 anos no quarto episódio da quinta temporada. Com visual diferente, vindo de New Hampshire e comprando uma metralhadora na mão do mesmo homem que o vende uma arma em “Thirty-Eight Snub”. É o único flashforward desta primeira parte.

- Os oito episódios são marcados por um ritmo mais frenético que o habitual visto na série. Isso leva a resoluções mais “fantásticas”, como o magnético plano que destrói as evidências que Hank consegue do escritório de Gus, e um espetacular roubo de metilamina, ao conseguir toda a carga de um trem, perfeito contraste com a primeira temporada, quando Walt e Jesse são filmados (mas não identificados) roubando desajeitadamente um barril da substância.

- Esta compressão de uma temporada em menos episódios (apesar de se tratar da primeira parte, a estrutura é de algo completo) faz com que a série atropele alguns acontecimentos, talvez menos desenvolvidos do que mereciam: é o caso da morte de Mike e de como o último episódio tem que lidar com o império de Walt e sua aposentadoria com um avanço de meses na cronologia, algo nunca antes feito.

- Novos personagens surgem: Lydia, o contato de Gus com a multinacional “Madrigal”, encarregada do tráfico internacional da metanfetamina; e Todd, que substitui Jesse como parceiro de Walt. Ambos caracterizados como pessoas perigosas, ao mesmo tempo de personalidades e comportamentos que não condizem com os crimes que cometem (Lydia é confusa, atrapalhada; Todd é gentil e respeitador).

- Dentre outros destaques, Skyler tirando seus filhos de casa ao se jogar na piscina, o jantar na casa de Walt em que Jesse é convidado (primeira vez que Anna Gunn e Aaron Paul dividem a cena desde a primeira temporada), a morte de uma criança no final de “Dead Freight”, e a divertida solução para se produzir a droga com o laboratório ambulante (Vamonos Pest!). Walt também nunca foi tão arrogante, não se importando quando Mike coloca uma arma em sua cabeça ou como na abertura de “Say My Name”.

- A temporada foi indicada a 13 Emmys este ano, finalmente levando o de Melhor Série. Anna Gunn também venceu, o que significa prêmios de atuação para a série por todos os cinco anos, além do prêmio técnico de Edição para “Dead Freight”. No Globo de Ouro, pela primeira vez foi indicada para a categoria principal, mas perdeu para a segunda temporada de “Homeland”.



QUINTA TEMPORADA – PARTE 2:


- A série chegou ao seu ápice de repercussão a partir da exibição destes oitos episódios finais: no mundo das séries de TV, talvez nunca se viu falar tanto de um único programa, com uma infinidade de textos sobre sua importância, sua filosofia, a moralidade de seus personagens, teorias sobre como será o final e análises sob todo tipo de prisma possível a respeito de tudo que se viu até agora. Humor, vídeos e montagens feitos pelos fãs, entrevistas com elenco e equipe de realizadores ajudam no viral. No twitter, chegaram a registrar mais de 12 mil tweets por minuto sobre a série, após a exibição de cada episódio. Várias pessoas têm feito maratona para estar atualizado a tempo de ver o episódio final com todo mundo. E, claro, textos e comentários negativos têm surgido como nunca, algo natural e necessário no meio de uma adoração exacerbada – “a melhor série de todos os tempos” e “melhor que qualquer coisa do cinema nos últimos anos” são frases lidas à exaustão.

- A sequência de episódios impressiona pela capacidade de surpreender com cada ação dos personagens. A série caminha para a conclusão com um número incrível de reviravoltas, com o já apurado cuidado na realização, o que justifica a excitação generalizada: os episódios não permitem respirar e vão direto na jugular do espectador. É comum ler no twitter comentários que resumem a experiência ao fim de um episódio com sensações como taquicardia, falta de ar e “não vou dormir esta noite”.

- Curiosamente, muito do que acontece os espectadores já previam há muito tempo: Hank descobre a verdade, vai em busca de provas para prender o cunhado, Jesse se volta contra Walt e se alia a Hank, etc. Toda a diferença é que o caminho óbvio (inclusive para a morte de personagens) é traçado da forma mais inesperada e surpreendente. Quando caminha, que atalhos pega, que retornos faz. Tudo cuidadosamente planejado para o máximo de efeito-choque, sem perder a coerência interna.


- O primeiro episódio deste ano, "Blood Money", é dedicado a Kevin Cordasco, jovem de 16 anos, fã da série, que morreu de câncer há alguns meses. Gilligan o conheceu e se ofereceu para contar como tudo acabaria. Cordasco recusou, dizendo que veria o final com as demais pessoas. Gilligan, então, perguntou o que ele gostaria de ver na reta final e o rapaz respondeu que gostaria de saber mais sobre o passado de Walt com a Gray Matter, algo nunca totalmente explicado. Segundo o criador da série, daí veio a ideia para o final de "Granite State".





- O que esperar de “Felina”? Encerrar uma série é sempre algo complicado. Deve agradar aos fãs e cumprir suas expectativas? Deve amarrar todas as pontas soltas ou algo em aberto pode (e deve) ficar? O protagonista deve sobreviver, para que sua história possa ser explorada algum dia novamente? Tudo visto em “Breaking Bad” leva a crer que nada é mais anunciado que a morte de Walt: ele não merece redenção, está em uma missão suicida e o câncer está de volta. Deixá-lo viver faria sentido de alguma forma (em especial por já ter sido bastante punido nos últimos episódios)? E como poderia morrer? Pelas mãos de Jesse, a pessoa que mais sofreu em suas mãos? Ou uma morte digna, fazendo algo bom? Mas isso não seria uma espécie de redenção? E que tipo de final é possível para Jesse, que não pode ser isento de responsabilidade por vários crimes, mas que também a esta altura tem um número de traumas que impede qualquer tipo de felicidade? Skyler e os filhos devem ser ainda mais punidos? Quem morrerá pela ricina: Lydia com seu hábito de tomar chá? Os ex-sócios de Walt da Gray Matter (ainda voltarão ou só foram os catalisadores do fim de “Granite State”)? O próprio Walt após fazer o que tem que ser feito? Ou Marie com sua obsessão por venenos irá cometer seu último ato cleptomaníaco? E Huell, ainda estará num quarto de motel esperando por Hank? Saul já estará em Nebraska e só voltaremos a vê-lo no prequel “Better Call Saul”? Skinny Pete e Badger retornarão para uma despedida?


Descobriremos logo mais e a única certeza é que, para o bem ou para o mal, seremos surpreendidos mais uma vez. A última, por esta série inesquecível.







Hélio Flores

[Breaking Bad] 5x16 - Felina

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“I did it for me. I liked it. I was good at it. And... I was... really... I was alive.” – Walter White


 "I want this." - Walt
"Then do it yourself" - Jesse


Quem acompanha o twitter ou qualquer outra rede social, sabe o quanto “Breaking Bad” foi discutida, comentada, elogiada, criticada nesses últimos dois meses. E isso torna a experiência de ver o episódio final um tanto complicada: que tipo de fim eu desejo e imaginei que seria o melhor pra série? Quais, dentre todas as teorias e especulações, estarão corretas? Eu quero um final inesperado ou exatamente da forma que pensei? É melhor amarrar todas as pontas ou será interessante deixar em aberto e terminar de forma ambígua? Como cumprir e até superar expectativas com algo que já discutimos tanto, que já analisamos todas as possibilidades e, principalmente, que vem após uma sequência de episódios não só incríveis, mas que já funcionavam perfeitamente como fim da série?

Não quero discutir muito sobre “Felina”. Imagino que as questões do parágrafo acima serão pretexto pra vários textos de críticos de TV pelos próximos dias. Que muitos fãs ficarão plenamente satisfeitos com o que viram, e outros certamente dirão que a série deveria ter se encerrado com “Ozymandias”. No fim, a reação parece depender muito da preferência pessoal pelo tipo de conclusão que cada um acharia “justa” pra jornada. Particularmente, entenderia o fim trágico e depressivo com o protagonista livre e com outra identidade, deixando um rastro de destruição pra trás, à espera do câncer concluir seu serviço. Mas me parece natural também a necessidade de não deixar pontas soltas, de oferecer uma conclusão mais amarrada e fechada, que satisfaça e até retribua o espectador por ter acompanhado esta jornada – afinal, é uma série de gênero, um conto moral de estrutura narrativa convencional

O que mais me importa é que, felizmente, esta conclusão não sacrificou a lógica interna da série para que fosse mais agradável ao gosto comum, e é mais um grande episódio com tudo o que já estamos habituados: a inteligência visual, a excelência dos atores e do texto, os belos momentos de impacto emocional.

Um dos primeiros comentários que li no twitter assim que terminei de ver o episódio foi uma queixa: ficamos tão acostumados em sermos surpreendidos por “Breaking Bad” e “Felina” nos dá exatamente o que esperávamos. Realmente não somos muito surpreendidos com o que acontece, sendo até previsível: Walt se despede da família, realiza sua vingança e liberta Jesse antes de morrer. O “COMO” acontece também está longe da imaginação fértil de vários momentos chocantes que a série nos deu em todos estes anos. Acredito que isso se deve ao pouco tempo restante para amarrar as pontas. Ao fim de “Granite State” fiquei com a impressão de que seria necessário pelo menos mais dois episódios para concluir tudo, o que faria deste finale algo ainda mais frenético do que vimos nos últimos meses. E aí está a surpresa: é lento e melancólico. Veja o tempo que se leva com a abertura ou com a sequência na casa dos ex-sócios de Walt. Gilligan optou por uma despedida triste e “cansada” (estou escrevendo após ter visto o episódio pela primeira vez, mas uma das sensações fortes foi de ter acompanhado por 50 minutos os últimos passos de um homem que está além da depressão, do desespero, de qualquer sentimento, de vontade e até mesmo de impotência) ao invés de investir na catarse da vingança que esperávamos. Que ainda assim foi satisfatória.


Infelizmente não terei tempo pra discutir muito mais sobre este final. Mas no calor do momento, o que mais me agradou:


- A última abertura da série ser o comentário final da “mão de Deus” que guia a jornada de Walt. Pode ser a mão de Gilligan, ou a sorte a que Jesse se refere alguns episódios atrás. Imagino que deverá irritar os que pedem realismo;

- O plano de deixar dinheiro para seus filhos através dos ex-sócios é uma dessas soluções criativas para situações impossíveis que sempre me fascinou na série. E claro que dará certo. Badger e Skinny são perigosos;

- É uma forma de redenção, mas Walt precisava assumir para Skyler o que já sabíamos. Foram cinco temporadas de negação, foi tocante e imagino que isso fez com que ele salvasse Jesse. Tá, vê-lo como escravo deve ter contribuído também;

- A despedida de Holly é de partir o coração;

- Jack tem um final parecido com o de Hank: um tiro na cabeça enquanto falava (oferecendo dinheiro que o próprio Walt ofereceu em vão pela vida do cunhado);

- Walt matou Krazy-8 na primeira temporada da mesma forma que Jesse mata Todd agora. O que foi o início pra um, é o final pra o outro;

- Minha principal curiosidade era sobre o fim entre Walt e Jesse. Parece clichê, mas é muito apropriado (e bonito) que Walt morra no laboratório, se despedindo do que lhe era tão importante, com o reflexo de sua imagem semelhante a Heisenberg. Melhor ainda que Jesse tenha a oportunidade de matá-lo e não o faz: Walt pede pra que o mate e Jesse cumpre sua promessa de nunca mais fazer o que Mr. White mandar.

Fiquei com uma dúvida em relação à troca final de olhares entre os dois: Jesse escutou a conversa de Walt ao telefone sobre a ricina? Primeira coisa que pensei foi que ele só entendeu naquele momento que Brock não foi vítima do veneno, mas não faz muito sentido (ser envenenado por uma planta dá na mesma, não?). Fato é que a expressão de Aaron Paul pareceu uma espécie de entendimento ou perdão.


Revisitarei o final quando a série deixar de ser o assunto do momento e os ânimos se acalmarem. 





Hélio Flores
twitter.com/helioflores

[Breaking Bad] 5x11 - Confessions

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 "My name is Walter Hartwell White (...) This is my confession." - Walt

"Why don't you kill yourself, Walt?" - Marie

"And all for that asshole Mr. White!" - Jesse

"Oh, Christ, Marie... You killed me here." - Hank






Já havia comentado em “Fly”que provavelmente Jesse nunca saiba sobre Jane. Walt nunca confessaria, talvez sequer se considere culpado pelo que aconteceu. Mas era questão de tempo para que os outros segredos que Mr. White esconde de seu pupilo viessem à tona. A morte de Mike era algo tão aparente, que não precisa muito esforço de Jesse (e também Saul) pra descobrir. Mas Mike fazia parte do jogo, não é o suficiente pra que Jesse se vire contra Walt. Já o envenenamento de Brock é outra coisa.


É uma revelação importante, que só poderia vir nesta reta final, já que rompe em definitivo a relação entre os dois, que por muito tempo foi a alma da série. O momento é perfeito porque Jesse, como personagem, não parecia ir a lugar algum. A ameaça de que poderia colaborar com Hank mostrou-se infundada, e com razão, pois se há alguém que Jesse odeia mais que Walt é o cara que lhe espancou. Nem se pode falar em ódio, aliás, por seu professor: mesmo se sentindo manipulado, tudo o que ele quer é apenas que Heisenberg peça ajuda, faça-o se sentir valorizado. E quando sua participação na série coerentemente parece se encerrar, vem a iluminação.


Momento ideal definido, a coisa complica um pouco em relação ao “como descobrir”. Eu não me incomodo com a conveniência do insight de Jesse – insights são insights, e apesar da impressão de surgir do nada, há um bom número de razões pra ele ligar os pontos. E admiro que a sequência não venha acompanhada de um flashback (o piloto de “The Wire” usa esse recurso, contra a vontade de seu criador, apenas porque os produtores da HBO temiam que as pessoas não entendessem) ou de cenas no “previously” que nos lembrassem da ricina, o que mataria com a tensão e surpresa. Mas confesso que no momento em que via me peguei pensando na rapidez com que tudo acontece, mais uma vez uma exigência da imposição de duas mini-temporadas de oito episódios. Pensando depois a respeito, acredito que os roteiristas se saíram muito bem com janela tão curta.




E é curioso que uma revelação dessas venha em um episódio como “Confessions”, cheio de mentiras, meias verdades, verdades ditas com segundas intenções e mesmo ambiguidade. A tarantinesca sequência que abre o episódio, por exemplo: Todd narra perfeitamente o roubo do trem, mas em algum momento comenta sobre a morte da criança? Ou seria uma bizarra coincidência que um de seus amigos fale de “criança de bicicleta usando capacete”? E o abraço que Walt dá em Jesse, o quanto há de carinho, preocupação e manipulação? Jesse não está errado sobre suas intenções, o que não significa que também não é o melhor para ele. O mesmo vale para a cena com Walter Jr. O pai usa seu câncer para manipular o filho, mas com verdade e preocupação sincera.


E é essa manipulação do discurso, entre verdades e mentiras, que faz a confissão gravada de Walt algo tão brilhante: não interessa a falta de provas, é muito mais fácil pra qualquer pessoa acreditar que Hank seja culpado, do que imaginar que o pacato Walter White seja o verdadeiro criminoso – e pensar nisso nos faz lembrar mais uma vez de como sua trajetória na série é impressionante. Não faltam verdades no que ele diz. Policiais podem testemunhar que Hank realmente levou o cunhado para uma apreensão (no piloto da série) ou que Walt Jr. e Holly ficaram com os tios por três meses. Além, claro, da vulnerabilidade de uma pessoa com câncer, das despesas médicas, etc.


É incrível que uma sequência como esta, que já entra pra coleção de momentos inesquecíveis da série, venha ainda na metade do episódio que se volta depois para Jesse e nos dá mais material pra taquicardia e tensão. Conseguir esse tipo de sensação com uma trama já não é pra qualquer episódio de qualquer série; conseguir com duas é pra colocar “Confessions” na lista das melhores coisas que a TV nos deu nos últimos anos.




“Breaking Bad” já tem vasto material que serve de lição para roteiristas de TV, mas se os cinco episódios que faltam mantiverem a qualidade, há mais algumas aulas preciosas desta segunda metade da 5ª temporada, em relação ao tempo narrativo, como lidar com consequências e dramas mais intensos que levam ao final de uma série, e em especial com quantidade de episódios inferior ao que seria necessário, considerando que a velocidade dos acontecimentos é maior do que o habitual do programa, mas com a excelência e qualidade que lhe é característica.


Muito mais a dizer sobre o episódio, que não é só excelente pelas três ou quatro sequências de alta voltagem. Comentando em tópicos:



- O Guilherme Marques me corrigiu no twitter: “Buried” não foi a despedida de Michelle MacLaren na direção da série. Será no episódio 13, “To’hajiilee”, nome do local onde Walt enterrou seu dinheiro;


- Assim como em “Cornered”, quando uma câmera trêmula na ponta de uma pá acompanha Jesse, Michael Slovis não resiste e faz o mesmo com a gasolina que o personagem carrega. Não é o tipo de coisa que gosto, mas não dá pra reclamar do trabalho do diretor: a reunião em família com um humor bem dosado na presença do garçom, a confissão (os enquadramentos de Marie e Hank em frente à tv, a alternância de closes entre Walt e Hank), o desabafo de Jesse no deserto, a luz e sombras sobre os personagens;


- O momento na série é de lidar com as relações entre os principais personagens após segredos revelados, mas sabemos que a produção da metanfetamina trará problemas ainda maiores. Gosto das pequenas sequências preparando terreno sem desviar a atenção do que é principal agora: a preocupação de Lydia em um episódio, um massacre em outro, novo laboratório rumo a New Mexico abrindo este;


- Não é por acaso que temos uma cena de Todd deixando mensagem para Walt no mesmo episódio em que temos Walter Jr., e o fim da relação paterna entre Mr. White e Jesse. Acredito que ao final da série teremos uma ideia bem definida sobre o significado de cada um desses filhos na trajetória de Walt;


- Ideia melhor no futuro talvez teremos também em relação às roupas de Walt, Skyler, Marie e Hank na cena em que se encontram. Porque também não é por acaso que o habitual roxo de Marie está no marido, enquanto ela se veste toda de preto. E por que diabos os criminosos da mesa é que estão de roupas claras? Se fosse pra especular algo, eu diria que um dos Schrader não sobrevive no final...


- Heisenberg é inteligente, perigoso e faz coisas terríveis. Mas tem que conviver com Walter White, que continua patético, às vezes. A tentativa de maquiar o machucado, a lição que recebe de Saul sobre como procurar por grampos mais facilmente, e o desespero no final, contido segundos antes de abrir a porta, mas não o suficiente pra mentir bem pra Skyler – que só não percebe algo de errado por não estar em condições;


- Skyler, aliás, aparece pouco, mas o suficiente pra vermos que sua decisão no episódio anterior não é algo que simplesmente se aceita. Mal posso esperar por sua reação quando souber que o que ela mais temia – o perigo chegar à sua casa – aconteceu;


- Se Walt é aquele que bate, Jesse é o que arrebenta a porta. O final é excelente não só pela expectativa que gera com a continuação da cena, mas por se relacionar com o flashforward: imediatamente pensamos que Jesse é o motivo de encontrarmos a casa abandonada meses depois, inclusive sendo a pessoa mais provável para pichar de amarelo o nome HEISENBERG. Mas revendo o início de “Blood Money” dá pra perceber que não há sinais de que a casa tenha pegado fogo e que, se não houver erro de continuidade, ao menos por uma reforma ela passará:


 



- Aliás, a primeiríssima cena do episódio é de um isqueiro sendo aceso; a última é de gasolina sendo jogada em nossos olhos. Felizmente, não é o inverso;


- Três episódios neste retorno, e todos começaram (descontando a introdução) exatamente de onde o anterior terminou. Com o próximo provavelmente acontecendo o mesmo, será metade desta segunda parte se passando num curto espaço de tempo, quando sabemos que o fim só acontecerá vários meses depois.


- Cenas marcantes de “Breaking Bad” deixam na memória até nomes de ruas. Quando Saul diz que Jesse precisa ir pra esquina da Juan Tabo com Osuna, gritei (no pensamento): “Juan Tabo! A avenida onde Gale morava!” Fanboys...


- Pra terminar... Hello Kitty? Sério?





Hélio Flores


[Mad Men] 7x01 Time Zones

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"He was thirsty. He died of thirst."

E então, todos preparados para o começo do fim de uma era? Certo, pode ser apenas o final da década de 60, mas coincide com a última temporada de nossa adorada série Mad Men. Para tirar proveito de seu prestígio por mais um ano, a AMC tomou a decisão de também dividí-la em duas partes, assim como já havia feito com Breaking Bad. É uma decisão um tanto quanto questionável, mas compreensível, já que o canal ainda enfrenta dificuldades para encontrar uma substituta com tamanho apelo na indústria de entretenimento. Mas não devemos sofrer por antecipação, e sim aproveitarmos agora essa primeira metade de 7 episódios, para então nos despedirmos de vez em 2015.

A sétima temporada começa depois do intervalo mais curto desde o início da série, passados apenas dois meses desde o último episódio, mas mostrando a diferença profunda que as distâncias continentais americanas causaram em grande parte desses personagens. Don Draper leva mais de 5 minutos para aparecer na tela, dentro de um apertado banheiro de avião, se barbeando para encontrar com Megan assim que aterrissasse em Los Angeles. Mas o que vemos depois de desembarcar é um homem com o olhar vazio enquanto desliza pelas esteiras rolantes do LAX, ultrapassado por muitos dos outros passageiros, lembrando não apenas Benjamin Braddock no início de 'A Primeira Noite de um Homem', mas também Jackie Brown, a aeromoça protagonista do filme de Tarantino. Sua estadia na cidade não deixa de enfatizar essa sensação de estranhamento, desde seu primeiro encontro com Megan, em um esvoaçante vestido azul e fazendo questão de assumir o banco do motorista em seu carro conversível. Não apenas ela, mas Pete também parece surpreendentemente adaptado aos ares da Califórnia, recepcionando seu colega com um caloroso abraço. Quem diria que Pete seria um dos únicos a se mostrar realmente feliz neste episódio. O restante dos dias mostram o quanto o casal continua fora de qualquer sintonia, Don se esforçando novamente para agradá-la com presentes caros, e Megan simplesmente rejeitando por estes não se enquadrarem mais no seu novo estilo de vida. Depois do jantar com o agente de Megan, poucas vezes o casal compartilha uma conversa verdadeira, além de evitar qualquer tipo de discussão. Quando finalmente celebram um momento de maior intimidade, Don provoca em sua mulher o nervosismo de uma primeira vez. No retorno a Nova York, Don senta-se ao lado de uma mulher dotada da maturidade e da independência -- com um leve toque de vulnerabilidade -- capazes de atraí-lo como tantas outras de suas amantes anteriores. Com ela a conversa começa a fluir de uma maneira tão surreal, dando sinais claros que parecem servir para fazê-lo refletir sobre sua vida, que desconfiei que tudo pudesse estar ocorrendo dentro da sua própria cabeça. E provavelmente motivado por essas lembranças, ele termina rejeitando sua companheira de vôo. Ainda assim, Don parece tentar finalmente se manter sob controle, sem beber em excesso (afinal é Megan quem volta bêbada após o jantar de comemoração) e sequer acendendo um cigarro ao longo de todo o episódio.

Apesar dessa ausência física nos primeiros minutos, Don tem presença de espírito desde o início através de Freddie Rumsen, que apresenta uma propaganda de relógios diretamente para a câmera como se tentasse não apenas convencer Peggy, mas também o espectador, da veracidade daquele texto. Pela eloquência, pelas pausas e frases curtas, já era possível reconhecer que tratava-se do estilo de Don Draper, tornando-se até desnecessário revelar ao final do episódio que Don conseguia se manter ativo através desses trabalhos freelance de Freddie. Mas a cena também me pareceu importante para estabelecer que ele continuava recebendo seu salário normalmente, embora ninguém tivesse lhe procurado desde então. Essa brilhante ideia para a propaganda obviamente contagia Peggy, que faz de tudo para que seja aprovada por seu novo chefe, Lou Avery. Certamente aquela cena ao final da temporada passada, com Peggy sentada na cadeira de Don, não parece ter apenas nos enganado, mas a ela também, imaginando que agora teria mais liberdade e autonomia na agência. Mas muito pelo contrário, já que Lou se mostra bastante conservador, seguindo à risca a cartilha de sempre agradar o cliente em primeiro lugar. Peggy está desnorteada, sem Don, sem Abe, sem conseguir encarar Ted de volta tão cedo na agência, e termina abandonada em seu apartamento, de joelhos aos prantos. Não sei dizer por que esperava que Don tentaria fazer contato com Peggy até o final do episódio, mas isso não ocorre e ele também termina atormentado, sentando-se sozinho na sacada de seu apartamento, castigado pela congelante noite da costa oeste americana.

Não fica muito claro ainda neste primeiro episódio a situação atual da SC&P, mas pelo inesperado desespero de Ken com a demanda dos clientes -- alguém que até pouco tempo atrás era imune a essas pressões profissionais -- dá para projetar que não é das mais favoráveis. Joan continua sofrendo por não ter seu título de sócia reconhecido pelos colegas, e dessa vez tem de atender a um cliente novato porque Ken se julga experiente demais para lidar com ele. Joan consegue dobrá-lo no final contando com as dicas de um professor universitário, e mostra-se cada vez mais preparada para se tornar uma competente gerente de contas, sabendo agir e procurar pela ajuda das pessoas certas. Já Roger aparece como sempre mais fora do que dentro da agência. No almoço com sua filha, ele parece chegar preparado para mais uma vez salvar o dia assinando um de seus cheques, mas se vê desarmado quando ela revela ter se encontrado na verdade para lhe conceder seu perdão. Com certeza isso trará dúvidas a Roger sobre suas novas experiências, que devem continuar sendo abordadas mais adiante, como as orgias em sua casa e os votos de amor livre a sua companheira de cama. O que me parece realmente curioso é quanto esses personagens se mostram cada vez mais isolados em suas próprias tramas, o que nem sempre me parece ser a melhor opção tanto para ainda desenvolvê-los, como para o andamento da série. Mas enfim, estamos apenas no início, vamos esperar para ver o que nos reservam para essa temporada final.

Foto: Reprodução/AMC.


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[Mad Men] 7x02 A Day's Work

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"Just tell the truth."

Na cena final da temporada passada, quando Don decide aproveitar o ímpeto de sinceridade que havia lhe tomado conta e enfim mostrar a seus filhos o local onde de fato passou a infância, era de se esperar que a relação entre eles, e principalmente com Sally, iria melhorar. Mas não é exatamente o que vemos ao longo deste episódio, após Sally perder sua carteira na cidade e precisar da ajuda de seu pai. Claro que, até pelo curto intervalo de tempo entre as temporadas, uma demonstração de afeto como aquela no final, que parece servir como ponto de virada nesta relação, precisaria vir acompanhada de um desenvolvimento também marcante, como no jantar improvisado em um posto de gasolina à beira da estrada. O mundo de Don continua ainda imerso em tantas mentiras que é difícil até para ele imaginar que bastaria ser sincero para justificar o atraso de sua filha no colégio. Sally mantém seu jogo duro também, ainda chocada por ter flagrado Don e Sylvia há alguns meses, e agora por se deparar com outro homem substituindo seu pai na agência. Não parece simples que Sally volte a confiar no pai, a não ser que ele mesmo tome essa atitude de desfazer os mal entendidos. Quando Don conta que estava sendo punido justamente por dizer a verdade na hora errada, até mostrando certa fragilidade por não saber ao certo o que fazer para consertar a situação, ela começa então a simpatizar novamente. Sally até se motiva a pedir algo para comer, provavelmente ainda agindo sob influência de Betty, tentando controlar seu peso. Quando Don vai então deixá-la na porta do colégio e ela se despede dizendo que lhe ama, ele é tomado pela certeza de ter passado um Valentine's Day mais feliz do que poderia imaginar. Afinal, observando sua rotina atual, nada impediria que ele passasse esse dia com Megan.

É de tamanha ironia acompanhar logo de início esse dia-a-dia de Don, antecedendo o dia dos namorados, em um episódio justamente com esse título. Apesar de programar o relógio para despertar logo cedo, ele só levanta de fato depois do meio-dia e passa o restante da tarde comendo biscoitos direto da caixa enquanto assiste televisão, provavelmente sob o pretexto de pesquisa de mercado. À noite tem de enfim se arrumar para parecer menos patético e receber Dawn, que traz as atualizações da agência, suas correspondências e recados. Sua decisão de permanecer em Nova York portanto, e arranjar um encontro de negócios no mesmo dia, significa muito sobre qual tipo de amor Don busca reconquistar no momento: seu prestígio profissional. Fica muito claro durante esse almoço que ele não deixou de ser valorizado pelo mercado, mas é interessante notar que a história naquela reunião com a Hershey's já começa a se espalhar e que se ele não tomar logo uma atitude em relação às limitações de seu contrato, pode ser tarde demais. Desde o final da temporada passada já imaginava que um dos caminhos mais "trágicos" que a série poderia tomar (que não seria a morte do protagonista com certeza) seria Don virando as costas para seu trabalho no final. Pelo tema desse episódio, principalmente na relação entre pai e filho, seu maior vício de fato são essas mentiras, que a publicidade se apropria de uma maneira tão sutil e elegante. Talvez sua verdadeira salvação esteja em manter controle de sua vida numa forma mais abstrata do que marcando suas garrafas de whisky.

Já na SC&P, acompanhamos desta vez literalmente uma dança das cadeiras entre as secretárias, até chegar numa configuração que atendesse a exigência da maioria. Muito se falou durante toda a semana sobre o racismo no local de trabalho, mas pouco vejo representado nos conflitos entre Lou e Dawn ou Peggy e Shirley. Aquele encontro pela manhã na área de café, ambas trocando seus nomes numa alusão à forma como são confundidas pelos outros, me parece dizer bem mais sobre as dificuldades que enfrentam. Mas para não deixar qualquer dúvida quanto ao preconceito, Cooper é bastante taxativo (ainda que discreto) ao mandar Joan retirar a secretária "de cor" da recepção da agência. Apesar de Lou ser apresentado como antagonista logo nestes dois primeiros episódios, principalmente por sua rispidez com todos que cruzam seu caminho, acho que ele tem certa razão quando não se sente obrigado a lidar com os problemas de Don, ou exige uma secretária que não faça um papel de agente dupla. Já Peggy mostra tantas dificuldades para se relacionar com os outros colegas de trabalho, que não seria inesperado que ela agisse dessa forma arrogante com sua secretária. É mais um episódio terrível para Peggy, e cada vez me parece mais preocupante seu despreparo ao assumir um cargo de responsabilidade. Em Los Angeles, Pete também sofre pela falta de perspectivas para sua carreira, e pela falta de qualquer autonomia na filial da costa oeste. Sua maneira de abstrair dos problemas é procurar por Bonnie a qualquer hora do dia, mas ela não parece ser tão dependente e frágil quanto suas antigas amantes. Bonnie sabe a importância de manter sua independência e conquistar seu próprio caminho, como tantas outras mulheres retratadas neste episódio. Para concluir, é extremamente satisfatório que Joan finalmente seja recompensada com o cargo de gerente de contas, enquanto Dawn assume suas obrigações em relação aos outros funcionários. Mesmo que isso seja motivado por mais uma manobra de Cutler na agência, que se mostra um adversário cada vez mais duro para Roger.

Foto: Divulgação/AMC.


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[Mad Men] 7x03 Field Trip

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"I wish it was yesterday."

Dentre todos os mistérios guardados a sete chaves por Matthew Weiner e sua equipe neste início de temporada, aquele que mais vinha me incomodando era a maneira como Joan e Peggy se portavam em relação a Lou. Porque era tão evidente para mim que ambas não haviam simpatizado com ele, que estava convencido que era questão de tempo até que elas promovessem o retorno triunfal de Don à SC&P. Mas o que vemos neste episódio é justamente o contrário, por pior que Lou possa parecer, a lembrança da última passagem de Don pela agência ainda parece ser traumática demais para as duas. Peggy ainda enxerga no antigo mentor a razão da maioria de seus problemas, não apenas por Ted ter se transferido para a Califórnia, como pela sua própria mudança de comportamento nos últimos meses, quando essa rivalidade na agência se acirrou e deixava Peggy sempre em situações delicadas. Já Joan não nutre a mesma admiração por Don desde que ele dispensou a conta da Jaguar e traiu sua confiança, assim como por manter sempre seu ego à frente de todas as decisões da agência, principalmente na fusão com a CGC. Além disso, Joan é ambiciosa demais para deixar a instabilidade de Don colocar tudo a perder. Na opinião dela, que expõe na sala de reunião junto dos outros sócios, a agência está bem melhor sem ele. Apenas Roger, talvez consciente das vezes que também vacilou, oferece uma nova chance ao seu antigo colega. É interessante como a agência perdeu nesses últimos meses seu diferencial criativo e mudou seu foco para uma área mais estratégica, principalmente por conta de Cutler, que está disposto até mesmo a investir em um computador para aprimorar as pesquisas de mercado de Harry. Devido a sua posição como sócio da agência, a única forma de fazer Don recuar seria através de um contrato de risco com cláusulas exigentes, desde colocá-lo subordinado a Lou até ocupando a sala "mal assombrada" de Lane Pryce. Don aceitar tudo isso prontamente, sem hesitar ou mesmo negociar, deixou muitos se perguntando o porquê dessa decisão, sendo que ele tinha outra boa proposta para escolher. Mas apesar de esperar pelos corredores da agência como se fosse uma visita estranha, parece evidente o quanto Don ainda consegue se impor com sua figura imponente. Por isso, sinto que Don agiu principalmente motivado pela sua autoconfiança, até porque esse tema foi também explorado nas outras duas tramas deste episódio.

Don decide viajar para Los Angeles no meio da semana para fazer uma surpresa para Megan, mas sua intenção na verdade é oferecer seus conselhos e tentar salvar sua carreira, que parece estar por um fio. Ela, com sua confiança abalada, tem se sujeitado a todo tipo de humilhação para conseguir trabalho. Porém, o que parece terminar mesmo por um fio é seu casamento, depois de Don escolher novamente o momento errado para ser sincero com sua mulher. Don definitivamente não venceria uma eleição dos mais populares da semana na opinião das mulheres. Megan tem certa razão em ficar irritada, principalmente pela postura paternal de Don, tentando tratá-la como se fosse criança em todos os momentos. Para servir de contraponto a isso, temos a primeira aparição de Betty na temporada, sua ex-mulher mostrando como ainda não amadureceu nada. Ela tenta colocar à prova sua teoria de que a recompensa está no ato de criar os filhos, como afirma a Francine logo de início, e decide acompanhar Bobby numa excursão pelo campo. O que parecia ser uma oportunidade para aproximar os dois, torna-se um pesadelo para Bobby, que oferece um de seus sanduíches para uma garota (que por sinal, não tinha) em troca de suas jujubas. Provavelmente ainda confuso sobre as dietas de sua mãe, Bobby acaba punido tendo de comer os doces à força. Se restava alguma dúvida de que Betty era capaz de traumatizar ainda mais seus filhos, acho que podemos considerar superadas.

Foto: Divulgação/AMC.


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[Mad Men] 7x04 The Monolith

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"It's not symbolic"
"No, it's quite literal"

Ainda bem que tiveram a decência e nos pouparam de qualquer tentativa de fazer este episódio parecer mais sutil. Já fico com certo pé atrás sempre que Matthew Weiner não assina um dos roteiros da série, achando que não teria aprovado ou por receio de envolver seu nome. Além disso, acompanhando as opiniões durante a semana, pareceu consenso também que este foi o episódio mais fraco da temporada até agora. Até concordo, mas não acho que essa falta de sutileza tenha sido o maior problema, pelo contrário, acho até que Erin Levy utiliza isso muito bem a favor de seu roteiro. Como Don mesmo acaba constatando, fica bem explícito que colocar um computador no lugar da sala que antes era ocupada pela criação significa um triunfo da mediocridade que Cutler prega como nova estratégia para a empresa. É um pensamento que se reflete também em toda sociedade, nesta busca incansável pelo "futuro", que na época era simbolizado pelas viagens à Lua. A consequência disso é o que vemos nas décadas seguintes nas grandes empresas, a competitividade vindo à tona, sempre tentando superar e ser maior que a concorrência, esquecendo de valorizar os talentos individuais. Entre os muitos embates neste episódio, o mais interessante se dá entre Don Draper e Lloyd Hawley, o sócio da empresa encarregada de montar o computador na SC&P. Não apenas seu sobrenome lembra muito o computador HAL do filme 2001 Uma Odisséia no Espaço, como suas conversas são cheias de referências ao filme. Além de temer o computador desde o início, como se fosse uma ameaça para o emprego de todos ali, Don ironiza que Hawley não consegue sequer produzir fogo, e ele atribui isso a um "erro humano". Há outros exemplos, a começar pelo próprio título, mas o importante é como isso funciona de comentário da própria época, um filme tão popular que chegava a ser incorporado nas próprias conversas do cotidiano.

Outro embate, este já bastante esperado, era em relação à volta de Don e sua nova posição na agência, agora tendo de se reportar a Lou. Mas é óbvio que ele não encararia este risco logo de frente, se poderia escolher Peggy para servir como seu escudo enquanto comanda o trabalho de Don. Claro que a posição de Peggy é ainda mais delicada, além de lidar com a desobediência de Don, precisa manter o pulso firme e não deixar que sua criatividade se sobressaia à dela. Mas ainda assim é desastroso como ela lida com toda a situação, mostrando novamente uma certa arrogância que remete cada vez mais aos piores momentos de seu ex-chefe. Quando a aprendiz assume o comando, ela apenas reflete os erros de seu mentor, algo parecido com o que vemos na relação de Roger e sua filha Margaret, que deixou o filho para trás e decidiu aderir a uma comunidade hippie. Ao contrário de Mona, que logo desiste de entender esses lunáticos, Roger até tenta se juntar provisoriamente para conhecer os ideais que regem a comunidade, que contrastam com tudo aquilo que vemos na agência. Mas Roger também se irrita quando vê Marigold fugindo à noite para se encontrar com outro membro hippie, e percebe que esse amor livre não é nada diferente de suas próprias experiências sexuais recente. O final não poderia ser mais literal (e talvez melodramático): Roger tentando obrigar sua filha a voltar e ambos caindo numa poça de lama. Margaret acaba apenas revelando a verdade engasgada por tanto tempo, repetindo os erros de seus pais, agora em um novo contexto.

Na verdade, o que mais me incomoda neste episódio é essa estrutura toda esquemática, uma sucessão de fatos que levam a uma conclusão determinada. Pete, por exemplo, aparece brevemente no começo apenas para conquistar um novo cliente durante o jantar, e a partir daí, em mais uma falta de precisão da comunicação à distância, permitir que Lou envolvesse Don neste trabalho de forma indireta. Já Roger é obrigado a se ausentar da agência justamente para que não tomasse conta de Don e ele chegasse mais uma vez ao limite, quando já bêbado termina aos cuidados de Freddy. Até Cooper tem um comportamento um pouco forçado quando rejeita um potencial cliente que seria trazido por Don, embora isso sirva principalmente para estabelecer essa sensação de indiferença dos outros sócios em relação a Don. Afinal, o fato de ocupar a antiga sala de Lane não é mera coincidência: mostra como seu trabalho e sua criatividade são cada vez mais subestimados por todos e que colocar fim à própria vida certamente seria a solução para grande parte dos problemas. A tal resiliência que Hawley tanto espera dos computadores que instala é a que também se espera de Don, que aliás, não por acaso, passa a maior parte do episódio anterior justamente abandonado na sala agora perdida pela criação. Se já não fossem sinais suficientes, o episódio encerra com a música "On a Carousel", lembrando um dos mais brilhantes momentos da carreira de Don (a apresentação para a Kodak), assim como uma metáfora precisa das inúmeras voltas que sua vida deu, sem nunca sair do lugar. Como Freddie ordena, falando por experiência própria, só resta a Don fazer seu trabalho, se pretende mesmo reconquistar seu valor dentro da agência.

Foto: Divulgação/AMC.


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